Série de Tv: The Big Bang Theory

the-big-bang-theory_serie-de-tv_2007Algumas (muitas) pessoas costumam detonar um filme argumentando que têm clichês demais. Daí não deixo de ter uma curiosidade de se fariam então o mesmo com essa série já que em “The Big Bang Theory” há uma explosão deles. São mais que conceitos. É como a personificação e junção de cada um dos esteriótipos tão usados no Cinema. Basicamente em “The Big Bang Theory” temos um grupo de nerdsSheldon Cooper, Leonard Hofstadter, Howard Wolowitz e Rajesh Koothrappali – convivendo pacificamente com uma que seria a “loura” – Penny -, mas que no fundo tem inteligência bastante para lidar com eles. Onde a escolha dos atores assim como a caracterização de cada um foi mais que perfeita!

jim-parsons_como_sheldon-cooperComeço por aquele que deu vida a Sheldon, o ator Jim Parsons. Que o faz de um jeito que não dá para pensar em outro ator fazendo o Sheldon. Dizer que esse personagem é inteligente seria um eufemismo. Ele é um super dotado com uma mente brilhante no campo científico. Físico teórico com doutorado, trabalha na Universidade Caltech. Além disso possui outras particularidades. Manias bem sintomáticas que nele acaba unindo uma síndrome à outra. Como TOC (Transtorno obssessivo compulsivo) à Asperger, por exemplo. Uma outra mania é o pavor aos germes; de ser infectado. Também se ver inapto para dirigir automóveis. O que o leva a depender dos outros que possuem carros. Bem, dependência em termos! Já que Shelton no fundo vence porque assim se livrarão mais rapiamente dele. Como um meio de se sociabilizar usa o termo “Bazinga” para mostrar sua “emoção” a algo. Ficando para os demais interpretar o que de fato ele expressou com ela. Até porque para ele que interpreta tudo literalmente, e naturalmente, há diferenças significativas em seu comportamento. Outra de suas manias é ser totalmente avesso às mudanças. A performance de Jim Parsons é tão perfeita que nessa onda de dublarem tudo na televisão até bate um receio do dublador não captar também a mesma essência do Sheldon. Até o seu modo de bater à porta de sua vizinha: “Penny, Penny, Penny!

johnny-galecki_como_leonard-hofstadterCom Sheldon vai morar Leonard. Tão bem interpretado por Johnny Galecki. Esse é um nerd mais tranquilo e o mais sensato do grupo. O que até vem a calhar para aturar todos os tiques e manias de Sheldon. Do grupo, Leonard seria a ponte que levaria a todos para um mundo nada acadêmico. Mas é como ele ter um manual para uma vida bem social sem saber como colocar isso em prática. O que seria o seu lado sombra, já que profissionalmente sabe executar o que estava em teoria. Sua timidez não faz dele um líder. Para poder dividir o apartamento com Sheldon teve que passar por um extenso interrogatório. Mais que um acordo de uma agradável convivência, foi mesmo um contrato que teria que ser cumprido. Algo que levaria qualquer um a desistir. Denotando o quanto ele não se importa com bizarrices alheias. Alé de Penny, Leonard irá namorar a irmã de Raj, a Prya (Aarti Mann). Ele trabalha num dos Laboratórios da Caltech.

kunal-nayyar_como_raj-KoothrappaliNo prédio, mas em outro andar mora o indiano Raj. Uma ótima interpretação de Kunal Nayyar. Ele vive com o receio de ter que voltar à terra natal, e lá voltar a conviver novamente com os costumes locais. Ele não se ocidentalizou de todo, mas muito mais por ser extremamente tímido. Sem esquecer de aprendeu a amar Hambúrguer de carne de vaca. Mantém contato pela internet com os pais que moram na Índia, e que sonham ver os filhos Raj e Prya casados. Mas Raj só consegue dialogar com as mulheres quando bebe, e mesmo assim não sai muito bem nas conquistas. Aliás, foi por conta de um drinque criado por Penny que todos eles notaram que ele precisava desse “aditivo” para vencer a timidez. Raj também trabalha na Caltech.

