Birdman (2014). O Canto do Cisne em Seu Apogeu!

birdman_de-wws-harrisPor: Cristian Oliveira Bruno.
Alejandro-Inarritu_Edward-Norton_Michael-KeatonAo terminar de ler o roteiro de Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância) [2014], Edward Norton (A Outra História Americana) pergunta ao diretor e roteirista Alejandro González Iñarrítu (Babel) quem havia sido escalado para o papel principal do longa. Ao ouvir o nome de Michael Keaton (Batman – O Filme) como resposta, Norton tem uma epifania: “É claro! É tão óbvio….e tão perfeito!“.

E é assim, trazendo um ator que viveu o auge de sua carreira no início dos anos 90, ao interpretar um popular super-herói no cinema, vivendo o personagem de um ator que viveu o auge de sua carreira no início dos anos 90, ao interpretar um popular super-herói no cinema que Birdman estabelece-se como um escarnio metalinguístico crítico e auto-crítico de primeira qualidade, brincando de fazer cinema com bom gosto e com alto grau de originalidade, fazendo de um filme simples o melhor filme de 2014.

birdman_2014_cenasO roteiro de Birdman é tão bem escrito que qualquer um de seus personagens poderia ser escolhido como protagonista – embora Riggan Thomson (Michael Keaton) realmente apresente-se como principal eixo dramático da trama. Se, por vezes, o excêntrico Mike Shiner de Edward Norton parece querer tomar todas as atenções para si – e de quando em vez até consiga – e a Sam de Emma Stone tenha lhe rendido uma justificada indicação ao Oscar, uma personagem e sua intérprete parecem ter ficado à sombra de sua real grandeza: Naommi Watts e sua Lesley, uma talentosa e sonhadora atriz que vive simultaneamente o melhor momento de sua carreira e uma das fases mais conturbadas de sua vida pessoal. Tanto a personagem, quanto a interpretação de Watts deveria ter recebido maiores holofotes, pois são marcantes e dignos de nota. Inusitadamente trazendo uma trilha composta unicamente por solos de bateria, Birdman é justamente aquilo que seu diretor pensa sobre cinema: “um conjunto de elementos distintos em constante movimento trabalhando em conjunto pelo mesmo propósito“. Assim sendo, Iñarrítu se desprende de qualquer estigma narrativo e/ou estrutural, sentindo-se mais do que à vontade para transpôr sentimentos e sensações para a tela. Portanto, não estranhe os quase intermináveis planos-sequência (que geraram preocupação por parte se toda a equipe para com a saúde dos cameramens, que sustentavam o pesado equipamento móvel por muitos minutos, transitando pelos vários cenários – um teatro real foi usado como locação) ou cenas em que Michael Keaton levita ou move coisas com a mente. Tudo isso é tão bem construído que se torna a mais pura apresentação de contexto e personagem elaborada nos últimos sei lá quantos anos.

birdman_2014_01Sem poupar ninguém nem fazer concessões, Birdman critica e desnuda tudo e todos que compõem seu universo, atacando sem piedade – porém, com muita elegância – todos aqueles que integram o mundo glamouroso da Broadway, sejam atores, diretores, platéia e críticos. E principalmente, Birdman ataca seus egos, principal fio condutor de sua trama. Pois não há nada mais instável do que o ego. Ele que nos faz acreditar sermos capazes de fazer o capazes somos – nem nunca seremos – capazes – de fazer e nos leva a cometer os mais mirabolantes atos.

Birdman é o cinema em sua mais pura forma e utilizando-se de absurdos, metalinguagem, fantasia e técnicas para fazer uma verdadeira obra-prima contemporâneo. Birdman está aí para nos mandar um recado: Hollywood ainda tem esperança, mesmo que esteja fora dali.

Nota: 9,5.

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). 2014

birdman_2014_01alejandro-gonzalez-inárritu_cineasta_birdmanJá adiantando que o filme é excelente e que tentarei não trazer spoiler! Até porque eu estou em suspense em como contar essa história onde parece estarmos numa poltrona mágica levados por toda trama com receio até de que se paramos cogitando se perdera algo poderemos de fato perder parte dela. Já tivera essa sensação em “Pina“, mas ai Wim Wenders usou com maestria a tecnologia do 3D. Já nesse aqui, eu diria que Alejandro González Iñárritu fez uso do talento de seus técnicos + espaço cênico. Conduzidos por esse genial cineasta!

