Do Outro Lado (Auf der Anderen Seite. 2007)

Tão longe, e tão perto…

Nossa! O filme começa de mansinho e de repente… Chega a dar um arrepio com o que o destino aprontou. Chega até a ser cruel, eu diria. O filme vai seguindo até que num determinado ponto ele meio que volta a fita. Mas não em mostrar que algo nos escapou, e sim para mostrar por outro lado. E nesse, é de tirar o fôlego. É, até porque na vida real não tem essa de voltar a fita.

Ele traz o destino de 6 pessoas que num determinado momento da vida se cruzam de um jeito. O diferencial aqui é que sabemos quem irá morrer; vem como um título de um capítulo. Logo é algo que não dá mesmo para voltar atrás. Aconteceu! E por conta de que? Da pressão de um país onde até a religião cerceia as aspirações principalmente das mulheres? Da estupidez em mostrar que se é dono de alguém? De que por causa de uma mentira, mesmo com a melhor das intenções, de que sem ela o destino de todos, teria sido outro?

Deixo um convite a pais e filhos não mais crianças de assistirem. Pois aqui é bem mais que conflitos de gerações. São fatos irreversíveis. Que reforçariam a ideia de que diálogo, respeito por ideais, carinho, e sobretudo sinceridade deveriam fazer parte do dia-a-dia desse tipo de relacionamento. Por vezes alguns percalços poderiam ter sido evitados se o caminho trilhado não fosse uma via de mão única.

O que temos no filme? Um jovem professor universitário, Nejat, não muito motivado. Sua vidinha beira a sonolência. Num belo dia ao chegar em casa se depara com uma bela mulher. Seu pai, um viúvo, a trouxe para ser sua mulher. Quando a sós, ela, Yeter, lhe conta que seu pai a conhecera num bordel. Nasce uma afinidade entre eles, mas num tipo fraternal. Os três vivem na Alemanha, mas nasceram na Turquia. Tudo ia bem, até que seu pai, após passar um tempo internado, se deixa dominar pelo ciúme. Fica violento.

Nejat brigado com o pai resolve partir para Istambul. A princípio motivado em encontrar e ajudar a filha de Yeter, a jovem Ayten. Mas ela é uma ativista política. O que dificulta encontrá-la. Compra uma Livraria. E por lá fica. Em seu caminho, surge Lotte. Ele loca um quarto para ela. Ela é alemã. Ele não fica sabendo o que ela está fazendo ali.

À Yeter o peso da religião a fez sair da sua terra para tentar dar estudo a sua filha. Sem coragem de contar a filha o que fazia, dissera que trabalhava numa sapataria. Sem poderem se encontrar, uma não conhecia a realidade da outra. E por conta da mentira, quando mais Ayten precisou da proteção, do colo da mãe…

Há uma quarta mulher, Susanne, mãe de Lotte. Enfim, são quatro mulheres fortes, determinadas, a quem o destino pregou uma peça. E qual a lição a tirar? O que elas representaram na vida de Nejat?

O filme é belíssimo! Amei inaugurar com ele o Cinema da Turquia.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Do Outro Lado (Auf der anderen Seite / The Edge of Heaven). 2007. Turquia. Direção e Roteiro: Fatih Akin. Elenco: Nurgül Yesilçay, Baki Davrak, Tuncel Kurtiz, Hanna Schygulla, Patrycia Ziolkowska, Nursel Köse. Gênero: Drama. Duração: 122 minutos.

Curiosidade: Há uma cena onde Nejat dá ao pai um livro. O título do livro é “Demircinin Kizi”: “A Filha do Ferreiro”.

Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road)

Não posso ir ao seu encontro porque eu já estou com você.” (Richard Bach)

Na era do mundo virtual onde as mensagens chegam tão rápido. Onde parece que logo tudo é descartado. Me pego a pensar se os jovens entenderiam a amizade que durou quase 20 anos entre Helen e Frank. E que com eles foram por cartas. Num passado não muito distante.

O filme é baseado na história da escritora Helene Hanif (Anne Bancroft). Pediram a ela para contar algo sobre a sua vida. E ela nos brinda com parte da sua vida adulta onde pontua um grande e inestimável amigo: Frank P. Doel (Anthony Hopkins).

Tudo começou em 1949. Na busca por certos livros, e fora do seu orçamento… um anúncio em uma revista de uma Livraria & Antiquários, em Londres, a leva a escrever uma carta. A primeira de inúmeras… Ah! Ela morando em Nova Iorque. E Frank responde dizendo que parte dos “problemas” dela já estavam resolvidos.

Pelo preços muito em conta, pela gentileza nos envios seguindo junto cartas numa linguagem pessoal, também foram fatores que deram início a essa longa amizade. Mas o que contribuiu mesmo, o que enraizou essa relação era o humor de ambos. Da parte dele, por ser tímido, como também casado, ficou mais comedido no início. Agora, o jeito extrovertido de Helen, do jeito divertido até em reclamar, acabou por conquistar de vez não apenas a ele, como os demais funcionários.

Além dos pedidos dos livros, Helen passou a confidenciar seu dia-a-dia. Como forma de retribuir o carinho, por eles estarem sobre um racionamentos do pós-guerra no tocante a certos alimentos, ela passou a enviar em datas especiais cestas de alimentos: embutidos, enlatados… Uma empresa na Dinamarca as vendia em catálogos. Para eles, um mimo inestimável.

Quando Helen obtinha recursos financeiros para cruzar o Atlântico e então conhecê-los, imprevistos a levava a usar o dinheiro. Assim, o tempo foi passando.

O filme começa quando ela enfim, vai a Londres. A partir dai, é que ficamos conhecendo esses anos todos. Em até que, como numa frase que ela diz no filme (Esqueci a autoria.): “Não sei se eles acreditarão ou não, mas eu estive lá.” É, lá está ela, dentro daquele lugar que lhe é tão caro! E eu não consegui reter as lágrimas. Nem não sendo mais a primeira vez que vejo. Filmaço! Eu amo!

Ah sim! Eu adoro o título dado no Brasil: “Nunca Te Vi, Sempre Te Amei!” Sou uma eterna romântica.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road). 1987. Reino Unido. Direção: David Hugh Jones. Elenco: Anne Bancroft, Anthony Hopkins, Judi Dench. Gênero: Comédia, Drama, Romance. Duração: 100 minutos.