A Balada do Soldado (Ballada o Soldate. 1959)

A Balada do Soldado_posterO termo balada durante a Idade Média era usado para descrever um tipo de poema lírico de origem coreográfica, inicialmente cantado e mais tarde destinado apenas à declamação. A partir do século XIV, poema de forma fixa, composto por três estrofes seguida de uma meia estrofe de encerramento. Desde o final do século XVIII, pequeno poema narrativo, composto por estrofe que relatam, quase sempre de uma maneira fantástica uma tradição histórica ou uma lenda. Na Alemanha Bürger, Goethe, Schiller e Uhiand foram os mestres do gênero, enquanto na Itália, L. Carer, G. Prati, Carducci a empregaram para abordar temas patrióticos. Explicação básica para que se possa entender a narrativa do filme A Balada do Soldado, e uma vaga lembrança de uma obra musical em movimento. São dois pra lá, dois pra cá.

A Balada do Soldado é um filme soviético dirigido pelo diretor ucraniano Grigori Chukhraj, com qualidades narrativas líricas e dramáticas, suavemente remetendo ao poema denominado balada, contando feitos patrióticos. Alyosha um jovem soldado que é recrutado para combater no front durante a Segunda Guerra Mundial. Seu parceiro morre, e sendo caçado por quatro tanques nazistas, consegue destruir dois na mais pura sorte. Ele recebe uma condecoração, mas a troca por uma semana de licença para visitar sua mãe e consertar seu telhado. Só que o caminho de volta é longo e, sem um meio de transporte definido, ele vai de comboio em comboio, vendo as diversas facetas da sociedade e as mazelas da guerra.

Alyosha é um herói de nosso tempo. Capaz de representar simbolicamente toda e qualquer sociedade mundial, através de seus atos de bravura, patriotismo e todos os seus outros feitos são notáveis representando através de coragem, generosidade e solidariedade.

O filme começa e termina com o retrato da “mãe coragem” despedindo-se, com lágrimas, do destemido filho que tanto ama e se orgulha.

Quem gosta de despedida? Ela certamente que não, já que lhe lembra algo familiar, ou melhor, que o seu esposo também fora à guerra e não retornou.

A valentia de Alyosha é infinita. Sozinho no campo de batalha enfrenta tanques, armas, inimigos; contudo, tem seu reconhecimento merecido pelo seu Superior que o condecora pelo seu feito heróico. E o jovem soldado o enfrenta com palavras destemidas pedindo-lhe que trocasse o prêmio por uns dias para ir visitar a sua mãe e poder consertar o telhado de sua casa. Era o seu dia de sorte! Claro que conseguiu uns sete dias: quatro para ir e voltar e três para ficar na companhia dela. E a balada do jovem soldado pacifista apenas se inicia.

Pacifista sim, pelo seu gesto de bondade em primeiro lugar. Perdeu o trem porque ficou tomando conta da bagagem de alguém que foi telefonar. Consolar a pessoa dispensada da guerra porque se tornou um inútil e já não tem mais serventia; talvez achasse que perdeu a dignidade e temia a  rejeição da própria família. Encorajá-lo não foi tarefa difícil para o generoso soldado. Atitudes nobres e sinceras encerram cada ponto de virada da narrativa.

Há males que vêm para o bem. Perdeu-se tempo precioso durante toda a viagem de ida por justas causas.

Perdas e ganhos. O bravo soldado encontrou o Amor. Durante a sua viagem encontrou Shura, uma linda jovem que, por receio do ainda desconhecido, lhe mentiu que estava viajando para se encontrar com o noivo. A viagem parecia não ter fim. Tantos acontecimentos inesperados vão somando na aventura agora do casal que aos poucos começa a se entender.

O soldado Alyosha prometeu visitar a esposa de um amigo e levar um presente. Em uma das paradas do comboio, não deixa de cumprir a tal missão. Conhece a mulher do colega numa hora, digamos, imprópria, pegando-a em um momento que não esperava receber visitas, principalmente vindo da parte do marido que estava na guerra, ela, pois, estava em outra visita íntima. Mesa feita, cama desfeita…

Interessante a atitude do bravo, destemido e solidário herói nessa situação que se vê pego numa saia justa. O que deve ser pior em tempos de guerra? Talvez o crime maior ainda seja a traição. Trair a confiança de alguém ainda é a pior forma de matar. Armas em punho para se defender ou se morrer é justo. Pior que a dor física deve ser mesmo a espiritual. O soldado já sabia disso.

O adultério e a infidelidade são atos (in)questionáveis e / ou  (im)perdoáveis?

