Coco Chanel & Igor Stravinsky (2009)

Coco Chanel era para mim muito mais uma marca de Alta Costura. De uma moda Clássica. Que mais que uma roupa, a menção do seu nome me vinha a mente Jackie Kennedy. Também era a de um Perfume, o Chanel 5. Que Marilyn Monroe imortalizou no imaginário sedutor de várias gerações.

Com o filme “Coco Antes de Chanel” foi quando conheci de fato a mulher. A sua trajetória de vida até fazer o seu nome ser conhecido e respeitado mundialmente. E o fez de um jeito tão inovador que eu coloquei como subtítulo ao escrever sobre esse filme, esse: Uma Mulher a Frente do Seu Tempo. Eu fiquei tão encantada com ela que fui dura com a performance da Audrey Tautou. Porque eu queria me emocionar das lágrimas rolarem naquela cena final com ela na escada.

Em “Coco Chanel e Igor Stravinsky” temos uma fase seguinte. Nesse é como se o grande diamante bruto fora lapidado nos mostrando todo o seu esplendor. Coco Chanel agora esbanja elegância. Mais amadurecida. Ciente do seu poder de sedução. E porque não, do seu poder de intimidação. Pela época, uma mulher que não seguia o padrão comum, com relacionamentos livres de papéis e igrejas, tinha que ser muito segura de si.

Não gosto muito de fazer isso, mas não deu para não comparar as duas atrizes: Audrey Tautou e Anna Mouglalis. Não deu para não pensar se essa também teria sido brilhante no filme anterior. Mas como Anna Mouglalis tem um porte de uma mulher já amadurecida – contrário da Tautou que parece uma menina travessa -, creio que não. E isso me fez querer rever “Coco Antes de Chanel”, para então ver se eu daria uma nota melhor para a performance da Tautou.

Agora, confesso que me decepcionei um pouco com essa continuação da vida de Coco Chanel. Não deveria, até pelo título que já denota que o filme traria os dois – Chanel e Igor -, como protagonistas. É que eu queria que mostrasse mais do trabalho dela. Do seu lado profissional. Dela vestindo grandes damas da sociedade da época. Entretanto, ao mesmo tempo, o filme me fez continuar encantada por Coco Chanel. Conto mais adiante.

Coco Chanel e Igor Stravinsky” dá um destaque maior a Igor Stravinsky. A sua crise existencial. A sua traição, já que mesmo casado com Katarina (Yelena Mozova), teve e manteve o romance com Chanel. Muito bem interpretado por Mad Mikkelsen. Mesmo assim não me levou a gostar desse músico. Para mim, o filme o mostrou como um autor de uma obra só, a “A Sagração da Primavera“. A Ópera onde foi vaiado em sua estreia em Paris. Onde Chanel colocou seus olhos nele. Igor, com mulher e filhos, pedira exílio à França, por conta da Revolução Russa. Mais. No filme vemos que Igor ganhou mais popularidade porque Chanel, secretamente, patrocinou suas viagens com a Ópera. Além de levá-lo, com a família, para morarem em sua casa de campo. Onde teria tranquilidade para compor.

Chanel só o procura como uma mulher após retirar o seu luto por Arthur ‘Boy’. E é quando vemos o seu talento também para a decoração de interiores. O interessante foi que essa tomada em “dar um colorido a sua vida” vem mesmo como um pequeno duelo com Katarina. Rivalidade entre duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem. Aliás, Katarina mesmo parecendo ter saído da escola em “O Sorriso de Mona Lisa” – alguém que nasceu para ser uma perfeita dona de casa -, ganhou a minha admiração. No filme, se nota que ela tinha estudos, já que repassava, que revia os erros nas composições do marido. Como ela bem disse a Chanel, ela, Katarina, era a crítica mais sincera do trabalho do marido. Katarina ainda mantém por um tempo o papel de esposa que finge que não vê a traição do marido. Mas quando tal romance fica visível até para seus filhos menores, é chegada a hora de uma tomada de decisão. De Igor escolher com qual das duas ficaria.

Chanel diz a Igor que ele não merecia ter duas mulheres. E no caso em questão, as duas. Para Igor, as duas se completavam no papel de uma perfeita esposa para um homem bem egocêntrico e inseguro. Elas eram suas colunas de sustentação. Igor não as respeitava como pessoas. No caso de Chanel, a considerava uma mera lojista. Quanto machismo! Eu amei quando Chanel diz a ele: “_Eu não sou sua amante!” E estava certa! Se ali naquela relação alguém estava traindo alguém, era ele e não ela.

Eu gosto de filmes biografias. Claro que Diretor e/ou Roteirista, tem a liberdade em contar a história do seu jeito. Nesse filme, seria em mostrar um romance real entre duas personalidades tão distintas, tão antagônicas. Não posso dizer que não valeu ter visto “Coco Chanel e Igor Stravinsky”. Valeu sim. Como também me deixou vontade de ver um terceiro filme, e com a Anna Mouglalis interpretando Coco Chanel. Sendo que nesse outro filme detalhassem mais Chanel em sua Maison. Esse realçou mais seu lado perfeccionista até com seus funcionários.

