Série: The Newsroom (2012/2014). Por Um Jornalismo Mais Ético!

the-newsroom_serie-de-tvthe-newsroom_01Por: Valéria Miguez (LELLA).
Ele é um âncora que acredita que mesmo um programa sem ter um cunho jornalístico possa se manter íntegro e ter audiência sem ter que apelar para o sensacionalismo ou mesmo inverdades. Avesso a fama advinda de polêmicas… Ele se vê saindo de uma hibernação ao ser contratado justamente para trazer a audiência de volta a um telejornal no horário nobre de um canal a cabo. Ele é Will McAvoy, personagem muito bem interpretado por Jeff Daniels! Afastado das mídias também por problemas pessoais… Mas mais por uma participação num programa onde McAvoy juntamente com outros convidados foram entrevistados por jovens estudantes. Esses, cientes até deu seu posicionamento político – o tinham como alguém em cima do muro… focam nele as perguntas… Bem, McAvoy até tentou se segurar… Mas num certo ponto, ele “explodiu”… Mas como um professor tentando colocar ordem na classe! Não para se calarem, mas sim para que raciocinassem até com o que estavam falando. Assim, e se valendo de uma das perguntas – “Por que a América é o melhor país do mundo?” – McAvoy então deixa a sua marca! Antológica, por sinal! Que até me fez lembrar de uma cena do filme “Obrigado por Fumar“, de 2006. Se nesse outro a lição fora para o filho… Neste, McAvoy sem querer acabou dando até para o mundo…

Como McAvoy passou a dominar a tudo e a todos no tal programa, de certa forma mostrou o paradoxo em sua personalidade. O saber falar em público, pensamentos próprios ou não, há de se ter que ponderar até por princípios éticos. Se carisma e até eloquência pode levar alguém a uma certa notoriedade, também pode levá-la a um domínio manipulador. Algo que McAvoy abominava! Algo que também não gostava, de até irritasse, era em não ver outra pessoa fazendo uso da própria inteligência. Que dirá então diante de uma platéia de jovens mais afeitos às celebridades! Um prato feito para ele! Como numa onde devolve uma pergunta com outra já emplacando um questionamento: “Privatizar? Eu não gostaria de que o Corpo de Bombeiros só fosse apagar as chamas na minha casa se eu estivesse com as mensalidades em dia!” E por ai segue… Mesmo mantendo a atenção para si, ele queria levá-los a se questionarem sempre, que não se mantivessem fechados a uma só “ideologia”, menos ainda a do “individualismo”, que se mantivessem abertos ao “socialismo”… O que acaba lhe uma nova legião de fãs. Pois mesmo que a princípio ele tenha ferido a exagerada xenofobia dos americanos: eles “se acham”… Agradando a muitos ou não… Mesmo não gostando, ele polemizou sim no tal programa. Até por já se mostrar contrário a tal pergunta no início desse texto. Aproveitando de tudo que fora falado até então, ele dá uma verdadeira aula para aqueles jovens! Englobando Geo-Política, Humanismo, História, Economia… McAvoy os conduziu ao seus próprios cérebros… Que estudassem mais antes de fecharem uma questão… Que questionassem sem aceitar de imediato uma informação dada vinda de quem vier… Porque o mundo não é só bem e mau, feio e bonito… Enfim, atônitos e êxtases… McAvoy deu uma grande aula para aqueles jovens!

the-newsroom_02Aula essa que também ficou memorável para uma outra pessoa. Que mesmo contrariando a CEO de próprio canal (ACN), a Leona Lansing (Jane Fonda), fora mais do que por estar atrás de audiência, fora por um olhar romântico dos bastidores de uma redação, que o presidente da divisão de notícias desse mesmo canal, Charlie Skinner (Sam Waterston, numa ótima atuação) que levara McAvoy para estar ser o âncora e o editor-chefe dando uma cara nova ao “News Night“. E para comandar toda a estrutura a dar base para ele, é contratada a produtora Mackenzie MacHale (Emily Mortimer, numa ótima atuação e que deu química com Daniels). Ambos também traziam na bagagem uma história pessoal e mal resolvida… Que acaba dando um tempero a mais na então nova relação profissional de ambos. Do qual Skinner não abria mão em tê-los no “News Night“. MacHale ciente do desafio, aceita! Ciente também da batalha diária, sabe que precisará de uma equipe bem compromissada também.