raj_coquetel-grasshopperReceita do Coquetel Grasshopper,o favorito do Raj:
Ingredientes:
40 ml de vodka
20 ml de creme de menta
20 de creme de cacau branco.
Modo de preparo: Coloque todos os ingredientes em uma coqueteleira com gelo. Chacoalhe e depois verta o conteúdo em um copo de martini. Algumas pessoas acrescentam creme Chantilly à receita. (Fonte.)

simon-helberg_como_howardO quarto integrante desse grupo é Howard. Também fica difícil pensar em outro ator interpretando-o. Aplausos também para Simon Helberg. Dos quatro é o único que ainda mora com a mãe, e em outra parte de Pasadena. Não se sabe ao certo se ele foi agregado ao grugo por fazer parte do mesma universidade, a Caltech, ou pela paixão em comum aos quatro: historias em quadrinhos, star wars, jogos virtuais… Howard se acha um grande conquistador, mas fica mais na vontade. Dos quatro amigos é o único que não tem doutorado. Seu mestrado em engenharia vira piada para os outros três. Ele trabalha com Engenharia Espacial. Howard ainda é bem dominado pela mãe judia, fato esse que quem tentará cortar esse cordão umbilical será Bernadette (Melissa Rauch). Ela tem doutorado em Biologia, o que faz com que ele se sinta inferiorizado. Bernadette também terá um salário bem mais alto. Fato esse que deixará Howard em dúvida, pois seria como deixar de depender financeiramente da mãe e passar a depender da futura esposa. A questão maior é que ele não abre mão de gastar seu salário com seus hobbies e invenções. Aliás, as suas invenções são um show à parte. Howard também gosta de fazer mágicas.

apartamentos_the-big-bang-theorykaley-cuoco_como_pennyDesde a primeira Temporada temos a Penny, a “loura” da história. Outra grande interpretação dessa Série: Kaley Cuoco. Ela mora no apartamento frontal ao de Sheldon e Leonard. Penny veio morar na Califórnia para tentar uma carreira de atriz, mas enquanto não “acontece” é garçonete da lanchonete Cheesecake Factory, onde os quatros amigos vão lanchar num certo dia da semana. Consumidora, acaba deixando suas contas sempre no vermelho. Aliás esse seu orçamento acaba “enriquecendo” a trama. Além das compras, se endivida por emprestar dinheiro para seus namorados. Que aliás só namora caras fortes e nada inteligentes. O que dá um um tempero maior em sua vida, já que no lado profissional é decepcionante. Após ter um envolvimento com Leonard não vê mais graça nos de então. Ambos após terminarem o namoro volta e meia transam. No fundo ela é apaixonada por ele. Talvez por ele ser além de inteligente, é um cavalheiro. Algo tão diferente dos truculentos que cruzaram a sua vida amorosa. Sua cultura se baseia em saber tudo das celebridades. De todos é a única personagem sem sobrenome, o que deixa a ideia de que o motivo irá aparecer mais tarde. E Penny é então a ponte entre os nerds e a vida social.

mayim-bialik_como_amy-farrah-fowlerMas a Série não ficou só em “meninos” nerd, trouxeram uma “menina”. Que não é a Bernadette, já que essa faz a mulher moderna: inteligente, que trabalha fora, e desencanada até com o fato de deixar as tarefas domésticas para o marido. A entrada dessa jovem nerd veio para abalar outra estrutura. Pois é! Se Penny já fazia Sheldon estremecer até por sua casa está quase sempre bagunçada, suas discussões se tornam um drama menor com a entrada de Amy Farrah Fowler (Mayim Bialik) na vida dele. Sem o conhecimento desse, Howard e Raj o inscrevem em um programa de encontros pela internet na busca de um par perfeito para Sheldon e terminam encontrando a Amy. Ela é uma neurocientista. Levando todos a verem-na como uma versão feminina do Sheldon. Sheldon e Amy então começam uma amizade. Até porque namorar não está nos planos dele. Ele se dedica mesmo a carreira profissional, como também a uma premiação maior: o Nobel de Física. Amy acaba se apaixonando perdidamente por ele. Como também aceita ter um falso namoro porque a ajudaria a dar uma satisfação a pressão que sofre da própria família por sua solteirice. Para alguém que diz ser desprovido de sentimentos, o arrojo de Amy vira um grande pesadelo para Sheldon. Mas que até por sua curiosidade científica ele aos poucos acaba deixando-a avançar nesse terreno. A convivência com Penny e Bernadette levará Amy a se preocupar mais com a aparência. Ficar mais feminina.

