Uma História de Amor e Fúria (2011)

Certamente, um dos mais elaborados desenhos animados já feitos no Brasil, o filme atravessa quatro períodos da história do país desde o descobrimento até uma visão apocalíptica em 2096 quando o mundo enfrentaria um sério problema de escassez de água. Tudo na ótica de um ser de cerca de 600 anos que vai reencarnando em busca do seu grande amor sempre em combate contra o Anhanguera (O mal).

Camila Pitanga dubla Janaína, a heroína do filme com o talento de sempre. Já a voz do ótimo ator Selton Mello incomoda eventualmente quando soa destoante na pele de um índio Tupinambá e outros personagens similares pouco adequados ao seu timbre monocórdio.

As épocas distintas às vezes são mal entremeadas mas mantém o interesse na trama recheada de momentos curiosos como quando converte um famoso herói da pátria em vilão sanguinário.

Ainda que o traço modernoso embace o tom épico da obra em alguns momentos, o apuro visual e técnico impressiona especialmente na quarta parte do desenho, quando surge a futurista cidade do Rio de Janeiro anunciada como muito segura e cheia de tecnologia com o seu monumento mais famoso pichado e mutilado por um suposto passado violento.

O maior mérito de “Uma História de Amor e Fúria” é a ousadia de abrir caminhos para uma arte ainda pouco desenvolvida no Brasil com um trabalho marcante e de qualidade.

O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man. 2012)

E O Espetacular Homem-Aranha alça um voo muito mais alto…

Espetacular, sim! Até por prender a atenção com uma história já conhecida. Partindo de uma breve premissa – o nascimento do Homem-Aranha -, construiu-se uma nova e empolgante história para o jovem Peter Parker. Confesso que ainda no início era forte a lembrança do rosto de Tobey Maguire, mas depois forcei-me a não pensar mais nele para dar uma chance ao Homem-Aranha de Andrew Garfield. E ao vê-lo radicalizando com o skate, a imagem do outro se desfez. Nascia ali um novo Homem-Aranha, e com algo mais que conto mais adiante. Por hora, deixo meus aplausos ao Diretor Marc Webb.

O jovem Peter Parker continua um jovem tímido, inteligente, mas sem um esteriótipo nerd. Com uma aparência mais desleixada poderia passar despercebido pelos colegas do colégio, mas ainda sofre nas mãos de líder de uma certa turminha. Mesmo aparentando fragilidade, não se furta a tentar defender os demais oprimidos. Com isso, passa a ganhar a atenção da jovem a quem já dedicava olhares furtivos. Ela é Gwen Stacy. Então! Nesse filme não há mais a Mary Jane. Logo, a construção desse personagem feminino fica mais livre de comparações. Quem faz a Gwen é Emma Stone. Gostei dela em “Histórias Cruzadas“. Confesso que ao saber que ela que faria par romântico com o novo Homem-Aranha, foi que me fez pensar como seria a performance do Andrew Garfield. Não apenas na química entre os dois, mas também se ela não roubaria a cena quando atuassem juntos. Após ter assistido, para mim ela carimbou o passaporte para uma continuação. Não que ele fez feio, pelo contrário, interpretou tão bem que fez do personagem um ser livre para ser interpretado por outros jovens atores. Com ele é o personagem que aparece.

Com as demais atuações, destacaria ainda:
– Martin Sheen fez um Tio Ben, bem marcante.
– Já Sally Field ficou a desejar com a Tia May.
– Um Chefe da Polícia diplomático, bem interpretado por Denis Leary.
– E o vilão da vez: um também lagarto. Cabendo a Rhys Ifans interpretá-lo. Soube pular do cientista arrependido para o que buscava um outro tipo de poder.

Coube também a ele uma das cenas mais emocionantes, até por lembrar de uma outra com os personagens de Harrison Ford e Rutger Hauer no filme “Blade Runner: o Caçador de Andróides”. É! Numa de quem seria a caça, quem seria o caçador… O poder também pode escravizar. Já que poder é para quem pode. No caso em questão, é fazer com que o lado científico concilie com o lado humano, em vez de rivalizar.

