Unas Fotos en la Ciudad de Sylvia

“Ana, meu amor, eu vim ao Rio para te achar.” Quem passa pela Rodoviária Novo Rio, deve conhecer esta frase. Trata-se de uma pichação antiga, e por alguma razão ninguém apagou, está lá até hoje, em uma das pilastras da avenida ao lado e não tem como não deixar de ler.

Fico pensando nessa romântica história toda vez que passo por ali. Imagino Ana e concluo que é uma pessoa de sorte. Alguém deixar tudo para trás, em outra cidade, para vir procurá-la. Só pode ser um louco, muito apaixonado (coisa rara hoje em dia, parece história de novela mexicana) mesmo que seja um amor não correspondido, uma relação platônica que nunca será completa, mesmo que o rapaz nunca encontre a sua amada, é uma felicidade pessoal ter um sentimento idealizado dentro da gente independente, se haverá reciprocidade, se um terá o mesmo amor pelo outro, ou um completará o outro como a história da outra metade da laranja perdida por aí. Acredito ser um verdadeiro tesouro e relacionei com um filme que recentemente assisti, que me fez ligar os pontos entre ambas.
Não sei, nem imagino que fim levou essa história: Ana foi encontrada? Quem é o rapaz que fez essa viagem em busca do amor? Nunca terei essa resposta, torço para que o cupido esteja comprometido até a última peninha aí, e que o destino tenha armado uma cilada para que sua missão tenha um happy end.

E o filme que me fez associar ambas nos faz viajar ao túnel do tempo da descoberta dessa linguagem artística. No princípio era a fotografia e a fotografia se fez filme e do filme inventou-se o CINEMA. É um filme catalão que achei super instigante e original, dando um enfoque narrativo completamente diferente de tudo que conhecia do mundo cinematográfico e de que se tem conhecimento, no meu entender, claro! O título é UNAS FOTOS EM LA CIUDAD DE SYLVIA. É uma produção espanhola de aproximadamente 67 minutos, e pode-se associar o roteiro a uma obra de ficção ou a um documentário. Ou seria real e fantasia? Mesclam-se todas as categorias que se sabe de cinema. A proposta é totalmente inovadora e meio doida de se “fazer arte”. O dono da idéia é o espanhol José Luis Guerin, que estava presente no evento (uma mostra do cinema catalão que aconteceu no RJ) para falar e divulgar suas produções entre outros diretores inclusive participando como palestrante e que na sua concepção questiona a própria linguagem do cinema. Parece tratar-se de reinvenção, recriar e pensar como tudo começou, lá pelos idos Irmãos Lumière e Thomas Edison.

O filme é uma espécie de diário filmado. É a história de um homem que volta 22 anos depois a Estrasburgo, cidade onde conheceu uma mulher de nome Sylvia, que só viu uma única vez e por quem se apaixonou.

O título já deixa claro qual a proposta do diretor ao fazer esse filme UMA FOTOS NA CIDADE DE SYLVIA. Os 67 minutos são contados por fotos em preto e branco. Às vezes seqüenciada do mesmo assunto, possibilitando “visualizar” o movimento, como por exemplo, o ventilador de teto ligado, os passos de uma mulher, movimento labial etc.
As fotos em preto e branco, para dar idéia de um tempo passado, captados pela câmera fotográfica do próprio diretor registrado pequenos detalhes como se fosse abrir um diário de anotações de um turista, e começar a narrar tudo através de mapas, ruas hotéis, chaves, objetos pessoais, situações, expressões, desenhos, acompanhando, milimetricamente, todos os passos de todas as mulheres que ele, o protagonista, se é ele próprio ou o eu-poético? (Xavier Lafitte) trafegando pelas ruas da cidade de Estrasburgo em busca de um rosto. 22 anos depois ele volta a procurar essa mulher de nome Sylvia que viu uma única vez.

Acredite! É exclusivo, diferente de tudo. Esta obra certamente foi feita para despertar o público do sono profundo e da mesmice, num foco expressivo, estimulando o sentido visão, “o olhar para ver”.