sheldon-socorre-pennyAgora, o grande contraponto de Sheldon é mesmo Penny. Quando juntos, Sheldon e Penny, roubam a cena. Desde ele batendo incessantemente na porta do apartamento dela, até em situações onde ele a leva a um hospital, por exemplo. É o 8º Episódio da 3ª Temporada. Se reprisarem, assistam. É hilário! Deixo aqui parte do diálogo já na sala de espera do hospital:
_ De acordo com a enfermeira inexplicavelmente irritada, será atendida após o homem alegando ataque cardíaco. Mas bem o suficiente para jogar doodle jump no iphone. Temos que preencher isso. Descreva a doença ou ferimento.
_ Desloquei meu ombro.
_ Certo. E como o acidente ocorreu?
_ Já sabe como foi.
_ Causa do acidente? Ausência de adesivos de patos. Histórico médico. Já foi diagnosticada com diabetes?
_ Não.
_ Doenças renais?
_ Não.
_ Enxaqueca?
_ Começando a ter.
_ Está grávida?
_ Não.
_ Tem certeza? Está meio gordinha.
_ Mude enxaqueca para sim.
_ Quando foi sua última menstruação?
_ Próxima pergunta.
_ Vou colocar “em andamento”. Passando para transtornos psicológicos. Liste os sintomas recorrentes, ex: depressão, ansiedade, etc…
_ O que isso tudo tem a ver com meu ombro, estúpido?
_ Ocorrência de raiva psicótica.
_ Idiota.
_ Possível síndrome de Tourette. Verrugas, lesões, ou outras doenças de pele? Tatuagem de sopa na nádega direita.”

kevin-sussman-como-stuartAinda há mais um outro personagem nerd ligado aos demais justamente por trabalhar no local onde os quatro amigos vão muitos: a loja de revistas em quadrinhos. Ele é Stuart (Kevin Sussman). Também é do time dos tímidos como os dos enamorados por Penny. O que deixa Leonard com ciúmes. Por ser ele “um igual”. Stuart é outro aficcionado pelas HQ. Promovendo sempre eventos onde os clientes podem ir com fantasias de seus super heróis preferidos.

Os quatro amigos – Sheldon Cooper, Leonard Hofstadter, Howard Wolowitz e Rajesh Koothrappali -, se dão o direito de zoarem entre si. Até como um jeito de vencerem as barreiras dos preconceitos que sofrem. Ante a um olhar reprovador pelo ângulo politicamente correto, é bom lembrar de um outro grupo bem heterodoxo que também zoavam entre si, no filme “Quinteto Irreverente“. Só para citar um exemplo fora do mundo dos nerds. E é válido também como um “tratamento de choque” para enfrentarem seus piores pesadelos. Como também a história deles mostra que o bullying também se de na própria casa. Onde o trauma perdura com mais força.

the-big-bang-theory_jogos-e-fantasiasEu compro o que a infância sonhou!