A cada nova versão cinematográfica para esse personagem, para a sua trajetória de vida, mais que o avanço na tecnologia do 3D, seria a sofisticação do laboratório onde ele é picado pela aranha, e pela trama que vem daí. No uso que dariam para tal pesquisa. São os fins justificando os meios. Nessa versão, também se vê um avanço nisso. Lembrando que Stan Lee criou o Homem-Aranha na década de 60. De lá pra cá, muita coisa mudou também fora da ficção.

Claro que se poderia falar muito mais desse super-herói tão fascinante. O filme é excelente até focando apenas no quesito entretenimento. Como já citei, essa nova versão para o Homem-Aranha o deixa livre do peso do ator. O que vale dizer que Andrew Garfield não deixou saudades. Agora, se é válido pedir algo. Que as futuras escolhas fiquem mais naquele que aparentar ter uns 18 anos de idade.

Então é isso! Peguem bastante pipocas porque o filme é longo, mas é empolgante e com cenas emocionantes! Ah! Não saiam antes dos créditos finais. Há uma cena gancho para uma continuação e que deixa uma enigma: “Quem será ele?”
Nota 9,5.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man. 2012). Direção: Marc Webb. Roteiro: James Vanderbilt, Alvin Sargent, e Steve Kloves. Elenco: Andrew Garfield (Peter Parker); Emma Stone (Gwen Stacy); Rhys Ifans (Dr. Curt Connors); Denis Leary (Capitão Stacy); Martin Sheen (Tio Ben); Sally Field (Tia May); Irrfan Khan (Rajit Ratha); Campbell Scott (Richard Parker); Embeth Davidtz (Mary Parker); Chris Zylka (Flash Thompson); Max Charles (Jovem Peter Parker); C. Thomas Howell (Pai de Jack); Jake Keiffer (Jack); Max Charles (Peter Parker /Age 4). Gênero: Ação, Fantasia, Thriller. Duração: 136 minutos. Baseado em HQ.

As Neves do Kilimanjaro (2011). Ou: Um Homem Posto À Prova

Tudo o que está morto como fato, continua vivo como ensino.” (Victor Hugo)

Atualmente, só em ter o nome de Jean-Pierre Darroussin nos créditos, já carimba minha vontade em ver o filme. Isto feito! E mais uma vez ele dá um show de interpretação. Mas o melhor de tudo, é que mesmo tendo cacife em roubar todas as cenas, ele, elegantemente, divide o palco com os demais. Em “As Neves do Kilimanjaro“, eu destacaria a dobradinha dele com dois atores. Um é com Gérard Meylan, que faz o amigo e co-cunhado: Raoul. A outra é com Ariane Ascaride, que faz a sua esposa, a Marie-Claire.

Darroussin faz Michel, que no início do filme também coloca seu pescoço na forca. Embora o filme se passa na França, mais precisamente em Marselha, a guilhotina agora é outra: a crise que atinge a empresa onde trabalhou por tantos anos. Como o Sindicalista responsável pelo acordo com os patrões, pelo seu caráter não se esquivou em retirar seu nome de um sorteio cruel: vinte homens perderiam seus empregos. E eis que o destino o leva a sortear seu nome. Causando surpresa em Raoul. Mas Michel quis assim! Pois isso o deixaria em paz com seus ideais. Tendo como espelho: Jean Jaurès. Um político da virada do Século XX que lutava por uma revolução social democrática e não violenta.

As Neves do Kilimanjaro” traz como pano de fundo a Luta de Classes. Mas sem ser didático, sem querer catequisar ninguém. Porque a frente de tudo está o real valor do ser humano. Machuca um pouco certas verdades, principalmente quando a vida lhe põe em xeque. Quando te leva a reavaliar a tua história pessoal. O filme faz isso com o personagem de Darroussin. Michel é um cara bom na essência. Que já estava aceitando essa forçada aposentadoria. Livre enfim das obrigações com o Sindicato, tinha agora mais tempo com a família. Mais tempo com os netos, tempo livre esse que não teve com os filhos.

Na comemoração das Bodas de um longo e feliz casamento, sua bondade acaba despertando a cobiça de alguém. E o objeto dessa cobiça fora o presente que Michel e Marie-Claire ganharam dos familiares e amigos, que se cotizaram para lhes dar uma quantia em dinheiro e passagens para verem o Kilimanjaro de perto. Os dois amavam uma canção com o então título do filme: As Neves do Kilimanjaro.