O filme, repito, tem pretensão de documentário, porém, é pura imaginação, confundindo-se com o real. É um diário em formato de álbum de fotos, em que ele forma a história dela, da suposta Sylvia. Ela pode ser qualquer mulher; pode ser até mesmo uma personagem da literatura, como Beatriz, de Dante Alighieri, por exemplo.
A genialidade da história não para por aí. Não se contentando, o diretor fez um outro filme Chamado NA CIDADE DE SYLVIA. Este com atores, colorido, mas quase sem diálogo tão interessante quanto o primeiro.
Ele vaga por muito tempo pela cidade que agora se chama NA CIDADE DE SYLVIA a fim de encontrar um rosto de mulher que jamais esqueceu (ou será que se esqueceu, por isso vê Sylvia em todas as mulheres daquela cidade?) um rosto que viu uma única vez e foi amor à primeira vista para tentar encontrá-la. Enquanto percorre as ruas da cidade, contempla as mulheres que cruzam seu caminho, e imagina como seria hoje o rosto daquela que nunca esqueceu e que tanto ama? Rugas, envelhecida, outro corte de cabelo, outro andar, outro tipo físico, outro olhar… hoje aquela que quer tanto encontrar. A procura o leva para outras cidades e, em todas ele encontra novos rostos e novos signos a evocar a mulher ausente.

Enquanto ele vaga pelas ruas, encontra Sylvia, sua mulher idealizada, nos passos de uma, olhar de outra, delicadeza das formas, no andar, no cabelo, no semblante, enfim, ela está presente em todas.

E vai registrando cada uma dessas mulheres que encontra pelo caminho.
O filme é literalmente uma viagem sem volta. Retrocede cento e poucos anos, no tempo, época dos irmãos Lumière e utiliza uma série de signos linguisticos novos nada convencional, uma nova forma de pensar e fazer cinema novo por meio das condições de realidade arriscando novas fronteiras.
Será que ele encontrou Sylvia? Ela existe ou é pura imaginação?
Talvez nenhuma delas seja real, mas sempre me causa uma reação positiva, uma alegria, um sentimento que agrada a minha alma.
Como faço curso aos sábados, não deu para ficar para a palestra pois estava meio cansada, mas deixei com um amigo a missão de perguntar ao diretor o seguinte:
– E então, o senhor encontrou a sua SYLVIA?
Estou até agora sem saber se meu amigo conseguiu fazer a pergunta. Quando souber, conto aqui.
Existe uma possibilidade de ser uma história real como a de ANA daqui do Rio de Janeiro e que está registrado até hoje para quem quiser ler.
Cotação: *****Karenina Rostov

Falando Grego (2009). Uma bela viagem pela Grécia!

Não dá para passar batido por esse filme. Não é um grande filme. Nem tampouco vai deixar saudades. Mas assim mesmo o indico para algumas pessoas. E quem seriam elas? De cara, para quem sonha conhecer a Grécia. A esses, esqueçam a história de “Falando Grego“, se vejam sentados numa poltrona, e embarquem nessa viagem de turismo por belíssimos cenários grego. Só por conta disso, é que eu tornaria a ver esse filme. As paisagens são deslumbrantes.

Aqueles que lidam com turistas, ou até estejam estudando dentro dessa área, Turismo, também fica a sugestão. Embora por ser uma comédia, acentuam os esteriótipos dos turistas por nacionalidades, é sempre um dado relevante aos seus estudos. Dizem que aos turistas japoneses, fecham os olhos quando tiram fotos dentro de museus parisienses. Porque são os turistas que mais gastam dinheiro em viagens. Nesse filme, há turistas de várias nacionalidades. Que a guia, Georgia (Nia Vardalos), já os define como sendo:
– Australianos, bebuns.
– Americanos, irritantes.
– Canadenses, educados. Mas esses vão para um outro Guia da Agência.

Além, de classificar também por comportamento. E aqui entra alguém que citarei mais adiante. Por hora, o rótulo dado por ela: um chato que se acha o maioral do grupo. Forçando a barra em ser o mais engraçadinho. Ele é Irv Gordon (Richard Dreyfuss).

Acontece que Georgia que é chata. Não conseguindo disfarçar a sua frustração por esse emprego. Voltara a sua terra natal querendo lecionar História Clássica na universidade. Como não conseguiu, quis então dar aulas aos turistas. Não percebendo o quanto é entediante essas suas falas.