Assim, ao contabilizar quem estará junto com ela, MacHale se vê com algumas baixas levadas mais por conflitos com o McAvoy. Ele também não facilita nada nessa “seleção”. Entre os aceitos temos: Neal Sampat (Dev Patel) – escritor do blog de McAvoy e que vasculha a internet procurando por notícias; Jim Harper (John Gallagher Jr.) – o produtor sênior do “News Night” e que se verá entre dois chefes para lá de exigentes; Maggie Jordan (Alison Pill) – uma estagiária em busca de se tornar também uma produtora; Sloan Sabbith (Olivia Munn) – a analista financeira do “News Night“. Também no elenco fixo, entre outros tem: Don Keefer (Thomas Sadoski) – o antigo produtor executivo do tal telejornal saindo então para trabalhar em um outro programa na emissora.

Com a velocidade das informações dadas atualmente por conta da internet, a Série “The Newsroom” também vem como um remember com fatos ocorridos e há bem pouco tempo. Já que ela também levava no contexto da trama, acontecimentos reais. À contar de quando começou a produção, em 2011, até o cancelamento dela, em 2014. Mesmo eu que amo o Gênero Comédia, me levo a questionar do porque um Série com conteúdo sério é cancelada! Custo a crer que não dê audiência por lá, nos Estados Unidos. Tem tantas e sem relevância que duram tanto tempo… Enfim, mesmo ciente que esta teve vida curta… Para quem não tem os canais da HBO, mas tem o sinal aberto do Cinemax, aproveitem! A série está sendo exibida por ele, nas noites de sexta-feiras. Ainda no início da 1ª Temporada.

E mesmo dando para notar meu entusiasmo em mostrar o perfil do protagonista, o McAvoy… Vale ressaltar o quanto estou gostando de “The Newsroom“! Com acontecimentos reais como pano de fundo para os bastidores de um telejornal, intercalados com a história dos personagens. Com pinceladas de um humor bem inteligente! Uma pena mesmo que não teve vida longa! Enfim… Fica a sugestão dessa Série Nota 10!

The Newsroom (2012 – 2014)
Ficha Técnica: na página no IMDb.

Curiosidades:
– O cenário de “The Newsroom” estava localizado no Sunset Gower Studios, em Hollywood. Mas o fictício prédio da Atlantis World Media, na realidade, foi a torre do Bank of America no cruzamento da 6ª Avenida com a Rua 42 em Manhattan, com efeitos visuais utilizados para alterar o nome do prédio acima da entrada.

– Âncora – O termo âncora (anchorma) surgiu em 1948 nos Estados Unidos para definir o profissional que centralizava todas as informações de uma cobertura jornalística. Tudo isso aconteceu em uma Convenção realizada na cidade de Philadelphia nos Estados Unidos, transmitida pela CBS.
A partir dessa definição de âncora, o termo foi se difundindo e se consolidando como o principal mediador dos telejornais, através dos quais as notícias seriam difundidas. Existem muitos mitos sobre a profissão, entre eles está o mito de que o âncora só trabalha na hora em que está gravando na bancada, que é muito diferente da realidade destes profissionais da televisão, que são antes de qualquer coisa jornalistas que fazem de tudo para transmitir a informação para os telespectadores.

– E um vídeo com a tal aula que McAvoy dá:

Mesmo se Nada Der Certo (Begin Again. 2013)

mesmo-se-nada-der-certo_2013notas-musicaisSe a música ou o que pode resultar dela acaba bagunçando a mente de dois corações, ela também pode levá-los a um novo começo de vida. Meio que perdidos fez o destino se encontrarem por uma música que vinha quase como uma despedida para quem a cantava. Já para quem a ouvia ela lhe injetara sangue nas veias despertando o dom em descobrir talentos. Assim, ambos embarcam nesse novo trem da vida mesmo que inicialmente para darem um troco na vida de então. Até porque não custava nada embarcarem nessa nova viagem pois seguindo a máxima: mesmo se nada der certo, pelo menos eles tentaram. Muito embora o título original é mais eloquente: de que não importa o quanto sinta tão por baixo, sempre é tempo de começar de novo! E quem seria esses dois corações feridos?

Antes o aviso de que para traçar o perfil desses dois corações terá alguns spoilers. Com isso se ainda não viu o “Mesmo se Nada Der Certo” assista primeiro! É uma linda história de superação, de encerrar um capítulo, de enfrentar os próprios fantasmas… Enfim, de um novo recomeço onde a música é o chefe de cerimônia! Agora sim, vamos conhecê-los!

