Arca Russa (Russkiy Kovcheg. 2002)

Como não gostar de poesia, de arte, da literatura e da língua russa? Como não gostar de cinema russo? Esta última é a minha paixão incondicional, principalmente após assistir ao ARCA RUSSA de Alexandr Sokurov. Um filme diferente de tudo o que você certamente já viu, ou se ainda não viu, verá e concordará; ou se já viu algo parecido, creia que qualquer semelhança é mera coincidência. O filme é uma obra poética em versos.

A história de 300 anos de arte é contada em 97 minutos em um único plano-sequência, sem cortes, dentro de um dos maiores museus do mundo: o Palacete de Hermitage, em São Peterburgo, atravessando as 35 salas do museu, transformando a tela de cinema em um quadro vivo onde desfilam personagens importantes da história da Rússia: Pedro, O Grande; Catarina II, Nicolau e Alexandra. O museu de Hermitage é tratado como um ser vivo e Sokurov empresta alma a ele, mesclando poesia, artes plásticas, literatura e sétima arte.

Arca Russa é uma experiência visual única e inesquecível.

Para contar essa história, o próprio diretor vaga pelo museu com a sua câmera no ombro, uma volta ao passado como se fosse uma das personagens do século XIX, saído das telas de um dos quadros, perdido e confuso, conversa com muitos que por ali passaram, pessoas importantes que o visitaram ou com os simples mortais visitantes do museu. As grandes festas que aconteciam lá nesse museu com grandes personalidades daquele século. Assiste-se ao filme e se tem aula de arte e história, além de um passeio panorâmico em todos os seus ambientes. E o tempo todo interage com os quadros, conversando com eles, se esbarrando com alguns personagens e se questionando “Onde afinal estou?” “O que está acontecendo?

O diretor-protagonista dialoga com um único personagem (fantasma?) que aparece no museu e fala russo, com sotaque francês que será a partir desse encontro o seu guia pela excursão ao museu. Ele nada explica, pelo contrário, confunde mais ainda, apenas especula e tudo torna-se instigante e nada revelador. Caberá ao expectador desvendar alguns mistérios e as mensagens cifradas. O guia representa o conflito de identidade da aristocracia e da arte russa e ela insiste em dizer que “os russos estão sempre a copiar, não têm idéias próprias”. (Na vida nada se cria, tudo se copia). O expectador é que deverá fazer suas próprias descobertas e fazer parte desta viagem sem fim. O filme é matéria e essência; é todo o sentido da vida; morte e vida atuando juntos; presente e passado. Aqui não vale dizer a frase debochada “Quem vive de passado é museu”, pois o passado faz-se presente a todo instante, basta contemplar um dos quadros, basta se folhear um livro, abrir um álbum de fotos, reler uma carta amarelada…

O filme todo está em sintonia com a proposta do diretor de um único plano, mesmo assim, há quem diga que encontrou alguns cortes, como por exemplo, na cena em que ele fecha em um par de luvas, ou passa por trás de uma pilastra, importa mesmo? Só reparei nesses detalhes apontados por críticos na minha segunda sessão. Particularmente, acho irrelevante. Mas a crítica, sempre a crítica sutilmente invejosa…
Arca Russa abre portas em vez de fechá-las. “Estamos condenados a navegar sempre“, conclui o narrador ao final. Como em boa parte do cinema sokuroviano, fala de um navegar sem ter bússola como parâmetro, pois o passado, induz o diretor, não é necessariamente farol para o futuro.
Cotação: Excelente! Valeu “`a pena” desta poesia reler. Valeu a pena desta fonte beber.
Karenina Rostov
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Curiosidades sobre o diretor russo Alexandre Sokurov
* Sokúrov é considerado por Paul Schrader e Martin Scorsese, diretores que também atuam como teóricos de cinema, como o mais legítimo herdeiro do “estilo transcendental”, no qual inserem também o dinamarquês Carl T. Dreyer, o francês Robert Bresson e o russo Andrei Tarkóvski. O diretor também continua a tradição de mestres russos do cinema silencioso russo, como Serguei Eisenstein e Aleksandr Dovjenko. Seus filmes constituem experiências estéticas e intelectuais de impacto para platéias com atenções voltadas para algo além da velocidade e superficialidade oferecidas pelos grandes estúdios. Seu refinamento na construção visual das imagens, que o convertem em um “cineasta-pintor”, irritou os censores e poderes da antiga URSS, que proibiu todos os seu filmes de 1978 até 1987.
* A entrevista foi realizada em Cannes, em maio de 2002, nos dias subseqüentes à estréia mundial de Arca russa, uma produção ambiciosa, ambientada no interior do Museu do Hermitage (São Petersburgo) e registrada em uma única tomada sem cortes, de 96 minutos. Um feito técnico e artístico que deverá passar aos anais da história do cinema.
Gênero – Arte
Direção – Alexander Sokurov
Idioma – RussoAno de produção – 2002

País de produção – Russia, Finlandia, Dinamarca, Canadá, Alemanha

Moça com Brinco de Pérola (Girl with a pearl earning. 2003)

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Que tal uma viagem pelo século XVII? Quase como um conto de fadas. Mas com sensualidade. Temperado com um pouquinho de erotismo e na medida certa. O filme é também como um passeio num Museu. Onde cada cena parece sair de um belo quadro.

E o que temos nessa história? Uma jovem vai trabalhar na casa de um renomado pintor. Por lá, além da criada com a qual ajudará nos serviços há:  a esposa do pintor – uma mulher sempre às voltas com os nascimentos dos filhos e as inspirações do marido; uma sogra supervisionando a tudo e a todos; de vez em quando o mecenas que compra e encomenda as pinturas; e um belo e jovem açougueiro a lhe cortejar.

A jovem Griet (Scarlett Johansson) ao começar a limpar o ateliê descobre um mundo novo e fica fascinada. E o pintor, Johannes Vermeer (Colin Firth) quase fazendo dela uma aluna, nos leva juntos nessa aula de luz e sombras, de cores… onde um olhar, uma respiração, um leve toque… nos seduz também.

Gostei! Nota: 8,5.

Por: Valéria Miguez LELLA).

Moça com Brinco de Pérola (Girl with a pearl earning). Inglaterra. 2003. Direção: Peter Webber. Com: Scarlett Johansson, Colin Firth, Cillian Murphy, Tom Wikinson. Gênero: Drama. Duração: 95 minutos.