Cidade dos Anjos (1998). Um dos Mais Belos Romances do Cinema

cidade-dos-anjos-1998_cartazPor Cristian Oliveira Bruno.

Você já amou alguém em sua vida? Não falo de se apaixonar, pois nos apaixonamos todos os dias por coisas diferentes e, muitas vezes, essa paixão dilui-se com o passar do tempo. Falo de amar de verdade. Do fundo da alma. Sentir algo que você não sabe explicar. Um sentimento capaz de deixar sua vida e sua existência completamente desorientada, sem rumo. Falo de não pensar duas vezes antes de abandonar tudo o que você sempre desejou e buscou na sua vida e fazer os mais indizíveis sacrifícios em nome desse sentimento. Tudo isso só para poder estar com a pessoa amada, mesmo que “estar” não signifique “ficar” com esta pessoa.

cidade-dos-anjos-1998_01Se a resposta for ‘sim’, você entenderá e gostará de Cidade dos Anjos (City of Angels, 1998). Se a resposta for ‘não’, você pode até achar insólita a estória de Seth (Nicolas Cage), um anjo do reino de Deus disposto a tornar-se mortal e abandonar a eternidade para ficar com a Dr. Meggie Rice (Meg Ryan), mas você ainda irá gostar do filme.

O porquê de tanta certeza? Não sei. Mas o fato é que Cidade dos Anjos é um filme muito bom puramente como cinema. O diretor Brad Silberling (Gasparzinho; Desventuras em Série) realiza seu único trabalho maduro e sério (embora Um Astro em Minha Vida seja um bom filme também), mas o faz com grande competência e esmero, e nos entrega um romance agradável e singelo. Bonito, acima de tudo.

A trilha sonora é ótima, com destaque para a canção “Iris“, da banda Goo Goo Dolls, que embalou muitos corações apaixonados na época. O visual gótico dos anjos dá um charme especial ao filme. Nicolas Cage ainda levava sua carreira a sério e Meg Ryan não compromete em nada o filme, além de contarmos com o excelente Andre Braugher (Duets; O Nevoeiro) no elenco.

cidade-dos-anjos-1998_02O simples roteiro (esmiuçado em apenas duas linhas logo acima) apresenta os elementos básicos do gênero: dois seres apaixonados e uma barreira aparentemente intransponível entre os dois, que exigirá um sacrifício hercúleo para ficarem juntos. O ritmo dado pelo diretor ao filme é muito bom, distribuindo os atos pelos 115 minutos do filme de maneira com que este não nos canse nos momentos em que deveria prender nossa atenção. Mesmo assim, alguns furos chamam a atenção, como Sr. Messinger (Dennis Franz) deixa o hospital para dar uma volta pela cidade com Seth – afinal, como ninguém viu um homem em vestes pós-operatórias zanzando por aí – e a relativa naturalidade com que Meggie encara a situação de se apaixonar por um anjo, mas nada muito fora do contexto.

cidade-dos-anjos-1998_03Mesmo determinado, Seth se encontra em dúvida, em um dilema. Como deixar a eternidade para um inseguro salto para o desconhecido? Seth acaba descobrindo que ser humano livre é mais difícil do que viver toda a eternidade sob os dogmas de uma doutrina celestial. Como anjo, Seth poderia ver de perto toda a transformação do universo e da humanidade, mas sem nunca poder senti-la na pele, na alma. Caindo na terra, viveria apenas mais algumas décadas, mas teria algo que a imortalidade jamais poderia lhe conceder: uma vida. Uma vida feita de momentos para recordar, motivos para lamentar e um amor para viver.

A tragédia anunciada parece, num primeiro instante, tornar a jornada de Seth desastrosa. Mas, na verdade, dá todo o sentido às escolhas que fez. Seth entendeu que as maiores dádivas concedidas por Deus estão ao nosso redor. Descrevê-las, observá-las e presenciá-las não são o mesmo que senti-las. E isso é passado com muita eficiência pela direção.

Cidade dos Anjos continua sendo um dos grandes romances do cinema, mesmo 16 anos após seu lançamento, e ainda hoje é capaz de emocionar, ou pelo menos, agradar em um nível bem acima da média.

