Julie e Julia. Muito Além de uma Terapia Ocupacional

O filme tem um certo charme. Meril Streep só não rouba todo o filme porque dois personagens masculinos foram bons também: Stanley Tucci e Chris Messina. A Amy Adams não fez feio, mas pelo personagem em si deixou uma dúvida: se uma outra atriz teria feito melhor. ‘Julie e Julia‘ é um bom filme, mas que poderia ter sido ótimo se Nora Ephron tivesse enxugado um pouco. Não precisava se alongar.

Nas cenas onde Julie (Amy Adams) cozinhava eu ficava pensando em Juliette Binoche, de ‘Chocolate’. Mesmo sem querer comparar performance me perguntava se daqui a um bom tempo eu ainda lembraria dela como da personagem de Binoche nesse filme. Ou mesmo em outras personagens que mostraram que a arte culinária também é um ato de amor e sedução. Como a Dona Flor, de ‘Dona Flor e Seus 2 Maridos’. Esse é um lado que eu também gosto. O de cozinhar por prazer, e não por obrigação. Já com a personagem Julia, de Meryl Streep, em certas cenas me levava a pensar nas paródias. Até tem uma no filme. Com certeza sua personagem é de atrair charges & afins. Pela comicidade. Pelo porte. Agora, não tem como se encantar com ela. Meryl nos leva a não pensar em nenhuma outra atriz, nem muito menos em nenhuma das personagens que interpretou ao longo da carreira. Bravo!

No tempo presente – 2002 -, temos Julie (Amy Adams) indo morar no Queens, com o seu marido, Eric (Chris Messina). Ela perdeu um emprego numa Editora. Assim não se viu motivada a terminar um romance. Indo trabalhar num Grupo de Apoio as vítimas do Wolrd Trade Center. Desencantada da vida, desestressava cozinhando. E entre provas e desabafos com Eric nasce a idéia de um criar um Blog. Mais! De nele contar o seu novo Projeto: de preparar todas as receitas do livro de Julia Child. O ‘Dominando a Arte da Culinária Francesa’ (Mastering the Art of French Cooking). E por achar que tem Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA), Julie impõe a si um prazo: de em um ano para preparar as 524 receitas do livro.

Paralelo a essa história o filme recua no tempo entre as décadas de 50 e 60. Julia (Meryl Streep) está chegando em Paris. Seu marido, Paul (Stanley Tucci), Diplomata, fora designado para atuar na capital francesa. Julia fica encantada com tudo. Principalmente com a culinária francesa. Até porque, quando numa conversa com Paul sobre estar entediada diz que adora comer. Brincadeiras à parte Julia se propõe a aprender a cozinhar os pratos franceses. Assim se matricula no Le Cordon Blue.

Por lá encontra um osso duro de roer: a diretora. Mas decidida, Julia investe todo o seu tempo nesse aprendizado. E por tabela conhece duas mulheres que sonham publicar um Livro de Receitas. O que dará mais molho nessa sua estada na França. Além de sobrar para Paul, uma investigação. Época do Macartismo nos Estados Unidos.

Se com o passar dos anos o tempo não deu filhos a Julia e Paul, o amor que sentiam um pelo o outro manteve acesa a chama até o final. Paul também foi um grande incentivador da esposa. Por esse seu lado profissional.

Já Julie e Eric tiveram uma pequena separação. Mas voltando logo às boas. Por ainda estarem começando a vida de casados, filhos ainda não estavam nos planos do casal. Tinham um gato. Eric também incentivava a esposa nesse seu novo lado profissional. Mas ainda reticente quanto a ela contar as intimidades do casal no Blog. Até o Chefe de Julie lhe pede que não fale dele no Blog.

Julie era fã de Julia desde criança. Dai a escolha para o seu Projeto. Mas Julia não entendeu, ou não explicaram direito para ela. Mesmo assim Julie a tinha como um ícone a ser respeitada e amada. Indo conhecer a cozinha de Julia, não dentro da casa dela, mas num Museu.

Julia se propôs a aprender as receitas e então descrevê-las em inglês. Não conheço o livro, logo não sei se há as histórias sobre a preparação de cada uma delas. A Julie pegou essas receitas e as colocou para uma linguagem atual para atingir pessoas sem intimidades com a cozinha. Mesmo que Julia tenha dado novos ingredientes a algumas receitas, a base já existia. Não sei, mas para mim ficou a idéia de que Julie trouxe Julia de volta à mídia. Que virara peça de museu. Creio que se Paul estivesse vivo, faria as duas se encontrarem.

E aqui é algo a se pesar. Nós que escrevemos nessa mídia de certo modo estamos falando de outras pessoas. Quando não são fictícias invadiremos suas vidas. Faremos uma exposição delas. Sem nem perguntarmos se elas querem. Eu me coloquei mais no lugar da Julie, do que da Julia que se sentiu usada. Porque em meus textos eu também analiso, descrevo a obra de alguém; no caso: filmes. Esse é um recado que a Nora Ephron deixa nesse filme. Fica como um alerta para que nesse contexto sejamos originais. Que mantenhamos nossa identidade. Que se alguém se sentir “usada” que veja que estamos junto nisso.

