Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go. 2010)

Never Let Me Go” é um filme elegante, contido, lindamente fotografado por Adam Kimmel, e emoldurado pela belissima trilha sonora de Rachel Portman. O sotaque britânico dos personagens, enriquece e acalma, que parece ser o proposto pelo diretor Mark Romanek. Mas é melhor não se enganar – apesar de ser baseado no livro escrito por Kazuo Ishiguro, que também escreveu “Vestígios do Dia.”

Ponto fraco:

Never Let Me Go” é uma exploração do amor e da beleza sobre a vida com um toque de ficção científica. Particularmente, é um filme para ser admirado, mas achei que Romanek tentou ser tão fiel ao livro de Ishiguro, que sua narração se move de uma maneira tranquila como no livro, mas na tela, tudo soar lento e muito rebuscado pelo fato de seguir quase a mesma ordem, frequencia, e ritmo da linguagem escrita.

[A partir daqui, o texto contém spoiler.]

A principal coisa perdida na tradução do livro para a tela é a parte substancial do romance que teve lugar em Hailsham, um colégio interno, onde as crianças são ensinadas a temer o mundo exterior, e sempre obedecer às instruções, e tomar cuidado meticuloso em seus corpos. Enquanto no livro,  Ishiguro revela muito mais, o roteiro de Alex Garland vai direto ao ponto- explicado por uma professora (Sally Hawkins, fazendo mais uma pequena ponta depois de “An Education”, 2009): as crianças do colégio interno vão crescer para doar seus órgãos, até quatro vezes antes de morrer. Os jovem atores dão conta do recado, mas eu, do meu lado, fiquei chocado com passividade que eles aceitam as palavras da professora.

Aos 18 anos, quando saem de Hailsham, as crianças fazem pouco mais do que lamentar tristemente o seu cruel destino.  A narração é intradiegetica, isso é, o narrador Kathy (Carey Mulligan) é também um personagem no filme. Kathy é o tipo de sofrimento em silêncio. E, por ela que vemos seus anos dolorosos com o comportamento leviano da sua melhor amiga, a “glamourosa” Ruth (Keira Knightley), que lhe rouba o amor de sua vida, o quase dolorosamente contido Tommy (Andrew Garfield). Kathy, Ruth e Tommy não tem escolhas na vida, e, mesmo vivendo no mundo, onde suas lutas são as mesmas que todos os humanos, eles sofrem mais tragicamente porque seus destinos são agendados desde o inicio do filme.

A narração de Kathy cobre um longo flashback, fazendo “Never Let Me Go” um filme extremamente nostálgico e melancólico. Nós raramente vemos Kathy, Tommy e Ruth rirem juntos. Uma vez que são adultos, eles evitam a verdade sobre seus destinos. A equipe de Romanek, fez um trabalho belo, mas muitas vezes, os três personagens centrais ainda surgem mais como cifras de vítimas do como personagens de carne e osso como seres humanos que estão lutando para serem reconhecidos.

Pontos Fracos 2:

Não entendo a razão da minha antipatia pela Knightley.  Acho-a uma atriz super estimada. Não consigo “sentir” esse talento todo, e nem mesmo ve-la como uma mulher glamourosa. Em “Never let me go”, quando o personagem Ruth exige de Knightley um pouco mais de fragilidade (veracidade também!), a atriz passa o tempo fazendo cara feia.

Mulligan é boa atriz, mas nesse filme, ela nada faz de especial; e Garfield parece um pouco mais perdido em um papel que exige que ele jogue uma ingenuidade e inocência que às vezes beira o retardamento emocional.

Quando o filme chega a sua devastadora conclusão, apenas  alterando uma pequena parte do livro, eu senti muito por Ruth, Tommy e Kathy- por causa das estranhas circunstâncias de suas vidas. “Never Let Me Go” é sem dúvida  um filme bonito de se olhar, mas um pouco oco para ser totalmente sentido- o que não sustenta o desejo que o intitula: “Não Me Abandone Jamais.”

2 comentários em “Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go. 2010)

  1. OI, MARIANA,

    NAO SEI SE FUI CLARO NO MEU TEXTO, MAS A COISA PERDIDA NA “TRADUCAO” DO LIVRO PARA TELA, FOI A PARTE SUBSTANCIAL DO ROMANCE QUE ROLA NO COLEGIO INTERNO. AS CRIANCAS SAO ENSINADA A TEMER O MUNDO EXTERIOR, E A SEGUIR AS REGRAS. AS CRIANCAS SAO CLONES E VAO PROVIR ORGANS PARA NAO- CLONES,….ELES NAO TEM CONSCIENCIA DAS SUAS HABILIDADES NA VIDA….MAS NO FILME, O ROTEIRO DO FILME VAI DIRETO AO PONTO ( ATE ME ASSUSTEI COM AS PALAVRAS DITAS PELA PROFESSORA FEITA PELA
    Sally Hawkins, QUE ELES VAO CRESCER PARA DOER SEUS ORGAOS ATE 4 VEZES ANTES DE MORRER. NAO CONSEGUI ENTENDER A PASSIVIDADE DAS CRIANCAS…..QUEM NAO IRIA FUGIR SABENDO Q VAI TER QUE DOAR E MORRER NO FINAL???

    NO COLEGIO AS CRIANCAS SAO “ANIMADAS” A PRODUZIR VARIAS FORMAS DE ARTE E POESIA….NAO FILME, DEPOIS VAMOS ENTENDER Q TUDO EH UMA FORMA DE ENGANA-LOS. NO LIVRO, ME ENVOLVI, NO FILME, NAO CONSEGUI, PORQUE TUDO EH TUDO TAO OBJETIVO…..O QUE FEZ O FILME SER TAO QUANTO FRIO…..

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