Série: The Family (2016 – ). Estilhaçaram novamente aquelas vidraças… E agora?

the-family_serie_00Por: Valéria Miguez (LELLA).

Estariam todos eles em busca de uma identidade própria?

A Série “The Family ao nos levar para dentro de um drama familiar o faz com pitadas de um thriler! Até porque mais do que revelar os acontecimentos, somos conduzidos a refletir quem são cada um deles individualmente! Tanto no núcleo da família protagonista, como também com alguns de fora, mas diretamente envolvidos na trama, voluntariamente ou não, personagens do passado dessa família como também aderidos as circunstâncias atuais. É que o foco principal se dá com a volta de um dos filhos do casal dado como morto há dez anos atrás. Onde até houve uma pessoa que foi condenada por tal crime.

Assim, temos segredos entre si e para além daquelas vidraças novamente estilhaçada!

Do núcleo familiar temos: conflitos entre o casal central; um dos filhos sentido o peso de ser o ‘loser‘; carreiras profissionais que os afastam até afetivamente do lar, inclusive num jogo perverso quando a ambição fala mais alto… Por ai segue! A saber, temos: a matriarca é Claire Warren, personagem de Joan Allen (de “A Outra Face da Raiva“). Que se com a comoção com a perda ela foi eleita para Prefeitura local, agora com o retorno do filho aproveita para voos mais longe, ser a Governadora. Ajuda não apenas pela atenção midíatica, mas também pela própria filha do casal, a jovem Willa Warren, personagem de Alison Pill (de “Scott Pilgrim Contra o Mundo“). Dela, Claire recebe “ajudas” que nem faz ideia. Com a volta do filho, o pai que se encontrava em viagens, volta então para casa. Ele é John Warren, personagem de Rupert Graves (de “V de Vingança”). John sem querer ficar à sombra da esposa tornara-se um notório escritor e palestrante sobre com o tema “Luto em Família”. Embora feliz com a volta do filho caçula, perde um pouco seu chão profissional, além de ter também a volta de um antigo affair. Ele também fica dividido se o jovem é ou não o seu filho, mas não tanto como o outro filho, Danny, personagem de Zach Gilford. Outrora um adolescente alegre e desportista, encontra-se perdido no álcool. O que pode lhe deixar desacreditado se o irmão é ou não um impostor. Até porque o então Adam (Liam James, de “2012“) deixa dúvidas em quem assiste, se ele é o não o verdadeiro Adam.

the-family_serie_01Com a volta de Adam…

Temos Hank Asher, personagem de Andrew McCarthy (de “O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas“). Vizinho dos Warren e já tendo sobre si um caso de pedofilia, fora coagido a confessar o assassinato de Adão: o que lhe rendeu dez anos atrás das grades. Inocentado, e até recebendo uma alta quantia pelos danos morais, tenta voltar com a vida. Só que agora parece que terá uma mais isolada: todos na localidade o reconhecem e se distanciam. Além de ter que conviver com o ódio dos Warren. Que em vez de um pedido de desculpas, recebe a fúria de John por culpá-lo das privações que o filho passara nesses dez anos. É que com a confissão, o caso fora encerrado pela Justiça, não havendo mais buscas.

Também volta à cena a então Sargento de Polícia Nina Meyer (Margot Bingham). Nina fora a detetive encarregada de resolver o caso do sumiço do pequeno Adam. No afã até de se promover, baseando-se mais em disse-me-disse do que provas, ela então forçara Hank a se confessar culpado. Agora, não lhe resta outra alternativa em ir em busca do verdadeiro culpado e com o que colheu agora do Adam. Além de se ver novamente envolvida amorosamente com John.

Além de também entrar em cena dessa vez uma repórter local, Bridey Cruz (Floriana Lima). Talvez em busca de voos mais longe, Bridey que até então tem uma coluna/blog sobre o estilo de vida de uma homossexual, agarra a notícia da volta de Adam como o seu passaporte. Para isso até fará um jogo de sedução com Danny, que até estava junto com ele no dia em que ele desaparecera.

E com eles e mais outros personagens a trama segue pulando entre o passado e presente, mas com cortes precisos onde vai mostrando a história além de manter o suspense do que ainda está por vir. E todos estão bem ambientados com o contexto. O que é muito bom! As performances estão de fato ótima! Assim como o desenvolvimento da trama!