O amor é dar a alguém a oportunidade de te destruir, mas confiando que não fará isso!“.

mesmo-se-nada-der-certo_2013_02Começando por aquela que cantou! Ela é Gretta! Uma jovem meiga sem planos para a fama. A ela já bastava traduzir em letra e melodia seus sentimentos. Baladas românticas para em especial uma outra voz cantar, seu então namorado Dave (Adam Levine). Por ele não se importava em ficar nos bastidores, desde que não apenas como uma fã. O acampanhara de Londres para Nova Iorque: ele estava na iminência de se tornar um pop star. Mas o sucesso mexeu demais com ele deixando Gretta para escanteio, e até no coração dele: trocando-a pela nova empresária. Sentido-se perdida Gretta encontra um antigo amigo que também viera atrás de um sonho na Big Apple, Steve (James Corden). Mas diferente de Dave que já chegara com todas as portas abertas, Steve viera com a cara e a coragem. Cantado pelas esquinas alternando com os dias onde cantava num barulhento bar. Steve é a outra ponta dos que estão em busca da fama. Mesmo assim, ele divide o pequeno palco com ela. Numa de expor seus piores pesadelos, Gretta aceita cantar em público naquele dia em especial.

mesmo-se-nada-der-certo_2013_01Pausa para falar de James Corden e de Adam Levine. É que Corden desbancou o outro na performance. Não que Levine fez feio, fora mediano. Já Corden seguiu a máxima de que não há papéis pequenos. Muito embora Levine tenha seguido o esteriótipo do personagem: um canastrão. Enfim, dois personagens importantes nesse momento de Gretta em Nova Iorque! E já que falamos de atuações, agora sim a dela! Quem interpreta Gretta é Keira Knightley que confesso me surpreendeu até por deixar de lado as caras e bocas tão comuns em outros personagens que interpretara. Nesse filme ela está mais contida no gestual levando-a a uma excelente na performance. Enfim, até seus olhares fez jus a personagem! Gretta ficou memorável!

mesmo-se-nada-der-certo_2013_04Seguindo agora com aquele que a ouviu na tal noite meio tenebrosa para ambos, ele é Dan! Um descobridor de talentos no campo da música. Ele encontra o caminho para que mesmo em estado bruto a música chegue as pessoas. Sem máscaras, na essência. O que faz dele ser ainda muito querido e respeitado por aqueles que já alçaram voos solos, como o Rapper Troublegum (CeeLo Green). Mas até pela efemeridade do mundo da fama, seus métodos ficaram arcaicos para Saul (Yasiin Bey), sócio e co-fundador da gravadora que ambos criaram com esse olhar no artista, e não no lucro com as celebridades momentâneas.

Os tempos mudam. As pessoas têm que mudar com elas.

mesmo-se-nada-der-certo_2013_06Pausa para falar de Yasiin Bey. Ele até se desligou de uma outra ai sim de uma performance memorável, o Mos Def de “16 Quadras“, de 2006. Mas o seu Saul ficou no mediano. A ponto de me fazer pensar em algum outro ator ao travar esse duelo com Dan o deixaria memorável. Até porque Saul se rendera a fabricar sucessos pensando muito mais lucro. Até já tinha um método para isso. Enfim, Yasiin Bey não fez feio, mas não roubou as cenas. Ou mesmo que também poderia ter feito uma dobradinha incrível com Dan até porque havia uma trama importante nesses confrontos. Ali havia passado e presente de ambos passado a limpo, e mesmo que passando brevemente por essas histórias. É! O Saul de Yasiin Bey ficou a desejar.

Por isso amo música. Uma cena banal de repente se enche de significado. Todas as banalidades de repente se tornam pérolas de beleza e efervescência graças à música.”.

mesmo-se-nada-der-certo_2013_03Agora sim voltando a falar de Dan! Na e da performance de Mark Ruffalo que mesmo dentro de um esteriótipo comum a outros personagens que já interpretou, seu Dan ficou irretocável! Soube com maestria compor seu Dan. Alguém que do lado profissional não ia nada bem, o no pessoal mais ainda tanto que ficara sem um norte. Dan ainda sentia a separação. Sua ex-esposa Miriam (Catherine Keener) ainda estava presente em seus pensamentos. E sem saber o motivo certo da separação dos pais, nem mesmo o da fase ébria do pai, sua filha adolescente Violeta (Hailee Steinfeld) criara uma barreira ao coração desse pai. Com tudo isso, o Dan de Mark Ruffalo passa do drama carregado de um adulto amargurado à inocência da criança que ainda carregava em si, e sem tirar nossa atenção! Bravo, Mark Ruffalo!

Mas sou eu quem tem que mudar.

mesmo-se-nada-der-certo_2013_07Não sei se Catherine Keener se sentiu intimidada com tamanha energia de Mark Ruffalo em seu personagem. Mas também não fez feio. Gosto muito de suas performances, mas não deu muita química com Ruffalo tal como a com Steve Carell em “O Virgem de 40 Anos“. Ou até pelo o que sua personagem fizera, ela mostrou-se sóbria demais. Se bem que devido as atuais circunstância, a queda do ex-marido a deixara pedante e ai sim compôs bem a Miriam. Em relação a Hailee Steinfeld em “Bravura Indômita” já mostrara que está no caminho certo: com talento para grandes ou pequenos papéis.