Avaliação: 08.

Cidade dos Anjos (City of Angels. 1998)
Ficha Técnica: na página no IMDb.

Adeus à Inocência (Racing with the Moon. 1984).

adeus-a-inocencia-1984_02Por Francisco Bandeira.
adeus-a-inocencia-1984_sean-penn-e-nicolas-cageHenry ‘Hopper’ Nash (Sean Penn) e Nicky/Bud (Nicolas Cage) se tornariam uma das grandes duplas do cinemão adolescente dos anos 80. O filme passou um pouco despercebido em sua época de lançamento e, para mim, deveria ser mais lembrado hoje em dia. E sim, tinha a musa inspiradora neste filme: Caddie Winger (Elizabeth McGovern).

O longa tem muitos méritos, mas o principal deles é, sem dúvidas, ter resgatado aquele tom melancólico dos filmes com temática parecida dos anos 60 e 70, além de incluir um certo charme oitentista nele. A cena dos trilhos é uma das coisas mais belas e singelas de cinemão teen da década de 80, assim como Penn, Cage e McGovern formaram um dos trios mais apaixonantes do cinema adolescente.

adeus-a-inocencia-1984_01Como alguns dos principais críticos americanos declararam: É muito fácil terminar um filme com Eu Amo Você, o difícil é torna-lo real e honesto, fazendo com que as pessoas acreditem nisso. E ‘Adeus à Inocência‘, de Richard Benjamin, o faz como poucos.

Adeus à Inocência (Racing with the Moon. 1984). Detalhes Técnicos na página no IMDb.

Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (2011)

Por Giovanni COBRA.

Filho do capeta. Padre mulato de olhos verdes. Mãe bonita, sarada e brigona. Pai é o diabo em pessoa. Capanga malvado que depois se transforma em um albino apodrecido. Sacerdote canastrão careca que não largou o ar de “highlander”. E ele, ele, meu antigo ídolo, Nicholas Cage, como o atormentado ex-motoqueiro de acrobacias, o Johnny Blaze, que ao se irritar se transforma no demoníaco Motoqueiro Fantasma!

Parece que vai dar jogo, pois o visual está caprichado, a mudança para o formato em chamas é muito bem feita e até a moto segue o padrão.Então, o que há de errado? Além da infame peruca de Nicholas Cage? Um sujeito que fez “Feitiço da Lua”, “Despedida em Las Vegas”, “O Senhor da Guerra” e agora se mete em mais uma roubada dessas?

Primeiro, a moto não é uma Harley. Pecado mortal moto diferente e o mesmo barulho milenar das grandes choppers. Respeito a V-Max, mas não dá! Outra coisa; se é para rodar nos arredores da Romênia, porque não aproveitou mais o Lago Vidraru ou então o Castelo Hunyad? E ficou meio que paradão em Bucareste?

Segundo, quando vai se modificar, precisa daquele tanto de caretas? Em vez de sofrimento, ficou trash demais… E o roteiro? Não é meio ilógico o capeta ficar sempre distante do maior rival e não enfrentá-lo, nem que seja em uma luta final? Afinal bandido bom é bandido que mete medo, não? Aliás, nem o sujeito brancão ficou amedrontador, parece mais um roqueiro meio que datado.

Terceiro, já que o negócio é ação, capricha nas cenas. Bota fogo nelas! Uma das poucas que formam uma sequência adequada é cuspir bala depois da metralhada. Ficou bom. De resto as inúmeras possibilidades que uma moto oferece e o poder do Motoqueiro juntos, ficaram muito aquém.

Diante desse quadro tentei apreciar as locações na Turquia, onde estive o ano passado. A Capadócia é daquele jeito mesmo e andar de balão lá é show. Também o pequeno flash de Pamukkalé é legal. E no fundo o padre é o personagem mais interessante, pois além de saber apreciar um bom vinho, toca bem a moto, sem firulas e fala grosso quando necessário.

O final é muito fraco, decepcionante, até. Fico bestificado ao ver Nicholas se meter num troço desses, que só não é pior do que o filme original porque não tem jeito.

