Álbum de Família (August: Osage County. 2013)

album-de-familia_2013Por: Eduardo Carvalho.
album-de-familia_sam-shepard-e-meryl-streepViolet Weston, viciada em pílulas. Beverly Weston, viciado em álcool. Em seus primeiros diálogos na tela, sobram alfinetadas e amarguras. No dia seguinte, Beverly some. Encontrado morto dias depois, torna-se motivo para a reunião da família.

Álbum de Família mostra uma família disfuncional, no calorento meio-oeste americano, em que cada membro mostra suas garras, quando se reencontram por conta do desaparecimento do pai. Em permanente estado de pé de guerra, as três filhas do casal se ressentem da dureza da mãe; uma das filhas encontra-se em conflito com o marido, enquanto a filha deles tenta lidar – à sua maneira – com o casamento fracassado de ambos; personagens em crise constante, tentando estabelecer-se como indivíduos, enquanto mal cumprem seus papéis sócio-familiares.

O público vê tais situações todos os dias na tela da TV. Não por acaso, o diretor John Wells vem de seriados como ER e West Wing. No entanto, os diálogos ácidos e certeiros, cheios de rancor e demais afetos, mal caberiam na tela da televisão. O filme é uma adaptação da peça de Tracy Letts, August: Osage County, sucesso da Broadway e vencedora do Pulitzer, feita pelo próprio autor em colaboração com John Wells. Ambos trabalharam por meses na transposição do texto, e parece que Letts não fez questão de esconder seu tom autobiográfico. Seu avô realmente teria se afogado, e sua avó viciou-se em pílulas.

album-de-familia_2013_personagensMas não bastariam a força dos diálogos e da estória para que o filme funcionasse. É certo que a obra fisga o público pela identificação deste com seus próprios históricos familiares – a competição dos filhos pelo amor dos pais, traições, mentiras e segredos, são elementos comuns em famílias numerosas. Álbum de Família atinge ainda mais pelo trabalho de todo o elenco, que dá vida e a intensidade necessárias ao texto de Letts. Chris Cooper, sempre um coadjuvante de luxo, protagoniza a hilária cena da oração à mesa de jantar, de onde resultam risos mal contidos da plateia. Juliette Lewis faz com rara felicidade a mulher sonhadora, fácil de ser iludida pelo “namorado da ocasião”, nas palavras de uma das irmãs. Julianne Nicholson, a filha que “escolheu” ficar próxima aos pais, tem nos conflitos íntimos da personagem a maior força do papel. Sam Shepard, no pequeno e marcante papel que lhe coube, dá mostras de seu grande talento.

album-de-familia_julia-roberts-e-meryl-streepPorém, os grandes destaques não poderiam ser outros. Uma desglamurizada Julia Roberts faz Barbara Weston, a filha que, em face do esfacelamento da família – e como a favorita do pai morto – tenta ficar à frente da situação. É tão dura quanto a mãe, com quem trava grandes embates verbais – e não verbais. E Meryl Streep, especializando-se em mulheres detestáveis, mantem-se no topo do panteão das grandes atrizes. Dificilmente uma atriz emenda duas grandes atuações em sequência – como esquecer sua Dama de Ferro? –, mas Streep é a exceção que confirma a regra. A complexidade de sua Violet, amargurada e ressentida pelo desdém das filhas, pela morte do marido e pelo tratamento de um câncer, torna a matriarca digna de raiva e compaixão por parte do público. E consta que ela não queria o papel…

Tantos talentos reunidos resulta em um dos grandes filmes americanos de 2013.

Álbum de Família (August: Osage County. 2013). EUA. Diretor: John Wells. Elenco: Meryl Streep (Violet Weston), Sam Shepard (Beverly Weston), Julia Roberts (Barbara Weston), Julianne Nicholson (Ivy Weston), Juliette Lewis (Karen Weston), Abigail Breslin (Jean Fordham), Chris Cooper (Charlie Aiken), Ewan McGregor (Bill Fordham), Margo Martindale (Mattie Fae Aiken), Dermot Mulroney (Steve Huberbrecht), Benedict Cumberbatch (Little Charles Aiken), Misty Upham (ohnna Monevata). Gênero: Drama. Duração: minutos. Baseado em Peça Teatral de Tracy Letts, que também assina o Roteiro do Filme.

A Condenação (Conviction. 2010)

A história em si foi o que me motivou mais a ver esse filme. Em conhecer essa mulher que lutou por anos tentando inocentar o irmão. Já imaginando que com isso ela deixaria outras vidas à margem. Mais do que um amor fraternal, haveria um amor maternal dentro de si. Mas e para os próprios filhos, eles ficariam mesmo de lado durante essa missão? Lugar comum ou não, há no coração de uma mãe o se doar mais ao filho que tem mais chance de sair do caminho. O que tem uma mente mais suscetível as tentações da vida. Como na Parábola, essa irmã/mãezona vai em busca da ovelha desgarrada.

