Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works. 2009)

Tudo-Pode-dar-Certo_2009

Por: Roberto Vonnegut.

Woody Allen no set de filmagem

Woody Allen no set de filmagem

Como é bom rever o Woody Allen de antigamente: disfarçado por trás de um personagem verborrágico, metido a besta, rabugento e absurdamente engraçado – em Nova Iorque, evidentemente – Allen dispara sua metralhadora contra conservadores, religiosos, intelectuais, a lista completa.

O filme Whatever works (aqui [*] lançado como Tudo pode dar certo) é um novo com um roteiro envelhecido em tonéis de carvalho: Zero Mostel, que deveria interpretar Boris Yellnikoff, morreu em 1977, então Allen guardou o roteiro desde aquela época. Deve ter atualizado aqui e ali, mas manteve a centelha criativa dos seus roteiros da época (Annie Hall, Sleeper, Tudo que você queria saber…), com frases espertas e surpreendentes.

larry_davidBoa parte do mérito do filme fica com Larry David: o criador de Seinfeld se mostra perfeito como o velho gênio ranzinza que despreza a falta de visão do resto da humanidade – afinal, ele é um dos poucos capazes de enxergar tudo – nas palavras dele, see the whole picture.

Tudo-Pode-dar-Certo_2009_01Três coisas me animaram a ver o filme: duas já citei – a direção de Allen e a presença de Larry David. A terceira é que os créditos incluem Patricia Clarkson: uma excelente atriz que sabe escolher os filmes em que atua [**]. E neste Whatever works Patricia mostra o que sabe em um papel nada convencional, uma personagem que surge do nada no meio do filme e rouba a cena.

O filme lembra Annie Hall (Noivo neurótico, noiva nervosa) pelo eixo da trama: Boris, o alter-ego de Allen, conhece uma mulher menos dotada: a sulista Melody Celestine, numa atuação surpreendente de Evan Rachel Woods [***], e se mete a “educá-la”. Mas também traz um gostinho de A Rosa Púrpura do Cairo ao brincar com a tela do cinema – mais não digo pra não estragar a surpresa.

Resta torcer para que o Woody Allen remexa mais nas suas gavetas.
[*] o nome em português não é péssimo, mas é bem ruim. A ideia do filme não é que tudo pode dar certo – você consegue imaginar Woody Allen pensando assim? Whatever works pode ser traduzido meio ao pé da letra como ‘qualquer coisa que funcione’ – note o tempo verbal. Melhor ainda seria traduzir por ‘qualquer coisa que dê certo’, ou que ‘valha a pena’.

[**] há décadas Patricia Clarkson foi a Sra. Ness em Os intocáveis. Mais recentemente, coleciona filmes memoráveis: o charmoso O agente da estação, Dogville, o interessantíssimo Boa noite e boa sorte, o originalíssimo Lars and the real girl e o último de Allen, Vicky Cristina Barcelona. Sem contar Ilha do Medo de Scorcese em que ela faz um papel chave. A contragosto cito ainda Elegy (Fatal), um filme mediano em que ela está ótima.

[***] Evan Rachel Woods ganhou de Allen as melhores falas do filme, e usa com timing certo e sotaque convincente, especialmente ao falar seu sobrenome. O melhor momento para mim foi quando ela soltou um ‘because why?’, praticamente equivalente por estas bandas a um ‘por causa de que?’.

Tudo Pelo Poder (The Ides of March. 2011)

Tudo Pelo Poder é, definitivamente, sobre política, mas mais especificamente naquilo que acreditamos, ou melhor ainda, a quem optamos a votar. George Clooney – que tem cara de PAU, isso é, de político, cai bem no papel do candidato presidencial, o governador Mike Morris. Ele diz as coisas certas e, melhor ainda, as pessoas estão acreditando nele.

Ryan Gosling conduz o filme através dos seus olhos — é um ator expressivo onde se pode sentir através do seu olhar, quando o seu personagem esta perturbado, ou cheio de determinação ou vazio por causa de tanta decepção. Tudo que seu personagem está sentindo está ali em seu rosto!. Clooney, Philip Seymour Hoffman e Paul Giamatti estão muito bem, mas o show pertence a Gosling. Nao que aqui, ele merecesse ser indicado ao Oscar, pois achei que RYAN brilha muito mais em DRIVE. Também gostei muito de Evan Rachel Wood– ela arrasa no glamour!!!!.