O que há de bom: motos, alguma coisa das estradas da Romênia e o visual da Turquia
O que há de ruim: desrespeito ao personagem suas origens, sua moto e tudo o mais
O que prestar atenção: tem hora que ele rejeita a maldição, depois a aceita e até a quer de volta
A cena do filme: a mijada

Cotação: filme regular (@@@)

Adaptação (Adaptation. 2002)

Por Alex Ginatto.

Sabe aquele filme que você ouve um comentário e se interessa? Não que você ache que seja muito bom, afinal, depois de anos do seu lançamento, você não se recorda de ter ouvido falar nele. Acontece que alguém comenta, você se interessa, assiste e…resolve escrever uma leitura para o site de tão bom que achou! Foi assim com “Adaptation” (Adaptação).

O filme conta a história de Charlie Kaufman ao tentar adaptar o roteiro de um livro sobre orquídeas para o cinema. Porém, algo que poderia parecer simples se torna cada vez mais complicado para Charlie, conforme o prazo de entrega de seu rascunho se aproxima.

O livro “The Orchid Thief”, da escritora Susan Orlean se torna um desafio para Kaufman por se tratar de algo comum, sem uma história, como ele mesmo define durante o filme. Um livro que descreve o roubo de orquídeas de uma reserva estadual por um homem chamado Laroche e que se torna objeto de estudo e de interesse da autora, por se tratar de uma figura ímpar. Porém, para desespero de Kaufman o livro simplesmente termina sem algo extraordinário, sem algo que possa virar filme.

Do alto de seu perfeccionismo e lutando contra seus conflitos existenciais e sua mente inquieta, Kaufman decide que o livro deve ser representado fielmente em seu filme. Hesita em apelar para alguma história paralela, ficticia, que fuja à simplicidade descrita por Susan no livro.

Kaufman é um sujeito estranho, introvertido e que mal consegue decidir o destino amoroso de sua vida, mesmo convivendo com seu par ideal durante todo o filme.

Para piorar a situação, seu irmão gêmeo Donald resolve passar uma temporada em sua casa e se tornar um escritor de roteiros para o cinema, seguindo os passos do irmão. Ao contrário de Charlie, no entanto, Donald se revela um escritor sem muita imaginação, recorrendo inúmeras vezes aos clichês utilizados em Hollywood: serial killers, perseguições de carro, múltiplas personalidades…

O convívio dos irmão passa a ser cada vez mais complicado com a diferença entre suas ideologias, ou a falta dela no caso de Donald. Além disso, fazendo cursos de aprendizado rápido e recorrendo aos seus clichês, Donald parece ter seu trabalho desenvolvido de forma muito mais rápida do que Charlie e consegue terminá-lo em dias, para desespero do irmão.

A esta altura Charlie não sabe mais por onde iniciar seu roteiro, por onde seguir, em quem centralizar o filme. Num surto de desespero, decide ir a Nova Iorque conhecer pessoalmente a escritora do livro, mas seu medo interior e sua timidez não o deixam completar a missão.

É aí que o filme muda, literalmente. Charlie parece aceitar a derrota de sua arrogância utópica em relação à praticidade do irmão e recorre à sua ajuda. O irmão se empolga com a ideia e é quem vai falar com a escritora no lugar de Charlie, aproveitando-se da igualdade dos DNAs.

A partir daí os irmãos descobrem algo mais em relação à escritora do que descrito no livro e parece fazer sentido o fato do término da história sem algo muito emocionante: parecia estar escondendo algo. Deste ponto até o final o filme se torna exatamente tudo aquilo que Charlie sempre abominou, com os clichês, os apelos, a história atraente.

Seguindo o exemplo do que foi feito em “Being John Malkovich”, citado no início do filme, o escritor mistura a realidade com o cinema de uma forma confusa, mas extraordinária! Ao sofrer durante a maior parte da história sem saber por onde começar ou quem colocar como peça central do roteiro, Charlie acaba se entregando ao que parece ser o mais óbvio: descrever sua dificuldade para adaptar o roteiro ao livro, e se coloca como o centro da história!