O título original é perfeito, pois se não tivesse tanta convicção da inocência do irmão o mesmo iria apodrecer na prisão.

Em ‘A Condenação’ a história é dessa personagem – Betty Anne Waters -, muito bem interpretada por Hilary Swank. Nossa! Tem hora de desejar que o irmão seja mesmo inocente por causa dela. E que quando entra em cena a personalidade do irmão… Essa convicção ganha uma oitava maior. Bravo Betty Anne!

Sam Rockwell é quem faz o Kenny, o irmão de Betty. Nossa! Ele quase rouba todas as cenas. Perfeito no papel! Talvez por conta de sua performance que no Brasil escolheram como título “A Condenação“. Com o desenrolar da história Kenny me fez pensar no personagem de River Phoenix do filme “Conta Comigo” (Stand by Me. 1986). Por conta de um temperamento instável, por vezes bem agressivo, fica mais fácil de induzir a todos que acreditem na culpa dele. Que o condenem mesmo sendo inocente.

O filme é longo, mas não perde o ritmo, como também deixa um querer ver de novo pelo menos até o julgamento onde condenaram Kenny por assassinato em primeiro grau. Onde mulheres se voltaram contra ele em testemunho, além de uma policial, Nancy Taylor, tentando mostrar serviço. Papel esse interpretado por Melissa Leo. Perfeita. Uma das mulheres que testemunhou que fora ele o assassino é interpretada por Juliette Lewis. Meio irreconhecível, mas também perfeita. Essas duas, mais a mãe da filha de Kenny, conseguem nos transmitir indignação pelo o que fizeram. E com isso das atrizes merecerem aplausos pela performance.

A Condenação” começa num tempo próximo ao presente da história. Em flashback conhecemos um pouco desde a infância desses dois irmãos. Dos dois, mesmo sendo Betty a caçula, há nela a força de salvaguardar o irmão. São arteiros os dois, mas com o temperamento pavio curto dele, e a falta de paciência dos adultos, Kenny cresce com a fama de bad boy. Com isso num local pequeno o “Recolham os suspeitos de sempre!” Kenny é sempre indiciado.

Voltando a falar do amor maternal… A mãe de Betty e Kenny praticamente só os trouxera ao mundo. O que aumenta em Betty o amor até como proteger o irmão. Mais tarde com o primeiro filho Betty chega a dizer que nunca seria como a mãe dela foi. Mas com a condenação do irmão, mesmo estando sob o mesmo teto com seus filhos, mesmo tentando ser presente na vida deles, era como se estivesse ausente. Seus filhos foram crescendo vendo a mãe com o tio dominando seus pensamentos e atos. Ela até voltou aos estudos. Queria muito cursar Direito, ser advogada, e tentar achar um jeito de inocentar o irmão. Por tudo isso, não tem como julgá-la negativamente. O máximo seria em se perguntar se faríamos o mesmo ou não. Mas há mais reflexões. Tanto dos filhos da Betty com ela. Como de quem seria Kenny se não fosse o amor da irmã.

A condenação do irmão acontece em 1983. De lá para cá a ciência evoluiu fazendo com que as Leis se adequasse em aceitar novos meios de se provar algo. Era uma nova porta que se abria. Mas… Outros obstáculos pareciam não evoluir. Admitir que errara, era um deles.

Betty fora o tempo todo incansável. Só se deixou abater por causa de um motivo. Que lhe quebrantou sua alma. Por sorte o destino colocara em sua vida uma amiga de verdade: Abra Rice. Mais uma magistral interpretação nesse filme, e de Minnie Driver. Pois é! Como se não bastassem tantos temas abordados nesse filme, ele nos presenteia com essa linda história de amizade. Abra entra na vida de Betty como uma lufada da brisa da manhã. Traz vida nova! É daquela que diz a verdade com convicção de que o faz por gostar, por querer bem, a amiga. Abra nos mostra que amizade como a dela está ficando mais raro. Pois muitos só querem amigos para massagear o ego.

Por tudo isso, e muito mais que eu dou Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

A Condenação (Conviction. 2010). EUA. Direção: Tony Goldwyn. Roteiro: Pamela Gray. +Elenco. Gênero: Drama. Duração: 107 minutos. Baseado em fatos reais.

A Condenação (Conviction. 2010)

A razão que  me levou ao cinema para assistir “Conviction, 2010“, foi a atriz Hilary Swank (Betty Anne), e a estória do filme em si- embora soubesse do final. “Conviction” é o segundo filme dirigido pelo ator Tony Goldwyn (o vilão Carl de “Ghost”, 1990), e achei que ele fez um belo trabalho.