Pela atitude do jovem soldado conclui-se que é um crime que ele não perdoaria. Ele chega a entregar o presente do colega à esposa. Mas já na rua, decide voltar para a casa dela e pegar de volta. A mulher entende esse ato e pede-lhe que não comente o fato com o marido. Alyosha acaba dando esse presente para outra pessoa parente de alguém que está na guerra. Às vezes é necessário mentir.

Shura e Alyosha se despedem. Cada um segue o seu caminho.

E quando ele chega na aldeia para encontrar a sua querida mãe, já é hora de voltar. Ela tem intuição e certeza que seria a última vez que veria seu amado filho. O dever o chama. Ele tem consciência de sua responsabilidade de que no momento é consertar muitos outros telhados em piores estados para salvar a pátria do desabamento.

Um filme  que cumpriu muito bem o seu papel.
Karenina Rostov

Direção: Grigori Chukhraj

Roteiro: Grigori Chukhrai, Valentin Ezhov
Gênero: Drama/Guerra/Romance
Origem: União Soviética
Duração: 89 minutos
Tipo: Longa-metragem
Tipo: Longa-metragem / P&B

Elenco:
Vladimir Ivashov
V. Markova
Yevgeni Teterin
Aleksandr Kuznetsov
Elza Lezhdey
Yevgeni Urbansky
Nikolai Kryuchkov
Nikolai Kryuchkov
Antonina Maksimova
Zhanna Prokhorenko
Vladimir Pokrovsky

Sinopse: Em plena Segunda Guerra, um soldado, depois de ter destruído heroicamente dois tanques inimigos, consegue uma licença para retornar à sua terra para reencontrar a mãe. Mas a viagem, basicamente de trem, passando por várias aventuras, inclui o encontro com uma jovem por quem se apaixona.

Minha Vida Sem Mim (Mi Vida Sin Mi. 2003)

mi-vida-sin-miO que você faria tendo apenas menos de dois meses de vida? Se não estivesse só, com filhos ainda crianças. Tendo uma relação estável. Contaria a eles? Fica difícil pensar sem estar vivenciando. Até em pensar que é uma jovem com 23 anos que chegou a isso.

O filme ‘Minha Vida Sem Mim‘ não faz um drama do drama da jovem Ann (Sarah Polley). Que após uns exames recebe do médico Dr. Thompson (Julian Richings) a sua sentença de morte. O câncer já se alastrou, e se tivesse mais idade onde as células se reproduziriam mais devagar ainda poderia ter uma chance. Paradoxo, não? Se para certos casos um corpo jovem conta a favor, no dela não. Acelerava mais.

Ann então decide não contar a ninguém. Diz que está com uma anemia profunda. Por querer poupá-los das idas aos hospitais, pois poderiam querer que tentasse todos os recursos. Ann prefere viver esses seus últimos dias com eles. Uma das cenas mais comoventes é com seu marido, Don (Scott Speedman). O que ele diz a ela. Além de ser uma bela declaração de amor, me fez ficar em lágrimas por ela. Tão jovem, e já partindo dessa vida. Pedia tão pouco da vida. Mesmo assim se vê obrigada a sair dela tão jovem.

Ela então ao pensar no que irá fazer em tão pouco tempo que lhe resta, decide fazer uma lista. Para não perder tempo era melhor priorizar o que faria. Entre os itens faria algo que nunca havia se permitido fazer, como também em num que antes nem teria feito. Um seria um banho de chuva sem pressa, sem fugir dela. É o início do filme, dai não ser nenhum spoiler. (E isso é eu algo que sempre gostei de fazer, desde criança.) O que faz o filme fluir tão leve. Em uma dessas escolhas nem dá para julgá-la. Pois nenhum dogma, nenhuma regra teria subsídio para condená-la. Ela tinha pleno direito.

Ao longo do filme vamos vendo-a se despedir da vida, da sua família… Sem que pressentissem. Pois queria partir em paz com eles. Com sua mãe, uma mulher amargurada. Com seu pai, que não via a 10 anos. Das suas duas filhinhas. A todos eles, ela deixou uma lição maior: que aproveitassem mais a vida. E que lembrassem dela pelos momentos alegres.

isabel-coixet_mi-vida-sin-miConfesso que antes de vê-lo achava que iria chorar muito. Me enganei. O filme é muito bem conduzido. De uma simplicidade no contar a história que o faz belíssimo. Não há retoques a fazer. Meus Parabéns a Isabel Coixet. Um filme que vale a pena ver e rever. Destaco também a trilha sonora!

Uma última reflexão. Pegando como gancho a compulsão de uma das personagens, da fome que sentia. Onde há tantas pessoas fazendo cavalos de batalhas por tão pouco. Onde de uma hora para outra o destino prega uma grande peça. Fica a pergunta: Tens fome de que? Lembre-se que a vida é bela, mas pode ser também muito curta!

