Uma Noite de Amor e Música (Nick and Norah’s Infinite Playlist. 2008)

uma-noite-de-amor-e-musica_2008Esses moços, pobres moços / Ah! Se soubessem o que eu sei / Não amavam, não passavam / Aquilo que já passei” (Lupicínio Rodrigues)

Numa hora parece que o mundo caiu… Que o grande amor da vida não poderia acabar assim como se nunca tivesse acontecido… Que ainda teria algo para ser salvo… Que ainda teria tempo para ir atrás desse outro coração… É por aí que segue um jovem numa longa noite adentro também do seu ser… Onde tem como ajuda três grandes amigos tentando também tirá-lo dessa roubada do passado recente, mas também que visualizaram nesse caminho uma bela e linda princesa… Jovem essa que também pesa em seu passado recente há quem a queira apenas por aquilo que seu pai poderia proporcionar a esse interesseiro (Jay Baruchel)…  É! Uma noite para descobrir até porque nem se davam conta do porque…

uma-noite-de-amor-e-musica_2008_01É! Os “três mosqueteiros” – Thom (Aron Yoo), Dev (Rafi Gavron) e Beefy Guy (Jonathan B. Wright) – teriam muito mais do que iniciar o show de uma outra banda… Pois é durante esse show que os dois jovens se falam, ou melhor, se encontram de fato. Mesmo estudando no mesmo colégio nem se viam por pertencerem a tribos diferentes. São eles: Nick (Michael Cera) e Norah (Kat Dennings). Ela numa de mostrar a “gostosona” do colégio que não estava ali sem namorado, se aproxima de Nick e pede que ele se passe pelo seu por um tempinho… Norah tinha ido apenas curtir a banda junto com uma amiga, Caroline (Ari Graynor) e do qual acabou sumindo… Acontece que Norah não fazia ideia de que Nick era o ex da tal provocadora, a Tris (Alexis Dziena). Mas que mesmo sem conhecê-lo já curtia as playlist que esse dava para a Tris e que essa jogava no lixo. Assim, numa busca por Caroline por vários lugares, entre encontros e desencontros, com os “ex” não gostando nada dessa nova amizade entre Nick e Norah, ambos tentam descobrir também onde será um show secreto de uma banda do qual são todos fãs…

Uma Noite de Amor e Música” traz um belo convite para passar uma noite inteira com esses jovens e que termina aos primeiros raios do amanhecer. Sendo que para alguns será o início de um novo capítulo, ou de uma nova playlist

Inspirado num romance… O filme é mais um a mostrar que sempre tem como contar sobre o universo dos adolescentes românticos com as dores e as delícias de assim irem levando a vida… Se estiver passando em algum canal, assiste… Eu gostei de ter assistido! E que posso até revê-lo algum dia. Nota 08.

Uma Noite de Amor e Música (Nick and Norah’s Infinite Playlist. 2008)
Ficha Técnica: na página do IMDb.

Por: Valéria Miguez (LELLA)

Série: SMASH (2012 / 2013)

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Pela Volta da Série Smash e com Novas Temporadas!

Os norte-americanos não gostam mais de Musicais? É uma pergunta que não cala! Tudo porque uma excelente série como “Smash” foi cancelada por conta da baixa audiência por lá. Isto é um absurdo em meio a tantas Séries “bobinhas” criadas anualmente por lá, e que ganham novas temporadas mesmo não tendo muita audiência. O que demonstra que há outro critério por trás, não vindo a público. Nem é questão de gosto pessoal o que influencia uma Série emplacar novas temporadas. Ou até o é, mas ai talvez porque o “dono da caixa” seja fã dessas outras, levando-o a cortar as verbas para as prováveis “concorrentes”. Ou mesmo por conta de uma guerra por audiência entre os principais canais dos Estados Unidos. Enfim, misterioso ou não… fica aqui esse quase manifesto pela CONTINUAÇÃO da Série SMASH! Isto posto, vamos ao porque eu amei essa série!

