Trabalho Sujo (Sunshine Cleaning. 2008)

trabalho-sujo_2008Por Robert Vonnegut.
Filmes sobre fracassados (losers*) são muito comuns no cinema, e a maior parte segue a receita básica: o personagem é um fracassado que traz dentro de si algo que o habilita a uma redenção. Até John Lennon foi recentemente encaixado neste clichê em Nowhere Boy.

Sunshine Cleaning, lançado aqui como Trabalho Sujo, conta a estória de duas losers da melhor espécie, as irmãs Rose e Norah Lorkowsky, que não se deram bem no trabalho nem na vida amorosa. Um dos trunfos do filme foi a escolha das atrizes, excelentes. Amy Adams mais uma vez transforma sua personagem em uma irresistível fofura – mesmo nas cenas que carregam um tanto de erotismo. Emily Blunt dá vida a uma complicada Norah, tumultuada, conflitada – quase o oposto da irmã toda metida a certinha; e prova mais uma vez que sabe fazer o papel de americana, algo não trivial para uma atriz londrina.

trabalho-sujo_2008_01Rose e Norah estão cercadas de outros fracassados: o pai, interpretado por Alan Arkin, cheio de ideias como todo loser que se preza, o filho intratável, e por aí vai. E levam o filme fazendo tudo dar sutilmente errado.

O roteiro de Trabalho Sujo conta uma estória interessante, revelando os personagens pouco a pouco, deixando os pequenos desastres acontecerem bem na nossa cara, introduzindo uma surpresa aqui e ali. Consegue, ainda, que o famoso final feliz chegue sem que ninguém tenha que deixar de ser loser. Nada de redenção, somente um momento de loser heaven.

Um filme simples, despretensioso, delicioso. Até faz rir mas não vá esperando a comédia que o poster do filme insinua.

[*] as legendagens de filme costumam traduzir loser, literalmente, por perdedor; eu prefiro traduzir por fracassado, que tem a mesma “aura” da expressão original.

Os Muppets – O Filme (2011)

Postado por Joice Machado.
Ontem (12/12/2011), pegando uma sessãozinha promocional do Cinemark das 15h (que está custando R$6,00 – aumentou dois pila 😦 reclamação da pobre aqui), eu e meu marido assistimos ao filme dos Muppets…

O que dizer do filme??? Primeiro que gostei! Mas é preciso dizer que é um filme diferente de tudo que se vê hoje em dia relativo aos filmes infantis… É um filme bem doido, em alguns momentos ficamos com vergonha alheia pelos personagens, mas é um filme corajoso, porque resgata bem o que eram os Muppets lá nos tempos antigos… Bem diferente dos Smurfs, por exemplo, que vestiram uma roupa pop pra voltarem…

Os Muppets continuam os mesmos, são doidos, cantam o tempo todo, fazem lá uma coisa ou outra constrangedora, tipo as piadas do Fozzie ou a roupinha do Gonzo… Mas esses são os Muppets, se os transformassem em animações modernas e pops, não seriam os bonecos de pano que fizeram tanto sucesso…

Eu me criei vendo os Muppets Baby. Dos Muppets bonecos só lembro de uns filmes que passavam de vez em quando na televisão… Mas é o mesmo estilo, música pra contar a história e descrever os sentimentos dos personagens, coisas loucas como um doido chamado Animal que todo mundo da minha época se lembra quem é, seqüestrar uma celebridade pra rechear um show, um amor lindo entre um sapo muito fofinho e uma porquinha histérica…

Vale a pena! Achei perfeito pras crianças, puro entretenimento antigo dos bons e bem feitinho!!! Recomendo!

Postado por Joice Machado – Blog Eu e os meus botões.

Julie e Julia. Muito Além de uma Terapia Ocupacional

O filme tem um certo charme. Meril Streep só não rouba todo o filme porque dois personagens masculinos foram bons também: Stanley Tucci e Chris Messina. A Amy Adams não fez feio, mas pelo personagem em si deixou uma dúvida: se uma outra atriz teria feito melhor. ‘Julie e Julia‘ é um bom filme, mas que poderia ter sido ótimo se Nora Ephron tivesse enxugado um pouco. Não precisava se alongar.

Nas cenas onde Julie (Amy Adams) cozinhava eu ficava pensando em Juliette Binoche, de ‘Chocolate’. Mesmo sem querer comparar performance me perguntava se daqui a um bom tempo eu ainda lembraria dela como da personagem de Binoche nesse filme. Ou mesmo em outras personagens que mostraram que a arte culinária também é um ato de amor e sedução. Como a Dona Flor, de ‘Dona Flor e Seus 2 Maridos’. Esse é um lado que eu também gosto. O de cozinhar por prazer, e não por obrigação. Já com a personagem Julia, de Meryl Streep, em certas cenas me levava a pensar nas paródias. Até tem uma no filme. Com certeza sua personagem é de atrair charges & afins. Pela comicidade. Pelo porte. Agora, não tem como se encantar com ela. Meryl nos leva a não pensar em nenhuma outra atriz, nem muito menos em nenhuma das personagens que interpretou ao longo da carreira. Bravo!

