Leviatã (Leviathan. 2014)

Leviathan 01Por Eduardo Carvalho.

Todo o poder vem de Deus.”

Um sistema político, ainda que não teocrático, mas imbuído de ideais divinos, fará qualquer coisa, justificando suas ações em nome de uma divindade. E o homem comum, inferior a tudo isso, sofrerá as consequências de tais ações.

Leviathan_2014_02.jpgEm “Leviatã”, Kolya é o homem comum, que vive em uma pequena cidade litorânea russa, com filho adolescente e a segunda esposa, e que terá que enfrentar o poder estabelecido. Sua pequena propriedade é alvo da especulação imobiliária, promovida pelo prefeito beberrão, Vadim. Esse pequeno Yeltsin local é apenas um dos componentes de uma Rússia corrupta que emergiu do submundo à luz, com a queda do regime soviético. Além do prefeito, a polícia e o poder judiciário oprimem esse cidadão comum, que tenta lutar honestamente para ver seus direitos reconhecidos. Para tanto, Kolya conta com a ajuda de um velho amigo, Dmitri, agora advogado. Ao tentar jogar com as mesmas armas do prefeito, porém, eles se veem diante de uma força maior: uma vez que aquela cidadezinha litorânea, na visão do diretor Andrey Zvyagintsev, é construída como uma miniatura da sociedade russa, o governo é mostrado como apoiado por uma igreja também corrupta, onde poder espiritual e político atuam juntos para a perpetuação de todo esse grande sistema.

Aqui, de uma espécie de drama de denúncia política, o filme revela uma nova faceta, ganhando ares de tragédia. Uma vez que “todo o poder vem de Deus”, nas palavras do bispo conselheiro de Vadim, inicia-se todo um conjunto de “circunstâncias”, criando um turbilhão de desgraças sobre Kolya, esse Jó contemporâneo incapaz de lutar contra o monstro que o engole, monstro que é metade secular, metade temporal. É o Leviatã hobbesiano aliado ao Leviatã bíblico, uma das grandes construções de um roteiro formidável, merecidamente premiado em Cannes, e que dá o norteamento trágico ao filme.

Leviathan 05A escolha do diretor e co-roteirista Zvyagintsev pelo tom fatalista dá-se desde os planos abertos e escurecidos da natureza do Mar de Barents no início, emoldurados pela abertura solene da ópera “Akhenaton” de Philip Glass – o faraó que quis mudar o sistema de crenças de sua cultura, morrendo vítima das “circunstâncias”. O peso do filme é quebrado por algumas personagens e situações, como a quase caricata esposa do policial e a sequência do tiro ao alvo, quase um sketch de sátira política, para, logo em seguida, o destino se abater implacavelmente sobre os personagens. Importante ressaltar que, como tragédia que é, os personagens não apresentam grandes complexidades ou ambivalências, quase que encarnando estereótipos, ou mesmo arquétipos. São meros joguetes do destino que irá se desenrolar naquele palco. Kolya é um ingênuo, que teima inocentemente em não entender a trama que se abateu sobre sua cabeça. Alcoólatra como o protagonista, Vadim é, a seu modo, uma marionete a serviço de forças econômicas e políticas superiores. Dmitri, idealista e crente dos fatos e não da religião, acredita ser capaz de derrubar o sistema preestabelecido, revelando também sua parcela de ingenuidade. Lilya é a personagem mais típica da tragédia, a esposa que nunca sorri, carregando todas as culpas do mundo pelo que ocorreu ao marido. Diante dessa força inexorável, pode-se pensar que, se “Leviatã” fosse filmado pelos irmãos Coen, ele se chamaria “Um Homem Sério”.

Leviathan 09Difícil compreender de uma só tacada as sutilezas do diretor. A figura da baleia na praia como metáfora de um Estado morto, mas ainda presente, pronto a devorar esse Jonas? As cenas que retratam um Kolya bêbado observando a abóbada da igreja em ruínas, e o filho do prefeito olhando o teto da igreja, contrastam a velha e a nova Rússia. O confronto entre o discurso do padre a Kolya e a fala final do bispo durante a missa revela um abismo entre a sinceridade/ingenuidade do representante do baixo clero, e as palavras hipócritas daquele que caminha pelos grandes círculos do poder. A busca pela verdade, tão propalada, nada mais é do que uma falácia.