Para quem conhece pelo menos um pouco da obra de Iñárritu sabe que ele parte de um ato único para então interligar todos os demais personagens ao protagonista. Assim, temos como pano de fundo em “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” alguém querendo provar até a si próprio de que ainda é um ótimo ator. Que em se tratando dos Estados Unidos, os mais antigos ainda glamoriza a Broadway: a meca das produções teatrais. Como se a Hollywood não atestasse o talento de um ator. Para esse ator, essa segunda escalada ele já alcançara no passado com então o personagem que dá nome a primeira parte do filme: “Birdman“. Queria então partir para o seu segundo ato: tentar conquistar a Broadway. Para quem acompanhou a Série “Smash” teve uma ideia do quanto é difícil conquistar um dos importantes palcos dali, mais ainda em permanecer em cartaz, o que por si só já denotaria o sucesso da peça teatral. Bem, a história do filme já o coloca lá numa pré estreia. Assim, temos quase toda a trama focada nas apresentações dos ensaios técnicos abertos ao público.

birdman_2014Claro que o peso maior recai sobre esse ator, Riggan Thomson. Grande atuação de Michael Keaton! Para Riggan além do peso de anos sem atuar, há o do personagem que de ícone passara a ser Cult, lembrado em grande maioria por um público adulto. Quem lhe dará o toque de que precisa se atualizar para então atrair um público mais jovem é sua filha Sam. Personagem de Emma Stone, uma camaleoa ao se passar por uma adolescente rebelde. Dizendo que os tempos são outros, que deveria aproveitar da velocidade advinda dos iphones para as redes sociais. Que para esse grande público não bastava o peso de quem o fora no passado, eram atraídos mais por algo que escandalizasse. Bem, de qualquer forma, sem querer Riggan atrai para si esse tipo de flash. Mas que piora seu embate com o novo ator trazido por quem faz sua esposa na tal peça, a Lesley (Naomi Watts). Essa mesmo ciente do temperamento desse outro, o traz. Talvez imbuída da urgência, ou até por querer o sucesso da peça a qualquer custo, afinal era a Broadway e ela estava preste a realizar um sonho de criança… Riggan também concordara… Enfim, era alguém que atrai um público que soma o peso do nome com os escândalos que provoca. Ele é Mike Shiner, personagem do sempre ótimo Edward Norton. Pois é! Sem fugir da tal fama, ou até por conta dela, Mike de alto do seu egocentrismo tentará roubar o espaço em cena com Riggan. Um duelo de egos. Ou seria de alter-egos? Mike seria um James Dean da atualidade. Mas é ele quem acaba dando um toque em Sam para que pese a sua própria rebeldia contra o pai.

birdman_2014_01Já em relação a dicotomia entre celebridade x notoriedade, ator de filmes x ator de teatro… e por ai vai. É alimentada pela crítica teatral Tabitha Dickinson (Lindsay Duncan), odiada e venerada por uma gama de maior idade, mas desconhecida ou não endeusada pela parcela mais jovem. Terá um embate primeiro com Mike, depois com Riggan. Com esse não ficará pedra sobre pedra… E é dela que vem a segunda parte do título do filme: “A Inesperada Virtude da Ignorância“. Agora… Quem até então ignorara o que?

Além de tentar também se apaziguar com a ex-mulher, Sylvia (Amy Ryan), fora a filha… Riggan tem em seu calcanhar seu agente/advogado, Jake (Zach Galifianakis. Bom vê-lo num personagem mais sério.): com o orçamento em vermelho, com os acidentes de percurso na condução da peça teatral… Jake só não dimensiona a gravidade do estado de Riggan. Esquizofrenia ou para-normalidade? Sem como perceber de fato o que se passa com Riggan, Jake no fundo é um bom amigo. Até porque o próprio Riggan não admite para si mesmo que precisa de ajuda de um profissional da área, nem fala para ninguém. Até fala para Sylvia, mas não sendo explícito, essa também não avalia a gravidade… Com isso, meio que sozinho, ele acabará travando um embate com Birdman. Fora tudo mais a lhe pesar também a alma… Será muita coisa para ele digerir… Paro por aqui para não lhes tirar o suspense.

