Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary. 2011)

Eles sabem o preço de tudo e o valor de nada.” (Oscar Wilde)

Primeiramente eu diria que se faz necessário buscar na memória as aulas de História sobre a década de 60 (Surgimento do Feminismo, dos Movimentos Civis em favor dos Negros e dos Homossexuais, a Contracultura, a Revolução Cubana com Fidel Castro, os Hippies, a Guerra Espacial, o assassinato de John F. Kennedy…), como também é válido lembrar das aulas de Geo-Política. Já que estamos falando de Porto Rico, que ainda se mantém ligado aos Estados Unidos como ‘Estado Livre Associado’, e cuja localização era um importante ponto econômico-militar no Caribe para o Tio Sam. Como também, pela beleza natural do Caribe, a especulação imobiliária é como achar uma arca de tesouros. Vimos essa parte, mas em outra “colônia” do Tio Sam em “Os Descendentes“. Digo isso que assim poderão absorver melhor o filme “Diário de um Jornalista Bêbado“.

Por se tratar de período e local dessa história. Onde entre uma golada e outra, o Roteiro do também Diretor do filme, Bruce Robinson, traz muita informação histórica. Claro que em pequenas doses. Mas que deixaram uma vontade de ler o livro, “The Rum Diary“, do jornalista Hunter S. Thompson, o qual o filme foi baseado. E que para entender um pouco mais do personagem principal, também se faz necessário algo da realidade de Thompson. É que ele foi um criador de um estilo denominado Jornalismo Gonzo: em seus artigos há uma total liberdade em narrar um fato, intercalando ficção e realidade, colocando seu parecer. Um jornalista cronista. Nada imparcial. No filme “O Solista” se tem uma ideia de que Thompson realmente fez escola!

Então, por conta disso a ida do personagem principal para Porto Rico caiu como uma luva para uns investidores do ramo hoteleiro. Ele é o jornalista Paul Kemp, vivido por Johnny Depp. Kemp abandonou a Big Apple. Queria Rum, Mulheres e liberdade para escrever do seu jeito as crônicas do dia a dia. Muito sagaz, em seus momentos sóbrios, por tudo aquilo que vê, quase prefere voltar a ficar ébrio por mais tempo. Ciente de que para levar a vida ao seu estilo, precisará de alguém que banque.

Kemp ao largar tudo em Nova Iorque, nem imagina o que vivenciará em Porto Rico. Na bagagem, levará o seu talento para escrever. Aceitando um emprego num jornal local, vai com a cara e a coragem, mas só toma ciência do cargo já estando na ilha, e na presença do Editor-Chefe Lotterman. Personagem do sempre ótimo Richard Jenkins! Coube a Kemp a Coluna de Horóscopo e a de Turistas. Sem outro jeito, ele aceita.

Na Redação ele conhece o Fotógrafo Sala. Papel muito bem interpretado por Michael Rispoli. Houve uma química ótima entre esses dois. Como também há uma cena que entra para a História do Cinema no quesito: dois no volante. É hilária! Como só ela já pagaria em assistir esse filme. Se Kemp realizou o sonho de morar em Porto Rico, Sala mantém o sonho de ir para o México. Mas sem a coragem de largar tudo, vai levando a vida como pode. Kemp e Sala tornam-se grandes amigos. Companheiros também na esbórnia. Mas que os deixa como ‘Dom Quixote e Sancho Pancha’ porque um consegue frear o outro quando se faz necessário.

Sala apresenta a sua Porto Rico para Kemp: lugares e habitantes. É quando Kemp conhece outro jornalista etílico: Moberg. Numa magistral interpretação do Giovanni Ribisi. Ele quase rouba todas as cenas, só não faz isso porque chama a todos para o pódio. Sem querer, Moberg fará com que Lotterman “promova” Kemp. E sem ter planejado, Kemp tem o seu talento também cobiçado por Sanderson. Personagem Aaron Eckhart, que não faz feio, mas pelo personagem poderia ter voado mais alto.

O Grupo de Sanderson quer construir um grande Hotel, aliás, dois. Um, para a Elite. E o outro para os Turistas de Classe Média. Esses, só ficam mesmo no perímetro do Hotel. Têm medo de saírem pelas ilhas, por acharem perigoso. Em parte é! Já que são vistos como os brancos colonizadores. Que lhes tomam o belíssimo litoral.

Kemp vai tentando levar os “dois patrões”, até porque ainda não conseguiu encontrar o tom certo em seu texto. Ele quer ouvir a sua voz interior. Mais uma vez, será Moberg que o levará a isso. Pelo jeito, naquela ilha encantada, entre vudus e muito rum, existe um anjo da guarda um tanto quanto torto. Mas com tanto imprevistos, Kemp não contava por um: o se apaixonar pela mulher de um dos seus patrões, o Sanderson. Ela é Chenault, personagem de Amber Heard. Loura e linda, será disputada por dois galos de brigas: Kemp versus Sanderson. E será uma briga feia! Por fim, a Voz é ouvida. Lhe dando munição para lutar contra os que fazem parte do Sistema, a quem Kemp chama de ‘Bastardos’.

