Por: Carlos Henry.
Juliana Rojas já havia flertado com o gênero sobrenatural no excelente e original “Trabalhar Cansa”. Parece que ela decide trilhar sempre nos trilhos mais complexos da arte. Em “Sinfonia da Necrópole” arrisca pelo dificílimo caminho de contar uma história soturna que tem como cenário principal um cemitério através de um musical. E a diretora e sua equipe se saem surpreendentemente bem!
Se faltam rostos lindos, corpos malhados ou nomes famosos no elenco, abundam competência e precisão na interpretação de atores somados à segurança da direção e uma ficha técnica que realizou um trabalho irretocável a olhos vistos. O resultado é uma planejada e bem dosada ingenuidade para contar o dilema de Deodato (Eduardo Gomes), um aprendiz de coveiro dividido entre seus melindres de lidar com os mortos e os sentimentos que o afligem com a chegada de Jaqueline (Luciana Paes), agente funerária responsável pela reestruturação dos túmulos para a construção de um cemitério vertical com o fim de atender as demandas de uma grande metrópole, no caso, São Paulo.
A evidente analogia da vida numa grande cidade com as questões da morte na necrópole dá pano para manga para muitas interpretações profundas, mas o fato é que o filme diverte com muitos momentos de emoção e humor negro na dose certa. O padre bonachão, o velho que acha que vai morrer logo e o próprio personagem principal garantem estes momentos de descontração para quebrar o clima de cenas que podem perturbar os mais sensíveis, como a exumação de cadáveres. E finalmente, números musicais que arrasam, apesar da aparente simplicidade e ausência de efeitos especiais.
Os produtores deveriam abrir os olhos. Com uma boa adaptação para o palco, faria sucesso certo também no teatro. Afinal, o que faz um bom musical? Boas canções, claro. E isso, o filme tem de sobra: Belos arranjos e letras deliciosas, muitas delas compostas pela própria diretora que realizou uma obra-prima grandiosa digna de se tornar um clássico, se não houver preconceito por conta do tema funesto. Afinal, a dor de qualquer coisa que acaba pode ser bem pior que a própria morte que quase sempre é superestimada. Como diz o coveiro, tio de Deodato, em certo momento: Dói porque estamos vivos.