Ponto para a criadora, Jenna Bans, que em “The Family” dá o seu voo solo, após ser co-roteirista em “Scandal” e “Grey’s Anatomy“, entre outras séries. O que lhe dá bastante base para emplacar nessa sua primeira obra. Tomara que agrade também os fãs em solo americano já que é audiência nos Estados Unidos que conta ponto para ir ganhando mais temporadas. Estando ainda com poucos episódios nessa sua primeira temporada exibida pela canal Sony. Eu estou gostando!the-family_serie_2016

A Delicadeza do Amor (La Délicatesse. 2011)

A principal motivação para assistir esse filme fora a atriz Audrey Tautou. E que pelo título, antes mesmo de vê-lo, me veio o pensamento que seria adequado à ela, a eterna e maravilhosa Amélie Poulain. Mas que fica também a lhe pesar na carreira de atriz. Talvez até a querer fazer uma outra personagem memorável. Em “A Delicadeza do Amor” enquanto ela ficou nessa de meiguinha, foi ótima. A questão mudou quando teve que posar de sedutora. De uma Chefe usando o funcionário como, eu diria como um experimento a um novo amor. Não ficou natural, nem mesmo porque deveria passar como se fosse algo a testar sem o menor envolvimento.

Audrey Tautou faz Nathalie. Que no início do filme vive um grande amor. Apaixonada e feliz, nem dá atenção às investidas do seu próprio Chefe. Esse, embora casado, se mostra apaixonadíssimo, e que por ela sairia do seu casamento. Essa paixão nada correspondida dele por Nathalie vira até motivo de piada na firma.

Ainda no início do filme Nathalie fica viúva. E é quando o filme cai num marasmo. Poderiam ter enxugado um pouco. Mesmo que o Cinema Francês seja tido por muitos como lento no contar uma história, pelo contexto bastava pontilhar esse período de luto até ela se vê como a bola da vez nos comentários na firma.

Até então Nathalie se fechara a uma vida pessoal e social. Era só trabalho, em cima de trabalho, o que a levou a um crescimento profissional. Mas ao se ver o centro dos fuxicos, questiona uma amiga. Como se não tivesse ciente de seu isolamento. Para tentar provar que estava viva, ela beija o tal funcionário de sua equipe. Ele é Markus, muito bem interpretado por François Damiens. E é a partir daí que o filme volta a ficar interessante.

Quem ama o feio, bonito lhe parece.”

O tal beijo deixa Markus ligado nela. Timído por natureza, chega a ganhar auto-estima. Um lance que inverte o comum, pois o assédio aqui passa a ser de uma Chefe mulher. E que diferente do seu chefe, Nathalie passa a cobrar por uma certa indiferença de Markus. É que se para ele, a flecha do cupido o acetara de imediato, para Nathalie não. Ou, ainda não desconfiava disso. Como Markus resolveu investir tempo e calma nessa conquista, ao agir como se ela não fosse tão importante, acaba surtindo o efeito desejado. Pois o lado mulher muito mais que a chefe acaba não aceitando numa boa o fato de ter sido rejeitada. A bela vira uma fera. O que causa mais espanto em todos vê-la apaixonada por um cara simplório, e na visão de todos, feio.

Esse é um dos pontos altos dessa história: a quebra do preconceito que dá mais valor ao exterior da pessoa.

Embora não haja idade para o amor, a história em si ficou como uma adolescência tardia, e de ambos. Deixando essa história bonitinha, apenas. Sem comover. Mesmo tendo Paris como cenário. O que ao final do filme me levou a pensar se a trama teria funcionado melhor com uma outra atriz, sem a “Amélie Poulain”. Uma pena! Mas o filme não me agradou de todo.

Nota 07.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

A Delicadeza do Amor (La Délicatesse. 2011). França. Direção: David Foenkinos, Stéphane Foenkinos. Roteiro adaptado por David Foenkinos de seu próprio livro. Gênero: Comédia, Romance. +Elenco. Duração: 108 minutos.

Direito de Amar (A Single Men. 2009)

Foi inevitável a confusão entre o belo drama “A Single Man” (Direito de Amar) estrelado por Colin Firth-, com “A Serious Man”- o drama de humor negro dos irmãos Coen. Além da semelhança dos títulos, ambas enredos se passam na década de 1960, e ambos contam a história de professores universitários. Tanto Firth e Michael Stuhlbarg dão um show nos seus respectivos papéis.