Então é isso! Preparem o fôlego porque irão voar, subir, descer… pela câmera vasculhando toda a trama, que é um deleite também para também os da área psico. Os atores estão em uníssonos! A Trilha Sonora, tirando uma certa bateria, é ótima! Com um Final em aberto? Eu diria que Riggan deixa todos livres para os seus próprios solos. Espero que não venham com uma continuação. Bem, de qualquer forma para “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” os louros vão em primeiro lugar para Alejandro G. Iñárritu! Ele é um gênio! Que por conta de como contou essa história criou uma obra prima! Que só por isso o filme merece até ser revisto!

Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância. 2014. Ficha Técnica: página no IMDb.

Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover – Part III. 2013)

se-beber-nao-case-parte-3_2013Eis que chega a última parte da trilogia ‘Se Beber, Não Case!‘ sob a batuta de Todd Phillips. Nos anteriores já havia de antemão a despedida de solteiro de um deles. Onde no primeiro “ganharam” de brinde o pancadão do Alan (Zach Galifianakis) por Sid (Jeffrey Tambor), o sogro do Doug (Justin Bartha). E Alan mostrou e provou que no quesito aventura urbana ele não faz por menos, apronta mesmo. Só que no fundo é um crianção. Talvez por conta disso Doug, Phil (Bradley Cooper) e Stu (Ed Helms) podem não ter caído de amores por Alan a princípio, mas depois fizeram dele um amigo. Com certeza mesmo o elo que o ligava aos três amigos já de longa data é por ser Alan cunhado de Doug. Por outro lado, Alan os tem como amigo, tendo Phil como um líder para essas loucuras. Algo que na cabeça de Alan é tudo normal. Até ter ficado amigo de outro louco como Chow (Ken Jeong).

se-beber-nao-case-parte-3_00Mas mais do que alguém carente de afeto, Alan extrapolou com sua última aventura. Mais precisamente com uma aquisição: a compra de uma girafa viva. Mais do que um brinquedinho, o sem noção dos limites do Alan termina provocando uma tragédia na auto-estrada, cujas consequências levou o pai a um ataque fulminante. Sem Sid que ainda detinha um certo controle sobre ele, sua mãe e irmã decidem interná-lo. Cabendo então aos três amigos levá-lo para a tal instituição.

E é quando a última aventura começa! Seria realmente a última? De qualquer forma, a caminho da clínica para doentes mentais tinha mais do que uma pedra a mudar o plano inicial. Sendo que dessa vez alguém corria risco de ser morto.

se-beber-nao-case-parte-3_01Como nas aventuras dos filmes de 2009 e de 2011, Doug também fica de fora nesse. Sendo que dessa vez a turma terá que fazer um servicinho para tirá-lo das mãos de um gângster. Onde entra em cena o personagem de John Goodman, o nem todo poderoso chefão Marshall. Que quer reaver algo que Chow roubou dele. E como Alan e Chow mantém contato, Doug fica de refém até recuperarem as barras de ouro roubadas. Assim, Phil, Stu e Alan partem para Las Vegas. Como bem disse o finado Sid certa vez: ‘O que acontece em Vegas, fica em Vegas!‘. Mas querendo também que o seja para Tijuana, no México.

se-beber-nao-case-3_02Além de trazerem personagens dos filmes anteriores, algumas participações merecem destaque. Uma é com a Melissa McCarthy. Ela faz Cassie, que se mostra tão louca como eles. Ela se encanta por um deles, e que há reciprocidade. Quem se lembra pelo menos um pouco do primeiro, viu que havia um bebê. Alan passou grande parte do filme carregando ele no colo até descobrirem a mãe dele. Pois nesse ele cresceu um pouco. Ele é Tyler (Grant Holmquist). O menininho não titubeou diante do louco Alan. Foi ótimo! Vida longa ao pequeno Holmquist!

se-beber-nao-case-parte-3_03O filme também traz como referências cenas de outros filmes, que termina como um ‘Quiz’ para quem assiste. Há como elo de ligação: a amizade, ou melhor, a cumplicidade entre os personagens. Uma seria com a fuga em ‘Um Sonho de Liberdade‘. Uma outra com a travessia da faixa de pedestre mais famosa do mundo. Uma, com o Alan no elevador bancando um funcionário do hotel me fez lembrar de uma em ‘Margin Call – O Dia Antes do Fim‘. Se foram homenagens ou não, já valeram pelo sorrisão no rosto.

