Deixe Ela Entrar (2008). A gênese de uma mente psicopata.

Por: Renato Santos.
Aviso: O texto a seguir contém Spoilers importantes.

Estou surpreso com a quantidade de pessoas (principalmente adolescentes) que estão achando que este é um filme romantico, um filme que versa sobre uma estória de amor adolescente!

Acordem, este brilhante filme não é um romance que tem vampiros no roteiro! É uma estória fantástica que aborda de forma simbólica, e não por isto menos precisa e verdadeira, a gênese de uma mente psicopata.

O velho assassino representa o futuro do Oskar. Reparem como os dois manipulam a mesma faquinha, com os mesmos gestos. O velho é Oskar e Oskar é o velho. A “menina vampira” representa o mal absoluto. O mal que seduz e conquista o frágil e massacrado Oskar. O mal que o redime, objeto de culto e paixão.

A “menina” que aliás não é uma menina. Ela diz isto repetidas vezes, mas ele não que ouvir. Na cena em que “ela” troca de roupa isto fica claro, pois ela não possui vagina, e sim uma cicatriz no lugar do antigo pênis – sim, a “vampira” é um menino castrado, feminilizado (isto está colocado de forma explícita no livro, mas no filme a cena é muito rápida e fica difícil de entender). Ou seja, “ela” é o “alter-ego” dele.

A cena em que ele “a” aceita é fantástica. A cena em que comete o primeiro assassinato (ao entregar o vizinho no banheiro). A cena final em que ele conversa com “ela” no trem, em morse, é uma obra-prima. A conjunção de absolutos que caracteriza a mente dos psicopatas: amor x maldade.

Se você quer entender como funciona a mente de um psicopata veja este filme.

Um último comentário: o título em português mais uma vez decepciona: “Deixa ela entrar“. O título original, que em português seria algo como “Deixa o que está certo entrar”, é uma provocação, mas traz o significado do filme (na ótica do psicopata).

“O Espião que Sabia Demais” (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011)

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“O Espião que Sabia Demais” é literalmente uma tradução do livro de John le Carre, o qual foi anteriormente adaptado em uma bem respeitada minissérie da BBC de seis horas de duração em 1979, com Alec Guinness. O talentoso diretor Tomas Alfredson cortou as seis horas da minissérie e fez um filme de apenas 2 horas, mas ainda assim, achei o filme extremamente longo, e confuso.

Para quem é? 

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Para quem gosta de filme de espionagem, “Tinker Tailor Soldier Spy” é um bom prato.

Atores:

O elenco é maravilhoso com destaque para Gary Oldman, o qual me fez lembrar de Ryan Gosling, em “Drive” (2011), com uma atuação sutil e minimalista. O desempenho de Oldman está em seus olhos, quando ele faz  perguntas, reage às respostas de uma forma bastante interessante. Oldman simplesmente carrega o filme em seus ombros, oferecendo um desempenho lento, e preciso, e talvez por isso, assim como o Gosling não irão ao Oscar – até uma indicação parece algo distante para eles, mas espero que não seja impossivel!. . ImagemOutro ator que brilha nesse filme é Tom Hardy ( excelente ator!!!!) , o qual também está igualmente perfeito, no interessante filme “Warrior” (2011), fazendo um homem lutando por uma resolução para sua dor e assombrado pelas decisões que ele fez na vida. Celo Silva fez uma boa leitura sobre “Warrior” aqui: http://umanoem365filmes.blogspot.com/2011/12/359-guerreiro-warriorgavin-oconnor2011.html

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Seria muito bom se os roteiristas e o director de “O Espião que Sabia Demais” tivessem injetado mais vida, em termos de entretenimento ao filme. Bem, o requinte dos cenarios, a fotografia de Hoyte Van Hoytema, que respira nos anos 70, com o céu cinza, e esfumaçado; o belo trabalho de edição, e uma trilha sonora muito boa de Alberto Iglesias, apenas enriquece o filme, mas faltou alma/ vida. Um belissimo filme, que custou apenas 21 milhões de dolares – o Polanski gastou 25 milhões no seu “Carnage” o qual é plasticamente inferior ao filme de Alfredson!. Longe de ser um filme ruim, mas “O Espião que Sabia Demais” tem personagens demais, situações demais, e acabei me perdendo em torno da beleza plastica do filme.

Por essa beleza plastica e os atores, dou nota 7,5

Deixe Ela Entrar (Låt Den Rätte Komma In. 2008)

letrightonein_finalAntes  de ser um filme sobre vampirismos e suas transformações, é um filme sobre as diferenças e suas aceitações.

A diferença é naturalmente uma ameaça para aqueles que não tem auto-confiança em seus espaços; é preciso, portanto, que se reconheça como uno e como diferente de todos os demais para abrir espaço pro novo.

Oskar é um exemplo que acontece em qualquer escola do mundo: um menino que é maltratado e apanha dos colegas no colégio  por não ser igual à maioria, por ser nerd [????], por ser diferente, melhor dizendo. Faz amizade com sua vizinha Eli, a menina-estranha que só aparece à noite.

Acima de mostrar a “chateação” prática em ser vampiro, ou seja, não poder se expor à luz, só se alimentar de sangue etc – isso que outros cinemas mostram à exaustão – , esse filme  mostra bem mais o que é uma vida sem socializações: não poder ter amigos, não poder ir à escola, não poder sair à luz do dia que já é tão fraca na Suécia e maior parte da Europa, não poder envelhecer e passar anos a fio com a mesma idade e tamanho… Já imaginaram o sofrimento disso?