Completando, o filme de 2002 rendeu indicação ao Oscar das três figuras principais do filme: Nicolas Cage, como ator principal pelo papel dos escritores gêmeos; Meryl Streep como atriz coadjuvante pelo papel da autora do livro; Chris cooper, este inclusive premiado pela Academia como ator coadjuvante pelo papel de Laroche, o ladrão de orquídeas. Excelente atuação dos três, difícil escolher o melhor, o que se torna ainda mais interessante para um filme deste calibre.

Com a certeza de que quem não assistiu ao filme deve estar achando tudo muito confuso, apenas uma sugestão: assista. E assista de novo porque vale a pena entender cada detalhe, cada sinal de Kaufman sobre a genialidade de escrever e participar de um roteiro para um filme inicialmente proposto para algo completamente diferente.

Nota 08.

O Aprendiz de Feiticeiro (The Sorcerer’s Apprentice. 2010)

O maravilhoso nesta história é a lição sobre pegar atalhos, fazer as coisas do jeito mais fácil, tentar realizar o desejo que todos temos de crescer um pouco rápido demais”, Jon Turteltaub.

Um antes…
Uma ideia, que leva a outra, e mais outra
Onde tudo começou a ganhar forma…
Ano: 1797. Johann Wolfgang von Goethe escreve o ‘Der Zauberlehrling’: “Narrado pelo próprio aprendiz, que, após ser deixado sozinho pelo feiticeiro, decide experimentar sua própria magia. Ele ordena a uma velha vassoura que prepare um banho para ele. A vassoura viva enche não só a banheira, mas tudo mais. Ele esquece a palavra mágica para fazê-la parar. O aprendiz ataca a pobre vassoura com um machado, partindo-a ao meio, mas que resulta em mais vassouras vivas. Por fim, ele é salvo, literalmente, com o retorno do velho feiticeiro, que rapidamente manda a vassoura de volta para o armário de onde ela saiu.” (Uma tradução para  ‘Der Zauberlehrling‘).

Décadas depois, o poema foi adaptado em uma obra sinfônica de 10 minutos intitulada “L’apprenti sorcier”, pelo compositor Paul Dukas. Sucesso imediato. Uma composição alegre, e memorável. Em 1940, Walt Disney une as duas obras num dos segmentos do seu grandioso longa de Animação: ‘Fantasia“. Com Mickey Mouse fazendo o papel de Aprendiz. Quem teve a oportunidade de ver na Telona, e num Cinema com som e acústica de primeira não esquece, principalmente a marcha das vassouras. Eu mesma fui assistir várias vezes.

O agora… Ou seria: ‘Era uma vez…’ Porque o filme é como um livro de estória que ganhou vida.
Da ideia inicial, chegamos nessa nova versão de Jon Turteltaub, para ‘O Aprendiz de Feiticeiro‘. O próprio Turteltaub nos dá a ideia da qual ele partiu, na frase que inicia o texto. Ele não apenas cresceu o Aprendiz, como preferiu que tivesse chance de chegar a ser um Mestre. Assim, há uma passagem de 10 anos na vida desse Aprendiz. Nessa jornada temos como pano de fundo a luta do bem contra o mal. Mas também temos o amor, como as suas consequências por aqueles que não aceitaram terem sido preteridos. Tudo isso, num ritmo muito mais de Ação.

O personagem de Nicolas Cage, Balthazar Blake, é um homem triste e solitário. No passado, seu grande amor, Veronica (Monica Bellucci), sacrifica-se para salvar a vida de Merlin. Veronica engole, literalmente, Morgana (Alice Krige). Porque essa queria para si, o poder supremo. Tem como ajudante mor, Maxim Horvath (Alfred Molina). Mas Merlin não resiste, e antes de morrer, entrega a Balthazar o anel que terá como identificar o seu sucessor. E antes que Morgana pudesse matar Veronica, são aprisionadas numa urna.