Mas do que viverem uma nova e última aventura, ‘Se Beber, Não Case! Parte III‘ no final das contas também foi uma despedida de solteiro. Fechando assim o ciclo desse tipo de evento masculino a caminho do altar. Se bem que o final do filme deixou uma porta aberta para novas agruras… Ops! Digo novas aventuras com esses marmanjos. Que se vier, com certeza eu irei ver! Até porque um filme antes de tudo é entretenimento.

O Diretor Todd Phillips provou que sabe conduzir bem temas bem corriqueiros do Cinema. Atestado com mais esse. Conseguindo fechar e bem a trilogia com a saga desses homens em suas despedidas de solteiros. Mesmo  esse terceiro não tenha sido uma comédia rasgada quanto o segundo, eu gostei!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover – Part III). 2013. EUA. Direção e Roteiro: Todd Phillips. Elenco: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Ken Jeong, Heather Graham, Jeffrey Tambor, Sasha Barrese, Rachael Harris, Jamie Chung, Mike Tyson, John Goodman, Mike Epps. Gênero: Comédia. Duração: 100 minutos.

“Se Enloquecer Não Se Apaixone” (It’s Kind of a Funny Story, 2010)

Apesar dos títulos ruins (tanto o original “It’s  Kind of a Funny Story” quanto a pavorosa tradução brasileira), “Se Enlouquecer Não Se Apaixone” não é comédia, é um drama que mescla um pouco de alívio cômico nas cenas. Lançado direto em DVD no Brasil, está chamando a atenção de algumas pessoas. Com um tema que tinha tudo para dar certo (depressão adolescente), se ele seguisse uma linha mais séria aproveitando o excelente elenco, poderia ser salvo. Um romance entre um casal suicida que se conhece numa clínica. Mas a falta de foco e o provável medo da previsibilidade fizeram com que caísse nas armadilhas cinematográficas contemporâneas.

Não sei se alguém se lembra daquele comercial televisivo onde o narrador grita “você quase conseguiu”. Pois é, esta é a exata sensação que tive após conferir esse filme. Falar da depressão adolescente não é coisa fácil, talvez a palavra depressão choque algumas pessoas, estou me referindo àquela solidão que toma o jovem de vez em quando.  A verdade é que muitos adolescentes passam por isso, sem muita explicação eles se sentem sozinhos seja por não ter ninguém com quem namorar, seja pela ausência de amizade (familiar ou externa).  Esse é um tema excelente para ser tratado com objetividade

Sinopse: Craig, 16 de anos de idade (Keir Gilchrist), estressado com as demandas de ser um adolescente, se interna em uma clínica de saúde mental. Lá ele descobre que a ala dos menores está fechado – e se encontra preso na enfermaria adulta. Um dos pacientes, Bobby (Zach Galifianakis), logo se torna o mentor e protegido de Craig. Craig também é atraído à outra paciente de 16 anos, Noelle (Emma Roberts). Com uma estadia mínima de cinco dias imposta nele, Craig é sustentado por amizades de dentro e fora da clínica enquanto ele aprende mais sobre a vida, o amor, e as pressões do amadurecimento.

O elenco inteiro é excelente, Keir Gilchrist se encaixa perfeitamente no papel do garoto inteligente tímido e deprimido enquanto Zach Galifianakis (de “Se Beber, Não Case”) dá um show de interpretação em várias cenas, dessa vez seu papel tem uma boa carga dramática. o problema está no roteiro. A falta de foco dele é de dar nos nervos, num momento sugere uma exploração sobre depressão adolescente e no outro um romance teen com pitadas indie e descobertas sobre a vida. O problema maior é que nessa indecisão não se resolveu nada do enredo, ele acabou sendo simplista e aparentemente escrito para ludibriar as pessoas com alguns diálogos inteligentes. O longa começa com a tentativa de nos identificarmos com o personagem central e sua tristeza por estar apaixonado pela namorada de seu melhor amigo (bom, pelo menos é o que ele diz, mas todos algum dia na vida têm um amigo daquele). Essa tentativa é frustrada porque Craig não demonstra estar pensando todo tempo na garota, logo não é pretexto para sua depressão e muito menos para uma internação.