Transformando esse tributo à essa grande louca beleza e fraturada bagunça que é Nova York.

Em “Mesmo se Nada Der Certo” até pode transparecer que o Diretor John Carney partiu das músicas para então compor sua história de tão perfeita integração entre elas. Sem esquecer também que o Roteiro é dele. O que traz a lembrança de um outro filme de sua autoria, o “Apenas Uma Vez“, de 2006. Por também brincar, ousar com as músicas compondo uma história. Onde em ambos o destino levou dois corações feridos a se encontrarem e daí como numa parada para revisão tentarem fechar um capítulo e sem as bagagens já inúteis para o que virá a seguir. Acontece que mesmo tendo ambos os filmes esse pano de fundo, John Carney os fez tão únicos que o eleva à categoria dos grandes. Ou mesmo que ainda com poucas obras até pela criatividade ele já está a caminho desse panteão. São excelentes filmes! Onde “Apenas Uma Vez” está numa oitava maior até pela simplicidade da obra como um todo! Muito embora ele além de usar tudo que a Big Apple tenha para oferecer ao compor “Mesmo se Nada Der Certo” o fez de um jeito tão vibrante e ao mesmo tempo romântico no espírito que nos lava a alma! Um filme para ver e rever! Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Mesmo se Nada Der Certo (Begin Again. 2013)
Ficha Técnica: na página no IMDb.

Birdman (2014). O Canto do Cisne em Seu Apogeu!

birdman_de-wws-harrisPor: Cristian Oliveira Bruno.
Alejandro-Inarritu_Edward-Norton_Michael-KeatonAo terminar de ler o roteiro de Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância) [2014], Edward Norton (A Outra História Americana) pergunta ao diretor e roteirista Alejandro González Iñarrítu (Babel) quem havia sido escalado para o papel principal do longa. Ao ouvir o nome de Michael Keaton (Batman – O Filme) como resposta, Norton tem uma epifania: “É claro! É tão óbvio….e tão perfeito!“.

E é assim, trazendo um ator que viveu o auge de sua carreira no início dos anos 90, ao interpretar um popular super-herói no cinema, vivendo o personagem de um ator que viveu o auge de sua carreira no início dos anos 90, ao interpretar um popular super-herói no cinema que Birdman estabelece-se como um escarnio metalinguístico crítico e auto-crítico de primeira qualidade, brincando de fazer cinema com bom gosto e com alto grau de originalidade, fazendo de um filme simples o melhor filme de 2014.

birdman_2014_cenasO roteiro de Birdman é tão bem escrito que qualquer um de seus personagens poderia ser escolhido como protagonista – embora Riggan Thomson (Michael Keaton) realmente apresente-se como principal eixo dramático da trama. Se, por vezes, o excêntrico Mike Shiner de Edward Norton parece querer tomar todas as atenções para si – e de quando em vez até consiga – e a Sam de Emma Stone tenha lhe rendido uma justificada indicação ao Oscar, uma personagem e sua intérprete parecem ter ficado à sombra de sua real grandeza: Naommi Watts e sua Lesley, uma talentosa e sonhadora atriz que vive simultaneamente o melhor momento de sua carreira e uma das fases mais conturbadas de sua vida pessoal. Tanto a personagem, quanto a interpretação de Watts deveria ter recebido maiores holofotes, pois são marcantes e dignos de nota. Inusitadamente trazendo uma trilha composta unicamente por solos de bateria, Birdman é justamente aquilo que seu diretor pensa sobre cinema: “um conjunto de elementos distintos em constante movimento trabalhando em conjunto pelo mesmo propósito“. Assim sendo, Iñarrítu se desprende de qualquer estigma narrativo e/ou estrutural, sentindo-se mais do que à vontade para transpôr sentimentos e sensações para a tela. Portanto, não estranhe os quase intermináveis planos-sequência (que geraram preocupação por parte se toda a equipe para com a saúde dos cameramens, que sustentavam o pesado equipamento móvel por muitos minutos, transitando pelos vários cenários – um teatro real foi usado como locação) ou cenas em que Michael Keaton levita ou move coisas com a mente. Tudo isso é tão bem construído que se torna a mais pura apresentação de contexto e personagem elaborada nos últimos sei lá quantos anos.

birdman_2014_01Sem poupar ninguém nem fazer concessões, Birdman critica e desnuda tudo e todos que compõem seu universo, atacando sem piedade – porém, com muita elegância – todos aqueles que integram o mundo glamouroso da Broadway, sejam atores, diretores, platéia e críticos. E principalmente, Birdman ataca seus egos, principal fio condutor de sua trama. Pois não há nada mais instável do que o ego. Ele que nos faz acreditar sermos capazes de fazer o capazes somos – nem nunca seremos – capazes – de fazer e nos leva a cometer os mais mirabolantes atos.