Além do presente, os assaltantes levaram mais dinheiro dos dois casais: o que o caixa eletrônico “permitiu” que sacassem com os cartões de Michel e Raoul. A irmã de Marie-Claire, casada com Raoul entrou em crise. A amizade desses dois homens, que vinha desde a infância também fica abalada. É que tal fato levou a outro, depois a outros, numa reação em cadeia. Michel tinha que ter de volta o controle dos seus atos. E isso se resumiria na verdadeira bagagem que ele e a esposa levariam!

Sempre quis fazer filmes que mostrem que o sentimento de humanidade pode se revelar talvez ainda com mais força onde é vilipendiado. Nos instantes em que a sociedade está em crise, tento, com meus filmes, encorajar comportamentos que seriam exemplares.” (Robert Guédiguian).

O filme é um libélulo aos reais valores da vida! Que há esperança nos homens de boa vontade! Um drama, sim! Que emociona! Minhas lágrimas rolaram em dois momentos no finalzinho do filme. Mas é um filme que te deixa leve! Diria que é iluminado! E muito bem sonorizado: Trilha Sonora mais que perfeita!

Não deixem de ver! Um filme Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

As Neves do Kilimanjaro (Les Neiges du Kilimandjaro. 2011). França. Direção: Robert Guédiguian. +Elenco. Gênero: Drama. Duração: 90 minutos. Baseado “Les Pauvres Gens” de Victor Hugo, um poema que fala da solidariedade entre os pobres.

Curiosidade: A citação que Michel diz ao arrumar seus pertences após ser demitido: “Coragem é compreender a própria vida, especificá-la, aprofundá-la, estabelecê-la e ajustá-la à vida em geral. Coragem é controlar com precisão a própria máquina para tecer, a fim de que nenhum fio se rompa, e preparar ao mesmo tempo uma ordem social mais ampla e mais fraterna na qual aquela máquina será a serva comum dos trabalhadores livres. Coragem é amar a vida e olhar para a morte com olhos tranquilos; é procurar o ideal e compreender o real; é agir e dedicar-se a grandes causas sem saber que recompensa o universo profundo dará ao nosso esforço e nem se haverá alguma recompensa.” De Jean Jaurès.

Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (2010)

Foi uma longa espera para apreciar Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, e infelizmente toda a minha ansiedade foi em vão, mas por que?. Simplesmente porque esse filme não mostra nada mais do que o primeiro filme mostrou– faz exatamente a mesma coisa do que o seu antecessor!.

Tudo que li sobre “Tropa de Elite 2” foi que o mesma era melhor que o original — o achei menos sangrento!. Também que fora o maior sucesso na história do cinema brasileiro, mas nem por isso, eu fiquei impressionado com o que vi!. Por sinal, o achei enfadonho, e bastante arrastado na ilustração sobre a violência patrocinada pelo governo, e a ruína do Brasil. E, honestamente, o uso exagerado de “voice-over” não me ajudou em nada. Achei que o narrador assumido na camera de Jose Padilha era suficiente para nos fazer entender muito do que estava acontecendo. Revelar os pensamentos interiores do tenente Nascimento em muitas cenas foram desnecessários, pois a interpretação de Wagner Moura é tão perfeita que em muitas cenas o uso de “voice- over” não revela nada mais do que nossos olhos já estão vendo.

O enredo inicia-se com o tenente-coronel Roberto Nascimento (Wagner Moura, sempre brilhante!!), que é trazido para ajudar a acalmar uma rebelião na prisão, mas tudo resulta em um banho de sangue colossal. Diogo Fraga (Irandhir Santos), um ativista de direitos humanos quer se certificar de que os prisioneiros sejam tratados humanamente, e assim causa uma grande dor de cabeça na vida de Nascimento. E, para piorar, ironicamente, o ativista é casado com a ex-mulher do tenente-coronel, e ainda prova ser um pai melhor para o filho adolescente dele — o que provoca em Nascimento uma crise de personalidade: ele começa a se perguntar se a vida de violência que ele leva, realmente valeu a pena, e se seus pesares em como ser um bom policial o transformou num péssimo pai e num marido ausente. O filme cai num melodrama bem chatinho!!!

Foi escolhido para representar o Brasil no Oscar deste ano, mas acho que lhe faltou um “lobby” para lhe garantir uma vaga. Não é ruim, mas acredito que o Brasil tinha um filme melhor do que esse. Bem, “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro” me fez cochilar…e quando um filme me causa sono é porque ele não me tocou!

