Violência Gratuita (Funny Games U.S.)

funny-gamesDois mais dois são quatro. Cinco mil anos para se entender isso. Sempre haverá violência gratuita. Em nenhum tempo se entenderá isso.

São tantos os tipos e modos de violência, em todos os tempos e todos os lugares. A violência verbal é só uma delas, e é tão agressiva quanto a física: ambos ferem e machucam como o machado. Mas o objetivo aqui não é listá-los.

Esta semana acompanhou-se pelos meios de comunicação mais alguns casos de VIOLÊNCIA GRATUITA que chamou a atenção. Uma delas tendo como protagonista uma brasileira grávida fora de seu país agredida por três rapazes (a versão desse fato ainda não está esclarecida; independente do que aconteceu realmente não tira o mérito de um ato de extrema violência); a outra aconteceu com uma menina de cinco anos, morta porque chorou ao ver seu pai sendo assassinado. Parece que ninguém mais se choca quando presencia algo do gênero; age-se como imunes e vacinados, não demonstrando reação de revolta, raiva ou qualquer sentimento de pena ou culpa. Talvez pela própria impotência: fazer o quê? Isso é fato. É real. E cada um com o seu individualismo.

E sempre se falou que a arte imita a vida. Ou a vida é que imita a arte? Há uma inversão de valores. A vida já não vale nada. A arte é ficcional. A arte baseia-se no real. O conceito de estética cinematográfica como sinônimo de entretenimento há muito já não existe. As novas mudanças são facilmente reconhecidas no cinema inovador do austríaco Michael Haneke. Ele, em seu filme Funny Games NÃO deixa o expectador ficar à vontade. Certamente se você ainda não assistiu ficará perturbado e chocado com a trama. A história é banal, só que envolve o expectador de tal maneira que o torna praticamente conivente e cúmplice das as situações de violência.

Só de se pegar o filme, já sabendo de antemão a sua sinopse, um thriller provocante e brutal de uma família em férias que recebe a inesperada visita de dois jovens profundamente perturbados, torna-se responsável por aquilo que se assiste. A partir daí as férias de sonhos dessa família se transforma em pesadelo quando são sujeitados a inimagináveis terrores e provações para continuarem vivos. A violência é sutil, ela é apenas sugerida. Paul e Peter, personagens impecavelmente vestidos de branco, a cor que simboliza pureza, iniciam seus jogos de sadismo e horror com a família (homem, mulher, o filho e o cão) sempre intitulados com frases de duplo sentido, engraçadas infantis, chegando a ser um JOGO ENGRAÇADO, brincadeira de criança.

O fato inusitado nesta história que Haneke presenteia seu público começa quando Peter, o líder da dupla delinqüente, fala com a câmera com a certeza da presença do expectador, não pura e simplesmente como um voyeur, mas com a certeza de que ELE faz parte desse jogo e é conivente, não estando ao lado da família, mas apoiando toda a maldade que ali se instalou e impera. Às vezes um deles dá umas piscadas como que autorizando e confirmando com o espectador a aceitar essa condição, lembrando-o de vez em quando que está vendo um filme e, pior do que isso, colocando-o na inusitada posição de cúmplice passivo do ato de violência.

Bem ou mal, quem o assiste acaba fazendo parte da narrativa. É um filme não confortável porque quase que obriga a fazer parte da história e tomar partido dela. Parece que o real e o imaginário fundem-se. A tal linha tênue que separava ambos não existe aqui.

É uma receita velha para ingredientes novos. O cinema com uma nova roupagem, novos elementos instigantes que nos prendem a atenção. Apesar de o título VIOLÊNCIA GRATUITA (a tradução faz sentido), porém, ela quase não é mostrada. E é isso que torna o filme mais genial e inteligente do que ele deveria ser. Tudo é sugerido. Quando vai acontecer algo de terrível e violento a câmera não mostra, se ouve apenas sons dizendo que algo ruim aconteceu. E o resto fica por conta dos devaneios de quem assiste. Tem que refletir. Ou melhor, isso não é necessário.
Uma vez usado o tempo ele não volta mais. Daqui a pouco o agora será passado. Em Violência Gratuita, pode-se retroceder. Pode se alterar a história, ressuscitar os mortos; pode se pegar o controle remoto e fazer as mudanças necessárias. Na arte tudo é possível. Basta querer. Um filme ousado. Gosto disso.