A partir daí começamos a tentar compreender o porquê dele dizer estar desse jeito, mas não surgem muitas respostas. O final do filme tenta dar uma cura para o rapaz, entretanto seria essa a cura para a paixão pela garota? A resposta é NÃO, então percebemos que a paixonite não foi responsável. E surge um dos melhores diálogos do filme ( imagem abaixo). Craig não sabe a causa de sua depressão, ele apenas sente. Isso é bem compreensível no mundo corrido que nós estamos, o estresse da rotina do trabalho e escola pode derrubar alguém se a pessoa não tiver cuidado. E é aí que o roteiro perde o foco, a causa da depressão do jovem é uma excelente mensagem para os adultos da pressão que alguns estudantes adolescentes passam. Mas a falta de luz sobre o tema quase o apagou da trama quando, repentinamente, surge um romance teen.

"Às vezes eu queria ter uma resposta de por que estou deprimido. Como se meu pai me batesse ou como se eu tivesse sofrido abuso sexual. Mas meus problemas são menos dramáticos do que isso".

Emma Roberts consegue nos cativar rapidamente, ela tem uma beleza simpática o suficiente para adquirir nossa confiança em segundos. Mas a personagem dela, Noelle, está alegre demais para uma garota com tendências suicidas. E não é apenas no figurino de modelo que eles erraram. A paleta de cores é viva e alegre, retirando qualquer sensação de tristeza, afinal isso poderia afastar um público sensível e geraria menos lucro. Há momentos de confraternização entre eles (até aí tudo bem), tem uma cena musical (e o filme vai descendo a ladeira), o jovem fica querido e começa a fazer mudanças no lugar e após um tempo esquecemos que ali é uma clínica psiquiátrica. O resultado é que o longa ficou com aparência de Sessão da Tarde (a atual, antes até que passava coisa boa).

Cena parecida com a de "500 Days of Summer"

“Se Enloquecer Não Se Apaixone” é um filme que oscila sem o menor cuidado entre os gêneros, o drama não é explorado suficientemente para salvá-lo, a comédia atrapalha qualquer identificação com o personagem, o romance foi mal trabalhado (a aproximação do casal não convence). E alguns diálogos inteligentes ainda conseguem destacá-lo de outros filmes teens. A proposta inicial parecia tentar agradar um público mais geral, no entanto a exigência por algum obstáculo no romance (que poderia muito ter sido a depressão) quase deteriora o potencial que o longa possuía de algo diferente. Alguns podem até sugerir que o objetivo era entretenimento cômico. Se for isso, ele até consegue alguns momentos agradáveis (como os da imagem abaixo), mas nada que o torne marcante ou acima de outras comédias que souberam focar num só tema ou trabalhar todos com cuidado. Na busca por uma solução mais rápida e teen, o final nos decepciona pelo vazio, fazendo com que seja mais um filme esquecível. Um desperdício de talento de um elenco tão bem escalado.


Se Beber, Não Case! Parte II (The Hangover Part II. 2011)

No primeiro, a motivação maior fora o Diretor Todd Phillips. Por ele conseguir traduzir um universo masculino meio sacana. Algo como: é homem, então pode aprontar. Bem que eu queria que alguém fizesse o mesmo para nós, mulheres. Mas antes teríamos que ter essa liberdade culturalmente, até para ser bem aceita. Enfim, até que isso aconteça, eu vejo esses filmes com um pouquinho de inveja.

Assim, fui ver a continuação  e sem esperar mais que uma diversão momentânea. Até porque do primeiro esqueci quase tudo. Então, como um bom sessão pipoca, Todd Phillips cumpriu bem a lição. Teve momentos engraçados, muito embora eu não sei se ri mais do filme, ou da risada de uma mulher na plateia. Ela sim, riu muito. Mas mais do que rir, o filme prende a atenção em saber o que aprontaram dessa vez. O que num breve momento eu pensei: “Alguém cai mesmo no mesmo erro?” Para em seguida ao lembrar de fatos reais, vi que sim, cai. Então relaxei e foquei só no  filme.