Como viram ‘Julie e Julia‘ conta a história de duas donas de casas que descobriram na culinária as suas vocações. Ou através dela, já que lançaram livros. E o filme é baseado numa história real. Aliás, em duas histórias. Duas autobiografias de sucesso: ‘Julie & Julia’, de Julie Powell e ‘My Life in France’, de Julia Child com Alex Prud’homme.

Como disse no início, se o filme fosse mais curto eu voltaria a revê-lo outras vezes mais. Assim do jeito que está, só se avançando certos trechos. Para então rever a Julia Child de Meryl Streep. Ela está impagável! Mas me perguntei também se fui com muita sede ao pote. Não sei. O que sei é que queria que esse filme me arrebatasse. Que eu o achasse excelente! Acho melhor parar por um tempo de assistir filmes sobre donas de casas. Por não me empolgar por isso. De qualquer jeito, só em ver a Julia da Meryl já vale pena. Eu recomendo!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Julie e Julia (Julie & Julia). 2009. EUA. Direção e Roteiro: Nora Ephron. +Cast. Gênero: Biografia, Comédia, Drama, Romance. Duração: 123 minutos.

6 comentários em “Julie e Julia. Muito Além de uma Terapia Ocupacional

  1. Vc sabia que Terapia Ocupacional é uma profissão? antes de usar o nome de uma profissão procure ler sobre para não falar esse tipo de besteira e até desrespeitar uma categoria profissional. Fazer uma atividade para se distrair NÃO É TERAPIA OCUPACIONAL.

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    • Bruno,

      ou você não viu o filme, ou não leu o meu texto na íntegra. Focando só em algo que está na sua cabeça, não no que eu escrevi.

      Eu até entendo o lance de muitos profissionais ficarem irados pelo preconceito que há em relação as suas funções. Se em grande parte, é por desconhecimento das pessoas, mas também há por aqueles que exercem essas atividades.

      O termo Terapia caiu no lugar comum de algo a se fazer, de forma a relaxar a mente para então depois voltar a sua rotina. Não há demérito nisso. Para muitos, isso é o bastante. De nem precisar recorrer a um Teraupeta.

      A personagem desse filme, além de estar desmotivada profissionalmente, tinha DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção). Seu desejo em ser escritora fora frustrado. O que ela gostava de fazer, o que fazia motivada, era cozinhar. Sem nem ainda pensar de que ali nasceria a sua carreira profissional, ela tinha que saber lidar com o DDA.

      Tudo foi acontecendo para ela. Mesmo impondo a si um prazo limite, como a da personagem de “Comer Rezar Amar”, ela foi se conhecendo, se descobrindo, ultrapassando seus próprios limites.

      Não foi só a vitória em completar a missão, mas ela renasceu. Uma nova mulher, no lado pessoal e profissional, mas sobretudo, de pazes com o seu DDA. Daí o meu subtítulo: Muito Além de uma Terapia Ocupacional.

      Esclarecido?

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  2. Nossa, não está esclarecido mesmo! E, sinto dizer, Valéria, mas você foi muito infeliz ao citar a terapia ocupacional em seu texto. “Muito além de uma terapia ocupacional” chega a ser desrespeitoso! Não é porque a personagem conseguiu algum benefício de seu hobby (cumpriu prazos, metas, “renasceu”) que essa atividade pode ser “uma terapia ocupacional”. Para ser terapia ocupacional é necessária uma relação entre paciente/cliente, atividade e terapeuta ocupacional. É um processo bem complexo, inclusive. E de qualquer maneira, seu título “muito além de uma terapia ocupacional” soa como “muito além de um passatempo” (mesmo não sendo essa a sua intenção), daí o desrespeito ao qual me referi acima. Enfim, espero que seja mais cautelosa ao escrever seus textos e antes de publicá-los na internet. E quanto ao filme, gostei bastante. Para mim foi uma experiência sensorial interessante. Não só utilizei alí minha visão e audição, mas parece que paladar e olfato também. Posso dizer que foi um filme gostoso (literalmente) de ver. Tanto que nem vi o tempo passar.

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  3. Caramba! Pelo jeito, esses dois ai – Bruno e Fernanda -, não foram além do pensamento deles 🙂 Não se aventuraram como a personagem do filme.

    Ela, em vez de procurar por um médico, ousou primeiro fazer algo por si mesma. E para então controlar o problema dela. Indo um pouquinho além, talvez se não tivesse dado certo, talvez ai sim procuraria pela ajuda de um profissional, e ai sim tentar tratar do DDA. Se é que isso tem cura. Pois isso não é a minha praia 🙂 Me desculpa Lella. Foi irresistível.

    Bem, eu acho que foi isso que você quis dizer com o “muito além de uma terapia ocupacional”.

    Parabéns pelo seu jeito de descrever um filme!

    E agora, o trabalho me espera!

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