Não li a peça de Beau Willimon “Farragut North”, mas o filme não detalha muito sobre o processo político nos Estados Unidos, embora mesmo assim seja um drama político- sem levar para a sátira!. O filme não foca em um drama pessoal, mas explora muito bem as intrigas, mentiras e traições daqueles que estão atrás de uma campanha política!. O elenco esta PERFEITO, e Clooney ACERTOU a mão em filmar e editar o filme de uma forma bem tradicional de um bom drama, e isso em 101 minutos!!!!.

Talvez o seu final aberto possa incomodar alguns, mas não esperava um DRAMA pesado para os atores precisarem atuar de uma forma tão visceralmente assim!. Não creio que essa era a proposta da fonte original que Clooney tinha em mãos!. TUDO pelo PODER é um conto realista sobre o jogo da política e de como a política pode mudar a vida, e o espírito dos envolvidos!.

E nao tenho vontade de rever o filme, o qual ja se encontra em DVD!.
Nota 7.5.

Tudo Pelo Poder (2011). Até tu, Brutus!?

Ter esse quarteto – George Clooney, Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman e Ryan Gosling – nos créditos, por si só já seria um grande convite para assistir esse filme. Mas por trazer os bastidores de uma campanha política já era um aditivo a mais. Acontece que “Tudo Pelo Poder” centra esses bastidores em um marqueteiro. Alguém jovem e que sente o gosto do poder. Pronto! Era conferir e…

Numa campanha política temos de lado um candidato como um produto a ser vendido, e de outro, os eleitores que irão comprar ou não resultado dessa publicidade. Tudo é bem calculado, ainda mais se há um interessante cargo em jogo: candidatura a Presidência da República. Consultores Políticos podem até dar um background histórico como suporte. Mas atualmente se faz necessário a presença de um marqueteiro.

Em “Tudo Pelo Poder” temos um breve momento na vida de um excelente marqueteiro. É o personagem de Ryan Gosling, o Stephen Meyers. Um cara que tem uma excelente visão espacial, conseguindo com isso até mudar os holofotes da mídia enquanto apara algumas arestas. Mas tão focado nessa sua recente carreira, e talvez até pelo arrojo da juventude, acaba esquecendo algo simples, e essencial: em solidificar uma amizade. Não a que faz parte do jogo de interesse. Mas sim uma verdadeira amizade.

Amizade essa que teria sem sombra de dúvida com Molly Stearns. Personagem Evan Rachel Wood, que teve uma ótima atuação. Mas com Molly, Stephen só quis sexo, e depois, em usá-la para um outro fim. O poder já o seduzira, mas esse fora um erro menor diante do seu perfil. Ciente de que era muito bom, o ego inflamou, a ponto de não ver que caíra numa grande teia. Ai, pensou que teria uma ajuda em alguém que considerava uma amiga, Ida Horowicz (Marisa Tomei). Mas Ida sabia que essa relação era pura fachada, e de um jogo de interesse por ambos os lados. Principalmente por conta do cargo dela: ser Correspondente Política do The Times.

Na verdade, Ida considerava muito mais Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), o Consultor Político do Governador Mike Morris (George Clooney). Stephen estava subordinado a Paul. Esse que era o braço direito de Morris, e há décadas. O trabalho de Stephen tinha um caráter temporário. Consistia em fazer com que Morris fosse eleito pelo Partido Democrata para então concorrer a Presidência da República.

O adversário de Morris, o Senador Pullman (Michael Mantell), tem como homem forte, Tom Duffy (Paul Giamatti). Esse, diferente de Paul, que tenta sempre colocar a ética à frente dos seus passos, e que não tem um Stephen Meyers a seu dispor, sabe que terá que jogar pesado para o seu patrão/candidato sair-se vencedor no importante estado de Ohio. Tanto Paul como Duffy terão que “vender” bem seus candidatos aquele que detém um número considerável de votantes: o Senador Thompson (Jeffrey Wright).