Birdman é o cinema em sua mais pura forma e utilizando-se de absurdos, metalinguagem, fantasia e técnicas para fazer uma verdadeira obra-prima contemporâneo. Birdman está aí para nos mandar um recado: Hollywood ainda tem esperança, mesmo que esteja fora dali.

Nota: 9,5.

A Família Bélier (La Famille Bélier. 2014)

a-familia-belier_2014E tem um passarinho querendo abandonar o próprio ninho… Mas que para essa gaiola há uma muito chave especial

O filme “A Família Bélier” traz como pano de fundo a entrada para a adolescência, mas muito mais daqueles que não passam o dia com seus celulares nas mãos. Daqueles que já levam uma vida bem mais produtiva ajudando aos pais nos afazeres diários e de onde sai o sustento da família. Nesse em especial, a criação de um pequeno gado leiteiro para o fabrico de queijos. O que já é um convite parra assistir e ver um cenário bucólico. O filme se passa num Um vilarejo na região do Mayenne, na França. É! O filme fala dos que ainda nem descobriram o próprio talento e que o levaria a abandonar o ninho familiar.

a-familia-belier_2014_01Em muitas das vezes o talento é nato precisando apenas vir à superfície, e de ter alguém com um olhar mais apurado, ou mais específico para essa descoberta. Nesse filme veio de um professor: o meio ranzinza Professor Thomasson. Numa bela atuação de Eric Elmosnino. Ele também se sente engaiolado: dando aula de canto numa escola no campo. E o primeiro vislumbre de uma joia rara entre os alunos veio meio que por intuição. Mas esse diamante a ser lapidado parecia estar intimidada até de fazer uso da própria voz…

a-familia-belier_2014_02Em “A Família Bélier” temos então a jovem Paula (Louane Emera). Uma adolescente que se divide entre a escola, a labuta na fazendola, o gerenciar preços de compra e venda desse negócio familiar e além de ajudar a família na feiras de produtores… Sem quase tempo de sobra, correndo de um lado para outro… Tem em seus breves momento de lazer, o conversar com a única amiga, Mathilde (Roxane Duran), e que esta está sempre levantando o astral “cansado” da Paula. Pois é! Com tantas atividades diárias, Paula nem tem tempo para os “dramas” tão comuns na adolescência, principalmente dos sem responsabilidades… Mas eis que nesse novo ano letivo para bagunçar o coração dessa jovem, surge um belo príncipe, Gabriel  (Ilian Bergala)… É! Até o primeiro amor veio nesse pacote surpresa…

a-familia-belier_2014_03Assim temos Paula tentando conciliar tudo que veio num rompante mexer com sua vida de corre-corre rotineira. Onde o cuidado maior estaria em cortar o cordão umbilical, mas muito mais dos pais para com ela… E essa inversão se dá pelo fato de que seus pais – Rodolphe (François Damiens) e Gigi (Karin Viard) – e o irmão caçula (Luca Gelberg) serem surdos. Paula era a ponte que ligava essa família ao mundo sonoro e um onde quase ninguém sabia a língua dos sinais. Fora ela, apenas um outro morador local que conhecia, o Rossigneux (Bruno Gomila), mas tendo esse um certo retardamento mental tal feito o levava a não ter o mesmo jogo de cintura em “traduzir” o humor ácido de Rodolphe… Humor esse que nos leva a certas situações cômicas. Até porque saindo do lugar comum, as falas são um dos pontos altos do filme.

lingua-dos-sinaisO filme “A Família Bélier” é mais um a não fazer uma dramalhão com certas limitações pessoais, tal e qual em “Os Intocáveis“, de 2011. A surdez na família em questão é mostrada com humor. Claro que há momentos que levariam qualquer um ao desespero na vida real. Mas o filme não veio para isso, seria mais para mostrar que assim como essa filha que eles também poderiam encontrar um jeito de ficarem mais independente dela. E assim deixá-la seguir seu próprio caminho. Ele mostra o dia a dia da família de surdos, até dos voos de alguns deles, como o pai querer adentrar na carreira política… Mas mais para mostrar a ligação dela para com eles. Sim! Porque esse filme é dela, da Paula!

a-familia-belier_2014_04Gente! É Cinema Francês! Logo sem nenhuma pressa em contar uma história. Dessa em questão, de uma deliciosa e até comovente momento na vida de uma jovem onde tudo acontece quase ao mesmo tempo. Onde o peso maior será abandonar a família. Nas esperanças e desistências dessa tomada de decisão. De uma adolescente que a vida a levou a amadurecer antes do tempo. O que dificulta ainda mais a ir adiante com a cara e a coragem, sem medo de ser feliz. Tendo como bagagem o talento recém descoberto. Ficar, seguir… Tendo apenas a certeza de que sempre terá um ninho para voltar. Até porque ela nunca deixará de ama-los. E mesmo sendo uma Comédia, não deu para segurar as lágrimas em dois momentos: um deles da Paula “cantando” para o pai…

Então é isso! O filme “A Família Bélier” é Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

A Família Bélier (La Famille Bélier. 2014)
Ficha Técnica: na página no IMDb.