Nota 5,5

Tropa de Elite 2 # O Inimigo Agora é Outro (2010)

Tropa de Elite 2: Dessa vez não fui à pré-estréia, não entrei na fila para assistir na estréia, não me estressei on line para ver na 1ª semana. Eu tive medo.

Tropa de Elite 2 não é um filme que se assista pura e simplesmente, pois a todo momento somos  sugados para dentro da tela… Ou seria a tela que insiste em pendurar-se nas nossas vidas? Lotado de referências tipicamente nacionais de um Rio de Janeiro que que está em toda parte do Brasil  a despeito da insistência de muitos em não perceber.

Não há como se sair indiferente dessa projeção, é um dedinho que nos toca no ombro, u’a mão que  nos dá na cara para logo após socar-nos o estômago e sem piedade, num golpe final,  olhar bem nos nossos olhos e cinicamente sorrir.  Saí do cinema espancada, abatida,  com sentimento de revolta, pronta a explodir  qualquer comício que passasse na calçada.

Desta vez José Padilha pôs o dedo na nossa cara e relembrou que nenhum de nós é inocente.

Mais de seis milhões e meio de pessoas viram o filme, o que mais se teria  a dizer? A minha visão de mulher que diante de um jornal, entre uma foto chocante de crime/tragédia e outra de políticos/sorridentes em campanha, recorre às cenas do próximo capítulo de uma novela qualquer como recurso para não enlouquecer  com a  impotência e letargia dos nossos tempos. Hoje a vida é  tão rápida! Os recursos tecnológicos nos deixam por dentro  de tudo e em tempo real… E justamente agora, encontramo-nos apopléticos, sem saber para onde ir e sem perceber para onde estão nos levando. Deixamo-nos enganar com gosto, só para não saltarmos  da condição de  vítimas  ou de  famosos “massa de manobra” para o papel de quem molda seu próprio destino. Nunca precisamos tanto evocar nossa porção Capitão Nascimento, nunca  ele foi tão ficcional…

Capitão Nascimento, envelheceu 13 anos, ganhou lindas mechas grisalhas, continua com aquele pescocinho ligeiramente entortado à direita, dedo em riste a repetir  pausadamente aquilo que ele quer que seja perfeitamente entendido.  Promovido a herói  (da promoção de patente todos já  sabemos)  é um homem cada vez mais sozinho, como sozinhos se tornam todos  os que insistem em trilhar rumo a um ideal de correção. Estão sós aqueles que pensam em ter vida limpa e  tentam livrar-se  dos entulhos à volta.  Estão irremediavelmente sós aqueles que insistem em manter suas cabeças e éticas acima da mediocridade  vigente em todos os escalões.

No princípio eram as drogas e o tráfico. E a polícia corrupta viu que tudo isso era muito bom!

Acharcou traficantes, elementos enriqueciam, arquivos eram queimados e no saldo das prestações de contas , não havia porque se importar com os inocentes…  A rede cresce e engrossa até criar contornos diante dos olhos do nosso herói que ervas daninhas se combate como pragas, eliminando-se! Surge a lenda e acaba o filme 1.

Tráfico dominado, traficantes engaiolados, Capitão Nascimento torna-se coronel Nascimento, comandante geral do BOPE. Torna-se também um homem separado, heróis não devem casar-se…  Na sua rotina, pela sua retina enxerga  3 tipos de polícia: corrupta, não corrupta e o BOPE. Na sua vida existe o seu trabalho, a sua família e o seu trabalho.
Vamos combinar que algumas coisas dão certo exatamente porque algo nelas deu errado. É  como se a partir de  um passo errado numa dança, pudéssemos  criar um  outro modo de dançar, porém alguns princípios básicos nos fazem errar  para sempre.
O que Tropa de Elite 2 tem de melhor, é a humanidade do seu herói, a babaquice dos seus cidadãos, a implicância com os intelectuais defensores radicais dos direitos humanos na base do  “é dando que se recebe”  e com aqueles que pensam ter mais direito aos direitos humanos  que suas vítimas e finalmente, a profusão de frases candidatas a bordões que alegremente continua.
Com uma fotografia funcional que participa como personagem da trama, a qualidade do filme é inquestionável  aliada a  um roteiro preciso, amarrado, coerente.