O filme começa com as conseqüências de um terrível assassinato em Ayer, Massachusetts. O policial local Nancy Taylor (uma Melisa Leo desconfortável vestida de policial-, mas num desempenho bonito, principalmente na sua ultima cena, no filme), tem problemas contra Kenny Waters (Rockwell), após anos de seu comportamento vadio. Apesar de suas alegações não furar, anos depois, Kenny é condenado pelo crime com base no depoimento de sua ex-esposa e uma amiga que afirmam que ele se gabou do crime.

Ao longo dessa introdução, o filme relembra Betty Anne e Kenny quando crianças- muitas vezes se metendo em confusão. A mãe deles é negligente e vive se embriagando. Essas cenas fazem um trabalho louvável, que estabelece a convicção de Betty em lutar por 18 anos para ver o seu irmão livre.

O filme tem um pouco de “Erin Brockovich”: Betty sacrifíca o seu casamento, abandona a guarda de seus dois filhos, luta para conseguir um diploma de Direito. Se torna advogada. Tem ajuda de uma amiga vivida por Minnie Driver e, pelo famoso advogado Barry Scheck (Peter Gallagher), que  ajudou na defesa de  J. O Simpson, como consultor jurídico.

Os desempenhos de Swank e Rockwell elevam o filme. Tem cenas que não contive as lágrimas. Rockwell fez Kenny de um modo, onde gira sobre o humor e o charme, e, às vezes, mostrando um temperamento elevado, onde se pode sentir sua raiva, rebeldia, e a esperança pelo melhor.  Uma atuação digna de ser indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante, em 2011.  O personagem Betty Anne não exige muito de Swank, mas a autenticidade, a bravura, e  convicção do seu desempenho fazem esse papel um dos mais atraentes de sua carreira.  Ainda, acredito que haja uma vaga para ela entre as 5 candidatas ao Oscar de melhor atriz, em 2011.

A atuação de Juliete Lewis é outro ponto marcante do filme. Ela faz  o papel da namorada rabujenta de Kenny. Lewis praticamente rouba todas as cenas do filme- pena que são poucas-, mas recordo que quando vi os dentes dela, eu quis sair do cinema e ir imediatamente para um dentista. Foi tão brutal vê-la falar, que sinceramente, pode sentir o cheiro de seus dentes.

O Ponto fraco:

A narrativa parece apressada para chegar ao cerne da questão e, depois fica no drama entre Kenny e sua filha adulta, fazendo o final se arrastar demais. Embora, como um drama de tribunal (chega ao patamar de “Erin Brockovich”), isso é, “Conviction” é superior a qualquer filme de televisão em horário nobre.

P.S.: O filme esqueceu de destacar que Kenny Waters morreu de traumatismo craniano causado por uma queda em apenas três meses após a sua libertação da prisão.

Sem data de lançamento no Brasil 😦

Conviction (2010)- 107 min. Drama. Direção: Tony Goldwyn  Roteiro: Pamela Elenco: Hilary Swank,  Sam Rockwell, Minnie Driver, Juliette Lewis, Melissa Leo, Peter Gallagher.

Um Parto de Viagem (Duo Date). 2010

Depois do sucesso de “Se Beber, Não Case” (The Hangover – A ressaca), Todd Phillips continua reformulando o humor pastelão cujos elementos de outrora ainda estão lá acrescidos de uma sensibilidade e sofisticação peculiares ao diretor. Se no outro longa, o protagonista fazia das tripas coração para chegar a tempo no próprio casamento após uma louca despedida de solteiro em Las Vegas atravessando os Estados Unidos em situações surreais, a trama se repete na essência em “UM PARTO DE VIAGEM” (Due date) trocando o matrimônio pelo nascimento do primeiro rebento de um casal.

O trapalhão deste filme não tem noção do perigo que representa e se desmancha em pieguice com o novo amigo Peter (Robert Downey Jr.) que é obrigado a aceitar sua parceria na estrada em meio a passagens inacreditáveis na companhia do cachorro que se masturba como o dono e dos restos mortais do pai do estranho sujeito guardados numa latinha de café para serem devidamente espalhados no Grand Canyon. É justamente este sentimentalismo exacerbado e afetado do personagem Ethan vivido pelo excelente Zach Galifianakis, que faz de “DUE DATE” uma comédia diferente e especial.

O humor rasgado de antigamente dá lugar a uma gargalhada nervosa oriunda de elementos psicológicos profundos apesar do exagero nonsense de tudo o que acontece no filme. Esta parece ser a graça do novo século. Convém acostumar.

