Por Leandro Salgentelli.
“As Férias da Minha Vida” num Álbum das Possibilidades…
“Eu quero ser cremada. Passei a vida inteira num caixote, não quero ser enterrada em um”. Assisti ao filme “As férias da minha vida” várias vezes e nunca havia prestado a atenção na reflexão e a mensagem que o filme entrega de bandeja.
Georgia Byrd trabalhava em uma loja como vendedora de panelas, sonhava em realizar vários sonhos. Tinha com ela um álbum das possibilidades, lá ela guardava todas as suas vontades na esperança de que um dia pudesse realizar. Queen Latifah, a personagem protagonista do filme, descobre que têm apenas três meses de vida e vai à busca de realizar seus sonhos, os sonhos que estava no álbum das possibilidades.
Se todos nós fizéssemos isso teríamos uma vida mais saudável. Passamos a maior parte da nossa vida preocupando-se com os problemas, tentando levar o mundo nas costas, tentando agradar a todos, buscando metas irreais acreditando que isso nos levará para a felicidade. Com o passar do tempo vamos percebendo que felicidade não é ter o carro do ano, o melhor emprego. Isso dá uma certa alegria, mas nada se compara a paz de espirito que poucos buscam.
Passamos a maior parte do tempo em busca do êxtase, do orgasmo e esquecendo-se de celebrar a própria existência. Passamos a maior parte da vida, preocupados com o que vão pensar de nós. Alguns asfixiados pelo “eu”. Eu posso, eu quero, eu vou. Enquanto outros sempre se asfixiando pela pluralidade. Se soubéssemos equilibrar esses dois… Se refletíssemos. Se déssemos conta de que felicidade é um detalhe, é o respirar, é o viver. Se parássemos de pensar no corpo ideal e aceitássemos como somos. Se abríssemos um sorriso diante da frustração.
(O texto a seguir contém spoiler.)
Podemos não ter tudo o que queremos, mas temos sorte. Sorte para por em pratica o que deixamos de fazer ontem e que podemos fazer hoje. Sorte para fazer algumas coisas que deixamos de fazer por medo do que vão pensar, do que vão achar. De frente para o espelho a personagem de Queen Latifah diz pra si mesma: “Você tem tido muita sorte, você não conseguiu tudo que queria, mas… Da próxima vez vamos fazer diferente, vamos rir mais, vamos amar mais, vamos ver o mundo, não vamos ter tanto medo”.
O medo da vida nos impede de ver coisas lindas. “Passei minha vida inteira engolindo sapo, acho que eu era medrosa. A gente abaixa a cabeça, e aguenta, e aguenta, até que um dia a gente se pergunta como é que permite isso. Muito daquilo que queremos na vida não tem o menor valor”. Tão humano. Tão verdadeiro. Ainda bem que a personagem descobriu a tempo que precisava viver. O destino algumas vezes entra na nossa vida para mostrar algumas coisas, nos dar uns tapas na cara e nos fazer acordar. É uma pena que algumas pessoas buscam viver intensamente quando está no deleito da morte. Já para Georgia foi tudo um equivoco. Ela não morreria coisíssima nenhuma, a vida só deu uma chance de mostrar pra ela o que ela estava perdendo.
Com um pouco de atitude e sorte um dia acordamos e damos espaço para o álbum das possibilidades, e claro, para virar realidades.
As Férias da Minha Vida (Last Holiday. 2006). EUA. Diretor: Wayne Wang. Elenco: Queen Latifah, Gérard Depardieu, LL Cool J, Timothy Hutton, Giancarlo Esposito. Gênero: Aventura, Comédia, Drama. Inspirado no Roteiro de J.B. Priestley do filme “Last Holiday” (1950) com Alec Guinness.