Pois é! Todos eles seguem essa máxima. Com o salário na fase adullta eles compram tudo o que desejaram em criança. O que de certa forma não pode ser visto como “síndrome de Peter Pan”. No caso deles pesa o fato que dentro dessa fantasia, se sentem fortes. Se veem como super heróis. Mas sendo eu leiga no campo psico, deixo como sugestão de estudos aos profissionais dessa área. E mais! Excentuando a Penny, que pouco se sabe do seu passado, os quatros amigos tiveram, ou melhor, não receberam carinho e respeito de suas mães. Onde ainda ficam intimidados diante elas.

the-big-bang-theory_a-sexuaidadeMesmo com tanta bagagem cultural excetuando a Penny, todos os demais estão engatinhando na vida sexual. Como também na descoberta da própria sexualidade. Com isso a Série vai deixando no ar até a dúvida de alguns personagens acerca de suas preferências sexuais. Como Raj, por exemplo, que tende às vezes para a homossexualidade. No caso de Amy, ela parece ser bissexual: está apaixonada por Sheldon ao mesmo tempo que sente uma grande atração por Penny. Tesão mesmo. A Série não explicita esses lances, talvez para não bater de frente com os Censores Oficiais. Por outro lado, não mostrando tudo de vez dá vida longa a “The Big Bang Theory”.

The Big Bang Theory” uma criação de Chuck Lorre e Bill Prady teve início em 2007. Com seis Temporadas completas, entrando já na sétima. O que tem deixado a nós, fãs da Série, alegres e na torcida por uma vida bem mais longa. No Brasil é exibida pelo canal Warner.

Então é isso! Uma Série muito engraçada! De se ver e rever. Nota 10!

jargao-do-sheldonPor: Valéria Miguez (LELLA).

Cisne Negro (Black Swan. 2010). Qual teria sido a pressão maior a essa me-Nina?

Indo assistir “Cisne Negro”  já estava ciente de que a personagem principal Nina (Natalie Portman) passava por um distúrbio psíquico. A profundidade dele, só vendo o filme. Por ser eu uma cadeirante, logo com certas limitações, e até mesmo adequações frente a uma nova realidade, batia em mim também uma curiosidade em ver o que ela faria, já que galgava o papel principal na nova montagem do “Lago dos Cisnes“. Claro que estou ciente de que limitações motoras não dá para se comparar com as mentais. Diante disso, fui disposta a observar os maiores detalhes que eu pudesse de Nina e todos em sua volta. E irei trazê-los para cá. Com isso o texto terá spoiler. Ficando também a sugestão de que assistam primeiro esse filme. Que o considero uma Obra Prima da performance da Natalie Portman.

Durante as primeiras cenas me veio a lembrança da Phoebe, personagem de Elle Fanning em “A Menina no País das Maravilhas“. Por ambas terem adentrado num mundo da fantasia. Um meio de escaparem das pressões do mundo real. Outro ponto em comum que também me chamou a minha atenção: foram o papel das mães. No sentido de quanto influenciavam na vida das filhas. No conflito interno que padeciam. A mãe de Phoebe retirou a filha das mãos de um Psiquiatra por achar que o problema seria por não ter tido tempo para a filha. Já a mãe de Nina, Érica (Barbara Hershey), mantinha uma dedicação quase integral. Quando não podia estar junto da filha, tinha outros olhos a lhe informar dos passos da Nina no Teatro. Falando em olhar, o da Érica sobre a filha parecia vampirizar a me-Nina. Meio assustador! Excelente atuação da atriz. E até por conta disso, nem lhe passou pela cabeça procurar ajuda por Profissionais da área Psico.

Esse também é um ponto que irei abordar: da busca por uma Terapia. O termo é mais difundido como o de fazer um hobby. Algo para desanuviar a mente ante a uma pressão, ou bloqueio… Enfim, até pode ser. Mas há de se pesar de que cada caso, é um caso. E só quem poderia avaliar com mais precisão seria alguém que estudou para isso. Sendo ele um profissional sério, saberá encaminhar para um especialista. Como leiga no assunto, me pareceu que o problema de Nina poderia ser pelo menos atenuado com medicação prescrita por um Psiquiatra.