Viajar é mudar o cenário da solidão.” (Mário Quintana)

Essa frase de Quintana cairia bem para esses dois personagens: Georgia e Irv. Muito embora ela já estivesse passado da fase de ter um Mentor. Eu até posso estar sendo preconceituosa, mas chegar na idade dela sem estar bem resolvida, fica parecendo que baixou uma adolescência tardia. E é até por isso que eu defini o Irv como um Mentor da Heroína desse filme. Aqui, no sentido mesmo de protagonista. Irv vai mostrando a ela o que está diante dela, e ela não está vendo. Por estar amarga demais.

Com Irv, a alegria quase forçada, vem para não sentir o peso da solidão. O peso de uma perda. Que o faz ressentir-se se não soube desfrutar, aproveitar, doar-se plenamente. Enfim se ele conseguiu ser especial para uma certa pessoa. Pesava-lhe o receio de não o ter conseguido. E essa viagem à Grécia foi para fazer esse resgate. Um longo mergulho em sua alma.

Por conta disso tenta mostrar a Georgia que ela está desperdiçando seu tempo de vida. Falando grego para aqueles turistas. E nem vendo um deus grego vivinho ao seu lado.

Pausa para falar do ator Richard Dreyfuss. Primeiro, que num mundo onde dão mais destaque aos cada vez mais jovens, ver alguém que já passou dos sessenta anos de idade ainda atuando, para mim é uma grata satisfação. Meio redundante. Mas fico feliz em ver. Depois, que esse ator faz parte da minha memória cinéfila. Em cenas ainda guardadas com carinho de vários filmes seus. Em Tubarão, por exemplo, onde seu medo foi sentido pelo público. Mesmo que seja num filme como esse fica aqui o meu aplauso. Valeu, Dreyfuss! Vida longa a ti!

Então, é isso! Falando Grego é uma linda viagem pela Grécia! Com uma pitada de: abra os seus olhos porque a vida é bela e curta.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Falando Grego (My Life in Ruins).2009. EUA. Direção: Donald Petrie. Elenco: Nia Vardalos (Georgia), Richard Dreyfuss (Irv), Alexis Georgoulis (Poupi Kakas), +Cast. Gênero: Comédia Romântica. Duração: 98 minutos.

2 Dias em Paris (2 Days in Paris. 2007)

Nós sempre teremos Paris!(Casablanca)

Creio ter ido com muita expectativa com essa Direção e por conta de ser uma mulher. Não tanto pela atriz, Julie Delpy. Mas sim por ansiar ver na lista dos Grandes Diretores mais mulheres. Por elas agora terem as portas se abrindo. Bem, estarei na torcida pelos próximos dela. Ainda não foi com esse filme que ela ingressou nesse seleto rol.

Para mim ela errou ao explicar detalhadamente sua história. Por ser dela o roteiro talvez achou que nem todos entenderiam. Ou para que não associássemos a outros filmes. Mas não tem como não lembrar de outros filmes assistindo esse. Nesse ponto eu até não me importaria nada. Até porque na primeira hora do filme eu ri bastante. O que me incomodou mesmo foi na voz em off explicar tudo. Teve momentos que me deu vontade de falar: “Para de falar mulher! Pare de explicar! Me deixe divagar sobre a história!” Como também, talvez pelo peso de estar na Direção, ela atuou presa. Parecia que não queria errar. E acabou complicando esse seu primeiro trabalho. Pena!

O personagem do Adam Goldeberg me fez lembrar dos de Woody Allen. Mas até ai tudo bem! Ele também fez um hipocondríaco engraçado. Assim como soube levar um americano assustado com o jeito de ser dos parisienses. Como também mostrou um jeito de ser de um turista estadunidense. Agora, faltou algo mais no sentir ciúmes dos “ex” da companheira. Parecia mais assustado e até chocado com a vida sexual dela antes de se conhecerem do que enciumado.

Quem sabe daqui a alguns anos um remake dê uma boa enxugada nesse roteiro e então eu curta mais o filme. Porque a história até que é boa: Um casal – já numa leve crise conjugal – saem em férias até Veneza. Como numa 2ª lua de mel. Mas que não fora do jeito que ela sonhou. Daí antes voltarem para Nova Iorque resolvem passar dois dias em Paris. Para apresentá-lo com mais tempo a seus pais e a sua irmã. Como também apanhar o gatinho. E nesses dois dias – entre os vários “ex” que aparecem -, eles discutem a relação. Mais! Acabam conhecendo o que até então desconheciam um do outro.