O “Diário de um Jornalista Bêbado” está todo amarradinho. Conseguindo mostrar, e sem entediar, a passagem de Paul Kemp por Porto Rico. Para alguém que só trouxe como bagagem um talento ainda adormecido, ele cresce como pessoa e no campo profissional também. Johnny Depp está excelente! Seu Kemp é único. Muito bom quando um ator consegue diferenciar todos os personagens. Ainda mais que estando no Caribe poderia ter escorregado para o seu Jack Sparrow. Great!

Então é isso! Com um elenco afinado. Paisagem belíssimas. Trilha Sonora à altura da obra. O filme cumpre a sua missão, de entreter, e de querer rever!
Nota 09.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary. 2011). EUA. Direção e Roteiro: Bruce Robinson. Elenco: Johnny Depp, Richard Jenkins, Giovanni Ribisi, Aaron Eckhart, Michael Rispoli, Amber Heard, Amaury Nolasco, Karen Austin, Marshall Bell, Andy Umberger, Bill Smitrovich. Gênero: Aventura, Comédia, Drama, Romance. Duração: 110 minutos. Baseado no romance homônimo de Hunter S. Thompson.

Curiosidades:
» Bruce Robinson rodou o filme em 2009, em Porto Rico.

Jovens Adultos (Young Adult. 2011)


Cômico e brilhantemente honesto, o novo filme de Jason Reitman, me fez rir bastante para então depois me deixar com um sentimento desconfortável na minha ‘avaliação’ sobre o julgamento alheio e refletir sobre o meu próprio alto julgamento.

O filme conta a estória de Mavis Gary (Charlize Theron). Batizada com um nome terrível, mas belíssima e com uma auto-estima que chega causar a inveja alheia, Mavis é uma mulher difícil de lidar. Muito popular durante o ensino médio, a moça abandona Mercury, uma cidadizinha no meio do nada, em Minnesota, e se muda para Minneapolis – cidade grande!, onde se casa, e se torna uma “Ghost Writer” de uma série de romances direcionada a jovens adultos. Mavis  já separada, vive de mentiras – mente para todos, e inclusive para si própria- em relação a sua vida pessoal e profissional. Incrivelmente antipática – reflexo da sua insegurança -, se torna quase impossivel de amá-la.

Mavis está geralmente sozinha, e vive numa eterna ressaca- entre bebidas e promiscuidade – o que me fez lembrar do papel que Theron fez em  “Vidas que se Cruzam” (The Burning Plain, 2009), mas em “Young Adult”, a sua personagem é bem mais perdida. Mavis vive uma vida que parece ter perdido todo o sentido (mas ela não admite isso). Quando recebe um email do seu ex-namorado dos tempos de escola, Buddy (Patrick Wilson), que se tornou pai, ela é tomada por uma sentimento difícil de descrever, mas a mesma entra em ação – volta para sua cidade natal, e tenta reconquitar Buddy. Para Mavis, ele terá que abandonar a esposa e o seu bebe, e recomeçar uma nova vida com ela, em Minneapolis.

Não vou falar mais sobre o enredo do filme, porque no final, acho que nem todo mundo vai apreciar. Eu particularmente não esperava um olhar tão honesto no meio de tanta asneira – em muitas cenas, eu ri tanto, que pensei que o filme teria um final bobinho, mas Mavis é uma criatura tão humana – assim como nós somos, simplesmente criaturas tolas que quase nunca aprendemos com os nossos erros, e mesmo que venhamos a corrigi-los, as vezes, não os tiramos de nossa mente.

Atores:

Gostei muito do elenco, com destaque para Patton Oswalt, que faz o amigo de Mavis. Ele tem um papel interessante, de um homem que fora vitima da homofobia, pois pensavam que ele era gay. Mas o filme é todo de Charlize Theron- sua interpretação é fantástica!!. Ela minimiza tudo, conseguindo fazer a expressão mais sutil falar por si mesma. Será que Mavis tem problemas psicológicos?. Ou ela talvez seja apenas uma mulher infeliz, maníaca depressiva, confusa ou apenas infantil. Essas nuances são traçadas de forma tão natural por Theron, que acabei me apaixonado por sua personagem.

Não consegui acreditar que Theron não foi indicada ao Oscar este ano. Tudo bem, Meryl Streep é uma grande atriz, mas em “The Iron Lady”, ela apenas tem os aspectos tecnicos a seu favor (maquiagem, voz, e maneirismos), pois o filme é tão ruim, que sua Margaret Thatcher se perde, ou não sabe para onde ir; o mesmo ocorre com a talentosa Glenn Close em “Albert Nobbs.” Albert é uma personagem triste, vazia e limitada. Nem  consegui entender até este momento, o que a academia viu no filme ou mesmo na atuação de Close. Enquanto Theron, Tilda Swinton e Kristen Dunst ficaram de fora!.