“Coco Chanel e Igor Stravinsky” é um bom filme. Mas o é para um público bem específico. Os adoradores dos de tipo blockbuster, melhor passarem longe desse. Eu até posso rever, mas será para rever a excelente atuação da Anna Mouglalis.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Coco Chanel e Igor Stravinsky. 2009. França. Direção: Jan Kounan. +Elenco. Gênero: Biografia, Drama, Romance. Duração: 118 minutos. Baseado no livro homônimo, de Chris Greenhalgh.

Curiosidades:
– A atriz Anna Mouglalis é umas das musas de Karl Lagerfeld. Sempre circula com vestidos da Maison Chanel, grife da qual é embaixadora desde 2002.

– Todo o figurino de Anna Mouglalis é assinado pela Maison Chanel e foi feito especialmente para o longa, em um processo de criação que envolveu de perto Karl Lagerfeld, no comando da grife desde 1983.

– Foi durante seu romance com Stravinsky que Chanel lançou seu icônico perfume Chanel Nº5.A

O Diabo Veste Prada (2006). Ou: A Arte de Engolir Sapos

Quando criança somos levados a engolir o choro. Numa de frear mais que nossos impulsos, a nossa espontaneidade. Ali meio que sem saber discernir direito somos levados a saber que no mundo dos adultos há normas demais tolhendo em ser uma pessoa única. Tem mais! Já na fase adulta, e no tocante ao lado profissional da mulher. As cobranças são superiores as impostas aos homens. A nós, um pequeno vacilo toma proporções gigantescas. Não se constrói uma carreira sólida, e de respeitarem seu nome, tão fácil. E para se chegar lá, uma das coisas a se aprender é: de engolir sapos.

Assim, Miranda Priestly (Meryl Streep) não chegou ao topo fazendo concessões, relevando erros de membro da equipe, enfim não sendo “boazinha”. E por que? Era o seu nome que estaria na guilhotina. Seu nome, carreira, reputação e emprego. Se ela cobrava de si mesma total dedicação, também tinha o direito de cobrar também da sua equipe. Principalmente para o posto alcançado. Já que a Moda é algo que muda muito rápido. Com isso, seu cargo estava sempre em risco. Pois os acionistas da Runaway Magazine, como todos em geral, só visavam o lucro. A eles não interessavam toda a trajetória dela. Aliás, os estadunidenses possuem essa cultura do Mercado de Ações.

Miranda meio que se visualizou em início de carreira ao contratar a jovem Andrea “Andy” Sachs (Anne Hathaway). Mas mais pela autencidade da jovem. Em não ser mais uma mera cópia. Até porque para chegar onde chegou, Miranda tinha um talento nato. Andy que até então desconhecia esse mundo da Miranda termina se deixando seduzir. Perdendo até o que lhe era mais caro: namorado e amigos. E principalmente, o seu verdadeiro talento: o de escrever. Era o seu sonho: seguir a carreira de jornalista. Mas não de Moda, nem da Alta Costura. Mas sim das mazelas do dia a dia.

Até que descobre que esse não era o mundo que queria. Se teria que engolir sapos, que fosse no que queria seguir. Pois é algo que não escapamos. Sempre terá alguém que nos leve a engolir. Mas sem sombra de dúvida, nenhum com o charme de Meryl “Miranda” Streep. Ela é ótima! E Andy sabe que valeu a pena esse aprendizado. Ah! O personagem de Stanley Tucci, Nigel, também teve que engoli um dos grandes. Ele também é ótimo!

Um bom filme, até para rever. E a trilha sonora é ótima!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada). 2006. EUA. Direção: David Frankel. Elenco: Meryl Streep (Miranda Priestly), Anne Hathaway (Andrea “Andy” Sachs), Emily Blunt (Emily), Stanley Tucci (Nigel), Adrian Grenier (Nate), Tracie Thoms (Lilly), Rich Sommer (Doug), Gisele Bundchen (Serena), Heidi Klum (Heidi Klum), Valentino Garavani (Valentino Garavani). Gênero: Comédia, Drama, Romance. Duração: 109 minutos. Baseado em livro de Lauren Weisberger.

Coco Chanel – uma mulher à frente de seu tempo

coco_before_chanel_posterEu fiquei encantada em conhecer a trajetória de vida dessa mulher: Coco Chanel. E que pelo título, o filme nos mostra até o seu estrelato: Coco antes de Chanel. Fama. Celebridade… Algo que tantos buscam. Mas poucos são os que conseguem ficar no topo, e por méritos próprios. Porque a esses, lhes sobram talento. E um pouco de perseverança.