Enfim, ficou com um gosto de sessão-da-tarde.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

2 Dias em Paris (2 Days in Paris). 2007. França. Direção e Roteiro: Julie Delpy. Elenco: Julie Delpy, Adam Goldberg, Daniel Bruhl. Gênero: Comédia, Romance. Duração: 96 minutos.

Bagdad Café (Bagdad Cafe. 1987). Um Deserto ou um Oásis?

Bagdad café

No meio de um deserto, miragem ou um oásis?

Por vezes nos encontramos num deserto. Quer seja de palavras, de atitudes… Ali, meio que sem saber qual a direção certa prosseguir. A nos guiar apenas uma luz… Mas eis que chega num ponto onde a vontade maior é se desfazer do “mapa” e seguir em frente meio que sem lenço, sem documento… Provocar mesmo uma mudança. Agora, se será em direção a uma miragem ou a um oásis só o tempo dirá. O importante mesmo é que permaneça a luz interior. A vontade de continuar viva. Isso, não pode apagar.

O Filme Bagdad Café aborda essa sensação de deserto interior. No limite de abandonar a mesmice mesmo sem um planejamento. E onde a mudança vem sob um sol abrasador…

Quem já leu outros comentários meus viram que destaco de ter muitos mais filmes mostrando o universo masculino. Bagdad Café nos brinda logo com duas personagens femininas e marcantes. Duas mulheres que ficarão em nossa memória emotiva: Jasmim e Brenda. Quem são elas? Em que ponto da jornada (vida) seus caminhos se cruzaram? E por que não foi apenas um encontro passageiro, nem tampouco descartável?

Antes, sobre o título do filme. Num ponto da estrada que corta o Deserto de Mojave fica o Bagdad da história. Com um pequeno Motel, um posto de gasolina e o Café. O trio pertence a Brenda. Agora, um pouco das duas. Ou onde suas vidas se cruzaram e fizeram a diferença.

Jasmim (Marianne Sägebrecht): Uma turista alemã que junto com o marido pararam num ponto dessa longa estrada. Meio que perdidos. Após uma discussão Jasmim por não aguentar mais a grosseria do marido decide seguir viagem sozinha e a pé. Ainda por cima carregando uma mala. Parece meio loucura isso. Mas talvez por ter visto no mapa que estaria próxima a um local chamado Bagdad. E assim seguiu o seu caminho…

Paralelo a isso um outro casal também em conflito.

Brenda (CCH Pounder) discute com o marido. Nesse caso é o marido que não entende a grosseria ou o jeito arredio da esposa. Ele é quem vai embora. Então, Brenda em frente do seu estabelecimento, meio desolada com tudo, quase não acredita naquela aparição: Jasmim chegando. Algo meio surreal.

Assim, diante de perdas o destino as colocam juntas. E tem início a uma relação que transformará ambas. Ou melhor, irá retirar as armaduras de ambas. Irão se descobrir por completo.

Jasmim se hospeda, mas ao chegar no quarto vê que pegara a mala errada. Então retira de si a verdadeira bagagem: carinho e amizade. E aprende a fazer mágica. Com isso consegue trazer mudanças para aquele local. Mais até! Ela altera a lógica dos hábitos dos que ali viviam.

No outro ponto temos Brenda, a dona do Bagdad Cafe. Tentando ser, manter-se a dona de si mesma. Talvez até com um aviso no coração: “Não tem mais vagas!” Alguém que apenas vai levando a vida. Meio que cansada, a princípio se fecha e re-age ante aquela forasteira. Por aquela invasão na sua privacidade; na sua vida. “Que ousadia era dela em vim querer arrumar o meu caos?“, pensaria.

Aos poucos Jasmim e Brenda vão se transformando. A ternura vence o deserto que afinal ambas estavam vivenciando até então. A amizade cresce. Elas crescem.

A trilha musical tem três ponto altos. Mas sem sombra de dúvida, é “Calling You“, na voz de Jevetta Steel, que mais emociona! Uma brisa quente vindo justamente na minha direção… uma mudança se aproximando… como uma doce libertação.” Perfeito!

Eu amei esse filme!

Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Bagdad Café (1987). Alemanha. Direção e Roteiro: Percy Adlon. Com: CCH Pounder, Marianne Sägebrecht, Jack Palance. Gênero: Comédia, Drama. Duração: 95 minutos.