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). 2014

birdman_2014_01alejandro-gonzalez-inárritu_cineasta_birdmanJá adiantando que o filme é excelente e que tentarei não trazer spoiler! Até porque eu estou em suspense em como contar essa história onde parece estarmos numa poltrona mágica levados por toda trama com receio até de que se paramos cogitando se perdera algo poderemos de fato perder parte dela. Já tivera essa sensação em “Pina“, mas ai Wim Wenders usou com maestria a tecnologia do 3D. Já nesse aqui, eu diria que Alejandro González Iñárritu fez uso do talento de seus técnicos + espaço cênico. Conduzidos por esse genial cineasta!

Para quem conhece pelo menos um pouco da obra de Iñárritu sabe que ele parte de um ato único para então interligar todos os demais personagens ao protagonista. Assim, temos como pano de fundo em “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” alguém querendo provar até a si próprio de que ainda é um ótimo ator. Que em se tratando dos Estados Unidos, os mais antigos ainda glamoriza a Broadway: a meca das produções teatrais. Como se a Hollywood não atestasse o talento de um ator. Para esse ator, essa segunda escalada ele já alcançara no passado com então o personagem que dá nome a primeira parte do filme: “Birdman“. Queria então partir para o seu segundo ato: tentar conquistar a Broadway. Para quem acompanhou a Série “Smash” teve uma ideia do quanto é difícil conquistar um dos importantes palcos dali, mais ainda em permanecer em cartaz, o que por si só já denotaria o sucesso da peça teatral. Bem, a história do filme já o coloca lá numa pré estreia. Assim, temos quase toda a trama focada nas apresentações dos ensaios técnicos abertos ao público.

birdman_2014Claro que o peso maior recai sobre esse ator, Riggan Thomson. Grande atuação de Michael Keaton! Para Riggan além do peso de anos sem atuar, há o do personagem que de ícone passara a ser Cult, lembrado em grande maioria por um público adulto. Quem lhe dará o toque de que precisa se atualizar para então atrair um público mais jovem é sua filha Sam. Personagem de Emma Stone, uma camaleoa ao se passar por uma adolescente rebelde. Dizendo que os tempos são outros, que deveria aproveitar da velocidade advinda dos iphones para as redes sociais. Que para esse grande público não bastava o peso de quem o fora no passado, eram atraídos mais por algo que escandalizasse. Bem, de qualquer forma, sem querer Riggan atrai para si esse tipo de flash. Mas que piora seu embate com o novo ator trazido por quem faz sua esposa na tal peça, a Lesley (Naomi Watts). Essa mesmo ciente do temperamento desse outro, o traz. Talvez imbuída da urgência, ou até por querer o sucesso da peça a qualquer custo, afinal era a Broadway e ela estava preste a realizar um sonho de criança… Riggan também concordara… Enfim, era alguém que atrai um público que soma o peso do nome com os escândalos que provoca. Ele é Mike Shiner, personagem do sempre ótimo Edward Norton. Pois é! Sem fugir da tal fama, ou até por conta dela, Mike de alto do seu egocentrismo tentará roubar o espaço em cena com Riggan. Um duelo de egos. Ou seria de alter-egos? Mike seria um James Dean da atualidade. Mas é ele quem acaba dando um toque em Sam para que pese a sua própria rebeldia contra o pai.

birdman_2014_01Já em relação a dicotomia entre celebridade x notoriedade, ator de filmes x ator de teatro… e por ai vai. É alimentada pela crítica teatral Tabitha Dickinson (Lindsay Duncan), odiada e venerada por uma gama de maior idade, mas desconhecida ou não endeusada pela parcela mais jovem. Terá um embate primeiro com Mike, depois com Riggan. Com esse não ficará pedra sobre pedra… E é dela que vem a segunda parte do título do filme: “A Inesperada Virtude da Ignorância“. Agora… Quem até então ignorara o que?