Com o passar do tempo Balthazar vai aprisionando os discípulos de Morgana em Bonequinhas Garimbold: a mais recente engole literalmente a anterior. Ele após percorrer vários continentes se estabelece em Nova Iorque com uma Loja de Antiguidades. Até então, ainda sem achar o sucessor de Merlin. E esse surge como um menino ainda: Dave (Jake Cherry). Dave, curioso, derruba a bonequinha russa deixando escapar Horvath.

Sabem aquele filme esquecívil? Pois é, esse é mais um. Eu confesso que não lembro mais como Balthazar e Horvath ficaram presos até Dave crescer. E nem como saíram depois. Foi algo providencial para a estória esse sumiço dos dois. Um dia quem sabe ao passar na tv eu o reveja e tentarei ficar menos dispersa.

Dave ainda menino se mostra alegre. Bom desenhista. Com um olhar já voltado para a matemática. Como poderão ver num desenho que faz na janela do ônibus. Um momento muito rápido no tempo, que além dele, só uma outra pessoa que capta. Ela é Becky. É amor à primeira vista. Mas seu destino já estava traçado. E as circunstâncias não apenas o leva a afastar-se do seu primeiro amor, como também leva a alegria de Dave embora. Para fugir da pressão com as zombarias, ele se devota aos estudos: da matemática para a Física. Talvez numa de provar que aquilo que vivenciou na loja de Balthazar tenha uma explicação científica.

Quando Balthazar volta na vida de Dave, ele a princípio declina do poder que lhe é oferecido. Mas como também Becky volta ao cenário, Dave decide experimentar um pouco dos tais poderes. É quando entra em cena a vassoura ajudante. Sim, tal qual como Mickey em “Fantasia”, Dave usa de magia para arrumar seu laboratório para receber Becky. Tal como o outro é salvo pela chegada do Mestre. Balthazar quer urgência em fazer de Dave um Mestre. Até para cumprir de vez a sua missão. Mas também porque só o sucessor de Merlin é que conseguirá destruir em definitivo Morgana.

Acreditando que Dave sabe onde está a bonequinha russa onde Morgana está, Horvath persegue Dave. O que o leva a duelar com Balthazar. Bem, duelo entre Magos para mim um memorável foi entre o Merlin e a Madame Min em “A Espada era a Lei”. Com isso, mesmo nas cenas de ambos pelas ruas de Nova Iorque me peguei a rir lembrando do outro duelo. O que me levou novamente perder a atenção do filme.

E para salvar o mundo de um mal maior Dave irá usar da magia que ainda desconhece aliada com seus conhecimentos em Física. Mas não mais estará preocupado em provar a todos que não estava louco. Querendo sim recuperar o tempo perdido ao lado da mulher amada. Onde me levou a lembrar de outro filme, sendo que esse mais recente, o “Como treinar o seu dragão“.

Esse é daqueles filmes que já poderiam ir direto para uma sessão da tarde na tv. Para mim, o que valeu foi o fato de me transportar para dois Clássicos da Disney: “Fantasia” e “A Espada era a Lei”. Além claro da música de Paul Dukas. Como também da pesquisa que me levou ao poema de Goethe. Algo que pode motivar aos Professores em introduzir esse autor no currículo escolar. Contar aos seus alunos o real motivo da inundação: um teor político. E é só por ai que eu recomendaria esse filme. Já que mesmo partindo de uma bela ideia, nesse filme ela se perdeu.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Aprendiz de Feiticeiro (The Sorcerer’s Apprentice). 2010. EUA. Direção: Jon Turteltaub. Roteiro: Doug Miro, Carlo Bernard e Matt Lopez. Baseado em história de Matt Lopez, Lawrence Konner e Mark Rosenthal e em poema de Johann Wolfgang Goethe. Elenco: Nicolas Cage (Balthazar Blake); Jay Baruchel (Dave Stutler); Alfred Molina (Maxim Horvarth); Monica Bellucci (Veronica); Toby Kebbell (Drake Stone); Jake Cherry (Dave Stutler – jovem); Peyton List (Becky – jovem); Robert Capron (Oscar); Nicole Ehinger (Abigail); Jen Kucsak (Broom); Gregory Woo (Sun Lok). Gênero: Ação, Aventura, Comédia, Drama, Fantasia. Duração: 101 minutos.