Rimos, quase choramos,  nos indignamos, prendemos a respiração, xingamos e quando saímos do cinema nos surpreendemos pensando.

A sociedade a qual as instituições deveriam servir, delas se servem.
Os políticos, cargos para o serviço e satisfação da sociedade, dela se servem.
A polícia que existe para servir e proteger a sociedade nela tem seu maior antepasto.
O poder se alimenta da desgraça das pessoas.
O sistema precisa fomentar desgraça para para que suas manifestações de poder sejam inquestionáveis.
O cidadão, desculpa para tantas ações e legislações, é no fundo apenas aquele que irá manter com sua ignorância, ingenuidade e fruto do seu trabalho formal ou não,  todo o peso de um  sistema faraônico que arrogantemente irá lhe roer até os ossos e pagará cada vez mais caro por isso.

Repare bem a cena em que Russo (Sandro Rocha) faz seu ritual de passagem entre acharcador do tráfico e chefe da milícia: Ele vai “tomar” dinheiro do vapor que só tem R$500,00 que foram  ganhos com o “gatonet”, ali a gente percebe qual a saída que temos, tanto nós sociedade,  quanto aqueles que se encontram encurralados nas vielas.
Ali entendemos exatamente o que é a lei do mais forte e que evoluir não faz o menor sentido. A marginalidade diante da polícia só tem um destino que certamente não é a reabilitação…

Não há defesa pra ninguém.
Ninguém é inocente, numa sociedade onde se vive por alianças para fortalecimento individual e as possibilidades de ganho sempre passam a existir e ter importância por si só. A ganância não olha para ética e o poder existe  para deleite de todos aqueles que pensam estar um milímetro acima do que  é chamado de povo. (O brasileiro tem um dificuldade de se ver como povo, como todo, não? As críticas são sempre feitas em 3ª pessoa).
Todos ali naquela película, tem um preço e a política não olha para nada nem ninguém que não seja suas próprias vaidades.
Não importa o que o herói possa fazer, o sistema existe e se reinventa e se alimentará das necessidades que se não existirem, ele criará. Osistema se reinventa, daptando-se e lançando mão do que teoricamente seria ferramenta para sua própria mudança ou destituição.
Coronel Nascimento vira subsecretário. O sistema ignora que algumas pessoas são fieis à sua essência e tenham em si valores inegociáveis (princípio do Coronel Nascimento). Para alguns o que impede que se corrompam não é apenas a falta de oportunidade de se corromper, não basta trocar a planta de lugar para que se tomem de amores por condições  mais leves e vida confortável. A grande coerência deste roteiro, é justamente o tempo que Nascimento leva para se adaptar à troca de suas armas: de pistola para palavra, microfone, boca-no-mundo.
Por sorte, por piedade jamais por acaso,  no início do filme somos avisados que é uma obra de ficção, o que nos faz rir das referências tão claras do jornal que manda profissionais para morte; Cúmplices de autoridades políticas orquestradoras de candidatos políticos, financiados pela grana de uma nova modalidade de crime;
Do apresentador de TV invejado pelo governador pelo número de opinião capaz de formar;
Do agente carcerário que não vê nada demais no inferno que se desenha dentro dos presídios;
Do intelectual defensor dos Direitos Humanos que vê tudo demais nos infernos prisionais ignorando que entre mauricinhos de faculdade e bandidos nas unidades prisionais existe o segmento que dever-se-ia denominar cidadão para o qual todos os esforços das autoridades, serviços e servidores deveriam ser direcionados e não exatamente o contrário como nos mostra  o soco na cara de José Padilha.
Temos a chance de perceber como é a política de governar  para si mesmo e percebemos que jamais tivemos outra forma de política…
E quando o policial subordinado descobre negócio novo virando líder comunitário,  percebemos que contra a ganância a covardia talvez seja uma arma definitiva para a sobrevivência e revela a grande onda das nossas autoridades: “fifty to fifty” –  a “taxa do eu sei”…  Quem sabe recebe, quem deve paga e quem não sabe paga também só que um preço mais caro por acreditar  que é votando que se resolve as questões populacionais…
Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro – sua exibição deveria ser indicada a passar nos próximos horários eleitorais gratuitos, apenas isso.
No mais,  foi um alívio ver no filme de ficção, que num país onde se apregoa que milhares de empregos são gerados a cada momento, existe um herói desempregado, humilhado, incompreendido. Alívio, porque conheço pessoas reais nessa condição e elas não serão ouvidas enquanto não puderem apresentar vantagens, o que pode nos dar um alento de esperança no futuro.
Não sabemos de onde vem o tiro. mas ainda podemos de certa forma ter esperança!
Nota 10, sobre tudo pela coragem da cena final, o rasante panorâmico por sobre a origem e finalidade dos problemas  mostrados no filme, que é a sua própria razão de ser,  podendo  também ser  a solução. Não se deve assistir a este filme pensando em tratar-se de uma história fictícia numa determinada cidade, pois que  cidade e governos locais nada mais são que miniaturas de um país…  Afinal, nem mocinho nem bandidos disparam o gatilho sozinhos muito menos por nada…
Tropa de Elite 2. 2010. Brasil.
Direção: José Padilha
Roteiro: Braulio Mantovani e José Padilha
Elenco: Wagner Moura (Nascimento); Irandhir Santos (Fraga); André Ramiro (Mathias); Pedro Van-Hel (Rafael); Maria Ribeiro (Rosane); Sandro Rocha (Russo); Milhem Cortaz (Fábio); Tainá Müller (Clara);  Seu Jorge (Beirada); André Mattos (Fortunato); Jovem Cerebral (Braço)