Eis alguns bons motivos para se conferir a mais essa jogada do mestre Haneke. Uma obra prima.

Por: Por: Karenina Rostov.   Blog: Letras Revisitadas.

Violência Gratuita (Funny Games U.S.). 2007. EUA. Direção e Roteiro: Michael Haneke. Elenco: Naomi Watts (Ann), Tim Roth (George), Michael Pitt (Paul), Brady Corbet (Peter), Boyd Gaines, Siobhan Fallon, Devon Gearhart. Gênero: Crime, Drama, Terror, Thriller. Duração: 107 minutos.

15 comentários em “Violência Gratuita (Funny Games U.S.)

  1. Sinceramente achei o filme umi lixo, não sei o que viram de tão interessante, o filme não me colocou em uma situação de descionforto nem uma vez, as cenas são enormes e arrastadas, o camera coitado devia estar com as pernas quebradas pois a camera n se meche nunca, varias vezes me curvei inconscientemente na cadeira buscando o foco no personagem que havia fugido da cmera, e aquela cena do controle? Aff… E a idéia do filme interativo ta mais pra filme de comédia, lembrar o espectador de que se está assistindo um filme quebra a tensão. Resumindo, descordototalmente da crítica… Abraço.

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  2. Crítica péssima!

    É o filme MAIS LIXO que eu já assisti em toda a minha vida! Eu já assisti a mais de 1400 filmes e sou cinéfilo assumido e me falta memória ao tentar encontrar um filme TÃO RUIM como este! Falta ação, falta enredo, as tomadas de câmeras são péssimas e a maior parte do tempo de filme o expectador fica fora da história sem conseguir assistir a cena q se passa!

    Foi o tempo mais desperdiçado de toda a minha vida [Parte desse comentário foi censurado pela Moderadora Valéria Miguez.]

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    • José Eduardo,

      O Diretorn Haneke usa, e até abusa, de contar a estória fora do convencional. Seus Filmes nos leva a um debate interessantíssimo. Onde cada ponto de vista vai elucidando o que passou despercebido a outra pessoa.

      Esse filme, ‘Violência Gratuita’, eu não vi. Mas o ‘Caché’, sim. E no Orkut, até houve um debate acalorado. Onde não houve algo nada comparado a essa sua violência.

      Você teria mais a ganhar, se trocasse com a autora os prós e os contras desse filme.

      Além de um pedido de desculpas.

      E raríssimas foram às vezes que eu censurei trechos de comentários por aqui. Esse seu será mais um nessa lista.

      Saudações Cinéfilas,
      Valéria Miguez,
      Moderadora.

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  3. Olá,

    Primeiramente, não sei a quem responder: a José Eduardo ou a João Souza? Independente de nomes, fakes ou quem é que está por trás dessa crítica, seja bem-vindo, e obrigada pelo comentário.

    O que seria do azul se todos gostassem de vermelho?

    Sempre tive dificuldade com rótulos, principalmente em definir-me uma “cinéfila”. Seria pela quantidade de filmes assistidos ou qualidade? Ou seria pelo gênero, ou simplesmente pelo puro prazer? Você se diz um “cinéfilo assumido” com 1400 filmes.
    Aqui já não encaixaria a categoria ‘quantidade’ e demonstra preocupação em ter assistido a um único filme ruim que você achou péssimo. Concordo com você, e te parabenizo por isso, afinal temos o direito de gostar ou não de algo, e no seu caso o quantitativo de ruins não chega a 1%. Simplesmente deu azar ou falta de sorte de ser um remake de um HANEKE da vida.

    Para mim é o melhor cineasta da atualidade. Já viu dele A FITA BRANCA, A PROFESSORA DE PIANO, CACHÉ? E a primeira versão de VIOLÊNCIA GRATUITA? Incrivelmente eu devo ser do contra como o próprio diretor, já que ELE,MICHAEL HANEKE e EU, nos darmos ao luxo de termos gostos parecidos. Ele por ter feito uma nova versão do mesmo filme. E eu por ter esse gosto ao seu ver ‘bizarro’. Não sei se é comum diretor refilmar um de sua própria criação. São poucos os apreciadores do trabalho de Haneke.