Smash” aglutina itens que a qualifica em cada episódio, como: Drama, Comédia, Suspense, além é claro Musical. Este item por sinal, contém uma Trilha Sonora vibrante e emocionante. Um Roteiro impecável mostrando os bastidores nas montagens de Peças Teatrais de cunho Musical. As dificuldades dentro e fora dos teatros. Os dramas pessoais dos envolvidos. As puxadas de tapetes. As alegrias pelas conquistas diárias até a estreia… Tudo em histórias que nos levam do riso às lágrimas. Onde as emoções de fato variam em cada episódio. Todo o Elenco em uníssono! Há química entre eles. Onde cada um deles transpira todo o perfil do próprio personagem com tanta naturalidade que até parecem reais. Que estão por ali caminhando pela Broadway.

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Angelica Huston, Debra Messing e Katharine McPhee

Encabeçando esse Elenco maravilhoso temos uma das Grandes Divas do Cinema: Angelica Huston. Que esbanja talento com a sua Eilen. Atriz de presença marcante, mas que não se deixa eclipsar aos demais em cena com ela. Levando a todos a dividirem o estrelato com ela. Passando então para Debra Messing. A doce e estabanada Grace de “Will e Grace” que nessa dá lugar para a emocionalmente em conflitos pessoais e profissionais, mas também doce: Julia. Roteirista de Musicais, e com grandes sucessos na bagagem. Completando esse trio maravilhoso, há Katharine McPhee, vencedora de um dos American Idol. Ela empresta sua voz e talento para sua personagem Karen. Esta mesmo ao declinar de uma ascensão meteórica para até vivenciar as emoções de quase um início de carreira onde se sonha atingir o apogeu, parece ter mesmo seu destino traçado rumo ao topo.

Bem, há muito mais para se falar não apenas do elenco feminino, como também do masculino. Mas preferi focar nessas três porque nelas há a tônica em se fazer uma produção teatral. Em se tentar criar um grande Musical e levá-lo até Broadway. Partindo desse trimônio: cash + história + talentos.

A Broadway é a meca dos Grandes Musicais nos Estados Unidos, e que virou até roteiro turístico: o Musical “Cat” que o diga. Se Los Angeles atrai os sonhos das produções cinematográficas com sua Hollywood… A Big Aple tem na Broadway os sonhos dos que amam fazer teatro.

Ter e manter uma peça ali com toda certeza traz, mesmo que desconhecidos pelo público maior, histórias incríveis. Até com atos nada éticos, quando não criminosos. E é isso que “Smash” vinha mostrando em cada episódio até o último da 2ª Temporada, quando então foi cancelada. Contrato não renovado para outras temporadas. Deixando saudades em seu público cativo, e com um forte desejo de que esse show tem que continuar!

Please! Voltem com novas Temporadas de SMASH!

O Monge. (Le Moine. 2011)

Ambrósio foi abandonado ainda bebê nas escadarias de um monastério no século XVII. Doutrinado com severidade pelos outros monges, cresceu unicamente para servir à religião fazendo com que todos esquecessem a marca que trazia de nascença, uma estranha mancha que poderia ser confundida com a garra do demônio. Exorcizava os terrores íntimos com pregações fervorosas que contagiavam a todos. Valério, um menino desfigurado usando uma máscara de cera, entrará para o convento trazendo inquietação, mistérios e magia colocando a fé inabalável de Ambrósio à prova.

O Monge é uma adaptação do romance gótico de Mattew Lewis dirigido por Dominik Mol e estrelado por Vincent Cassel, perfeito para viver o conflituoso papel título numa performance intensa que norteia uma trama soturna que esbarra nos limites do horror delirante em situações aparentemente cotidianas de ciúme, paixão e desprezo.

Ainda que falte alguma ousadia no que tange às cenas de terror e erotismo contido, estes são justamente os melhores momentos do filme que conduzem o espectador a uma reflexão involuntária sobre como lidar com a fé e o pecado, temas sempre tão controversos para definir em relação aos extremos que podem atingir. Neste caso, confinados num claustro em Madri naquela época, um simples sentimento vira um fardo pesado, um veneno onde o amor nunca deveria existir. No meio de tantas guerras interiores, surgem os demônios, metáforas materializadas nos horrores surrealistas do monge. Citando uma outra frase chave do filme: é bem verdade que o diabo só tem o poder que lhe atribuímos.

O Monge. (Le Moine. 2011). França. Direção e Roteiro: Dominik Moll. Elenco: Vincent Cassel, Déborah François, Sergi López, Geraldine Chaplin, +Cast. Gênero: Drama, Mistério, Thriller. Duração: 101 minutos. Baseado em livro de Mattew Lewis.