Têm sofrimentos que são mais leves de serem carregados quando se tem um amigo…

Por: Deusa Circe.

Deixe Ela Entrar – Låt den Rätte Komma In

Direção: Tomas Alfredson

Gênero: Drama, Terror

Suécia – 2008

Deixe Ela Entrar (Låt Den Rätte Komma In. 2008)

let-the-right-one-in_posterUma das invenções mais espetaculares do imaginário popular é toda a mitologia e misticismo que rodeia a cultura do vampirismo, afinal o mesmo é fonte de inspiração para inúmeros livros, canções, filmes, séries de televisão e jogos eletrônicos. Sobra até mesmo espaço para algumas lendas e relatos de pessoas que juram de pé junto a existência das abomináveis criaturas. Aqui no Brasil também temos vasto material de ficção acerca do tempo – basta ver que em todas as livrarias tem, ao menos, um livro de destaque do gaúcho André Vianco que, assim como Annie Rice, se especializou em escrever romances vampirescos.

vampire_by-clyde-caldwellO que faz um vampiro se tornar tão interessante é que ele é uma criatura das trevas, porém extremamente humano – tanto em feições, como na grande parte dos seus hábitos. Ele é alérgico a luz, imortal e tem sede de sangue. Geralmente vive uma vida reclusa e o mais discreta possível. De resto, é em tudo parecido conosco. Porém ele leva uma vantagem: como é imortal, já passou por mais coisas na vida do que o mais velho de todos os seres humanos, também é mais culto e, por isto, mais romântico e sedutor.

Porém esta imortalidade, que a principio parece ser um bom negócio, se converge em maldição: ele não pode se apegar a ninguém, pois logo esta pessoa irá morrer. Como o lado emotivo humano fala mais alto, nem sempre é possível não se apegar, afinal ele é uma figura solitária e sempre se apaixona por pessoas que compartilham sentimentos com ele. Por isto mesmo ele é obrigado a conviver eternamente com lembranças dolorosas. Além disto, só a noite pode mostrar as caras, ou seja, sua vida é mais melancólica do que as demais: a luz da esperança jamais irá brilhar para ele e enquanto todos estão nas ruas ele está a dormir, quando todos vão dormir e ele está acordado.

Enfim, com um personagem tão complexo disponível para domínio público muitas histórias extremamente competentes e bonitas surgem em nossa cultura. Recentemente tive a feliz oportunidade de prestigiar o filme sueco Låt den rätte komma in – em inglês Let The Right One In – baseado num livro de John Ajvide Lindqvist, que trata com maestria o belo romance melancólico deste fascinante tema. Em meio ao clima sombrio de um intenso inverno e de cenas fortes de assassinatos, temos uma história de amor muito bonita contada com elegância. Estamos diante de um clássico gótico e que certamente figura entre os melhores filmes vampirescos de todos os tempos!

let-the-right-one-in_kare-hedebrantOskar é um menino de 12 anos que sofre com os atos de bullying de seus colegas da escola. Não há um dia em que ele não seja agredido, sendo que o ódio lhe consome internamente: ele sonha com o momento em que ele se vingará de seus agressores. Simultaneamente ele esconde os ferimentos de sua mãe e cria desculpas para que ela nunca desconfie das coisas que acontecem. Paralelamente, uma menina da mesma idade – Eli – se muda para a casa do lado, ao mesmo tempo em que um homem passa a assassinar moradores do vilarejo e enche um galão com o sangue das vítimas.

let-the-right-one-in_lina-leandersonOskar irá conhecer a menina numa noite gélida e irá estranhar o fato que mesmo estando tão frio ela anda de pés descalços pelo gelo, é tão branca como a neve e têm certos hábitos que faz com que pense que ela seja alguém problemática. Porém nesta estranheza surge uma certa paixão entre os dois: ele pela curiosidade e ela por encontrar uma amizade numa vida que é totalmente solitária. Paralelamente a sede por sangue é cada vez maior. Conseguirá o amor prevalecer sobre um vício quase incontrolável? Conseguirá a pequena vampira não ceder ao desejo de abocanhar o pescoço do garoto?

Em meio à mortes, investigações, atos de bullying e selvageria, temos este romance onde a dúvida paira sobre nós o tempo inteiro, sendo que a garota não consegue sucumbir aos seus desejos e acaba, inevitavelmente, envolvida sentimentalmente com Oskar. Porém, ela sabe que uma hora tudo isto acaba: Eli viverá eternamente com 12 anos de idade, enquanto o menino irá envelhecer – O assassino do galão de sangue sabe bem do que estou falando – porém como frear a paixão? Como controlar os sentimentos? Questões humanas para um paradoxo vampiresco!

Por: Evandro Venâncio.   Blog:  EvAnDrO vEnAnCiO.

Deixe Ela Entrar (Låt Den Rätte Komma In / Let The Right One In). 2008. Suécia. Direção: Tomas Alfredson. Elenco: Kåre Hedebrant (Oskar), Lina Leandersson (Eli), Per Ragnar (Håkan), Henrik Dahl (Erik), Karin Bergquist (Yvonne), Peter Carlberg (Lacke). Gênero: Drama, Romance, Terror, Thriller. Duração: 114 minutos.