O Cheiro do Ralo

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Essa é a história de um homem só e sem história.

Estaria aqui um ponto de partida para esse filme. Que como num quebra-cabeça vai nos mostrando alguém que em meio há tantos trechos de histórias alheias, busca uma para si próprio. Uma que lhe mostre o seu passado, pois houve um, fora dali, algum dia.

O personagem de Selton Mello não é um mecenas, nem tão pouco alguém que realiza sonhos das pessoas. Figura num patamar acima de um sucateiro, por não comprar objetos danificados, nem tampouco de ir à caça deles. Por já estar estabelecido, por ter um local, por ter o seu galpão onde compra objetos usados.

São as pessoas que o procuram, numa de mendigar pelo seu dinheiro. Por muitos se sentirem humilhados… E ele se vê uma fortaleza… Mas que fede…

Numa das peças desse quebra-cabeça traçando o perfil desse homem…

O local me chamou a atenção – uma área industrial. De fachadas quase estéreis. Não há placas indicativas. Mas todos sabem o caminho de lá. Apesar da claridade exterior… ao penetrarem naquele portão… sentem o peso da alma… mas precisam do dinheiro… e lhes restam quase nada para uma troca.

Uma outra, é o seu fascínio por dois objetos em especial.

Dois objetos que o levam a inspirar uma história para o seu pai. Ou seria uma para si mesmo, lhe dando um consolo. Mas por que aqueles dois objetos? E para onde teria ido o seu pai? Por que não ficou olhando o filho? Lhe fazendo sentir-se amado… estimado… A figura paterna lhe consome…

O cheiro que vem do ralo… que ao mesmo tempo que o faz mostrar àquelas pessoas que se há algo sujo ali não parte dele, mas do ralo. Vai criando nele um escudo para aquilo que exerce. Se veria como a flor de lótus?

Sua relação com mulheres lhe é angustiante… Querendo-as apenas como um depositário de seu gozo? A faxineira é a única que tem um acesso a ele.

Um filme que nos leva a montar esse quebra-cabeça peça por peça. Sem pressa.

O personagem é instigante. Selton Mello dá um show! Os outros também estão incríveis; com cenas que ficarão na memória.

E que, como o personagem principal tem dificuldade em guardar nomes… em meio a tantas histórias anônimas… enfim, ele terá a sua história

Eu gostei! Nota: 10.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Cheiro do Ralo. Brasil. 2007. Direção e Roteiro: Heitor Dhala. Com: Selton Mello, Paula Braun, Lourenço Mutarelli, Flávio Bauraqui, Sílvia Lourenço, Susana Alves. Gênero: Comédia, Drama. Duração: 100 minutos. Classificação: 14 anos.

Moça com Brinco de Pérola (Girl with a pearl earning. 2003)

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Que tal uma viagem pelo século XVII? Quase como um conto de fadas. Mas com sensualidade. Temperado com um pouquinho de erotismo e na medida certa. O filme é também como um passeio num Museu. Onde cada cena parece sair de um belo quadro.

E o que temos nessa história? Uma jovem vai trabalhar na casa de um renomado pintor. Por lá, além da criada com a qual ajudará nos serviços há:  a esposa do pintor – uma mulher sempre às voltas com os nascimentos dos filhos e as inspirações do marido; uma sogra supervisionando a tudo e a todos; de vez em quando o mecenas que compra e encomenda as pinturas; e um belo e jovem açougueiro a lhe cortejar.

A jovem Griet (Scarlett Johansson) ao começar a limpar o ateliê descobre um mundo novo e fica fascinada. E o pintor, Johannes Vermeer (Colin Firth) quase fazendo dela uma aluna, nos leva juntos nessa aula de luz e sombras, de cores… onde um olhar, uma respiração, um leve toque… nos seduz também.

Gostei! Nota: 8,5.

Por: Valéria Miguez LELLA).

Moça com Brinco de Pérola (Girl with a pearl earning). Inglaterra. 2003. Direção: Peter Webber. Com: Scarlett Johansson, Colin Firth, Cillian Murphy, Tom Wikinson. Gênero: Drama. Duração: 95 minutos.