Se o objetivo da saga Crepúsculo era metaforizar a transformação de uma garota em mulher, talvez tenha sido alcançado no livro, de alguma forma – o texto é ruim que dói – mas no cinema, a coisa tem se mostrado outra. Ao invés de passar essa mensagem a um publico jovem e deixá-los com informação e não só vampiros versus lobisomens e um amor por uma mulher. A história prega a castidade e a boa conduta. Tudo bem, mas quando vira piada e tudo é mostrado de forma caricata, tem algo errado.
No primeiro filme, tivemos a mão feminina de Catherine Hardwicke, que evidentemente, não conseguiu levar o filme tão bem e restringiu a trama a seu público feminino e nem ao menos tentou expandir para outros públicos, como Harry Potter o fez, universalizando os bruxos e desenvolvendo com muita calma suas personagens. Com o sucesso estrondoso, veio a segunda parte, Lua Nova, e com ele a competente mão de Chris Weitz, esse sim, conseguiu fazer da saga algo chamativo. Tentando sair de tudo o que servisse de chacota para a série, fez o melhor filme até agora.
E dessa vez, David Slade comanda a coisa. E o irônico: seu trabalho mais expressivo foi a pequena pérola vampiresca 30 Dias de Noite, divertido, sanguinolento e com vampiros que eram vampiros. Ele veio para substituir Chris Weitz, que ocupado com a pós produção do segundo filme, teve que abandonar o 3°. Isso mostra que os produtores querem mais é resultados e não qualidade. Weitz ao menos conseguiu levar um pouco de sentimento para as telas. Slade não.
Slade na verdade até dosa bem o erotismo e o suspense, mas convenhamos, trabalhar com atores ruins e inexpressivos, que mantêm a mesma faceta apenas para arrancar gritos da meninada, é dureza. O que poderia novamente dar sentimento às cenas é mais uma vez ofuscado com o brilho precoce das estrelas adotadas. A família Cullen é apática. Quando aparecem, parece que estão num clip do Backstreet Boys ou posando para as fotos dos posters. O pai, parece o Roberto Justus, um marombado lá só faz pose de marombado, as garotas, são todas chatas, o cabludo, Jesper, é irritante e seus olhos esbugalhados assustam mais do que o personagem fantástico que representa e Edward (Robert Pattinson), motivo de o público feminino entupir as salas de cinema, com cara chupada e atolado de maquiagem, que só faz uma expressão pra tudo na vida.
Os lobos até são bacanas, utilizar a cultura indígena como base é interessante, mas fazer vários rapazes correrem sem camisa, com shorts apertados e mostrando uma intimidade um tanto quanto suspeita, é chato. Jacob (Taylor Lautner), bom, ele vem garimpando seu espaço e já ofusca o vampiro. Só que ele brilha quando está no sol, e quando ofuscado, parece implorar para brilhar também. Não acontece. Os vampiros mais malvados são tão péssimos quanto. Começo por Bryce Dallas Howard, filha de ninguém menos que Ron Howard. Não preciso comentar mais nada. Dakota Fanning, que há uns anos atrás era menina prodígio, é reduzida ao máximo, e ela parece pouco se importar. Xavier Samuel, que até poderia ser um vilão legal, também é reduzido, uma droga. E pra rolar mais piadas relacionadas ao fato de os vampiros brilharem de dia, eles são de vidro, frágeis, ui.
Mas o grande calcanhar de Aquiles chama-se Kristen Stewart.
Que menina chata. Irritante, sem graça, em alguns momentos feia, desontrolada, chata, inexpressiva, chata, mal vestida – e isso parece que virou moda – chata e ainda por cima, dá uma de indecisa no filme. Ela, Bella Swan, que deveria mostrar coragem e força, demonstra male má disposição pra lutar por algo que nem ela sabe.
E nesse novo capítulo da trama, ela se vê dividida entre dois amores: Edward e Jacob. Só que eles, pertencem a raças que se odeiam mortalmente. Ok, tudo bem, mas, porque essa indecisão toda? Sem o menor interesse em aprofundar sentimentos e sim encher as cenas de mel com açúcar, tudo passa no melhor estilo novelão. Mas não qualquer novelão. Imagine Malhação numa versão mexicana. Seria algo mais ou menos assim.
Todo mundo estereotipado, as conversas que relacionam temas como primeiro amor, virgindade, incertezas sobre a vida, casamento, essas coisas sérias que costumam serem implícitas em filmes assim, acabam passando como motivo de piada. O roteiro tão bem escrito faz o fato de Bella ser virgem uma grande piada; e o fato da castidade de Edward outra grande piada. Tudo o que o roteiro repleto de saídas fáceis e furos intermináveis quer (tipo, porque só Edward brilha no sol ou porque para proteger Bella da morte eles levam ela para o campo de batalha?), é por os 3 numa mesma cena. E isso rende momentos odiosos, como os 3 numa mesma barraca, ou os pitis que eles dão em momentos de ciúmes. Pitis esses hilários, vão por mim. Involuntariamente, claro.
E o terceiro filme, que eu esperava me surpreender cinematograficamente falando, só desembestou de vez o que já estava escrito estar perdido. A fotografia que foi tão boa no anterior aqui é nada menos que tosca e o som é em muitos momentos sem sincronia. Seria esse um filme feito às pressas?
A trilha sonora é até boa, tem bandas de muita qualidade como o trio Muse arrebentando, mas isso não salva filme, como já cansei de dizer.
Fui na esperança de ao menos manterem ou melhorar o que Chris Weitz tentou salvar dessa história. O que vejo é que se entregou de vez aos histéricos gritos das meninas e esqueceu de tentar expandir a obra. Uma lástima, só deixa nossa juventude cada vez mais na falta de filmes de qualidade.
Nota: 2,0
Cotação: *.
The Twilight Saga: Eclipse, EUA (2010)
Direção: David Slade.
Atores: Kristen Stewart , Robert Pattinson , Taylor Lautner , Billy Burke , Ashley Greene.
Duração: 130 minutos.