Além de tentar também se apaziguar com a ex-mulher, Sylvia (Amy Ryan), fora a filha… Riggan tem em seu calcanhar seu agente/advogado, Jake (Zach Galifianakis. Bom vê-lo num personagem mais sério.): com o orçamento em vermelho, com os acidentes de percurso na condução da peça teatral… Jake só não dimensiona a gravidade do estado de Riggan. Esquizofrenia ou para-normalidade? Sem como perceber de fato o que se passa com Riggan, Jake no fundo é um bom amigo. Até porque o próprio Riggan não admite para si mesmo que precisa de ajuda de um profissional da área, nem fala para ninguém. Até fala para Sylvia, mas não sendo explícito, essa também não avalia a gravidade… Com isso, meio que sozinho, ele acabará travando um embate com Birdman. Fora tudo mais a lhe pesar também a alma… Será muita coisa para ele digerir… Paro por aqui para não lhes tirar o suspense.

Então é isso! Preparem o fôlego porque irão voar, subir, descer… pela câmera vasculhando toda a trama, que é um deleite também para também os da área psico. Os atores estão em uníssonos! A Trilha Sonora, tirando uma certa bateria, é ótima! Com um Final em aberto? Eu diria que Riggan deixa todos livres para os seus próprios solos. Espero que não venham com uma continuação. Bem, de qualquer forma para “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” os louros vão em primeiro lugar para Alejandro G. Iñárritu! Ele é um gênio! Que por conta de como contou essa história criou uma obra prima! Que só por isso o filme merece até ser revisto!

Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância. 2014. Ficha Técnica: página no IMDb.

Drop Dead Diva. (Série). E o “Patinho Feio” Aprende o Quanto Pode ser Belo!

drod-dead-diva_cartazSem querer fazer aqui um patrulhamento em relação ao peso corporal das pessoas, mas quando mais de um terço da população dos Estados Unidos se encontram “acima do peso” o esperado seria ver muito mais personagens e artistas “gordinhos” protagonizando bons Filmes. Como também por conta não apenas do politicamente correto, mas também do quanto de bullying essas pessoas padecem no mundo real… eu fico meio sem saber como descrever… Enfim, gordinhos, acima do peso… É mais do que justo que mais e mais Filmes e Séries deem espaços a eles atores e personagens com histórias mostrando que mesmo com alguns percalços eles levam uma vida como todo mundo. Por isso e muito mais “Drop Dead Diva” merece ser vista!

Foi por acaso que eu comecei a acompanhar essa Série, numa de zapear pela grade de canais… E foi justamente por ver uma protagonista interpretada por uma atriz “gordinha” e o que seria melhor ainda sendo a personagem uma advogada. (Um tema que gosto muito: os bastidores de um Tribunal.). Além claro do sugestivo título! Algo como: o espírito de uma louca baixou em mim… A Série até traz o tema da reencarnação, mas ai como “uma segunda chance“. O que também seria o motivo da profissão escolhida para essa personagens. A Série já seguia em temporadas adiantadas, que por sorte o canal Lifetime em paralelo passou a reprisar desde a primeira temporada. Pois mesmo tendo um resumo dessa reencarnação antes de cada episódio – em quem se apoderou do corpo de quem -, além de também ser um tema interessante e meio surreal, dentro dessa realidade algumas perguntas me viam acompanhando já pelo meio “Drop Dead Diva“. Assim, fui montando aos pouco o quebra cabeça dessa nova Diva/Advogada.

drop-dead-diva_deb-e-janeA história de “Drop Dead Diva” une dois esteriótipos tão propagandeados pela indústria cinematográfica: a “gordinha” com a “loura burra”. E faz mesmo uso disso até para tentar quebrar outros mais. Um deles seria em relação a indústria da moda que ainda segue com o padrão de que ser magro que é belo. Numa de que se a pessoa fora desses padrões não pode se vestir com elegância, dentro da “moda”. Nessa história a personagem da “loura burra” tentava ser uma modelo famosa, mas já sentido o peso de um outro padrão: o da idade. Pois nessa indústria… Ter mais de vinte anos de as chances diminuíam. Agora, ela volta ao mundo dos vivos no corpo de uma “gordinha” que já está com quarenta anos de idade. São duas coisas a mais para lidar. De cara dá, ou melhor, se dá um banho de loja, dos pés a cabeça, se sentindo mais “atraente” aos olhos de todos. Até provocando certas invejas à princípio em quem se situava dentro dos padrões de beleza convencional. Toda essa “maquiagem” externa é passado com humor, sensibilidade e em certos momentos até com certa ironia para quebrar certas convenções. Um “Bravo!” a mais para essa Série! Até porque certos paradigmas merecem mesmo ser quebrados, pois se para muitos possam até parecer cômicos, no fundo são bem cruéis. O que também acena para que a Indústria da Moda repense o seu establishment.