Sátira, drama, tragédia, “Leviatã” possui referências iniciais no pessimismo típico da literatura russa, para então aproximar-se de um ideal grego, construindo uma hábil denúncia de um país tomado pela corrupção em todos os níveis, de tal modo que tal câncer parece ter entrado em metástase. Ao fechar seu filme com as mesmas paisagens tomadas pelas ondas furiosas que o iniciaram, Andrey Zvyagintsev mostra que não vê saída para o que ocorre em seu país. Melhor para nós, que ganhamos essa obra feroz e magistral.

Frost/Nixon – Jogo de cena!

Por Reinaldo Matheus Glioche.
Frost/Nixon (EUA 2008) se ocupa de muitos propósitos. Mas antes de mais nada, a nova fita de Ron Howard se incumbe da responsabilidade, pouco verificada no cinema, de desanuviar  um dos momentos mais controvertidos da história politica, social e midiática dos EUA. O embate entre o até então tido como frívolo e superficial apresentador da TV britânica David Frost e o ex- presidente Richard Nixon, acusado de muitos crimes, mas sem julgamento.

O que Peter Morgan, autor da peça em que o filme se baseia e roteirista da fita, faz é unir um intenso trabalho de pesquisa com o saboroso acréscimo da imaginação sobre os eventos que precederam e que temperaram a série de entrevistas contratadas por Frost.

Ao teorizar sobre a figura politica de Nixon em um contexto tão específico, Roward e Morgan humanizam a figura combalida de um dos mais impopulares políticos da história americana. Para isso contam com a performance mediúnica de Frank Langella. O ator, escondido embaixo de uma maquiagem que o aproxima da imagem do ex- presidente, devassa a alma de um homem que foi engolido pela própria ganância. Langella, no final da sessão nos faz esquecer até mesmo do verdadeiro Nixon, tamanha profundidade e nuança de sua caracterização. Michael Sheen que vive David Frost também dá um show a parte. O ator que já havia chamado considerada atenção como o Tony Blair de A rainha, reveste seu Frost de fraquezas, dúvidas, camadas e uma doçura que antagoniza na medida certa com a carrancuda feição de Nixon.

O filme angariou 5 indicações ao Oscar (filme, direção, ator, roteiro adaptado e montagem), não levou nenhum, contudo, passa à posteridade como um filme que ao se debruçar sobre um momento político histórico do passado americano, reflete o presente com contundência exuberante.

Além do elenco inspirado e do olhar investigativo sobre uma ferida americana, Frost/Nixon é um deleite para quem se enamora do fazer jornalístico. Roward e Morgan destrincham os pormenores de como se dá toda a produção de uma entrevista do porte e relevância como a que Frost realizou com Nixon.  E a montagem do filme explicita isso de forma bastante agradável. De fato, Morgan, ao conceber o roteiro estava movido pelo espírito jornalístico.

Por Reinaldo Matheus Glioche.  Blog: Claquete Cultural.

Edison – Poder e Corrupção (2005)

A realidade é uma merda. A primeira coisa que se faz, quando ela nos alcança é nos perguntar onde estamos. Nós fazemos nossas coisas, vocês fazem a sua. Mas lembrem-se é um mundo sujo. E, sem nós seria bem mais sujo.

Esse não é um filme para descobrir quem mata quem. Pois de cara já sabemos quem são eles. Assim, acompanhamos para saber porque matam. No mundo real com um número crescente da violência urbana nas grandes cidades, quando ficamos sabendo de uma onde a criminalidade diminuiu drasticamente fica uma esperança de que há uma saída para as demais. Algo como o Tolerância Zero em Nova Iorque. Agora, ao ver que o que pode ter acontecido foi como nesse filme, “Edison – Poder e Corrupção“, fica uma dúvida se fecharíamos os olhos para essa limpeza no submundo; e assim tal qual eles fizeram. O lance é que com o desenrolar da história esse mar de tranquilidade favoreceu mesmo foram as faixas mais elevadas da pirâmide social. A base dessa pirâmide ficou desassistida, e por não terem dinheiro para pagar o tal Sistema. Ou como na história do filme por não terem como pagar para mantê-lo operante. Sendo assim tem algo errado nessa diminuição da violência nas ruas.

