O Verão do Skylab (Le Skylab. 2011)

o-verao-do-skylab_2011Julie Delpy atua e dirige esse delicioso filme – O Verão do Skylab – sobre a família que não tem exatamente uma estória, mas sim um conjunto de situações que acontecem numa movimentada reunião na Bretanha sob o pretexto de comemorar o aniversário da matriarca.

o-verao-do-skylab_01Nessa alegre festa de verão, desfilam tipos curiosos como o tio estranho que aparenta ter um problema mental, mas que na verdade é carente e depressivo, outro que não mede o que fala nem mesmo em frente às crianças ou aos idosos e o adolescente metido que inferniza a vida dos menores, mas que é capaz de diverti-los ao contar estórias assombrosas à noite. Há uma infinidade de discussões políticas e feministas, algumas bem agressivas e de cunho sexual como a do sujeito seminu que ataca a cunhada em pleno leito do casal após uma briga. No entanto, todas as rusgas são resolvidas com carinho e amor e as mudanças das crianças, como a menina que quer se apaixonar e menstrua prematuramente, o menino com a sexualidade aflorada ou o garoto que não larga a boneca e quer ter seios enormes como a tia, são encaradas com uma sábia e dosada naturalidade.

o-verao-do-skylab_02Aliás, os menores têm um brilho particular no filme. Vale destacar a festa singela em que se encontram as crianças e adolescentes da região para celebrar uma fase de descobertas sob o hit inesquecível de Patrick Hernandez: “Born to be Alive” que inunda a sala de cinema de felicidade com seu som contagiante.

No verão ensolarado dessa família simples no final da década de 1970, surge uma pequena ameaça: O satélite Skylab está prestes a cair na Terra e colidir justamente com aquela região. Seria o único elemento de suspense da obra que acaba completamente diluído no meio de diálogos saborosos e acontecimentos cheios de humor sutil num roteiro simplista que aposta no valor da ternura em família.

Por Carlos Henry.

O Verão do Skylab (Le Skylab. 2011). França. Direção e Roteiro: Julie Delpy. Elenco: Emmanuelle Riva (Mme Prévost dite Mémé – la mère d’Anna), Eric Elmosnino (Jean dit Jacquot – le père d’Albertine), Julie Delpy (Anna – la mère d’Albertine), Aure Atika (Tante Linette), (+cast). Gênero: Comédia. Duração: minutos.

Jantar com Amigos (Dinner with Friends. 2001)

jantar com amigos_2001jantar-com-amigos_00Qual seria o tempero certo que sustenta uma relação a dois? Que ingrediente desandaria uma bela relação de amizade? A receita do bolo tem que ser a mesma para os relacionamentos também dos amigos? Essas são apenas algumas reflexões para digerir nesse “Jantar com Amigos“. Onde algum ingrediente fez desandar o prato principal.

Um filme que começa meio despretensioso ao falar sobre a intimidade de quatro amigos. Partindo de um casal principal Gabe: (Dennis Quaid) e Karen (Andie McDowell). Que resolveram dar uma força para que dois amigos se conhecessem num final de semana em sua casa de praia. Karen convida sua amiga Beth (Toni Collette), e Gabe convida seu amigo Tom (Greg Kinnear). Boa comida, um ambiente paradisíaco, a felicidade radiante de Gabe e Karen, acabam seduzindo e levando Tom e Beth a também formarem um novo casal. Esse passado feliz fica registrado numa fotografia com os quatro num pôr do sol. Mas o dia-a-dia dos casais são flagrantes que nem sempre são para ser evelados. São nada objetos decorativos. Há segredos a serem mantidos até para não comprometer a receita tão perfeita que seguiam ao pé da letra.

jantar-com-amigos_01O filme então avança no tempo. Gable e Karen para comemorar mais um sucesso – um livro sobre gastronomia italiana -, esperam o casal de amigos para um jantar. Não apenas da nome ao filme, como nesse jantar serão revelados detalhes mais íntimos de cada um também por postura individual.

Beth vem com os filhos, já que Tom tinha um compromisso. Caia uma chuva torrencial. A felicidade dos anfitriões era tanta que nem notaram que Beth não estava a vontade. Algo a incomodava muito. Talvez o casal tenha notado, mas por acharem uma tendência corriqueira dela resolveram ignorar. O que sem perceberem acabou pesando o clima. Como consequência o mal estar caiu na relação: pais e filhos.

Pois é! Num jantar onde o desejo era uma conversa entre adultos, tendo filhos há de se pesar antes num entretendimento para elas. Até em dar as crianças um pouco de atenção. Para que sintam que fazem parte da famíia. Para que sintam que essa outra opção é mais agradável do que a conversa de “gente grande”. Por aí! Só que Gabe achou que bastava mandá-los todos para o quarto do filho, achando que lá teriam bastante coisas para se distraírem. Mas o que escolheram fazer exigia a presença do pai. Aí rolou o climão: do Gable com o filho dizendo que esse sabia como fazer; e de Karen com Gable dizendo a ele que levaria menos tempo indo lá no quarto do que ficar de longe gritando com o filho. Por fim Gable cedeu.

E aí, aproveitando esse momento a sós entre as duas amigas, Beth desabou. Desabafou todo o drama que vinha passando com o marido. Quando Gable voltou a sala de jantar, Karen já tinha a sua opinião formada e em favor da amiga. Mas Gable tentou ser imparcial, pelo menos até ouvir a versão do amigo. O que acabou gerando uma discussão entre o casal. Talvez tenha sido a primeira por conta de opiniões individuais, e que por sua vez entravam em conflito com a do casal. Beth vai embora. Sendo a vez de Tom chegar, contando a sua versão. Aumentando a discussão entre Karen e Gable.

jantar-com-amigos_02A princípio, aquele jantar rendeu mergulhos em si mesmo individualmente, mas também na relação a dois. Ainda mais! Em como ficaria a amizade deles. Dois deles mudaram, ou melhor, tiveram a coragem de seguir por outro caminho. Dois até que ficaram tentados, mas pesaram os prós e os contras. O que perderiam não compensava. Puro comodismo? Pela estabilidade conquistada que perderiam? Os quatro sabem que mudaram. Os que não admitiram encontraram paliativos para seguir como se nada tivesse mudado.

Pode parecer que compliquei, mas Gable e Karen parecem que seguem uma receita que não há lugar para mudanças. São o casal feliz por compartilharem tudo entre eles. Tudo tem o lugar, a medida exata. E o que fazem no final não assusta de todo porque há pessoas assim. A felicidade deles tem que ser a do topo, e para que todos a admirem. Não aceitando quem por não mais seguir a mesma receita conseguiu atingir a tão sonhada felicidade, e com isso sentindo-se jovens novamente, como no dia daquela foto. Acontece que para o casal perfeito que já se encaminhavam para uma futura velhice feliz ao seu modo, essa velha amizade poderia ser não mais bem-vinda.

Como falei antes o filme não se compromete muito a princípio, talvez por querer evitar comparações com “Closer“, por exemplo. Afinal mostrar as aventuras e desventuras de dois casais amigos não parece ser complicado. Bastaria trazer algo incomum em histórias tão comuns. E “Jantar com Amigos” trouxe esse diferencial. Que os quatro atores souberam mostram muito bem. Principalmente pelo olhar. Mérito também da Direção.

Gostei!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Jantar com Amigos (Dinner with Friends. 2001). EUA. Direção: Norman Jewison. Gênero: Drama, Romance. Duração: 94 minutos. Baseado em peça teatral de Donald Margulies, que também assina o Roteiro.