    O filme é Violência Gratuita. Talvez você não tenha gostado da violência gratuita atribuído aos esquizofrênicos irmãos. A Ação e o enredo que você cita estão dentro do que o diretor se propos a fazer.Tudo nos conformes. Mas, espera aí? Não entendi qual o motivo dessa sua VIOLÊNCIA GRATUÍTA POR AQUI? Não é porque você não gostou que se acha no direito de ofender a quem tenha gostado. Já engoli muito sapo na vida, mas ainda não provei o sabor de merda.

    Pense nisso.

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    • Oi Karenina,

      🙂 Gostei disso! De definir o “ser cinéfila de carteirinha”. No meu caso, vendo filmes desde criancinha, ultrapassei a casa da dezenas de milhares. Mas nem por isso, me vejo cinéfila pelo número de filmes vistos.

      Meu critério é o de amar essa linguagem. O qual o Gênero a ser visto, tende mais pelo meu estado de espírito.

      E até por gostarmos, ou não de um filme, por nos atrevermos a contar nossas impressões, de vez em quando passamos por algo semelhante.

      Se essa foi a “sua primeira vez” 😀 Bem-vinda ao seleto clube.

      Beijos,

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  4. A VIOLÊNCIA GRATUITA impera nesse tempo. Você já deve ter testemunhado uma violência gratuita, não?

    Fiquei aqui pensando com meus botões: isso é algo antigo, do arco da velha, e Haneke somente transformou em arte, mostrando como existe gente má no mundo…

    O rapaz não gostou diz que desperdiçou seu precioso tempo e chegou com pedras nas mãos tentando nos ofender. Por que será que perdeu tempo escrevendo então?

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    • Primeiramente,

      Karenina, minhas desculpas!
      Por conta de problemas com computador… não vi a tempo o comentário violento. Que eu teria moderado com certeza, o trecho.

      Por vezes, alguém diante a sua prepotência, apela com violência a outra forma de pensar que a dele própria. Não aceita. Nem aproveita o tempo para ao menos saber que não gostou do filme por não ter entendido.

      Enfim, minhas desculpas!

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  5. Valéria,

    Essa coisa de “Cinéfilo Assumido” é um tanto assustador. Será que nesses tempos modernos deve-se assumir tudo? Ser vascaína assumida, ser piegas assumida, ser introvertido assumido, ser hetero assumido… Uma vez escrevi um texto falando dessa minha dificuldade, em me enquadrar nessa categoria de Amante da Sétima Arte, está aqui, se depois quiser ler…

    http://rostovms.blogspot.com/search?q=ser+ou+n%C3%A3o+ser+cin%C3%A9

    E assim como você, desde berço assistindo a filmes, já me perdi em números de quantos foram para a minha conta: 0000000000000000000

    Se HANEKE é lixo,segundo o ‘cinéfilo assumido’ que deve ser fake porque aparecem dois nomes para NÃO SE ASSUMIR, só pode ser isso, e diz que quem curte esse diretor é comedor de MERDA, pôxa, tenho um bocado de amigos abutres e não sabia….

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  6. Em tempo:

    Violência Gratuita (Funny Games U.S.) Refilmagem exclusivamente para norte-americano ver. Por que será, hein? E Michael Haneke nesta versão, atiça o EXPECTADOR com uma abordagem irônica da violência.

    E eu acabei de sofrer uma violência gratuita.

    Grata, Valéria.

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    • Pois é! Talvez só venham a se dar conta de quantos são violentos, quando um parente próximo sofre uma violência.

      Sobre esse tema, eu irei escrever. Por conta de um Documentário que eu vi.

      E sim, o título do filme caiu como luva em quem lhe fez isso.

      Beijo,

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  7. Esse filme é seguramente um dos piores que já vi na vida. Comecei a ver por acaso, peguei ainda no comecinho. É um lixo completo. Aí fui atrás do original, para não cometer uma injustiça, afinal sabemos como os americanos podem estragar uma obra. O filme original é igualmente inacreditavelmente ruim, com a diferença de ser falado em alemão. Pensa em um filme nascido do cruzamento de um Ed Wood com Uwe Boll. É esse o resultado.

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