Coco Chanel era para mim muito mais uma marca de Alta Costura. De uma moda Clássica. Que mais que uma roupa, a menção do seu nome me vinha a mente Jackie Kennedy. Também era a de um Perfume, o Chanel 5. Que Marilyn Monroe imortalizou no imaginário sedutor de várias gerações.
Com o filme “Coco Antes de Chanel” foi quando conheci de fato a mulher. A sua trajetória de vida até fazer o seu nome ser conhecido e respeitado mundialmente. E o fez de um jeito tão inovador que eu coloquei como subtítulo ao escrever sobre esse filme, esse: Uma Mulher a Frente do Seu Tempo. Eu fiquei tão encantada com ela que fui dura com a performance da Audrey Tautou. Porque eu queria me emocionar das lágrimas rolarem naquela cena final com ela na escada.
Em “Coco Chanel e Igor Stravinsky” temos uma fase seguinte. Nesse é como se o grande diamante bruto fora lapidado nos mostrando todo o seu esplendor. Coco Chanel agora esbanja elegância. Mais amadurecida. Ciente do seu poder de sedução. E porque não, do seu poder de intimidação. Pela época, uma mulher que não seguia o padrão comum, com relacionamentos livres de papéis e igrejas, tinha que ser muito segura de si.
Não gosto muito de fazer isso, mas não deu para não comparar as duas atrizes: Audrey Tautou e Anna Mouglalis. Não deu para não pensar se essa também teria sido brilhante no filme anterior. Mas como Anna Mouglalis tem um porte de uma mulher já amadurecida – contrário da Tautou que parece uma menina travessa -, creio que não. E isso me fez querer rever “Coco Antes de Chanel”, para então ver se eu daria uma nota melhor para a performance da Tautou.
Agora, confesso que me decepcionei um pouco com essa continuação da vida de Coco Chanel. Não deveria, até pelo título que já denota que o filme traria os dois – Chanel e Igor -, como protagonistas. É que eu queria que mostrasse mais do trabalho dela. Do seu lado profissional. Dela vestindo grandes damas da sociedade da época. Entretanto, ao mesmo tempo, o filme me fez continuar encantada por Coco Chanel. Conto mais adiante.
“Coco Chanel e Igor Stravinsky” dá um destaque maior a Igor Stravinsky. A sua crise existencial. A sua traição, já que mesmo casado com Katarina (Yelena Mozova), teve e manteve o romance com Chanel. Muito bem interpretado por Mad Mikkelsen. Mesmo assim não me levou a gostar desse músico. Para mim, o filme o mostrou como um autor de uma obra só, a “A Sagração da Primavera“. A Ópera onde foi vaiado em sua estreia em Paris. Onde Chanel colocou seus olhos nele. Igor, com mulher e filhos, pedira exílio à França, por conta da Revolução Russa. Mais. No filme vemos que Igor ganhou mais popularidade porque Chanel, secretamente, patrocinou suas viagens com a Ópera. Além de levá-lo, com a família, para morarem em sua casa de campo. Onde teria tranquilidade para compor.
Chanel só o procura como uma mulher após retirar o seu luto por Arthur ‘Boy’. E é quando vemos o seu talento também para a decoração de interiores. O interessante foi que essa tomada em “dar um colorido a sua vida” vem mesmo como um pequeno duelo com Katarina. Rivalidade entre duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem. Aliás, Katarina mesmo parecendo ter saído da escola em “O Sorriso de Mona Lisa” – alguém que nasceu para ser uma perfeita dona de casa -, ganhou a minha admiração. No filme, se nota que ela tinha estudos, já que repassava, que revia os erros nas composições do marido. Como ela bem disse a Chanel, ela, Katarina, era a crítica mais sincera do trabalho do marido. Katarina ainda mantém por um tempo o papel de esposa que finge que não vê a traição do marido. Mas quando tal romance fica visível até para seus filhos menores, é chegada a hora de uma tomada de decisão. De Igor escolher com qual das duas ficaria.
Chanel diz a Igor que ele não merecia ter duas mulheres. E no caso em questão, as duas. Para Igor, as duas se completavam no papel de uma perfeita esposa para um homem bem egocêntrico e inseguro. Elas eram suas colunas de sustentação. Igor não as respeitava como pessoas. No caso de Chanel, a considerava uma mera lojista. Quanto machismo! Eu amei quando Chanel diz a ele: “_Eu não sou sua amante!” E estava certa! Se ali naquela relação alguém estava traindo alguém, era ele e não ela.
Eu gosto de filmes biografias. Claro que Diretor e/ou Roteirista, tem a liberdade em contar a história do seu jeito. Nesse filme, seria em mostrar um romance real entre duas personalidades tão distintas, tão antagônicas. Não posso dizer que não valeu ter visto “Coco Chanel e Igor Stravinsky”. Valeu sim. Como também me deixou vontade de ver um terceiro filme, e com a Anna Mouglalis interpretando Coco Chanel. Sendo que nesse outro filme detalhassem mais Chanel em sua Maison. Esse realçou mais seu lado perfeccionista até com seus funcionários.
“Coco Chanel e Igor Stravinsky” é um bom filme. Mas o é para um público bem específico. Os adoradores dos de tipo blockbuster, melhor passarem longe desse. Eu até posso rever, mas será para rever a excelente atuação da Anna Mouglalis.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Coco Chanel e Igor Stravinsky. 2009. França. Direção: Jan Kounan. +Elenco. Gênero: Biografia, Drama, Romance. Duração: 118 minutos. Baseado no livro homônimo, de Chris Greenhalgh.
Curiosidades:
– A atriz Anna Mouglalis é umas das musas de Karl Lagerfeld. Sempre circula com vestidos da Maison Chanel, grife da qual é embaixadora desde 2002.
– Todo o figurino de Anna Mouglalis é assinado pela Maison Chanel e foi feito especialmente para o longa, em um processo de criação que envolveu de perto Karl Lagerfeld, no comando da grife desde 1983.
– Foi durante seu romance com Stravinsky que Chanel lançou seu icônico perfume Chanel Nº5.A