Como eu fui com um olhar em buscar pelos sinais do distúrbio da Nina, o de se coçar até ferir, foi um deles. Sendo nas costas, seria outro já adentrando nos ensinamentos de Jung – a Sombra. Como também para quem gosta de Astrologia – a casa 12. A Phoebe também se autoflagelava como uma punição. No caso da Nina, a princípio, ela nem se dava conta disso. Era como se o seu outro “eu” que fizesse isso. Pode até ser que esse coçar… aos olhos de um Profissional já seria um sintoma. Para mim, seria um aviso de que minha filha estaria passando por um problema que a cabecinha dela não estava dando conta do recado. Um diálogo aberto levaria a outros sinais.

No caso de Nina, sua própria mãe é quem nos fornece maiores detalhes. Que para ela eram todos contornados em tratando a filha como uma criança, ainda. Volto a destacar a atuação da Hershey: foi brilhante! Cheguei a ficar com raiva dela com a solução que ela deu. Conto? Contarei sim. Mas antes, já que a mãe via aquele coçar até se ferir como Compulsão, fui pesquisar por um significado. Trouxe esse do site do Dr. Dráuzio Varella:

O comportamento compulsivo se caracteriza por uma pressão interna que, em determinadas situações, faz com que a pessoa se sinta impelida, tomada por desejo muito forte de realizar uma ação que gera prazer principalmente nos estágios iniciais, mas que depois provoca sentimentos de culpa e mal-estar.”

Para mim, não se aplica no comportamento da Nina. Mesmo se tratando de uma compulsão, não seria cortando as unhas que iria resolver. Porque poderia se coçar com objetos que iriam ferir mais. Como a mãe veio com um – “Você voltou a fazer!” -, então era hora para procurar por uma ajuda. Na cena em si cheguei a ficar com raiva dela em tratar a filha como um bebezinho. E vendo o quarto de Nina, via-se ali os sonhos ainda da infância. Ainda uma adolescente. Achei-o sufocante.

Antes de prosseguir deixo uma indagação: Por que ainda nos dias de hoje há tanta resistência em se procurar por um profissional da área psi? Hora desses profissionais retirarem esse ranço antigo: de que são só para “loucos”.

A mãe de Nina fazia tudo isso por projetar na filha aquilo que ela não conseguiu ser: uma bailarina de destaque. O fato de ficar sempre como pano-de-fundo, a levou a outros caminhos. No filme não faz referência de como se engravidou de Nina. Se foi algo do tipo: teste de palco. Também não há indícios se houve em algum momento uma figura paterna. Não que seja algo imprescindível, mas no caso de Nina essa ausência terá uma consequência. Conto mais adiante.

Essa transferência – o filho será o que não conseguiu ser -, é algo muito forte na cultura estadunindense. Por polarizar: ou se é um winner, ou se é um loser. Mas também está presente na relação – pais e filhos – de outros países. A mãe de Nina a responsabilizava de que com o seu nascimento teve que abandonar a própria carreira aos 28 anos de idade. Algo que me fez lembrar da personagem principal de “Comer Rezar Amar“, onde às vésperas de completar 30 anos, ainda não se via como mãe. Para muitas das mulheres, atualmente, e que querem ser mãe, deixam para ter filhos após os 25 anos. Até para se dedicarem mais esse novo papel em suas vidas. Por conta disso me peguei a pensar de que a gravidez de Érica fora algo indesejado.

Não sei o quanto pesa na vida de uma mulher o fato de tentar conquistar a posição de 1ª Bailarina numa Grande Companhia de Balé. Desconheço os meandros. Sendo assim parto de supor de que alguém tendo 28 anos de idade se ainda não “aconteceu”, ficará difícil alcançar esse posto. Assim, não há desculpas convincentes para as cobranças da mãe de Nina. E a filha ao soltar as primeiras amarras, diz a mãe que ela sempre faria parte do corpo de balé, nada além disso.