Postado por Rozzi Brasil

Como Treinar o Seu Dragão (How to Train Your Dragon. 2010)

Quando vi o trailer desse filme logo me veio o pensamento de um outro cuja a voz do dragão era do ator Miguel Falabella. No qual ficou sensacional. O trailer eu vi com as vozes originais dos artistas escolhidos para essa Animação, mas não sei se por ser muito rápido as vozes não me agradaram muito. O lance é que verdade seja dita: O Brasil tem uma turma de Dubladores nota mil. Aliás, isso vem de longe. Tanto que eu em se tratando de filmes totalmente de Animação até prefiro na versão dublada. Um exemplo: a voz do Bussunda como o Shrek ficou memorável. A própria Disney elogia muito as vozes escolhidas no Brasil. Até me veio a vontade de escrever um texto sobre a voz dos dubladores brasileiros. Assim, gostei desse aqui na versão dublada.

Com o desenrolar da trama me veio a lembrança do Artur de ‘A Espada Era a Lei‘. Até pela estrutura franzina do protagonista de ‘Como Treinar o Seu Dragão‘, o Soluço. Em ambos os filmes privilegiavam mais a força bruta. O que tornava mais difícil a trajetória desses pequenos grandes heróis. O físico deveria ser um ferramental a mais, dando mais ênfase o uso da inteligência mental. Mesmo que não se tenha um raciocínio lógico dominante, e por vezes é até melhor, há de se fazer uso da ponderação. Raciocinar primeiro. Não se deixar levar cegamente pela emoção.

Nesse filme, enquanto os adultos estão sempre divididos entre seus afazeres e na frente de batalha, os adolescentes já são preparados para continuarem a mesma história: enfrentar e matar os dragões alados. Esses são os vilões, os inimigos dos habitantes da ilha. E esses aldeões são vikings.

Soluço fugiu do que seria normal do biotipo viking. O que entristecia o seu próprio pai, Estóico, que era o líder de todo o clã. Matar um outro ser mesmo para se defender não fazia parte da essência do menino. Mas se esse era mesmo o seu destino, ele o faria através de outras armas. É! Soluço gostava de desenhar. Mas projetar armas era mais uma saída inteligente para alguém como ele. Acontece que nem isso lhe davam uma chance de mostrar que seria capaz.

Ambos, Pai e Filho, não conseguiam dialogar. Intimidados até pelas circunstâncias, essa falta de diálogo comprometia o crescimento espiritual e mental do Soluço. Para tentar agradar ao pai, ele se auto-anulava. Por não ter o filho como desejado – sua imagem e semelhança -, seu pai o estava perdendo. Falavam a mesma língua, e não se entendiam. Porque o que contava era o julgamento dos outros. Mais a frente Soluço tem a chance de dialogar por sinais. O que pesou aqui foi o fato de serem diferentes entre os seus. De cara, ele até tentou ser como os demais de sua raça. Estava, como se dizem: com a faca e o queijo na mão. Mas sua essência falou mais alto. O que corrobora que isso é nato. Mesmo que o meio lhe seja desfavorável, a criança encontrará o seu caminho. Conto mais sobre Soluço e esse outro ser, mais adiante.