Kick Ass – Quebrando Tudo

Kick

O nerd. Sujeito ignorado pelas garotas, ignorado pelas pessoas, apenas o Dave. Ele só existe. Mas até que um dia, encontra a chance de aparecer para as pessoas, impressionar a garota por quem é apaixonado e acalmar seu ego. Não estou falando do Homem Aranha nem de qualquer outro sujeito que apareceu numa fantasia e decidiu ajeitar o mundo. Estou falando do KICK ASS!

Ele possui todos os atributos, é desajeitado, é nerd e viciado em HQs. Mas a partir do momento que decide comprar uma roupa de mergulho na internet e sair pelas ruas defendendo os cidadãos indefesos, sua vida muda repentinamente. Sem querer, acaba envolvido com outros heróis e conseqüentemente com um vilão de verdade, que quer sua cabeça numa lança. E daí o filme acaba indo por duas frentes – por sinal, muito bem trabalhadas. A primeira é a adolescência do Kick Ass, na verdade, Dave Lizewski, que num misto de coragem e insânia decide lutar contra o crime.

O ato do jovem rapaz é louvável, mas poderia muito bem deixar passar o tanto que se pode trabalhar dentro disso. E o fato de o filme usar a adolescência do protagonista como pano de fundo é uma sacada muito boa. Ele com a menina por quem é apaixonado, ele e os amigos, como ele vive e tudo o que passa na cabeça dele. A abertura é excelente. Em poucos minutos resumem todos os pensamentos de um nerd no auge de sua vida estudantil.

Diferente das abordagens dadas por Homem Aranha por exemplo, aqui é tudo tratado com mais humor, sem deixar de ser verdadeiro. No caso de Peter Parker, tudo ganha ares mais fantásticos. Com Dave é tudo diferente, é tudo tão real e a realidade é tão engraçada.

Aos que são fãs de HQs e acompanham avidamente tudo o que rodeia esse universo, o filme é também quase uma homenagem. Ainda que em alguns momentos aborde de maneira escrachada até demais – chegando ao ponto de “parecer” ofensiva – atinge seus objetivos e só ganha méritos com isso. Todos vão se identificar com alguma passagem do filme, e isso gera uma interação bastante curiosa.

Eu mesmo, assistindo me vi naqueles pensamentos. Creio que muitos quando criança queriam ter super poderes, sair por aí acabando com o crime, e o filme consegue resgatar de forma sutil isso tudo. O resultado é: acompanhamos o filme de maneira diferente, torcendo pelos protagonistas até o fim. O diretor consegue isso com muita facilidade. Matthew Vaughn tem esse talento, de nos inserir na trama para que possamos caminhar conforme o que ele mostra.

Sua forma de dirigir é fantástica e real ao mesmo tempo. Muitas passagens do filme mostram isso como por exemplo, Kick Ass tentando pular de um prédio. Entra uma trilha sonora inspiradora, cortes e ângulos que enchem os olhos, o personagem dizendo algo encorajador e no fim, ele para na beira do prédio. A cena diz muito do que é o filme. Os heróis que nascem do nada e muitas vezes, quando pensam estar preparados para tudo, acabam se deparando com algo pior. A visão é até um pouco pessimista, mas o filme leva tudo com tanto humor e gore que é quase impossível não viajar na trama, e ao fim, sair pensando consigo mesmo a respeito de tudo isso.

O bom humor que vem no filme, preserva o humor peculiar e não caricato dos quadrinhos criados por Mark Millar e John Romita Jr. A desromantificação (criei uma palavra?) dos super heróis, tornando eles mais humanos e menos poderosos ainda é mantida no filme. Sem, é claro, tornar ninguém ali um anti herói. Estão todos bem caracterizados, com seus trejeitos e manias. Sabemos bem quem é herói e quem é bandido. Isso pode até soar clichê, mas é tão bem trabalhado, e parece até que a falta de reviravoltas mais instigantes nem tem importância.

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Continuamos adorando o filme mesmo assim.