“De Amor também se Morre” (“The Constant Nymph” 1943)

Em fevereiro, a grade do canal TCM – Turner Classic Movies-, é totalmente dedicado a “31 dias de Oscar.” Um dos filmes que assisti e que me apaixonei até aqui foi “De Amor também se Morre”.  Sempre quis ver este filme porque sabia que o mesmo nunca fora lançado em DVD ou VHS, e TCM tinha, e tem seus direitos.  Não sabia quase nada sobre o enredo do filme – apenas que era sobre uma menina que se apaixona por um amigo da família, o qual, conseqüentemente, se casa com sua prima.

As cenas de abertura do filme, ilustram a vida do clã Sanger, que vive longe das convenções da sociedade. As meninas da famila se deliciam com a vida rural. O patriaca, que é músico, morre, deixando-as aos cuidados dos tios. O amigo da família, Lewis (Charles Boyer), que também é músico, está de visita, e se rende ao charme de Florence (Alexis Smith), e logo se casa, sem saber que a prima da esposa, Tessa (Joan Fontaine ) morre de amores por ele. Tessa e a irmã são enviadas para Englaterra, onde passam a estudar, mas não se sentem felizes com a vida academica, e pedem “abrigo” na casa de Lewis. Ele vive numa crise criativa para compor, e logo, Tessa se torna a sua fonte de inspiração — ela é única pessoa capaz de compreendê-lo.

Hitchcock foi a primeira opção para dirigir o filme – sua esposa Alma Reville foi quem escreveu o roteiro para a primeira versão do livro de Margaret Kennedy, em 1928–, mas o diretor de “Of Human Bondage” (1946), ficou com a missão de transpor o livro de Kennedy para a tela na segunda versão falada. Como o titulo do livro sugere, Kennedy usa mitologia grega como fonte– ao contrário dos deuses, ninfas são mortais, e, geralmente, espíritos felizes, considerados divinos. Fontaine dá vida essa ninfa (Tessa), uma menina de 14 anos, que “morre” de amores por um homem mais velho, o qual vem a sentir o mesmo por ela. Fontaine me surpreendeu — uma atriz que apesar de bela, nunca fui fã–, em cenas onde ela alegremente corre ao redor da casa ou no quintal, ou em outras cenas, em que, parece inocentemente perdida diante do amado. Não que Fontaine pareça ter 14 anos porque ela sempre foi uma mulher de traços marcantes, mas o maneirismo travesso de menina, e a sua delicadeza enriquecem a sua interpretação. Ela é tão convincente como Tessa, que eu nem percebi que ela já tinha 26 anos quando fez o filme. Creio que não seria fácil encontrar uma atriz de 14 anos para fazer um papel de uma “ninfa”, em 1943—mais tarde o termo ninfa fora ” mordenizado” – com conteúdo erótico por Vladimir Nabokov-, que passou a usar ninfeta,  em seu livro Lolitta (1954).

Honestamente, fiquei encantado com o filme da primeira a última cena – os cenários e figurinos são perfeitos, a bela trilha sonora de Eric Wolfgang Korngold, se enquadra ao tema delicado do filme, de uma forma sublime. O atores são incríveis, em especial Alexis Smith, que também brilha como Florence — a cena que ela tem um confronto dramático com Tessa,  é incrivelmente comovente. O extraordinário Charles Coburn, que interpreta o pai de Florence,  rouba as cenas que parece – que ator mavilhoso!. Boyer que sempre brilha, faz um homem triste, e “cego”, pois demora a perceber o amor de Tessa por ele. O ciúme de Florence, o aproxima da menina – e através de seus olhos, é possivel notar o seu amor por Tessa!.

Achei o filme muito bem coreografado – se assim posso dizer-, e muitas vezes, é possível ver um ator de pé com as costas para a câmera, quase como expectador!. Embora um pouco longo – quase duas horas de duração!-, Edmund Goulding fez um filme bastante crível e interessante.

Nota: 9,0

Indicação ao Oscar de Melhor Atriz: Joan Fontaine.

A Lenda dos Guardiões (2010). Um 3D bem aproveitado.