O Lago dos Cisne, ou melhor os dois personagens principais – o Cisne Branco e o Negro – pediam por alguém jovem. Que se tiver condições, uma única bailarina faria os dois. Havia também o fato de que a Companhia passava por uma grande crise financeira. Dai, precisando de uma carinha nova; de sangue novo. Por conta disso aposentam a até então primeira bailarina: Beth. Grande atuação de Winona Ryder.

Nina admirava Beth. Aspirava ser perfeita como ela. Buscava pela perfeição em seus ensaios. Que não passou despercebido pelos olhos da Companhia, no caso, do Coreógrafo Thomas Leroy. Uau! Vincent Cassel me surpreendeu nesse papel. Foi brilhante! Não caiu em estereótipo. Seu coreógrafo não me levou a pensar em seus outros papéis. Pode até ser que essa atuação não seja o seu divisor de água, mas está de parabéns.

Thomas fora um Mentor diferente. Ciente da capacidade de Nina, faltava ingressá-la na Sedução o qual o Cisne Negro exigia. Nina já possuía a candura necessária para o Cisne Branco. Um jeito menina de ser. Lhe faltava descobrir a mulher fatal dentro de si e trazê-la à superfície. Bem, poderia apenas aflorar o poder de seduzir, mas a pressão do momento exigia muito mais.

Thomas faz isso de um jeito encantador. Fica meio difícil acreditar que um Pai, mesmo hoje em dia, daria o mesmo conselho. Dai o vi como um Mentor. Indo além, como um cara de bom caráter que sabe esperar que a jovem também o queira para uma relação íntima. Um cavalheiro à moda antiga. Mesmo que as verdadeiras intenções de Thomas eram fazer dela – de fato e de direito – a 1ª Bailarina da nova versão do Lago dos Cisnes.

Seu conselho foi para se masturbar. O primeiro passo para sentir os prazeres do próprio corpo. E então poder exteriorizar essas sensações até para ajudar no processo de sedução. Pois o Cisne Negro teria que ser bem provocante com a plateia. De modo a surpreender a todos com as duas formas de sedução em cada um dos Cisnes. O angelical, do Cisne Branco. O de mulher fatal, do Cisne Negro.

Com isso a me-Nina cresce. Fazendo uma revolução em sua vida. Que até poderia ter vindo como uma consequência natural de vida: infância -> adolescência -> maturidade… Mas tendo a mãe lhe pressionando a não crescer, talvez para que chegasse ao estrelado ainda com o frescor da adolescência. Essa mãe também deveria fazer uma Terapia.

Por estar sempre cobrando o seu nascimento me veio a impressão que ficou no subconsciente de Nina uma aversão a uma relação hétero. Nina passa isso quando um carinha em uma boate a leva para um cantinho. Com o Thomas não foi um desejo carnal, mas em aprender rápido o que ele queria na interpretação do Cisne Negro. Como se não bastassem as pressões: uma doença em evolução, a mãe, a posição de Primeira Bailarina, o sentimento de culpa pela “aposentadoria” da Beth, o querer ser perfeita na carreira, não conseguir se enturmar, o coreógrafo lhe cobrando numa mudança para então fazer também o Cisne Negro… Enfim, se não fosse tantas pressões, o próprio Thomas lhe traz mais uma: uma bailarina para ficar como substituta. Já que “o show não pode parar“… a Companhia precisava ter alguém à altura do espetáculo.

Ela é Lilly (Mila Kunis). Se Nina pudesse raciocinar com calma veria que ali dentro não teria concorrência. Nem Lilly lhe tiraria a vaga. Já que ela não trazia o porte elegante de Nina. Lilly pendia mais para a vulgaridade. Tinha talento sim, mas para se encaixar na disciplina do Balé Clássico, Lilly precisaria de muito treinamento.

Inocentemente, Nina busca em Lilly tudo aquilo que não consegue ser por si mesma. A carência por uma amizade a leva a se entregar de corpo e alma a Lilly. Onde realidade e fantasia se misturam em sua mente. Mas essa por sua vez cerca Nina de todos os modos. Esperando os momentos certos para atacar. A maldade em Lilly lhe era tão natural que cegava a visão de Nina. Não vendo que o que Lilly pretendia mesmo era destronar Nina. Ela só descobrirá já um pouco tarde.