O filme inicia com duas meninas deixadas à porta de um Colégio de Freiras, pelo próprio pai. As janelas desse internato mais que uma prisão, pareciam pequenos caixões… Elas são as irmãs Chanel: Gabrielle, a Coco, e sua irmã Adrienne. Sentem-se desoladas pelo abandono total do pai. A mãe falecera.

Se por um lado pesou essa ausência paterna… por outro, algo que faz parte dos ensinamentos de um colégio desses – prendas do lar -, sem querer despertaria seu talento nato. Com as aulas de Corte e Costura, lhe daria uma base. E o tempo, iria ajudar a lapidar essa jóia rara.

Ambas, já adultas, foram trabalhar num Cabaré. Consertavam as roupas das coristas. Por querer serem atrizes, conseguiram apresentar um número musical. Cantando uma canção infantil, de uma menina procurando pelo seu cãozinho, de nome Coco. Gabrielle (Audrey Tautou) apesar de uma voz melodiosa, não tinha a exuberância da irmã. Algo que era quase imprescindível naquele ambiente: de despertar a tesão dos homens. E pelo seu temperamento de não se calar, não era nada querida pelo dono do Cabaré.

Se de um lado, fantasiava o seu passado, por outro, sabia que ali, não lhe daria futuro. Mas só tomou uma decisão em sair dali, quando viu que sua carreira de atriz seria fantasiosa também.

Mas uma vez o destino, por linhas tortas, a impulsionava para chegar onde chegou. Muito embora, no momento, lhe parecesse meio cruel. Sua irmã decidira largar tudo, e ir morar com um nobre. Por não ter berço, Adrienne (Marie Gillain) não seria reconhecida pela família dele. Mas não se importavam, ela e ele, de viverem à margem da nobreza.

Coco ainda tenta uma carreira solo. Mas aos olhos dos homens, não era sexy. Então resolve ir procurar um nobre, Étienne (Benoît Poelvoorde), o único que até se encantara por ela. Ele aceita que fique em sua mansão hotel. Desde que não aparecesse quando estivesse com convidados.

coco-chanel-e-o-traje-de-montariaAté que num dia, ao vê-los saindo galopando pelos prados, resolve ir atrás. Mas antes, pega uma peças de roupas de Étienne, e dar um ar feminino ao traje. O que a faz cair nas graças da convidada principal. Uma famosa atriz de teatro, Emilienne (Emmanuelle Devos). O que seria um ultraje, deu início ao uso de calças compridas para as mulheres. Muito mais prático para certas ocasiões.

Quando ainda em dupla com a irmã, Coco a libera dos espartilhos. Para ela, era uma tortura desnecessária. O que viria a ser a libertação de vez, um pouca mais tarde, já com o seu primeiro desfile. Algo que também não gostava, era todas as plumas, pedrarias, adornos mil que as mulheres usavam. Para ela, a elegância estava em retirar aquilo tudo. Menos coisas, e não mais. E de fato é isso!

Mas dois fatos contribuíram para a sua virada. Um deles, por não poder acompanhar Étienne até a Tribuna de Honra no Jóquei Clube. Coco prometeu a si próprio que um dia seria convidada para estar junto com a nata da sociedade parisiense. O outro, fora uma estocada no seu coração. Serie preterida por uma rica e nobre herdeira. Seu primeiro e grande amor, Arthur ‘Boy’ (Alessandro Nivola), preferiu um casamento de conveniência.

coco_avant_chanel_photoMesmo assim, ele resolve investir no seu talento. Já tivera provas dele. E até do seu olhar clínico, em transformar uma peça do vestuário masculino num feminino, e cheio de charme.

Não sei se foi ela quem de fato lançou o pretinho básico tão salvador da pátria para nós. Agora, a cena onde escolhe o tecido, e então o usa, num salão… É deslumbrante! Amei!

coco-avant-chanelSe fora pelo patrocínio de Arthur que a impulsionou, foi Emilienne quem lhe abriu os olhos para o seu talento. Coco tinha lhe feito um chapéu que caiu no gosto das mulheres. Mas ela foi além de ser uma simples chapeleira. Criava todo o traje, dos pés à cabeça, literalmente. E esse Ateliê a lançou de vez num novo mercado que surgia: o Mundo da Moda da Alta Costura.

Como eu falei no início, amei essa biografia. O filme é muito bom. Mas é para um público mais seletivo.

Agora, a Audrey Tautou, a mim, não arrebatou essa personagem. Em marcar a sua presença. Pois ao término do filme, fiquei pensando se uma outra atriz me levaria às lágrimas naquele final. Em dizer BRAVO!, completamente emocionada. Eu digo sim – BRAVO! -, mas a pessoa de Coco Chanel. Uma personalidade deslumbrante. Que ousou se libertar das convenções da época, e em alto estilo. Quanto à Tautou, o meu – BRAVO! -, ainda o é para a sua Amélie Poulain.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel). 2009. França. Direção e Roteiro: Anne Fontaine. +Cast. Gênero: Biografia, Drama, Romance. Duração: 105 minutos. Baseado no livro de Edmonde Charles-Roux.