Os Sabores do Palácio (2012). São Deliciosamente Irresistíveis!

os-sabores-do-palacio-2012_cartazPor: Valéria Miguez (LELLA).
Em nossa memória ficam registros que com o passar dos anos meio que desaparecem… Até que um aroma, um sabor… algo acaba despertando memórias afetivas até da nossa infância. Algo visto em “Ratatouille” quando um rigoroso crítico gastronômico sentiu ao provar esse prato típico da culinária francesa, presente até nas cozinhas das famílias mais humildes. Fiz esse preâmbulo porque o carro chefe de “Os Sabores do Palácio” veio de alguém querendo para as suas refeições diárias essa culinária com gosto de casa de vó… Esse alguém vivia num certo palácio: a residência do Presidente da França. E ele, o próprio ‘Le Président‘ (Jean d’Ormesson), um gourmet convicto e cansado dos pratos com muito mais enfeites que substância, seguindo uma indicação coloca seu pessoal para ir atrás dela, uma reconhecida Chefe de Cozinha, e também uma defensora da gastronomia tradicional francesa. Ela iria para a pequena e particular cozinha. Na na bagagem além dos dotes, dos talentos, levava junto uma preciosidade que esse presidente amava.

os-sabores-do-palacio-2012_01E quem seria ela, essa Chefe de Cozinha que até iria revolucionar um reduto até então de homens? Ela é Hortense Laborie que vai com a cara e coragem para o coração da França. Para alguém segura em sua fazenda na região de Périgord, dando aulas a Chefes de outros países a usarem em especial o foie gras e as trufas, fora uma grande mudança. Que se vê num clima bem competitivo e hostil. Mas ela finge ignorar até porque a quem teria que agradar era o Presidente. Assim já totalmente instalada resolve não se submeter a despensa da outra cozinha e quebrando protocolos vai às compras! Até por ser adepta e conhecedora de itens naturais e de primeira qualidade para suas receitas. Compras essas que interferem também com que administra os gastos das cozinhas do palácio. Enquanto isso na ‘cozinha grande’ inveja e ciumeira corria solto até dando a ela o apelido de ‘Du Barry‘, em alusão à favorita do rei Luís XV, a Condessa du Barry. Hortense seguia em frente até tentando adaptar as novas restrições alimentares para o Presidente às suas receitas. Pausa para comentar sobre as receitas, pano de fundo em “Os Sabores do Palácio“, que para quem assiste são de se comer com os olhos já que não podemos comer de fato. Assim, a ‘cozinha pequena’ seguia seu curso até que algo bate à porta e…

De Paris Hortense vai parar na Antártida. Ser a Chefe de Cozinha numa estação de estudos. Também cheia de homens, mas até pela solidão do lugar, viraram todos seus fãs. E é em sua despedida por lá que em flash back conhecemos seu período palaciano, o porque saiu de lá, como foi parar por lá naquele “fim do mundo” e até seus planos para um futuro próximo.

os-sabores-do-palacio-2012_02O filme “Os Sabores do Palácio” foi inspirado numa história real, a da Chefe de Cozinha Danièle Delpeuch que foi a cozinheira pessoal do Presidente da França François Mitterrand. Quem a adaptou também assina a Direção, Christian Vincent, fez um belíssimo trabalho que nos mantém atentos até o final! Deixando até uma vontade de querer ver mais e mais histórias com ela, a Hortense de Catherine Frot. Ela dá um show! Mesmo com tudo e todos em uníssono sem dúvida nenhuma o filme é dela! Num filme de se acompanhar com brilhos nos olhos e que no finalzinho minhas lágrimas desceram comovidas. Enfim, um filme Nota 10!

Os Sabores do Palácio (Les Saveurs du Palais. 2012)
Ficha Técnica: na página no IMDb.