O Marketing Político está a serviço de quem, ou de que? E é isso que o filme mostra. Se toda a campanha publicitária traz algo novo, como a exposição diante da tv e da internet, por outro lado todo o jogo político já vem de muito longe. É a referência histórica que está no título original “Os Idos de Março“: a data se refere a conspiração sofrida por Júlio Cesar, onde foi assassinado pelo seu Consultor Político, Brutus. Então, nessa campanha política, um único erro pode ser fatal.

Não é o primeiro trabalho de George Clooney como Diretor, mas quero focar apenas nesse filme. A escolha dos atores fora perfeita! A história é ótima! Mas ao final do filme me perguntei se com um outro Diretor, ficaria um filme nota 10. Faltou trabalhar, explorar, trazer à tona toda a carga emotiva em cenas importantes. Faltou a Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman e Ryan Gosling algo mais visceral. De arrepiar. De querer rever o filme. Eles foram ótimos, mas porque são muito bons. Faltou muito pouco para emocionarem. O que me faz pensar que a falha ficou na Direção.

Agora, em ano de eleições a cargos públicos, podem acrescentar com certeza esse filme a lista de filmes a serem visto. É um ótimo filme! Mas não me deixou vontade de rever.
Nota 09.

Por:Valéria Miguez (LELLA).

Tudo Pelo Poder (The Ides of March. 2011). EUA. Direção: George Clooney. +Elenco. Gênero: Drama. Duração: 101 minutos. Baseado na peça “Farragut North” escrita por Beau Willimon.

Across the Universe (2007)

O filme Across the Universe dirigido pela norte-americana Julie Taymor é uma verdadeira obra-prima do cinema atual e recebeu muitos justos elogios dos críticos e uma indicação ao Globo de Ouro na época do seu lançamento. É um musical diferente de todos os que já assisti contando uma singela história de amor entre os jovens Jude e Lucy interpretados por Jim Sturgess e Evan Rachel Wood, aproveitando a maioria das letras de músicas dos Beatles, desde a formação do casal de protagonistas com canções-símbolo do grupo inglês de Liverpool como a clássica “Hey Jude” e “Lucy in the Sky with Diamonds” e outras preciosidades retiradas de álbuns diversos.
Sem dúvida, gostoso de se ouvir e de se assistir cantando, exatamente por causa da seleção musical dos simpáticos rapazes reis do iê-iê-iê… talvez seja essa a razão principal de ter sido super badalado na sua estréia e que só agora tive a oportunidade de testemunhar.
A começar pelo título “Across the Universe” retirado de uma canção dos Beatles e que, reza a lenda, esta música foi enviada por um satélite ao espaço como forma de tentar fazer algum contato com seres alienígenas pelas galáxias, e além disso, os nomes de todos os  personagens foram retirados de suas músicas, sem exceção.
A história se passa nos anos 60 onde muita coisa estava acontecendo simultaneamente: retrata as lutas, guerras e paixões; a explosão do uso desenfreado das drogas, a liberdade sexual, rock n´roll, paz & amor, faça amor, não faça guerra, a Era de Aquários, hippies e muito mais, ambientando toda uma época através das obras musicais dos Beatles. Sem dúvida que o roteiro foi um mero pretexto para se contar uma história de amor com as belas canções do grupo inglês muito querido e assim registrar a patente para sempre o de “Beatles Forever”.
A história do casal é toda contada em formato de videoclipes, sendo o protagonista Jude um artista que passa o tempo todo desenhando e aspira ao cargo de diretor de arte em propaganda. Outros personagens como, por exemplo, a jovem Prudence, entra e sai da história apenas para provocar um número musical, aqui ao som de “Dear Prudence”, que ficou maravilhoso! Inspirações sublimes.
O elenco é formado pela maioria de jovens super talentosos que interpretam e cantam como o personagem de Joe Anderson. O filme também conta com algumas participações especiais de Bono do U2 e Joe Cocker, Salma Hayek.
A história começa em Liverpool, onde o inglês Jude (Jim Sturgess) decide partir para os EUA à procura de seu pai. Lá ele conhece Max (Joe Anderson), um estudante rebelde, tornam-se amigos e ele se apaixona por Lucy, irmã de Max (Evan Rachel Wood). Esta por sua vez, acaba se envolvendo com emergentes movimentos de contracultura e toma a frente aos protestos contra a Guerra do Vietnã. Em meio às turbulências da época, Jude e Lucy vão passar por situações que colocam sua paixão em ‘xeque’.
O filme é contagiante, formidável, exatamente pela discografia, pelos clássicos e pelos hits conhecidos mundialmente dos Beatles, como Come Together, Let it Be, Strawberry Fields Forever, Lucy in the Sky with Diamond, Hey Jude, I wanna hold your hand. Across the Universe é um  belíssimo musical que combina com qualquer estação do ano, e bom para se ver a qualquer momento.
Sem dúvida, o filme é contagiante. Fabuloso! Veja com os amigos, com a namorada, sozinho, mas não deixe de prestigiar essa obra musical.
Concordo: Beatles 4 Ever!
Karenina Rostov