Carlos Henry

Um Parto de Viagem (Duo Date). 2010. EUA. Direção: Todd Phillips. Elenco: Zach Galifianakis (Ethan Tremblay), Robert Downey Jr. (Peter Highman), Michelle Monaghan (Christine Highman), Jamie Foxx (Jim), Juliette Lewis (Heidi), Danny McBride (Lonnie), RZA (Segurança do aeroporto), Todd Phillips (Barry), Bobby Tisdale (Carl), Aaron Lustig (Dr. Greene), Jon Cryer (Alan Harper), Charlie Sheen (Charlie Harper). Gênero: Comédia. Duração: 100 min.

Assassinos por Natureza (Natural Born Killers. 1994)

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Assassinos por Natureza – Natural Born Killers

Direção: Oliver Stone

Gênero: Aventura, Ação, Violência

EUA – 1994

Natural Born Killers (literalmente, assassinos natos [matadores natos]), de Oliver Stone, traz ao cinema, junto com “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”, ambos de Quentin Tarantino, a estética da violência, tornada espetáculo. Trata-se de desfazer o discurso maquiador da violência e mostrá-la realisticamente, o que corresponde ao naturalismo em literatura (Emile Zola).

Stone usou todos os recursos conhecidos para mostrar sua idéia em imagens, da filmagem super-8 à comédia tipo “I love Lucy” (acho que ninguém aí vai lembrar disso rs) – cena da família de Mallory -. Vale a pena manter o controle remoto em mãos e passar quadro a quadro determinadas cenas, pq algumas chaves para a compreensão da personalidade da dupla são dadas muito rapidamente (p. ex., a violência sofrida por Mickey nas mãos de seu pai, o qual inclusive devora ou arranca a dentadas um pedaço do próprio filho na infância, o que só é visível qdo usamos o quadro a quadro).

O tema do filme não é a dupla psicopata Mickey e Mallory (brilhantemente encarnados por Woody Harrelson e Juliette Lewis, esta com sua maravilhosa cara de porra-louca full time) – mas o que a mídia faz da dupla e a identificação idolátrica do povo com ela.

A questão é: pq os criminosos exercem tamanho fascínio, a ponto de serem endeusados pela população?

Cito dois textos de Freud que tratam de criminosos: “Totem e Tabu” (1913) e “Dostoievsky e o parricídio” (1928).

Em “Dostoievsky e o Parricídio”, Freud diz que o criminoso tem duas características: uma quantidade grande de pulsão agressiva e a incapacidade de se ligar afetivamente a objetos humanos. Em suma, um egoísmo (narcisismo) imenso.

Em “Totem e Tabu” (obra que estuda o animismo e o totemismo, a mais antiga religião humana, e a semelhança entre a mente do selvagem primitivo, da criança e do neurótico obsessivo) Freud nos mostra o mecanismo das instituições penais.

Todo homem traz em si uma agressividade inata, por suas pulsões destrutivas dirigidas ao mundo externo. A sociedade exige que ele recalque essa agressividade e a sublime ou desvie para funções socialmente aceitas. Alguns não aceitam tal restrição de sua agressividade (ie, de sua liberdade) e infringem as leis que a proíbem de ser satisfeita – tais são os criminosos.

Porém cada homem tem, em seu inconsciente, o desejo dessa transgressão, seja, o desejo de satisfazer suas pulsões (agressivas e eróticas). Caso alguém satisfaça tal desejo e permaneça impune há o risco de despertar o mesmo desejo nas outras pessoas, que não hesitarão em satisfazer seus desejos anti-sociais (especialmente incesto e parricídio, ie, assassinato).

Por isso a Lei deve se fazer observar graças a uma pena imposta contra os transgressores (essa pena visa a intimidar e dissuadir os demais de cometer o ato proibido, enquanto tb pune o delinquente). O Direito necessariamente é coativo para garantir a observância, pelo medo, das suas injunções. é a coação que especifica a norma jurídica e a difere de outras normas sociais.

Mas o desejo homicida permanece no inconsciente e é contra esse desejo que se volta a instituição penal – pq somos todos “miseráveis pecadores”, nas palavras de Freud – é preciso evitar o contágio pelo exemplo.

Por isso admiramos assassinos e ladrões – pq eles ousaram satisfazer um desejo que nós próprios possuímos em nosso inconsciente. assim, satisfazemos nosso desejo através dos criminosos, igualmente, rejubilamos ao ver o criminoso exemplarmente punido, pq a punição sanciona o nosso recalque. Se não houvesse punição, não teríamos pq nós mesmos respeitarmos o “pacto social”.

O povo que aplaude Mickey e Mallory recomenda2 na verdade os aplaude pq eles ousaram satisfazer os mesmos desejos que nós temos. Esse aplauso não significa necessariamente aprovação – tanto que exigimos sua punição e ninguém deseja ver criminosos soltos e impunes.

Por: Vampira Olímpia