drod-dead-diva_jane_antes-e-depoisAgora, embora eu possa ter dado um caráter mais pesado, a Drop Dead Diva mostra de um jeito leve a vida de uma advogada que por conta de um acidente do destino “trocou” de mente. Pois quem ganhou uma segunda chance de vida foi a modelo. Essa por sua vez, se não ganhou o corpo de antes, se deslumbrou com a inteligência que até então não tinha. Até porque com ela veio saber que se pode ter sucesso vindo além da aparência física. O que nos leva a pensar no passado de nerd da advogada, de anos dedicado ao estudo até por conta de sentir discriminada socialmente… Mas meio que como compensação…ela amou o carro conversível “herdado”. Até por conta disso, pelo seu jeito extrovertido de ser, faz com que o “patinho feio” além de ir aprendendo que já é um “belo cisne”, que use e abuse dos prazeres que o dinheiro possa comprar. Sem querer trazer um spoiler, mas já trazendo… Essa lição em será também aproveitada pelo então “patinho feio” num dos episódios… O que devo confessar que em igual situação, eu também teria feito a mesma escolha.

Em “Drop Dead Diva” a advogada Jane Bingum é interpretada pela atriz Brooke Elliot. Até então desconhecida para mim. Agora, fico na torcida para que paralelo a esse personagem deem a ela outros personagens em Filmes, mas sem ser muito caricatos como estão dando a atriz Melissa McCarthy. Que nem estou me referindo ao da Série “Mike & Moly” que aborda o romance e a vida em família entre dois personagens “de peso”: merecedor também de aplausos. Enfim, personagens não apenas caricatos: onde o peso maior seja o do próprio corpo. A menos que tal e qual as histórias como nessas duas Séries numa de derrubar preconceitos. Já a modelo que reencarnou no corpo de Jane, a Deb Dobkins (interpretada por Brooke D’Orsay), visualmente só aparece em alguns episódios até porque ela era namorada de um advogado, Grayson Kent (Jackson Hurst). O que estreita mais a relação entre ambas. Mais ainda por conta de acontecimentos na temporada atual (2014)…

O contraponto entre ambas, Jane e Debb, que é a tônica da história: a união de duas personalidades distintas até fisicamente num único corpo. Debb deu a Jane beleza, vaidade, leveza, elegância, sedução… Jane deu a Debb inteligência, talento, compromisso, seriedade… E ambas aprendendo que melhor mesmo é não perder tempo em vida!

drod-dead-diva_elencoDrop Dead Diva também traz tramas paralelas, não apenas os personagens das causas que advogam, mas sobretudo dos que por lá trabalham. Onde o destaque maior vai para a assistente de Jane, a “investigadora” Teri Lee, vivida pela atriz Margaret Cho. Teri tem seus momentos revenge pelos bullying de outrora de carona com a nova personalidade de Jane. Sendo que a ajuda com a “nova roupagem” veio mesmo com a antiga amiga de Debb, que por contingência do destino, se torna também grande amiga da nova Jane. Falo da Stacy Barret, vivida pela atriz April Bowlby. Stacy ainda vive o sonho de ser uma atriz famosa, mas mesmo sem perceber muito sabe que o tempo também está passando por ela. Com isso, um outro sonho toma ponto em sua vida: o de ser mãe. Onde na busca por um pai ideal para seu filho… Termina por abalar a nova/velha amizade com Jane. Tudo por conta do escolhido: Owen French (Lex Medlin). Pois ambos, Stacy e Owen, não contaram com o fato de se apaixonar um pelo o outro. E Owen seria como uma “Jane de calça comprida“: também gordinho, também se viu cobrado pela sociedade… Enfim, Owen sem querer mais desperdiçar o tempo na terra, resolve se entregar a espontaneidade e vitalidade de Stacy. Em meio a tantos romances… ainda há a presença dos anjos da guarda de Jane meio que a policiando para que Dedd encarne de vez Jane. O destaque vai para Fred (Ben Feldman), o mais atrapalhado. Além desses, vale também a menção de mais dois personagens: Kim (Kate Levering) e Parker (Josh Stamberg): ambos também advogados.

Enfim, Drop Dead Diva é de ver e rever! Com personagens atuando em uníssonos: há química entre eles. A Trilha Sonora também como um coadjuvante de peso! Em destaque os sonhos de Jane onde se vê como uma grande Diva da Música. Onde solta a bela voz aliado a nova postura ousada, que faz até pegar o microfone nos karaokês em idas a bares algo também inusitado para ela. Aplausos também para o criador da Série Josh Berman! Berman quis mesmo com essa Série tentar quebrar os paradigmas de beleza de manequim 38 e com menos de 28 anos de idade. Bravo! E na torcida para que Drop Dead Diva emplaque novas Temporadas, pois pelo o que eu li, a atual que já está terminando veio mesmo por pedidos de fãs! Com isso, segue aqui mais uma fã querendo mais continuações! A Série merece ter vida longa!
Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).