*
Across the Universe
Reino Unido / Estados Unidos
2007 / cor / 133 min
Produção
Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor
Dick Clement
Ian La Frenais
Elenco: original Evan Rachel Wood, Jim Sturgess,Joe Anderson
Dana Fuchs, Martin Luther McCoy,T.V. Carpio
Género: musical
Idioma original: inglês

Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works. 2009)

Woody Allen envelheceu ou melhor, continua velho. Existem coisas que só o tempo pode nos dar. A idade nos permite certas regalias que na juventude são impensáveis. Woody Allen é assim, parece que nasceu velho e por isso critica com o desprendimento de quem não pertence a raça humana. É certo que aquela criatura rabugenta que descrê de Deus e de si mesmo é o próprio Woody. O filme  “Tudo pode Dar Certo” foi escrito há 30 anos, logo Woody há 3 décadas já era “deus”, dono de uma rabugice bem humorada e não acreditava mais na humanidade. Ele ostenta um invejável currículo com 44 filmes, invejáveis elogios e também invejáveis críticas, afinal quem com a crítica fere, com ela será criticado. O que filme tem um título otimista demais diante do original Whatever Works” é uma aula de deboches e sarcasmos, de boas atuações e ótimas piadas.

Boris Yellnikoff (Larry David). Interpelando a platéia cinéfilaDirigindo-se despudoradamente à platéia, no melhor estilo Machadiano, a personagem principal do filme, Boris  Yellnikoff (Larri David), recusa-se a enganar seu cérebro com remédios para depressão e pânico, declara nos minutos iniciais do filme que “este não é um filme alegrinho e se é isso que estamos procurando, devemos procurar uma massagem para os nossos pés e a cada tentativa de suicídio”, encontramos motivos para rir. Ele começa metralhando a humanidade que fez com que “suas melhores idéias como o socialismo e o cristinaismo fracassassem por “pressuporem a idoneidade moral, a decência dos homens”. Certamente que um judeu pode dizer ao mundo que “pais interessados na educação dos filhos, deveriam levá-los para passar as férias num campo de concentração”,  em contrapartida qualquer cidadão pode sugerir que a sua sogra faça um passeio no Museu do Holocausto…

Tudo pode dar Certo”, configura  90 minutos de diversão, onde um velho ranzinza de QI elevadíssimo, quase indicado ao Prêmio Nobel, com ataques de pânico, crises de hipocondria e uma crônica descrença na humanidade e um medo da morte maior que tudo, se dirige a nós, esfregando-nos na cara onde exatamente estivemos errando nos últimos anos ou desde sempre… “Visão global”, inteligência ou esquizofrenia? Jamais saberemos pois nos filmes de Woody Allen, somos todos loucos e também pagantes por uma arte que nos leva a rir do que não pode dar certo.

Boris, quando não está reclamando da vida e conclamando os amigos a entender que tudo está errado e que a vida não presta ou atormentando e torturando os seus alunos de xadrez, dá-se a chance de amar, uma criaturinha estúpida cuja beleza ele vai percebendo no dia-a-dia. No início do filme ele termina um casamento desgastado pelo excesso de possibilidades de dar certo, plausível então, tentar o relacionamento com aquela que teoricamente não oferece a menor possibilidade.