Até o fato de o filme fugir um pouco da HQ que o inspirou não atrapalha. Problemas como esse sempre diminuem o filme ou fazem dele uma grande droga. Exemplos não faltam. Só que aqui, o roteiro soube bem brincar com isso. Usando o mesmo pano de fundo dos quadrinhos e retorcendo as personagens para dentro do roteiro do filme e pronto. Detalhes importantes como o fim de alguns personagens como o Big Daddy e a Hit Girl, ou do próprio Kick Ass não passam de “aperfeiçoamento” diante dos quadrinhos. Consultei alguns fãs para saber se isso atrapalhou e foi quase unânime: o filme é incrível e não deixou faltar nada da essência do Kick Ass de verdade. E eles tem razão.

O roteiro é inteligente, com humor bem sagaz, às vezes caricato, mas sempre eficiente. Mantêm-se durante todo o filme, gags, piadas, tudo bem encaixado e nunca fugindo do foco. É tudo quase uma sátira dos heróis mais famosos. O filme copia com gosto seus gestos, chavões até mesmo algumas manias. Muito bacana o filme usar isso a seu favor e só abrilhantar mais a delirante história do herói às avessas. Com isso, é totalmente perdoável qualquer alteração que tenham feito dos originais.

Meu medo quando soube que Matthew Vaughn estava na direção, era de que ele usasse os cortes que usou em seus filmes de gângster inglês. Idas e vindas e tudo confuso e depois se explicando. E assim como seu protegido Guy Ritchie em Sherlock Holmes ele não fez isso. O filme flui tão tranquilamente, o que dá tempo de desenvolver sem muita pressa os outros personagens. E dentro disso, ele ainda mesclou referencias a outros filmes, o que deixou ainda mais bacana Kick Ass.

Há uma seqüência, onde conta a história do Big Daddy, toda feita em quadrinhos, lembrando de certa forma a seqüência em animê de Kill Bill Volume I, ou um “Say Hello to my little friend! ou melhor, um final digno de Charles Bronson. E unindo a tudo isso, referencias mil a todos os personagens de quadrinhos que puderam. As referencias são bastante notórias e resta aos fãs se deliciarem com tudo o que é mostrado. Não apenas aos fãs de Kick Ass, mas de cinema e quadrinhos em geral.

O que acaba sendo outro acerto do diretor, que com isso nos brinda com uma adaptação dentro de tudo o que os quadrinhos quiseram: um herói diferente que nos fizesse ver além do fantástico sem deixar de ser fantástico. Só faltou um pouco mais de violência e sangue.

E o elenco mais confortável impossível. Aaron Johnson está ótimo como Dave/Kick Ass. Mark Strong está caricato e maravilhoso como o vilão Frank D’Amico, e até Nicolas Cage como Big Daddy está bem. Nem seu olhar de peixe morto conseguiu comprometer o filme. Todas as suas aparições são ótimas. Só que, o filme não seria o mesmo sem a presença de Chloe Moretz a Hit Girl! Sim, ela é a personagem do filme. Doce, violenta, esperta, corajosa, mais macho que o próprio Kick Ass! Ela profere palavrões, desmembra seus oponentes e ainda nos conquista com seu sorriso lindo e jeitinho de menina doce. Ela está perfeita. O problema foi que não pode ver o filme, já que pegou censura alta nos Estados Unidos.

E o que falar da trilha sonora? Ver Hit Girl matando os bandidos ao som de Ennio Morricone ou ao som de Joan Jett “Bad Reputation” creio eu resumem bem. E esses não são os únicos momentos.

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E com aproximadamente duas horas de duração, Kick Ass é diversão garantida, diferente de tudo o que os filmes de heróis tem feito ultimamente. Imperdível aos fãs da HQ, imperdível aos fãs de quadrinhos, imperdível aos fãs de cinema.

Nota: 9,5
Cotação: *****.

Kick Ass, Reino Unido/EUA (2010)

Direção: Matthew Vaughn.
Atores: Aaron Johnson , Nicolas Cage , Chloe Moretz , Christopher Mintz-Plasse , Mark Strong.
Duração: 117 minutos.