O Tempero da Vida (2003). Entre Aromas, Sabores e Saberes

Primeiro quero falar do substrato que as raízes precisam para se desenvolverem. Como para deixarem frutos também. Há quem se sinta tão ligado a terra onde nasceu que nem se imagina morando longe dela. Para uma criança esse desprendimento fica mais fácil. O que irá levar na memória será o que até então vivenciou ali. Mas para muitos adultos se vê longe do lugar onde nasceu seria como ficar sem chão. Agora, o bom mesmo quando se tem a liberdade de ir e vir sempre que puder e quiser. Pois como na canção:

E assim, chegar e partir / São só dois lados / Da mesma viagem / O trem que chega / É o mesmo trem da partida / A hora do encontro / É também de despedida.”

Com isso, apresento-lhes os dois personagens principais dessa estória que uma guerra estúpida acabou separando-os. Um avô e seu netinho estimado. Que viviam felizes em Istambul. Entre Temperos e Planetas filosofavam sobre os mistérios da vida.

O Tempero da Vida” começa quase pelo finalzinho. Onde o netinho, Fanis (Georges Corraface) agora adulto, morando na Grécia, decide viajar até Istambul. Para rever seu avô, Vassilis (Tassos Bandis), e o seu primeiro amor. Iria aproveitar umas férias. É quando um dos amigos do seu avô o procura para lhe dizer que ele enfim resolveu vir para Atenas. Pedindo que Fanis preparasse um almoço de confraternização entre velhos amigos que também foram obrigados a deixarem aquela terra.

Assim enquanto prepara o almoço Fanis rever suas memórias dessa infância tão significativa. E nós vamos juntos nessa viagem. Desejando que nessa hora o sentido do olfato também fizesse parte do contexto. Não sei quanto a vocês, mas eu amo o perfume e o sabor das especiarias. Em entrar num Empório e se deliciar com todos aquele aromas; e colocar na comida que eu faço também. A Turquia lhe era muito cara (estimada), e a sua Família também. Mas por conta de seu pai ter nascido na Grécia foram obrigados a deixar Istambul. Seu avô ficou. A partir dali o contato era mais por cartas. Fanis até tentou voltar, mas os militares o impediram. Mas dali a pouco iria poder estar com ele novamente.

O pequeno Fanis (Markos Osse) do mezzanino do Empório de seu avô recebeu lições que foram sua bagagem nessa jornada chamada vida: Culinária e Astros; Sabor e Mistério; Aromas e Luzes; Sensações e Escuridão; Desejos e Medidas… Ele já sonhava em ser um Astrônomo quando crescesse. Com seu avô desenvolveu um outro Talento nato: iniciando no mundo da Gastronomia. Vassilis ia mostrando a sutileza de cada um dos temperos. A medida certa que aguçaria o paladar. Que daria vida ao prato. O que traria um despertar especial ao comensal. Assim seu avô foi mostrando que seus dois dons estavam em harmonia: G(A)stronomia.

Fanis até poderia ter se tornado um grande Chef. Adorava mostrar seus dotes culinário. Mas seu pai dizia que cozinhar era coisa de mulher. Um preconceito cultural. Mesmo assim de vez em quando Fanis cozinhava escondido. Mas a pressão fora muita – até por parte do Colégio -, que esse seu talento foi ficando mais como um hobbie. O que em parte o ajudou a temperar seus humores, amores, saudades… no correr da vida.

Sabem aquela estória gostosa de se ouvir? O filme nos leva a essa sensação. Sendo que estaremos vendo também. Há momentos tristes que se intensificam ao pensarmos que se não fosse pela estupidez de uma guerra separatista ambos poderiam ter tido uma convivência maior. Mesmo “O Tempero da Vida” sendo bom até de rever preferi não contar mais, em não trazer spoilers. Deixar que quem ainda não viu se delicie entre Aromas, Sabores e Saberes. Para quem já viu, que reveja os temperos para cada ocasião. O filme é muito bom. Sendo mais um a mostrar universos masculinos com delicadeza. E com certeza esse filme merece fazer parte da nossa videoteca.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Tempero da Vida (Politiki Kouzina). 2003. Grécia. Direção e Roteiro: Tassos Boulmetis. +Elenco. Gênero: Comédia. Duração: 108 minutos.