Vou tentar não trazer spoiler, mas que dá vontade de contar pelo menos uma, isso dá. Veio como um “Bem-feito!”. Que foi com o noivo da vez. Falando em noivo, eu não entendi porque que o Doug (Justin Bartha), que foi o que sumiu no filme anterior, não quis se divertir com os amigos nesse. Estaria o ator comprometido com outras filmagens? Ou por imposição dos Produtores, já que deu certo a química entre os outros três: Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e Alan (Zach Galifianakis). Ou até por conta de não ficar um grupo muito grande. Enfim, não fez falta.

Nessa continuação quem está para casar é Stu. Que marcou a cerimônia na Tailândia, de onde é a família da noiva. Como tentativa de evitar uma despedida de solteiro do gênero da de Doug, marca um café com os amigos: Doug e Phil. Esse insiste que pelo menos uma cerveja na praia, num tipo de luau. Mas antes disso, Doug o convence a levar Alan para o casamento.

E é com a ida de Alan que vem o erro fatal para Stu. Mas garantia de risos para nós. Até exclamamos: “Estão nos marshmallow!”, mas nada que comprometa a diversão. Afinal, já sabemos que houve uma noite agitada para eles. Sendo que dessa vez quem sumiu foi o futuro cunhado de Stu. Eles acordam de ressaca num lugar desconhecido, com Stu com uma tatuagem na face, Alan careca, um miquinho de jaqueta jeans e algo num copo. Ah sim! Com Chow (Ken Jeong) também por lá. Na busca pelo jovem, descobrem que foram parar em Bangcoc, e que tudo foi armado por Alan. Mas como na outra despedida de solteiro, a dose fora cavalar.

Não foi só o Doug que mal apareceu no filme, as personagens femininas fizeram concorrência a bela paisagem da Tailândia onde aguardaram pela volta da turma. Mike Tyson mesmo que numa breve cena, marcou mais ponto. Pelo menos no quesito: “Surprise!”. Destaque maior teve Paul Giamatti.

Em resumo: é um bom sessão pipoca! Esquecível como o outro. Mas vale pela hora e meia de risos. E Todd Phillips carimbou meu passaporte para um próximo filme seu.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Se Beber, Não Case! Parte 2 (The Hangover Part II. 2011). EUA. Direção: Todd Phillips. +Elenco. Gênero: Comédia. Duração: 102 minutos.

Um Parto de Viagem (Duo Date). 2010

Depois do sucesso de “Se Beber, Não Case” (The Hangover – A ressaca), Todd Phillips continua reformulando o humor pastelão cujos elementos de outrora ainda estão lá acrescidos de uma sensibilidade e sofisticação peculiares ao diretor. Se no outro longa, o protagonista fazia das tripas coração para chegar a tempo no próprio casamento após uma louca despedida de solteiro em Las Vegas atravessando os Estados Unidos em situações surreais, a trama se repete na essência em “UM PARTO DE VIAGEM” (Due date) trocando o matrimônio pelo nascimento do primeiro rebento de um casal.

O trapalhão deste filme não tem noção do perigo que representa e se desmancha em pieguice com o novo amigo Peter (Robert Downey Jr.) que é obrigado a aceitar sua parceria na estrada em meio a passagens inacreditáveis na companhia do cachorro que se masturba como o dono e dos restos mortais do pai do estranho sujeito guardados numa latinha de café para serem devidamente espalhados no Grand Canyon. É justamente este sentimentalismo exacerbado e afetado do personagem Ethan vivido pelo excelente Zach Galifianakis, que faz de “DUE DATE” uma comédia diferente e especial.

O humor rasgado de antigamente dá lugar a uma gargalhada nervosa oriunda de elementos psicológicos profundos apesar do exagero nonsense de tudo o que acontece no filme. Esta parece ser a graça do novo século. Convém acostumar.

Carlos Henry

Um Parto de Viagem (Duo Date). 2010. EUA. Direção: Todd Phillips. Elenco: Zach Galifianakis (Ethan Tremblay), Robert Downey Jr. (Peter Highman), Michelle Monaghan (Christine Highman), Jamie Foxx (Jim), Juliette Lewis (Heidi), Danny McBride (Lonnie), RZA (Segurança do aeroporto), Todd Phillips (Barry), Bobby Tisdale (Carl), Aaron Lustig (Dr. Greene), Jon Cryer (Alan Harper), Charlie Sheen (Charlie Harper). Gênero: Comédia. Duração: 100 min.