Em “Um Homen Sério,” os irmãos Coen ironicamente saciam o hábito de desafiar a inteligência de sua audiência com um enigma. O acessível “Direito de Amar”, Tom Ford bota toda a sua atenção sobre as pequenas coisas na vida: desde a alegria de uma crianca, a importancia de um filhote de cachorro, a uma oferta de amizade – e, todas elas provocam uma resposta emocional visível em George (Colin Firth) para superar o luto.

Baseado no romance de Christopher Isherwood (infelizmente, ainda não li!), narra a historia de George, que, cansado do luto pela morte repentina de seu parceiro de longa data, Jim (Matthew Goode). O personagem Jim aparece no filme através de flashbacks (sabemos da noite em que ele e George se conhecem numa festa, e da sua morte num acidente de carro. Mas a ausência dele é sentida através da dor de George (magistral atuação de Firth).

Nas primeiras cenas do filme, George diz em “voiceover”: “Pela primeira vez na minha vida, eu não posso ver o meu futuro. Cada dia que passa em uma neblina… Mas hoje, eu decidi, vai ser diferente.” Num tom de voz bastante otimista, a cena é seguida pela imagem de George colocando um revólver em sua pasta. Depois, ele leva a vida como num dia comum: vai ao trabalho, e nas suas palestras para os jovens alunos, ele acusa a sociedade americana sobre a manipulação do medo; mas tarde, ele compra balas para o seu revolver. Logo a seguir, George vai ao banco, e depois, tem um jantar com uma velha amiga, Charley (lindamente interpretada por Julianne Moore). Exteriormente, George parece “destruido”, mas ele insiste que está bem, mesmo quando dança alegremente com Charley ou flertando com um espanhol em um belo parque de estacionamento. Mas, as visões de Jim voltam para ele, lembrando-lhe o que ele perdeu. Mas, ainda fica no ar: Será que ele vai se matar, ou não?

O retrato cru e honesto de Firth ajuda um pouco a inconvencional fotografia de Eduard Grau, que sutilmente vai modificando a saturação da cor do filme em momentos-chaves para transformar George de pálido e deprimido a quente e brilhante (confirmando que George é um homem que controla seus sentimentos). É um toque maravilhoso e emocionante, e um exemplo perfeito da sensibilidade que Tom Ford traz para o seu filme. O mis-en-scène passa o realismo, em que me vez sentir nos anos 60: as roupas e carros, o cabelo e maquiagem dos personagens, e a mobilia das casas. Mas, ao mesmo tempo, ficou a impressão que não existia gente feia nos anos 60, principalmente através dos olhos de George. A todos que ele dá um ‘close’, não são menos que perfeitos: desde a estudante que parece uma copia da Brigitte Bardot, o miche, o estudante interessado em George, até aos dois homens jogando tenis, e assim vai. Também, achei que Ford exagerou nos “close ups” e o uso de “slow-motion” me pareceu sem sentido, as vezes!

O filme faz uma meditação melancólica sobre o amor, a morte e a vida.

No final da última noite da vida de George, ele se depara com Kenny, (Nicholas Hoult) – o aluno impetuoso e sedutor. A presença desse personagem tem um valor forte para o conjunto do filme como um todo. Ele, jovem e lindo, mas mesmo assim triste, rebate ao experiente George. Na verdade, é na dor de Kenny que George encontra a alegria na vida. E, isso me fez ver o valor do ser humana encontrar paz na dor aparentemente insuperáveis e tragédias. Tudo parece não ser como antes, mas o filme mostra que enquanto o mundo à nossa volta continua a girar, há sempre uma esperança.

A trilha sonora de Abel Korzeniowski é espetacular. Ele emprega variações melódicas e transições suaves de tons para criar um mundo de emoções que complementam o diálogo e a expressão facial de George. A trilha adciona musicas de Shigeru Umebayashi, compositor de Wong Kar-wai. As musicas nesse filme falam quando devem e mantém o silêncio quando o silêncio é mais necessário. Surpreendente(!), e que muito me fez lembrar dos trabalhos de Philip Glass.