Nina que antes tinha a lhe assombrar o Cisne Negro… direciona a sua limitação em aprender com essa nova amizade. Sem ter consciência da sua nova realidade, no caso, de ter uma outra personalidade, a faz também um objeto de desejo. Ao se masturbar, Lilly se materializa. Onde eu não vi como sendo a descoberta de uma homossexualidade. Era o seu outro “eu” querendo ser provocativa. Me fazendo lembrar de “Uma Mente Brilhante“, onde o “colega de quarto” do personagem principal, o Nash (Russel Crowe), também era o seu contraponto. Mas esse teve alguém que lhe amava e conseguiu ver a real situação do marido. Diferente de Nina que não teve ninguém que pensasse nela como uma pessoa, e que precisava de ajuda. Só pensavam neles. Quando a então notaram… já era tarde demais.

Cisne Negro” também aborda uma outra mudança atual. Até um tempo atrás era muito comum ver menininhas em uniforme de Balé. Fazia parte do sonho infantil: ser bailarina. Até as com tendências a engordarem eram encorajadas numa tentativa em mudarem seus hábitos alimentares. Além disso, elas também ganhavam as primeiras noções dos Clássicos: Música e Dança. Eu não sei se a intenção do Diretor era em mostrar o total desconhecimento dos Clássicos pelos jovens de hoje. Muitos dos quais buscam em serem Celebridades sem o menor esforço, e com muito menos estudos. Um pouco de Cultura não faz mal a ninguém. Aronofsky leva isso nos dois jovens que Nina e Lilly conhecem na boate. Ambos sequer tinham ouvido falar do “Lago dos Cisnes”.

E qual teria sido a pressão maior a essa me-Nina?

Para mim a grande vilã dessa história foi a mãe de Nina. Que a conduziu até a borda daquele precipício. Final emocionante. Para ficar na História do Cinema.

Ao fechar as cortinas…

Bravo Natalie Portman! Sua Nina entrou para a Lista das Grandes Personagens Femininas! Aplausos também a todos! Desse excelente filme.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

1,99 – Um Supermercado que Vende Palavras (2003)

O dia, a água, o sol, a lua, a noite, tudo isso não compro com dinheiro; tudo mais que queremos, compramos.” (Plauto)

A produção cinematográfica dos tempos atuais é imensa; várias nacionalidades e gêneros sendo impossível acompanhar tudo, e a qualidade fica a desejar. Enxurrada de filme descartável. Em três minutos após uma sessão, não nos lembramos sequer do título, com raras exceções. Uma dessas exceções já considero não só um clássico como também cult do cinema brasileiro, ficou pouquíssimo tempo em cartaz, não lotou salas, por isso não está na lista dos campeões de bilheterias, é o  1,99 – UM SUPERMERCADO QUE VENDE PALAVRAS. de Marcelo Masagão. Dele, o público brasileiro aprovou e aplaudiu o Nós Que aqui Estamos por Vós Esperamos.

O que me atrai da sétima arte é geralmente um roteiro inteligente, e nada convencional; como diz um amigo “aquilo que não é óbvio” e o cinema brasileiro tem o talento deste cineasta, representando muito bem a sua categoria no quesito roteiro, direção e arte; o dom e a sensibilidade na narração de um conto de fadas à altura de Ettore Scola, por exemplo, na direção de O BAILE, completamente sem diálogos ponto de contato entre ambos.

