HITCHCOCK (2012)

hitchcock_2012_cartazO filme “Hitchcook” de Sacha Gervasi tem acertadamente pouco do livro homônimo de Stepehen Rebello que deu origem a esta obra. Enquanto Stephen esmiúça detalhes técnicos e curiosos dos bastidores do filme “Psicose”, Sacha trabalha em cima de um roteiro deliciosamente cinematográfico sobre o mesmo tema.

Por exemplo, as cifras e contabilidades de uma produção tumultuada são substituídas por insinuações de traição de Alma, esposa do diretor e por perseguições delirantes do assassino em série Ed Gein, que inspirou Robert Bloch a escrever a novela de terror que arrebatou Hitch. Também dá ênfase à figura de Alma, transformando-a num personagem feminino fortíssimo, defendido com brilhantismo por Helen Mirren. As figuras de Leigh e Perkins, estrelas de “Psycho” estão perfeitas com as caracterizações de Scarlett Johansson e James D’Arcy respectivamente, dentro do visual agradável do final dos anos 50. A cena antológica do assassinato no chuveiro tem pouco destaque, o que não chega a frustrar, num filme rico em diálogos inteligentes e bons momentos para os fãs do diretor e de “Psicose”.

Se por conta de uma notória dessemelhança ou uma maquiagem ineficaz, o ator Anthony Hopkins não conseguiu a aparência ideal para o papel título, tudo é compensado com uma atuação impressionante e habilidosa onde ele atinge o tom debochado, divertido, inseguro e por vezes cruel do mestre do suspense, que não poderia mesmo ter sido uma pessoa ordinária.

Por Carlos Henry.

Dragão Vermelho (Red Dragon. 2002)

dragao-vermelho-willian-blake

Imagem: Obra de William Blake (Dragão Vermelho)

CANÇÃO LOUCA – William Blake

 

A brava brisa brame

E a noite é fria;

Vem a mim, Sono,

E abraça minha agonia.

Mas arre!

O dia prenhe

Preenche já o leste,

E as aves sonoras da aurora

Da terra se escarnecem.

Arre! Para os ares

Da cúpula celeste

Minhas notas partem,

Fartas de pesares.

Elas batem no ouvido da noite,

Molham os olhos do dia

Brincam com tempestades

Enlouquecem a ventania.

Como um demônio na nuvem

Em uivo agudo,

Pela noite eu procuro,

E com a noite me curvo;

Não me serve o leste

Onde o consolo acresce,

Pois a luz agarra meu cérebro

Com dor frenética.

 

 
dragao-vermelho-2

 

“Comecem por acreditar que vocês não entendem” – Jacques Lacan ao falar de Psicose – Seminário 3 – As Psicoses.

Tenho a pretensão aqui de articular o filme Dragão Vermelho com o saber psicanalítico.

Não sei o que Brett Ratner tinha em mente quando fez analogia entre um psicótico “Fada do dente” e William Blake; no entanto, ficou excelente…

Um filme com conteúdos fortes e merecedor de horas e horas debruçadas nos detalhes e nuances de todo o enredo.

Uma articulação tentadora, dessa vez, é falar sobre a Psicose. Um clássico seria As Irmãs Papin (filme: Entre Elas), mas o nosso Dragão segue à risca os tantos mandamentos da psicose, mesclando esquizofrenia e paranóia com perfeição!

A estrutura clínica do Fada dos Dentes é, sem margem de dúvidas, a psicose. Um “menino” maltratado por sua avó durante a infância de uma tal maneira que resultou nesta tão problemática estrutura. Resultou em sua foraclusão da realidade, em sua “indiferença” quanto ao que é “real” para os ditos normais.

Faço uma analogia com o filme Roubando Vidas de D.J. Caruso, pois ambos os psicóticos são privados de uma vida tranquila e saudável sendo que o Fada do Dente opta por aniquilar famílias aparentemente felizes e o Rouba-vidas escolhe por viver uma vida outra que não seja tão sofrível quanto a sua.

Será que podemos mensurar o sofrimento de um psicótico? É certo que um perverso não sofre e que o neurótico sofre por sua incapacidade de amar, mas e o psicótico? É da ordem do impossível mensurar o sofrimento do psicótico pois só temos como base nossa realidade neurótica para contar e enquanto nós, neuróticos estruturais, equivocamos a realidade, eles, os psicóticos ignoram a realidade. Aqui o ignorar tem um outro sentido do que seja para os neuro-ticos rs. Será que é penoso ignorar a realidade, vê-la fragmentada, desconectada, rompida?

De fragmentos em fragmentos, o Fada do Dente “juntou” os caquinhos quando conheceu a moça cega; uma ponte para a tal felicidade familiar que ele tanto almejava (aqui, almejar não é sinônimo de desejar, pois psicóticos não desejam. Já chego neste aspecto rs). Infelizmente, isso é da ordem do ideal e ideal é para sempre ideal. Era previsível supor que quando algo nele – Fada do Dente – ignorasse essa realidade, algo nele (também) atrapalhasse tudo.

E o que poderia atrapalhá-lo nele mesmo? As invasões do Outro (grande Outro = tesouro de significantes = inconsciente). É neste ponto que podemos afirmar que o (as)sujeitado pela psicose não deseja. Oras, se ele é engolido/invadido/colado pelo Grande Outro, quem deseja rs? Ele – o psicótico – e o Outro são as mesmas coisas, pois não houve o corte necessário para romper a simbiose entre mãe-filho e, a partir disso, o filho continua se vendo como apêndice de sua mãe sem que haja diferenças.

Então não é incomum em clínicas psiquiátricas o sujeito afirmar que é Jesus Cristo, Elvis Presley, Raul Seixas etc, posto que essa colagem NO tesouro de significantes faz com que o psicótico não se diferencie dos objetos.

Uma dura realidade, certamente…

Um elemento identificatório de Fada do Dente que posso observar no filme é sua admiração… por… por… por… dragao-vermelho-2002-07  HANNIBAL LECTER, É CLARO . Escreveu-lhe cartas com teor de total admiração e afeto, ao mesmo tempo revolta contra a situação “penosa” de Lecter etc. Uma determinada cena do filme, o Fada afirmou para o jornalista (aquele que morreu queimado) que ele (Fada) era um DEUS. Pode-se supor que a intenção identificatória com Lecter é por achá-lo um DEUS também. Não sei de quem é a “sorte”, se é de Lecter ou de Fada por Lecter estar preso rs…

Por estar preso, Hannibal não era visto, em termos competitivos e territoriais, como algo que precisava ser engolido …

Falando em Hannibal, e ele nisso tudo? Manteve-se perversamente ausente/presente como qualquer “sedutor de sua estirpe”…

Não se incomodem de não entender , a psicose não é para ser entendida, nem mesmo a neurose… A psicose é para ser “analisada” loucamente rs!!!

Saudações Vampirescas.

Ficha Técnica:

Gênero: Thriller
Tempo de Duração: 126 minutos

Ano de Lançamento (EUA):
2002

Direção: Brett Ratner.

Por: Vampira Olímpia.