Um dos pontos positivos nessa febre por versões em 3D, para mim, está em levar um público maior para os Cinemas. Depois, em se ele faz realmente toda a diferença em seu uso num filme. E nesse, “A Lenda dos Guardiões“, o 3D foi muito bem aproveitado. Sendo a estória ambientada no universo das corujas, assim grande parte das cenas se passa à noite, onde o 3D veio dar um maior destaque aos personagens com a escuridão por trás. Nos períodos diurnos, o 3D também teve boa aplicação. Os vôos das corujas é impactante, principalmente com as peninhas das aves ao sabor do vento. É de se perguntar o que mais teriam em tecnologia no Gênero Animação. Tudo fantástico. Então, fica já a sugestão de irem assistir em 3D. Vale o ingresso!

O grande motivador para que eu fosse assistir, fica por conta dos personagens: Corujas. As dos cartazes por si só já eram um convite para mim. Eu sempre gostei delas, desde criança, mais ainda quando fiquei sabendo que são o símbolo da sabedoria. Nos Zoos, só eu parava para vê-las… Uma delas, das Telas, que eu amei, é o Arquimedes, de “A Espada Era a Lei”. Agora terei outras para guardar com carinho na memória: Soren, Eglantine, Gylfie, Crepúsculo e Digger.

Eu assisti a versão dublada, e já disse em outros textos, que sendo em Animação, eu não ligo mesmo. Por gostar das vozes dos Dubladores Brasileiros escolhidos para esse Gênero de Filme. Mas preciso me dedicar um pouco mais nisso, até para ligar a voz a pessoa. Em “A Lenda dos Guardiões“, não foi diferente: as vozes escolhidas foram excelente. Assim, quis já deixar aqui os nomes: quem dublou quem. Fiz uma longa pesquisa pela net, mas não há muitos divulgando os nomes das vozes aqui no Brasil. Nessa pesquisa pela net, eu só encontrei o de quem dublou o Kludd (o irmão malvado do Sorem): Clécio Souto. O jeito foi usar o telefone… E cheguei ao Estúdio que fez a Dublagem: a Delart. Por telefone, me foi passado alguns nomes. Mais que divulgar, uma homenagem a esses Profissionais: alguns dos Dubladores Brasileiros de A Lenda dos Guardiões:
– Soren -> Gustavo Pereira
– Kludd -> Clécio Souto
– Gylfie -> Luisa Palomanes
– Digger -> Gustavo Nader
– Ezylryb -> Mauro Ramos
– Nyra -> Mariangela Cantú
– Echidna -> Isaac Bardavid
– Bico de Ferro -> Jorge Vasconcelos
– Grimble -> Alexandre Moreno
– Pete -> Iago Machado

Em ‘A Lenda dos Guardiões‘ temos nele a saga de um herói. Assim sendo, todo o caminho mítico de um herói, está presente. A saber: foi separado dos pais; não pediu pela missão, ela foi apresentada de forma abrupta, e sem chance de recusa; parte para a missão a princípio acompanhado, mas depois terá que seguir sozinho; se decepcionará por alguém a quem era muito devotado; a missão não apenas muda o universo onde vive, como também a si próprio. Sendo o filme baseado em três dos quinze Livros contando toda a sua saga, só parte desse caminho foi mostrado. Para quem amou ler todas as aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, vai acompanhar toda essa estória com brilho nos olhos. E até ficar com vontade de que venha logo a continuação. Como também em ler todos os volumes escrito por Kathryn Lasky. O filme é altamente recomendado para quem traz o gosto pela leitura desde a infância.

Sobre a estória do filme, de início conhecemos a família e o lar desse pequeno grande herói. Uma família de corujas cujo lar foi destroçado numa certa noite. Enquanto os pais saíram para caçar alimentos, os três filhos – Soren, Kludd e Eglantine – ficaram aos cuidados da babá, Mrs. Plithiver, uma cobra-cega. Soren é um sonhador. Adora ouvir, como interpretar a sua estória preferida: Os Guardiões de Ga’Hoole. De tanto ouvir, acredita piamente que eles existem, assim como o lugar onde vivem: aos pés da Grande Árvore Sagrada. Eglantine, a caçulinha, nutre um carinho especial por Soren. Diferente de Kludd, que ressente não ter do pai, a mesma preferência: acredita que o pai ame muito mais Soren.