Relaxe, apure os ouvido, se o seu inglês não está lá essas coisas, privilegie as legendas. Assistido sem olhos críticos, o filme é uma deliciosa fábula do quanto podemos ser felizes, quando desenvolvemos a capacidade de nos desapegar dos conceitos que nos fazem infelizes por vivermos numa sociedade que o tempo todo nos pede satisfações sobre nossos atos mais íntimos. No zoológico humano de Wood Allen, tudo realmente dá certo: Tem sempre um jovem lindo e paciente (Henry Cavill) para a loira burra (Evan Rachel Wood) que simples e esforçada leva o gênio a descobrir com simplicidade a própria simplicidade sem modéstia alguma.

Tem a mulher interiorana (Patrícia Clarkson) de meia-idade repressora e reprimida, exercitando os anos 70, que ao descobrir-se artista passa a viver de arte e conviver num casamento triplo. Tem a constatação que muitos são religiosos e membros do clube do rifle, no filme representados por (Ed Begley) por pura falta de coragem de buscar coisas melhores para fazer.

Sim, existe possibilidade de felicidade no mundo, numa grande cidade, o que não existe são cérebros inteligentes com funcionamento perfeito, pois isso é prerrogativa exclusiva do bom e velho Boris que ainda assim, ao final do filme questiona se ainda haveriam espectadores na platéia a assisti-lo. Sim, Boris ficamos aqui, afinal nunca a infidelidade, e morte, a dor e transtornos psíquicos foram tão divertidos.

Se eu tivesse que dar nota para este filme, daria 8 pelo conjunto da obra, mas pelos risos que me provocou, certamente  seria 10… É bom poder rir daquilo que jamais deveríamos ser.

A grande pergunta que me faço: teria Woody Allen, algum dia lido Machado de Assis?

Título original: Whatever Works
Gênero: Comédia, Romance
Direção e Roteiro: Woody Allen
Elenco:Larry David (Boris Yellnikoff), Evan Rachel Wood (Melodie Celestine), Patricia  Clarkson (Marietta), Henry Cavill (Randy James)

O Lutador (The Wrestler)

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Esse filme mostra que o clichê ainda tem espaço nesse ringue cinematográfico.  Randy “The Ram” é um lutador peso-pesado que se vê tendo de largar o ringue por um problema cardíaco e tendo de lutar por sua sobrevivência, pelo amor de sua filha abandonada e pelo amor da mulher que ele deseja.

The Ram é um peso-pesado sensível que sente o peso da idade nas costas e  uma tremenda dificuldade em ser nocauteado pelo passar do tempo, pela “velhice”.  Qualquer vivente passa por isso, uns sentem mais, outros sentem menos. Me parece que o “acerto de contas” com a vida é reservada para aqueles que sentem-se perto de sua partida.

Esse clichê foi bem massageado nessa luta de Randy quando este decide acertar-se com sua filha abandonada. Começa até bem, abre o jogo sem rodeios, percebe seus furos, seus erros, mas… é… sempre tem um mas e isso não ficou de fora do filme.

O que mais me co-moveu para um pensamento pós-filme foi perceber que Randy não sabia lutar – um lutador que não sabe brigar! Não soube lutar por sua sobrevivência profissional, por sua família, por nada!

Claro que nessa briga diária por oxigênio somos postos frente-a-frente com escolhas nem sempre justas, nem sempre aprazíveis, mas não se pode ter tudo.

Enquanto Randy está no passado, naquele em que ele é jovem, gosta de Guns n’ Roses (banda de rock de 1980), em plena forma, a Cassidy (Stripper) que é a única que se sintoniza com ele, está com a cabeça voltada para o futuro. Quer mudanças em sua vida, quer mudar de cidade, de emprego. Um no passado, outra no futuro… o presente foi deixado pra trás por ambos, pois um não quis abandonar o passado e seguir pro futuro, e a outra não quis permanecer na mesma. Ou seja, mais dores…

Me indigna a escolha de The Ram no final, mas ao mesmo tempo penso: que outra escolha ele tinha? Nós, do lado de cá da tela, vendo a situação de fora, conseguimos perceber que ele tinha mais escolhas, mas quem está no olho do furacão cede seus olhos pro tornado…

O Lutador (The Wrestler)/2008. Direção: Darren Aronofsky. EUA – França.

Por: Deusa Circe.