Os setenta minutos do filme ‘1,99’ se passa dentro de um supermercado completamente branco onde os clientes, oitenta ao todo, vão às compras dos produtos principais dessa loja que são simplesmente PALAVRAS, e lá acontecem situações bem curiosas. Os ‘protagonistas’ deste conto de Masagão são:  o desejo, a angústia e a compulsão que representam a ânsia  que o homem tem de comprar e gastar. Essa idéia de fazer um supermercado estilizado como uma instalação de arte, inteiramente branco saiu da leitura do livro NO LOGO, (em português Sem Logo – A Tirania das Marcas em Um Planeta Vendido), da jornalista canadense Naomi Klein. Neste livro a autora faz uma rigorosa e surpreendente análise de como as grandes marcas têm necessidades intrínsecas de se fetichizar ao infinito para sobreviver. O roteiro é instigante. Não só a cor da loja como todos os seus produtos nas comportadas prateleiras da mesma cor; caixas empilhadas apenas com o nome nas embalagens. O que você compraria numa loja de preços populares, ou R$ 1,99 além de amor, saúde, felicidade, compaixão, vida? Interessantes histórias ocorrem neste lugar, onde ninguém consegue sair, a comunicação e totalmente visual, por slogans, palavras e frases soltas espalhadas pela loja; pessoas brigando pelo último mesmo produto, idosos entrando nas geladeiras simbolizando talvez a morte…

O diretor fez combinações formidáveis de imagens impactantes com pequenos textos ou palavras isoladas, espalhadas pelo mercado, entre pacotes e produtos, desafiando os rótulos convencionais, não considerando exatamente um documentário, já que utiliza atores e retrata idéias e não fatos comprovados; e toda obra tem um pouco de ficção.

Loja de 1,99 (preço, precinho, como diz uma propaganda), especializada na venda de conceitos, o valor de uma pechincha ilustrando muito bem o mundo atual com a febre de consumo imediato e tudo que existe e que assola o homem moderno, definindo-o como ‘você é aquilo que possui’; compra-se sem necessidade, coisas que não se precisa que nunca se usará pelo mero prazer do que simbolizam: o status, um estilo de vida sonhado, mas nunca alcançado, já que sua regra básica implica na própria necessidade de querer sempre mais e mais.

Os fregueses deste supermercado de 1,99 pertencem a uma classe social definida como a elite, a classe A e B,  representados pela cor de seus trajes sempre claros; já no lado de fora, há outro tipo de consumidor trajando diferentes cores aguardando o convite para entrar, simbolizando os excluídos. Pessoas de todas as faixas etárias passeiam  com seus carrinhos, buscando entre um corredor e outro, nas prateleiras, o produto desejado. O filme soa familiar, a rotina nossa de cada dia de ir às compras, ao  mercado de preferência, passar pelo mesmo caixa, esbarrar nos funcionários patinadores repondo mercadorias ou em outros afazeres, passar pela cortesia do cafezinho, comprar supérfluo…

“Consumir tornou-se, para a maior parte das pessoas, uma fonte de prazer quase orgástica; e introduzir o cartão na fenda do caixa eletrônico iguala-se, portanto, ao ato sexual em si.”

Se eu fosse dar um Oscar para um filme brasileiro (não que ache isso importante) seria pra este de Marcelo Masagão pela sua originalidade e criatividade. Nosso país vai ganhar, acredite, pois tem potencial para isso, nosso cinema é tudo de bom, idéias brilhantes, e originais tem-se de montão, como também capacidade e boa vontade.

O filme possui uma narrativa com situações bem contextualizadas. E o seu gênero, POESIA MODERNA. E então, que mercadoria deste supermercado você colocaria no seu carrinho?

Considero 1,99 Um Supermercado que Vende Palavras, uma obra-prima do cinema nacional. Não deixe de COMPRAR essa idéia. Assista!

Cotação: *****

Karenina Rostov

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FICHA TÉCNICA
Título Original: 1,99 – Um Supermercado Que Vende Palavras.
Origem: Brasil, 2003.
Direção: Marcelo Masagão.
Roteiro: Marcelo Masagão e Gustavo Steinberg.
Produção: Clarissa Knoll e Gustavo Steinberg.
Fotografia: Hélcio Alemão Naganine.
Música: Wim Mertens e André Abujamra.

Aqui você pode entrar!