Última Parada 174

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Discutir a pobreza do Brasil é uma necessidade imperiosa. Filmes assim mostram a que ponto chegamos. A barbárie tornou-se normal. E pensar que é baseado num documentário…

São dois rapazes com o mesmo apelido, Alê. São dois rapazes oriundos da mais profunda orfandade. Eles além de não terem pai e nem mãe, não têm modelos paternos. Um deles é adotado pela família, outro pelo pretenso pai traficante. Rapidamente se perdem destes ex-futuros tutores. Um vai morar na Candelária e outro com uma mãe que ele nem lembra. Eles não se cheiram.

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Candelária é uma região, uma praça, uma igreja. Meninos tomando banho na fonte, com cola no cabeção, diálogos paupérrimos de vocabulário e cheios de conteúdo. Uma chacina e ele é novamente jogado ao léu.

Uma ONG, uma coordenadora. Ele não sabe ler, muito menos escrever. Quase é “de maior”. Só conhece a lei do mais forte. Mais nada. Nem uma cama, nunca uma casa, ele nem lembra o que é isso. Rouba e aspira. E vai parar na correção. Lá encontra um antigo desafeto. O pau quebra.

Por regras rígidas da cadeia ele não é um X-9 (delator, dedo-duro) e com isso conquista um amigão. Saem numa fuga. Ele não tem documentos, e vai morar com o marginal. Afinam-se por conhecerem apenas uma única lei: a da violência. Furtos, assaltos e até um latrocínio. A barra pesa.

Neste dia, a ruptura. Ele procura a mãe que sabe que não é verdadeira. Ele na realidade procura a redenção, a utopia de uma vida digna. Sua namoradinha – a única- é uma prostituta. Numa tentativa de viver uma família, ele a apresenta para a pretensa mãe.

Mais uma vez surta e rouba o pastor, gravar um rap é algo simples, mas quase impossível para quem não sabe ler e nem escrever e desconhece o extenso processo da composição de uma música até sua execução nas rádios. O mundo real não é simples.

Cheirado, doidão, seqüestra um ônibus. Grita socorro. Mas para quem? A sociedade que nunca nem deu conta de que ele existe? A mãe? A tutora? A namorada? O amigão que o traiu? Um menino traçado dentro de uma lata de sardinhas gigantesca, um peixe fora d’água. Mil ameaças. Ninguém o agride. Até que ele resolve sair.

O final é o esperado. Ninguém irá consertar o que já está estragado, mas prevenir é possível. Como? Saúde e educação, coisas que o governo esqueceu e que seu representante maior não é nem de longe um bom exemplo pessoal.

O que há de bom: o ator principal, excelente e os termos utilizados, reais
O que há de ruim
: como vi recentemente “Linha de Passe” as comparações seriam infinitas, desde o destino dos meninos, até o ônibus, os crentes e por aí vai… mas prefiro dizer que são moedas diferentes de uma mesma face
O que prestar atenção: o número do ônibus é quase 171, gíria comum no meio carcerário que significa algo falso, um estelionato…
A cena do filme: no momento em que ele vacilou em atirar na moça do carro eu quase acreditei que haveria uma chance, quase…
Cotação: filme ótimo (@@@@)

Por:  Giovanni Cobretti – COBRA.   Blog do C.O.B.R.A.

Última Parada 174. 2008. Brasil. Direção: Bruno Barreto. Elenco: Michel Gomes, Cris Vianna, Marcello Melo Jr., Gabriela Luiz, Anna Cotrim, Tay Lopez, Vitor Carvalho, Jana Guinoud, Rodrigo Dos Santos, Ramom Francisco, Lucas Rodrigues, Yasmine Luyindula, Hyago Silva, Douglas Silva, Gleyson Lima. Gênero: Crime, Drama, Suspense. Duração: 110. Baseado em fatos reais.

4 comentários em “Última Parada 174

  1. Que bom que gostou do poema. Adoro escrever poesias, algumas vezes acho que só eu entenderia o que quero dizer, outras vezes nem eu mesma… Mas se quiser usar qualquer um, fique a vontade.
    E escrever sobre filmes no seu blog, como funciona isso?
    Pode escrever por meu e-mail e msn: aadratt@hotmail.com, eu sempre leio.
    Bjks.

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  2. Esse filme é ótimo. Mostra como ninguém nasce bandido, como as pessoas não podem generalizar que todos os favelados são ruins, ladrões.

    Vale a pena ver o documentário com a história real. É comovente.

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