O filme começa com a reflexão de um jovem policial, Deed (LL Cool), e termina com outra de um jovem jornalista, Pollack (Justin Timberlake). Os dois que farão a diferença num mar de corrupção na cidade de Edson. Mas não apenas será fácil, como terão que ter ajuda. E virá do melhor investigador da cidade, Wallace (Kevin Spacey). Esse, gostaria de desmascarar toda essa rede de corrupção que tem como ‘profissionais da faxina‘ o grupamento anti-drogas FRAT (Força Tática de Defesa e Ataque). O outro será Moses (Morgan Freeman). Que impõe a Pollack algumas barreiras, mas mais para testá-lo se quer mesmo levar adiante a reportagem contando a sujeirada dos integrantes da FRAT. Que será um grande furo de reportagem, mas que ele pode acabar é furado de balas.

Deed por estar querendo constituir família, o qual é proibido casar aos integrantes da FRAT, começa a vê-la com outros olhos. Tem que ter um que de psicopata para fazer o que o seu companheiro, Frances (Dylan McDermont) faz, por exemplo. Mas ele não quer ser um delator. Então precisa achar um jeito de sair daquela teia de corrupção sem se sentir culpado.

A justiça é muito parecida com o jornalismo. Às vezes, as perguntas mais importantes são as que resolvemos não fazer.

São os fins justificando os meios? É! O filme leva a várias reflexões. Mesmo que na balança pese um ‘Basta a violência!‘, às vezes, o preço é muito alto. Como também alguém poderá sair ferido nessa. Agora, que o meu grito mais forte é um ‘NÃO A CORRUPÇÃO!‘, disso eu não abro mão.

Eu gostei! Para ver e rever.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Edison – Poder e Corrupção (Edson). 2005. EUA. Direção e Roteiro: David J. Burke. Elenco: Morgan Freeman, Kevin Spacey, Justin Timberlake, LL Cool J, Dylan McDermott, John Heard, Cary Elwes, Roselyn Sanchez, Damien Wayans, Garfield Wilson, Piper Perabo. Gênero: Crime, Drama, Policial, Thriller. Duração: 97 minutos.

Quatro Irmãos (Four Brothers. 2005)

Esses quatro não são nada comparados ao que seriam sem ela.

Antes… Esse filme é um remake do faroeste “Os Filhos de Katie Elder”, estrelado por John Wayne e Dean Martin. Mas como uma história do Velho Oeste ficaria ambientada nos tempos atuais? E em Detroit. Acontece que os bandidos se adequam ao tempo em que vivem. Como também continuam e em todas as esferas; em todos os Poderes. Embora eu adore Western, eu vim falar sobre esse aqui.

No início do filme vemos uma simpática senhorinha ser assassinada a sangue-frio. Durante um assalto a um mercadinho onde fora comprar o peru para o almoço do Dia de Ação de Graças. Ela é Evelyn Mercer (Fionnula Flanagan). Alguém que dedicou parte de sua vida a encontrar um lar para as crianças do orfanato. E a quatro, por não encontrar quem os adotasse, mais que dar a eles um sobrenome, deu também amor. Deu um colo de mãe. O carinho e o aconchego de um verdadeiro lar.

Após o funeral, o Policial Green (Terrence Howard) traça um perfil dos quatro irmãos ao seu companheiro de equipe Fowler (Josh Charles). Ficamos conhecendo um pouco deles: Bobby (Mark Wahlberg), Jeremiah (André Benjamin), Jack (Garrett Hedlund) e Angel (Tyrese Gibson). Ao cumprimentar Green, Bobby diz que não veio para o funeral da mãe. É, ele quer o de quem tirou deles, o bem mais precioso. E ao descobrir que pode ter sido uma execução… A ele, junta-se mais dois irmãos nessa investigação… Não irão deixam barato!

Pessoal! Esqueçam o politicamente correto. Afinal trata-se de um filme. Juntem-se a eles. É tanta corrupção, bandidagem que diariamente aparece na mídia… Usem o filme como uma catarse.

Além dos atores darem um show de interpretação. O filme conta com uma trilha sonora incrível! Com alguns hits para quem curtiu a turma da Motown Records. Um deles: “Papa was a Rolling Stone” (The Temptations).

Nota máxima geral! Filmaço! De querer rever outras vezes mais.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Quatro Irmãos (Four Brothers). 2005. EUA. Direção: John Singleton. Elenco: Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, André Benjamin, Garrett Hedlund, Terrence Howard, FionnulaFlanagan, Chiwetel Ejiofor, Sofia Vergara, Josh Charles. Gênero: Ação, Crime, Drama, Suspense. Duração: 109 minutos.