Este ano, a academia também preferiu o roteiro ‘original’ de “Bridesmaids” (2011), uma daquelas comedias loucas que surgem em Hollywood, com tanta frequencia, em vez de ter agraciado Diablo Cody com uma indicação por seu interessante roteiro em “Young Adult.” Talvez a razão tenha sido porque a própria Cody ganhou um Oscar pelo azedo –  para não dizer sem graça -, “Juno” (2007), e também porque “Young Adult”, diferente de “Juno”, não se tornou um sucesso de publico, embora a critica tenha gostado.

Reitman e Cody traçaram uma linha delicada, centrando a sua estória em uma protagonista que é, mais ou menos impossível de  gostar. Mas não importa como você ver Mavis, ela é uma personagem que vale a pena conhecer e eu nem consigo esperar para reve-lo quando o filme for lançado em DVD. Sim, ela ainda tem muito para aprender, mas sem duvida, suas  experiências tem muito para nos ensinar.

Nota 9,0

P.S.: Duas cenas que amei no filme: a do confronto entre Mavis, e a esposa de Buddy, e a honesta conversa entre Mavis e Sandra:

Mavis: …it’s very difficult for me to be happy. And other people– it’s so simple for them. They just grow up. They’re so …fulfilled.

Sandra: I don’t feel fulfilled.

[…]

Mavis: I need to change.

Sandra: No, you don’t.

Mavis: What?

Sandra: You’re the only person in Mercury who could write a book or wear a dress like that.

Mavis: I’m sure there’s  plenty of people.

Sandra: Everyone here is fat and dumb.[…]

Sandra: Everyone wishes they could be like you. […] famous, living in a big city, beautiful and all that.

Mavis: But everyone here seems so happy with a lot less. They don’t even seem to care what happens to them.

Sandra: That’s because it doesn’t matter what happens to them. […] they’re nothing.

Se Beber, Não Case! Parte II (The Hangover Part II. 2011)

No primeiro, a motivação maior fora o Diretor Todd Phillips. Por ele conseguir traduzir um universo masculino meio sacana. Algo como: é homem, então pode aprontar. Bem que eu queria que alguém fizesse o mesmo para nós, mulheres. Mas antes teríamos que ter essa liberdade culturalmente, até para ser bem aceita. Enfim, até que isso aconteça, eu vejo esses filmes com um pouquinho de inveja.

Assim, fui ver a continuação  e sem esperar mais que uma diversão momentânea. Até porque do primeiro esqueci quase tudo. Então, como um bom sessão pipoca, Todd Phillips cumpriu bem a lição. Teve momentos engraçados, muito embora eu não sei se ri mais do filme, ou da risada de uma mulher na plateia. Ela sim, riu muito. Mas mais do que rir, o filme prende a atenção em saber o que aprontaram dessa vez. O que num breve momento eu pensei: “Alguém cai mesmo no mesmo erro?” Para em seguida ao lembrar de fatos reais, vi que sim, cai. Então relaxei e foquei só no  filme.

Vou tentar não trazer spoiler, mas que dá vontade de contar pelo menos uma, isso dá. Veio como um “Bem-feito!”. Que foi com o noivo da vez. Falando em noivo, eu não entendi porque que o Doug (Justin Bartha), que foi o que sumiu no filme anterior, não quis se divertir com os amigos nesse. Estaria o ator comprometido com outras filmagens? Ou por imposição dos Produtores, já que deu certo a química entre os outros três: Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e Alan (Zach Galifianakis). Ou até por conta de não ficar um grupo muito grande. Enfim, não fez falta.

Nessa continuação quem está para casar é Stu. Que marcou a cerimônia na Tailândia, de onde é a família da noiva. Como tentativa de evitar uma despedida de solteiro do gênero da de Doug, marca um café com os amigos: Doug e Phil. Esse insiste que pelo menos uma cerveja na praia, num tipo de luau. Mas antes disso, Doug o convence a levar Alan para o casamento.

E é com a ida de Alan que vem o erro fatal para Stu. Mas garantia de risos para nós. Até exclamamos: “Estão nos marshmallow!”, mas nada que comprometa a diversão. Afinal, já sabemos que houve uma noite agitada para eles. Sendo que dessa vez quem sumiu foi o futuro cunhado de Stu. Eles acordam de ressaca num lugar desconhecido, com Stu com uma tatuagem na face, Alan careca, um miquinho de jaqueta jeans e algo num copo. Ah sim! Com Chow (Ken Jeong) também por lá. Na busca pelo jovem, descobrem que foram parar em Bangcoc, e que tudo foi armado por Alan. Mas como na outra despedida de solteiro, a dose fora cavalar.

Não foi só o Doug que mal apareceu no filme, as personagens femininas fizeram concorrência a bela paisagem da Tailândia onde aguardaram pela volta da turma. Mike Tyson mesmo que numa breve cena, marcou mais ponto. Pelo menos no quesito: “Surprise!”. Destaque maior teve Paul Giamatti.

Em resumo: é um bom sessão pipoca! Esquecível como o outro. Mas vale pela hora e meia de risos. E Todd Phillips carimbou meu passaporte para um próximo filme seu.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Se Beber, Não Case! Parte 2 (The Hangover Part II. 2011). EUA. Direção: Todd Phillips. +Elenco. Gênero: Comédia. Duração: 102 minutos.