Eu fiquei encantada em conhecer a trajetória de vida dessa mulher: Coco Chanel. E que pelo título, o filme nos mostra até o seu estrelato: Coco antes de Chanel. Fama. Celebridade… Algo que tantos buscam. Mas poucos são os que conseguem ficar no topo, e por méritos próprios. Porque a esses, lhes sobram talento. E um pouco de perseverança.
O filme inicia com duas meninas deixadas à porta de um Colégio de Freiras, pelo próprio pai. As janelas desse internato mais que uma prisão, pareciam pequenos caixões… Elas são as irmãs Chanel: Gabrielle, a Coco, e sua irmã Adrienne. Sentem-se desoladas pelo abandono total do pai. A mãe falecera.
Se por um lado pesou essa ausência paterna… por outro, algo que faz parte dos ensinamentos de um colégio desses – prendas do lar -, sem querer despertaria seu talento nato. Com as aulas de Corte e Costura, lhe daria uma base. E o tempo, iria ajudar a lapidar essa jóia rara.
Ambas, já adultas, foram trabalhar num Cabaré. Consertavam as roupas das coristas. Por querer serem atrizes, conseguiram apresentar um número musical. Cantando uma canção infantil, de uma menina procurando pelo seu cãozinho, de nome Coco. Gabrielle (Audrey Tautou) apesar de uma voz melodiosa, não tinha a exuberância da irmã. Algo que era quase imprescindível naquele ambiente: de despertar a tesão dos homens. E pelo seu temperamento de não se calar, não era nada querida pelo dono do Cabaré.
Se de um lado, fantasiava o seu passado, por outro, sabia que ali, não lhe daria futuro. Mas só tomou uma decisão em sair dali, quando viu que sua carreira de atriz seria fantasiosa também.
Mas uma vez o destino, por linhas tortas, a impulsionava para chegar onde chegou. Muito embora, no momento, lhe parecesse meio cruel. Sua irmã decidira largar tudo, e ir morar com um nobre. Por não ter berço, Adrienne (Marie Gillain) não seria reconhecida pela família dele. Mas não se importavam, ela e ele, de viverem à margem da nobreza.
Coco ainda tenta uma carreira solo. Mas aos olhos dos homens, não era sexy. Então resolve ir procurar um nobre, Étienne (Benoît Poelvoorde), o único que até se encantara por ela. Ele aceita que fique em sua mansão hotel. Desde que não aparecesse quando estivesse com convidados.
Até que num dia, ao vê-los saindo galopando pelos prados, resolve ir atrás. Mas antes, pega uma peças de roupas de Étienne, e dar um ar feminino ao traje. O que a faz cair nas graças da convidada principal. Uma famosa atriz de teatro, Emilienne (Emmanuelle Devos). O que seria um ultraje, deu início ao uso de calças compridas para as mulheres. Muito mais prático para certas ocasiões.
Quando ainda em dupla com a irmã, Coco a libera dos espartilhos. Para ela, era uma tortura desnecessária. O que viria a ser a libertação de vez, um pouca mais tarde, já com o seu primeiro desfile. Algo que também não gostava, era todas as plumas, pedrarias, adornos mil que as mulheres usavam. Para ela, a elegância estava em retirar aquilo tudo. Menos coisas, e não mais. E de fato é isso!
Mas dois fatos contribuíram para a sua virada. Um deles, por não poder acompanhar Étienne até a Tribuna de Honra no Jóquei Clube. Coco prometeu a si próprio que um dia seria convidada para estar junto com a nata da sociedade parisiense. O outro, fora uma estocada no seu coração. Serie preterida por uma rica e nobre herdeira. Seu primeiro e grande amor, Arthur ‘Boy’ (Alessandro Nivola), preferiu um casamento de conveniência.
Mesmo assim, ele resolve investir no seu talento. Já tivera provas dele. E até do seu olhar clínico, em transformar uma peça do vestuário masculino num feminino, e cheio de charme.
Não sei se foi ela quem de fato lançou o pretinho básico tão salvador da pátria para nós. Agora, a cena onde escolhe o tecido, e então o usa, num salão… É deslumbrante! Amei!
Se fora pelo patrocínio de Arthur que a impulsionou, foi Emilienne quem lhe abriu os olhos para o seu talento. Coco tinha lhe feito um chapéu que caiu no gosto das mulheres. Mas ela foi além de ser uma simples chapeleira. Criava todo o traje, dos pés à cabeça, literalmente. E esse Ateliê a lançou de vez num novo mercado que surgia: o Mundo da Moda da Alta Costura.
Como eu falei no início, amei essa biografia. O filme é muito bom. Mas é para um público mais seletivo.
Agora, a Audrey Tautou, a mim, não arrebatou essa personagem. Em marcar a sua presença. Pois ao término do filme, fiquei pensando se uma outra atriz me levaria às lágrimas naquele final. Em dizer BRAVO!, completamente emocionada. Eu digo sim – BRAVO! -, mas a pessoa de Coco Chanel. Uma personalidade deslumbrante. Que ousou se libertar das convenções da época, e em alto estilo. Quanto à Tautou, o meu – BRAVO! -, ainda o é para a sua Amélie Poulain.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Coco antes de Chanel (Coco avant Chanel). 2009. França. Direção e Roteiro: Anne Fontaine. +Cast. Gênero: Biografia, Drama, Romance. Duração: 105 minutos. Baseado no livro de Edmonde Charles-Roux.