No tempo presente – 2002 -, temos Julie (Amy Adams) indo morar no Queens, com o seu marido, Eric (Chris Messina). Ela perdeu um emprego numa Editora. Assim não se viu motivada a terminar um romance. Indo trabalhar num Grupo de Apoio as vítimas do Wolrd Trade Center. Desencantada da vida, desestressava cozinhando. E entre provas e desabafos com Eric nasce a idéia de um criar um Blog. Mais! De nele contar o seu novo Projeto: de preparar todas as receitas do livro de Julia Child. O ‘Dominando a Arte da Culinária Francesa’ (Mastering the Art of French Cooking). E por achar que tem Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA), Julie impõe a si um prazo: de em um ano para preparar as 524 receitas do livro.

Paralelo a essa história o filme recua no tempo entre as décadas de 50 e 60. Julia (Meryl Streep) está chegando em Paris. Seu marido, Paul (Stanley Tucci), Diplomata, fora designado para atuar na capital francesa. Julia fica encantada com tudo. Principalmente com a culinária francesa. Até porque, quando numa conversa com Paul sobre estar entediada diz que adora comer. Brincadeiras à parte Julia se propõe a aprender a cozinhar os pratos franceses. Assim se matricula no Le Cordon Blue.

Por lá encontra um osso duro de roer: a diretora. Mas decidida, Julia investe todo o seu tempo nesse aprendizado. E por tabela conhece duas mulheres que sonham publicar um Livro de Receitas. O que dará mais molho nessa sua estada na França. Além de sobrar para Paul, uma investigação. Época do Macartismo nos Estados Unidos.

Se com o passar dos anos o tempo não deu filhos a Julia e Paul, o amor que sentiam um pelo o outro manteve acesa a chama até o final. Paul também foi um grande incentivador da esposa. Por esse seu lado profissional.

Já Julie e Eric tiveram uma pequena separação. Mas voltando logo às boas. Por ainda estarem começando a vida de casados, filhos ainda não estavam nos planos do casal. Tinham um gato. Eric também incentivava a esposa nesse seu novo lado profissional. Mas ainda reticente quanto a ela contar as intimidades do casal no Blog. Até o Chefe de Julie lhe pede que não fale dele no Blog.

Julie era fã de Julia desde criança. Dai a escolha para o seu Projeto. Mas Julia não entendeu, ou não explicaram direito para ela. Mesmo assim Julie a tinha como um ícone a ser respeitada e amada. Indo conhecer a cozinha de Julia, não dentro da casa dela, mas num Museu.

Julia se propôs a aprender as receitas e então descrevê-las em inglês. Não conheço o livro, logo não sei se há as histórias sobre a preparação de cada uma delas. A Julie pegou essas receitas e as colocou para uma linguagem atual para atingir pessoas sem intimidades com a cozinha. Mesmo que Julia tenha dado novos ingredientes a algumas receitas, a base já existia. Não sei, mas para mim ficou a idéia de que Julie trouxe Julia de volta à mídia. Que virara peça de museu. Creio que se Paul estivesse vivo, faria as duas se encontrarem.

E aqui é algo a se pesar. Nós que escrevemos nessa mídia de certo modo estamos falando de outras pessoas. Quando não são fictícias invadiremos suas vidas. Faremos uma exposição delas. Sem nem perguntarmos se elas querem. Eu me coloquei mais no lugar da Julie, do que da Julia que se sentiu usada. Porque em meus textos eu também analiso, descrevo a obra de alguém; no caso: filmes. Esse é um recado que a Nora Ephron deixa nesse filme. Fica como um alerta para que nesse contexto sejamos originais. Que mantenhamos nossa identidade. Que se alguém se sentir “usada” que veja que estamos junto nisso.

Como viram ‘Julie e Julia‘ conta a história de duas donas de casas que descobriram na culinária as suas vocações. Ou através dela, já que lançaram livros. E o filme é baseado numa história real. Aliás, em duas histórias. Duas autobiografias de sucesso: ‘Julie & Julia’, de Julie Powell e ‘My Life in France’, de Julia Child com Alex Prud’homme.

Como disse no início, se o filme fosse mais curto eu voltaria a revê-lo outras vezes mais. Assim do jeito que está, só se avançando certos trechos. Para então rever a Julia Child de Meryl Streep. Ela está impagável! Mas me perguntei também se fui com muita sede ao pote. Não sei. O que sei é que queria que esse filme me arrebatasse. Que eu o achasse excelente! Acho melhor parar por um tempo de assistir filmes sobre donas de casas. Por não me empolgar por isso. De qualquer jeito, só em ver a Julia da Meryl já vale pena. Eu recomendo!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Julie e Julia (Julie & Julia). 2009. EUA. Direção e Roteiro: Nora Ephron. +Cast. Gênero: Biografia, Comédia, Drama, Romance. Duração: 123 minutos.