Momento para que os adultos com filhos, observem se um dos seus também se sente excluído do amor paternal. E após o filme, dialogar com ele. Durante o filme, um afago já é uma boa pedida.

Soren e Kludd, aproveitando-se da ausência dos pais, resolvem aprender a voar. Soren já demonstra que será ótimo em vôo. contrário de Kludd, que terá que aprende a arte de voar. O que o deixa mais furioso. Ao desafiar Soren, ambos caem da árvore. Sendo raptados e levados para uma espécie de Quartel. Lá, há outras corujinhas também raptadas.

Numa triagem, as corujinhas são separadas. As que tem potencial para serem soldados, são separadas das que serão trabalhadoras braçais, no caso: com os bicos. É onde Kludd e Soren se separam de vez. Kludd vê ali, onde aprender a ser superior a Soren. As outras corujinhas passariam por uma lavagem cerebral. É quando Soren conhece Gylfie, e ela lhe diz como escapar disso. Então fingem-se. Mas um dos guardas, percebe. Acontece que ele ajuda os dois a saírem dali.

Mas em vez de voltar para casa, Soren vai em busca dos Guardiões de Ga’Hoole. Para com isso, não apenas libertar as outras corujinhas, como destruir a arma secreta que os guerreiros Puros planejam dominar toda a Floresta. No caminho, se reúne a eles: Crepúsculo e Digger. Juntos, é diversão garantida.

O filme é muito bom! E como já comentei, toda a tecnologia empregada, é o que mais prende a atenção. Foram brilhante. Nota 10. Vale muito a pena ver em 3D.

Por: Valéria Migues (LELLA).

A Lenda dos Guardiões (Legend of the Guardians: The Owls of Ga’Hoole). 2010. Austrália / EUA. Direção: Zack Snyder. Roteiro: John Orloff, Emil Stern. Gênero: Animação, Aventura, Fantasia. Duração: 90 minutos. Baseado nos três primeiros volumes – A Captura, A Jornada e O Resgate -, da Série ‘A Lenda dos Guardiões’, de Kathryn Lasky (- 01: A Captura; – 02: A Jornada; – 03: O Resgate; – 04: O Cerco; – 05: The Shattering; – 06: The Burning; – 07: The Hatchling; – 08: The Outcast; – 09: The First Collier; – 10: The Coming of Hoole; – 11: To Be a King; – 12: The Golden Tree; – 13: The River of Wind; – 14: Exile; – 15: The War of the Ember.).

A Camareira do Titanic – Ninguém Resiste a uma Estória de Amor

Por: Affonso Romano de Sant’Anna.
Ninguém resiste a uma estória de amor, sobretudo bem contada. As pessoas vão se achegando, ouvindo e se houver chance, opinando, interagindo.

As pessoas querem amar, nem que seja através da fala alheia.

Por isto, conversamos nos bares, nas camas, nos portões, nas janelas, ao telefone, nos confessionários ou consultórios psicanalíticos. Por isto, as pessoas lêem romances, contos, poemas, crônicas, reportagens sobre dramas passionais, ligam novelas na televisão, lêem colunas sociais com mexericos e abrem essas revistas que sendo sobre “quem” são também sobre onde, quando e como as figuras do olimpo se amam e se desamam.

Estou dizendo essas coisas motivado por esse filme de Bigas Luna – “A Camareira do Titanic”. Ele pertence `a safra de diretores espanhóis como Buñel, Saura e Almodovar que brincando com a realidade, fazem surrealisticamente, o público viajar. Bigas Luna não inventou a estória. Tirou-a de um romance francês, cujo nome mal consegui ler na tela e nem apareceu nos resumos de jornal.

Há muito que venho sentenciando que a realidade é apenas a parte mais visível da ficção. Agora tenho que complementar o pensamento e dizer esta outra banalidade: a ficção é o que sustenta a realidade. E quem for ver o filme me entenderá melhor .