Soluço trabalhava como ajudante de ferreiro. Com um grande amigo de seu pai, o Bocão. Esse, também era o responsável em treinar os jovens a matarem os dragões. Bocão, por não poder estar mais a frente das grandes batalhas, no fundo torcia por Soluço.

Os dragões atacavam ao cair da noite, vinham atrás de alimentos. Era quase um – ‘Salve-se, quem puder! -, por conta da desigualdade entre eles: vikings no chão versus dragões alados. Numa dessas noites, Soluço com uma das suas engenhocas, consegue atingir um. Um da espécie Fúria da Noite. O mais temido. Mas esse temor era por conta de não saberem nada dessa espécie. No Grande Livro, sua pagina estava quase em branco.

Chateado por não acreditarem em seu grande feito Soluço se embrenha pela floresta. Nessa fuga descobre o tal dragão. Que além de ferido estava preso num emaranhado de cordas. É o momento que citei: Soluço teve a chance de matá-lo. Mas não quis. Mais! Sentindo-se responsável por ele não poder mais voar Soluço fabrica um meio. A grande questão era: colocar aquilo no dragão, e o ensinar a usá-lo. Ah sim! Nesses primeiros contatos, lembrei de ‘E.T.

E com essa nova amizade que surgia somos brindados com altas aventuras. Soluço o batiza de Banguela. Se faltou diálogo com o pai, aqui houve de sobra. Ambos foram se conhecendo. Onde além do querer bem, há o de se observar os detalhes. Isso não só ajuda a relação fluir melhor, mas o aprendizado também cresce, e a ponto de transmitir aos outros. Só que sendo ainda um menino, e muito do ridicularizado pelos outros, Soluço usa esse conhecimento para superar os outros concorrentes no curso com o Bocão. Era o uso da Razão no lugar da Força Física. Ah sim! Banguela retribui, levando Soluço a fazer uma grande descoberta…

Acontece que alguém ficou intrigada com o crescimento do Soluço no curso. Era a Astrid. A única mulher da turma. Que tinha também que mostrar, provar, que era uma brava guerreira. Colocando mais dificuldade na trajetória desse ainda iniciante herói. Mas ela não contava que Soluço era alguém sem armas. Que isso não fazia parte do seu ser. E nem seria com ela, que ele faria uso disso.

Soluço vem para mostrar que o mundo está armado demais. Que as pessoas reagem com mais agressividade. Sem dar chance até para perceber que o outro foi levado a também reagir assim, como no filme. Perpetuando um ciclo. É preciso que haja mais como o Soluço, para o mundo ficar em paz. É quase uma bandeira que levanto em meus textos: Pedindo que as pessoas se desarmem! Até porque muitas das vezes esses dragões não passam de moinhos de ventos.

Agora, eu quase estive a ponto de sair do Cinema. Tudo porque exibiram uma versão em 3D numa Sala que não está preparada para isso. A Fotografia ficou péssima. Só uma parte central que ficava nítida. Tudo mais ficava esbranquiçado. Tirando isso… O filme é excelente!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Como Treinar o seu Dragão (How to Train Your Dragon). 2010. EUA. Direção: Dean DeBlois e Chris Sanders. Elenco/Vozes: America Ferrera, Gerard Butler, Jonah Hill, Jay Baruchel, Christopher Mintz-Plasse. Gênero: Animação, Aventura, Comédia, Família, Fantasia. Duração: 98 minutos. Adaptação do livro infantil ‘How to Train Your Dragon’, de Cressida Cowell.

Os Dubladores de ‘Como Treinar o Seu Dragão’:
Soluço – Gustavo Pereira
Stoico – Mauro Ramos
Astrid – Luisa Palomanes
Bocão – Claudio Galvan
Melequento – Paulo Mathias
Perna-de-Peixe – Charles Emmanuel
Cabeçaquente – Lina Mendes
Cabeçadura – Caio Cesar
Tem mais aqui (Muito bom o trabalho de pesquisa de lá.): http://www.animatoons.com.br/how-to-train-your-dragon/os-dubladores-de-como-treinar-o-seu-dragao/