“Se Enloquecer Não Se Apaixone” (It’s Kind of a Funny Story, 2010)

Apesar dos títulos ruins (tanto o original “It’s  Kind of a Funny Story” quanto a pavorosa tradução brasileira), “Se Enlouquecer Não Se Apaixone” não é comédia, é um drama que mescla um pouco de alívio cômico nas cenas. Lançado direto em DVD no Brasil, está chamando a atenção de algumas pessoas. Com um tema que tinha tudo para dar certo (depressão adolescente), se ele seguisse uma linha mais séria aproveitando o excelente elenco, poderia ser salvo. Um romance entre um casal suicida que se conhece numa clínica. Mas a falta de foco e o provável medo da previsibilidade fizeram com que caísse nas armadilhas cinematográficas contemporâneas.

Não sei se alguém se lembra daquele comercial televisivo onde o narrador grita “você quase conseguiu”. Pois é, esta é a exata sensação que tive após conferir esse filme. Falar da depressão adolescente não é coisa fácil, talvez a palavra depressão choque algumas pessoas, estou me referindo àquela solidão que toma o jovem de vez em quando.  A verdade é que muitos adolescentes passam por isso, sem muita explicação eles se sentem sozinhos seja por não ter ninguém com quem namorar, seja pela ausência de amizade (familiar ou externa).  Esse é um tema excelente para ser tratado com objetividade

Sinopse: Craig, 16 de anos de idade (Keir Gilchrist), estressado com as demandas de ser um adolescente, se interna em uma clínica de saúde mental. Lá ele descobre que a ala dos menores está fechado – e se encontra preso na enfermaria adulta. Um dos pacientes, Bobby (Zach Galifianakis), logo se torna o mentor e protegido de Craig. Craig também é atraído à outra paciente de 16 anos, Noelle (Emma Roberts). Com uma estadia mínima de cinco dias imposta nele, Craig é sustentado por amizades de dentro e fora da clínica enquanto ele aprende mais sobre a vida, o amor, e as pressões do amadurecimento.

O elenco inteiro é excelente, Keir Gilchrist se encaixa perfeitamente no papel do garoto inteligente tímido e deprimido enquanto Zach Galifianakis (de “Se Beber, Não Case”) dá um show de interpretação em várias cenas, dessa vez seu papel tem uma boa carga dramática. o problema está no roteiro. A falta de foco dele é de dar nos nervos, num momento sugere uma exploração sobre depressão adolescente e no outro um romance teen com pitadas indie e descobertas sobre a vida. O problema maior é que nessa indecisão não se resolveu nada do enredo, ele acabou sendo simplista e aparentemente escrito para ludibriar as pessoas com alguns diálogos inteligentes. O longa começa com a tentativa de nos identificarmos com o personagem central e sua tristeza por estar apaixonado pela namorada de seu melhor amigo (bom, pelo menos é o que ele diz, mas todos algum dia na vida têm um amigo daquele). Essa tentativa é frustrada porque Craig não demonstra estar pensando todo tempo na garota, logo não é pretexto para sua depressão e muito menos para uma internação.

A partir daí começamos a tentar compreender o porquê dele dizer estar desse jeito, mas não surgem muitas respostas. O final do filme tenta dar uma cura para o rapaz, entretanto seria essa a cura para a paixão pela garota? A resposta é NÃO, então percebemos que a paixonite não foi responsável. E surge um dos melhores diálogos do filme ( imagem abaixo). Craig não sabe a causa de sua depressão, ele apenas sente. Isso é bem compreensível no mundo corrido que nós estamos, o estresse da rotina do trabalho e escola pode derrubar alguém se a pessoa não tiver cuidado. E é aí que o roteiro perde o foco, a causa da depressão do jovem é uma excelente mensagem para os adultos da pressão que alguns estudantes adolescentes passam. Mas a falta de luz sobre o tema quase o apagou da trama quando, repentinamente, surge um romance teen.

"Às vezes eu queria ter uma resposta de por que estou deprimido. Como se meu pai me batesse ou como se eu tivesse sofrido abuso sexual. Mas meus problemas são menos dramáticos do que isso".

Emma Roberts consegue nos cativar rapidamente, ela tem uma beleza simpática o suficiente para adquirir nossa confiança em segundos. Mas a personagem dela, Noelle, está alegre demais para uma garota com tendências suicidas. E não é apenas no figurino de modelo que eles erraram. A paleta de cores é viva e alegre, retirando qualquer sensação de tristeza, afinal isso poderia afastar um público sensível e geraria menos lucro. Há momentos de confraternização entre eles (até aí tudo bem), tem uma cena musical (e o filme vai descendo a ladeira), o jovem fica querido e começa a fazer mudanças no lugar e após um tempo esquecemos que ali é uma clínica psiquiátrica. O resultado é que o longa ficou com aparência de Sessão da Tarde (a atual, antes até que passava coisa boa).

Cena parecida com a de "500 Days of Summer"

“Se Enloquecer Não Se Apaixone” é um filme que oscila sem o menor cuidado entre os gêneros, o drama não é explorado suficientemente para salvá-lo, a comédia atrapalha qualquer identificação com o personagem, o romance foi mal trabalhado (a aproximação do casal não convence). E alguns diálogos inteligentes ainda conseguem destacá-lo de outros filmes teens. A proposta inicial parecia tentar agradar um público mais geral, no entanto a exigência por algum obstáculo no romance (que poderia muito ter sido a depressão) quase deteriora o potencial que o longa possuía de algo diferente. Alguns podem até sugerir que o objetivo era entretenimento cômico. Se for isso, ele até consegue alguns momentos agradáveis (como os da imagem abaixo), mas nada que o torne marcante ou acima de outras comédias que souberam focar num só tema ou trabalhar todos com cuidado. Na busca por uma solução mais rápida e teen, o final nos decepciona pelo vazio, fazendo com que seja mais um filme esquecível. Um desperdício de talento de um elenco tão bem escalado.