Em princípio narra-se a estória de um operário francês que ganha como prêmio ir ver a partida do “Titanic’ do porto de Southampton. Lá está ele, quando bate na porta de seu quarto no hotel uma bela jovem desconhecida, dizendo-se camareira do “Titanic”, pedindo para pernoitar ali ao lado dele. (Fiquem tranquilos que não vou lhes contar o filme, apenas explorar nele alguns aspectos). Pois bem. O fato é que o jovem Horty desperta no dia seguinte sem saber exatamente os limites do sonho e da realidade. Volta para casa com a foto de Marie, e ao ouvir rumores de que sua mulher dormiu com o patrão vai para o bar onde os amigos esperam que ele narre sua viagem. Ali se queda taciturno diante da foto, até que os amigos pedem que conte que mulher era aquela, que romance teve com ela. Ele diz a verdade: nada ocorreu, ela apenas dormiu no seu quarto e ele nem a tocou. Os amigos não aceitam. Provocam. Querem saber detalhes eróticos da noitada. Horty, sem se dar conta, começa a acrescentar dados imaginários à realidade.

Esta sessão no bar repete-se noutros dias. Os amigos, sempre em número maior, querendo mais saber e ele mais acrescentando. As rodadas das estórias eróticas do homem que amou a bela camareira do “Titanic” vai crescendo ao ponto de até sua própria esposa comparecer ao bar, já convertido num quase teatro. As sessões da narração do fato acabam estimulando a vida erótica das pessoas na comunidade, e as mulheres revelam que seus maridos começaram a ter melhor desempenho na cama. Enfim, cresce tanto a fama desse rapaz contando sua mirabolante estória, que um empresário mambembe vem ouvi-lo, e tão impressionado fica, que o contrata para viajar e, logo, encher platéias de teatro com sua crescente e cada vez mais comovedora narrativa amorosa.

Nessas alturas a esposa, antes ciumenta, já embarcou convenientemente na imaginação do marido, incorpora-se `a “troupe”, passando a fazer o papel de Marie. Seguem em representações funambulesca à la Felini. (Disse que não ia contar o filme, mas não há como não sintetizá-lo). Um dia o amante (e ator de seu próprio drama), enquanto descreve a sua imaginária dor real, vê na platéia a verdadeira Maria, que escapara do naufrágio do “Titanic”. Perplexo, ele interrompe o espetáculo, sai à procura dela e descobre que ela é uma prostituta e que ali está com seu gigolô para cobrar uma comissão na estória.

O filme, nessas alturas, dá um salto mortal e sai-se narrativamente muito bem. Realidade e ficção já se misturaram tanto, que a própria Maria acaba se envolvendo amorosamente nela, num desfecho sutil que arremata o que estávamos afirmando ao princípio: de que não apenas não sabemos muito bem os limites entre ficção e realidade, mas que preferimos gostosamente a ficção.

E aí basta olhar a cena em que estamos inseridos. Na tela, os personagens estão provocando e estimulando Horty para que supra a imaginação deles. Eles querem amar através das palavras do narrador. Querem preencher a carência com a abundância imaginativa alheia. Querem seduzir através da sedução alheia, querem gozar com a fala alheia.

Isto, lá na tela. Porque na platéia do cinema está ocorrendo a mesma coisa. Podia ouvir no escuro o suspiro, o coração pulsante, a imaginação latejante de toda a audiência, impelindo o personagem na tela a soltar o gozo imaginário que nos gratificaria a todos. Querem detalhes sobre o corpo dela, sobre o sexo, sobre quantas vezes fizeram amor.

-Doze vezes.

-Doze ?! (exclama um dos ouvintes estarrrecidamente feliz com aquela imaginária marca olímpica no leito). É que as pessoas carecem gozar, nem que seja através dos outros.

Como carecemos de uma estória alheia para esticar a nossa!

Amar no amor alheio.

Amar com o amor alheio.

Amar pela fala alheia .

Se saber contar uma estória de amor é uma arte, saber viver uma estória  de amor é igualmente arte maior e rara. Arte igualmente bela, dificílima e necessária. Verdade é que nem sempre essa estória é contada na mesa do bar. Possivelmente o mundo, dela não tomará conhecimento. Pouco importa. Os que a viveram, embora não a alardeiem se comprazem em vivê-la, em  lembrá-la ou em ver na representação do amor alheio seu realizado amor.

É que a realidade nunca se basta e exige cumplicidade imaginativa.

A realidade não pode viver sem a ficção.

Por: Affonso Romano de Sant’Anna. http://www.affonsoromano.com.br/

Nota do Autor (Jan/2010): Esse texto estará no próximo livro: LER O MUNDO.