“Só um coração puro conseguirá retirar a espada…”
Sendo fã do Bruce Willis, vejo muitos dos seus filmes muito mais por ele. Não me importo com as críticas. Mas esse com certeza é marcante a sua atuação. A do menino também. Rever o filme ‘O Sexto Sentido‘ após tanto tempo deixou em mim um gosto de primeira vez. Eu me dei esse direito de assim me preparar para vê-lo. Pena apenas por ter sido pela Tv por não dá para voltar em certos trechos. Enfim, deixou vontade de revê-lo mais vezes. E até por conta disso que numa segunda vez que o filme se faz mais interessante o texto a seguir terá spoilers.
Um dom é algo nato. Dependendo de qual seja pode se passar a vida inteira sem que a pessoa perceba que o possui. Por vezes um olhar mais aguçado de um adulto poderá captar e a partir dai oferecer ferramentas para que então possa usufruí-lo. Acontece que há dons pesados demais para uma criança. E antes que se transforme numa herança maldita se faz também necessário uma ajuda para receber a coroa, manto e cetro desse poder. Até por ser algo intransferível.
O pequeno Cole (Haley Joel Osment) não estava preparado para o seu poder. Precisava de ajuda. Uma que recebera fora tão desastrosa que o fez se recolher. Dai creditou a proteção na Religião. Mas que no silêncio do Templo vazio, ou na tenda cheia de imagens de Santos em seu próprio quarto, ele sabia que nada adiantava. Acontece que era até então a sua tábua de salvação. Clamava por um milagre, ou por um anjo da guarda? Era apenas um criança tentando um jeito de abdicar daquele trono.
A abordagem religiosa nesse filme foi muito superior ao que Shyamalan levou em ‘Sinais’. Pois nesse outro, para mim, ele não se distanciou da religião-instituição. Tal como fez aqui em o ‘O Sexto Sentido‘. Cole se agarrou em sua fé para ir levando os seus dias, ultrapassando as suas noites tenebrosas… E eis que suas preces foram ouvidas. Colocando em seu caminho alguém apto a ajudá-lo. O psicólogo infantil Malcolm (Bruce Willis). Juntos, enfrentariam seus reais temores: o que os dilaceravam por dentro.
Mas para isso precisavam estar dispostos a esse mergulho profundo em si mesmo. Tal qual um processo de Individuação numa linguagem junguiana. Lembrando da frase de Cole para Malcolm como a testar se estava mesmo pronto, apto a ajudá-lo, eu a diria dessa maneira: ‘Como você pode ajudar uma pessoa se não acredita em si mesmo?‘. Pois ai que entra o poder instituído. O que aprimoramos por estudos, técnicas… Certas ajudas não bastam apenas de uma boa vontade. É preciso até ter o discernimento em ver que a partir de um ponto só alguém capaz que poderá ajudar. Por ele ter o ferramental certo para tal fim. Mas ele precisa antes acreditar que pode.
Assim, ao ouvir o que o nosso interior tem a dizer veremos o mundo a nossa volta com um outro olhar. Então, teremos como fazer avaliar quem somos de fato. Onde está voltado o nosso norte. E receber com júbilo o dom que recebeu do destino.
Malcolm ajudou Cole a seguir em frente com o seu poder. Mostrando-lhe a ele que algo bom. E Cole por sua vez o ajudou retirando a espada que o oprimia, que o impedia de seguir em frente.
E as minhas lágrimas desceram livremente com esse pequeno grande Rei Arthur! Filmaço!
Por: Valéria Miguez (LELLA).
O Sexto Sentido (The Sixth Sense). 1999. EUA. Direção e Roteiro: M. Night Shyamalan. Elenco: Haley Joel Osment (Cole Sear), Bruce Willis (Malcolm Crowe), Toni Collette (Lynn Sear), Olivia Williams (Anna Crowe), Glenn Fitzgerald (Sean), Mischa Barton (Kyra Collins), Donnie Wahlberg (Vincent Gray), M. Night Shyamalan (Dr. Hill). Gênero: Drama, Suspense. Duração: 106 minutos.