Nota 10.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Minha Vida Sem Mim (Mi Vida Sin Mi). 2003. Espanha. Direção e Roteiro: Isabel Coixet. Elenco: Sarah Polley, Amanda Plummer, Scott Speedman, Maria de Medeiros, Mark Ruffalo, Alfred Molina, +Elenco. Gênero: Drama, Romance. Duração: 106 minutos. Baseado em livro de Nancy Kincaid.

Anônimo Veneziano (Anonimo Veneziano)

É.
A beleza é o anteparo da Morte e da Loucura. Ela nos poupa a entrada num mundo onde ou desconhecemos a fala – onde a comunicação não é possível, ou é muito difícil o entendimento.

Anônimo Veneziano – baseado no romance homônimo do escritor Giuseppe Beto, tem roteiro magistralmente desenvolvido pelo diretor Enrico Salerno.
A beleza feminina de Veneza nos dá a mão para atravessarmos esta história de perda. Morte da vida, morte do amor.
A decadência de Veneza – hoje em dia já bem mais restaurada – nos ensina que o tempo destrói porém a memória se mantém intacta – lembranças, sítios arqueológicos e sem data definida que incomodam o presente de forma invasiva e surpreendente.
Um casal nunca é desfeito quando as lembranças ainda se apresentam despudoradamente.
Sempre formamos par com alguém para rodopiarmos na dança da Vida.
Um casal se desfaz. Não importa de quem foi o corte – nesse caso não gosto de usar o termo ‘culpa’. Têm um filho dessa união da juventude, vivida com amor e desejo. Agora, separados, vivem em cidades quase vizinhas; ela em outra união e ele ainda só.
O reencontro ocorre por um chamado desse ex-marido para (pressupomos) um derradeiro encontro. Ele está com pouco tempo de vida e esse pouco que lhe resta será extremamente penoso – um tumor inoperável no cérebro. Tragédia na medida certa!

A paisagem da Veneza decadente é a metáfora…ora bolas, mas que metáfora… é o belo, sedutor e apaixonado amor vivido num passado da gloriosa juventude – como todas as juventudes…
E o filme é um excelente parcour por Veneza enquanto rememoram a paixão que, numa noite, volta insistente e atrevida a unir o casal. A cama – leito de carícias ou arena de indiferenças – naquele último e lamentoso encontro, passou a ser um leito de morte: da vida e do amor. Nada mais resta a fazer senão um doloroso adeus.

Mas, Ó vós, homens de fé apoucada, o filme é lindo e ao final temos vontade de sair amando não importa quem. Porque si l’important c’est la rose, o importante é amar!

A música é enlouquecedoramente romântica. Do Concerto para oboé de Marcello, compositor italiano do século XVIII, peça belíssima e rara de ser encontrada em CD, o maestro Stelvio Cipriani recriou terna melodia para a música incidental do filme.

Florinda Bolkan, pasmem, trabalha direitinho e até ganhou um Donatello! Superior desempenho vai para seu parceiro Tony Musante, ítalo-americano que sumiu no tempo e no espaço mas jamais da minha memória. Dizem que trabalha em seriados. Pecatto!

Enrico Maria Salerno  é o personagem Zenone do “Exército de Brancaleone”; sua voz tão insinuante e carismática é a dublagem de Jesus Cristo no “Evangelho Segundo São Mateus”, de Pasolini. Que eu me lembre, o outro filme que ele dirigiu e que veio para o Brasil é “O pássaro de plumas de cristal”, também com Tony Musante.

Anônimo Veneziano. Non dimenticare mai!
Vale a pena uma ida à locadora de sua preferência. E se apaixonem, caso tenham tempo.

Por: Edith Sarmento Dutra. Blog: Bloguices-ect.

Anônimo Veneziano (Anonimo Veneziano). 1970. Itália. Direção e Roteiro: Enrico Maria Salermo. Elenco: Tony Musante, Florinda Bolkan, Toti Dal Monte, Sandro Grinfan, Brizio Montinaro, Giuseppe Bella. Gênero: Drama, Romance. Duração: 91 minutos. Classificação etária: 16 anos.

Antes de Partir (The Bucket List. 2007)

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Assisti o filme motivada por esses dois atores: Jack Nicholson e Morgan Freeman. E eles não me decepcionaram. Mais até! Parece que pediram por uma história qualquer porque o que queriam mesmo era bater uma bolinha juntos. Bateram um bolão! Com o jeito irreverente do Jack e a elegância do Morgan – ganhamos nós com essa dupla.

História do filme? Ih! Vejamos… Como diria Hitchcock: “É melhor partir de um clichê do que acabar nele.” Temos aqui uma história… divertida: Jack faz um bilionário – Edward. Dono de uma rede de hospitais; e que por uma de suas imposições… fica internado junto com o personagem do Morgan – Carter. Um mecânico; alguém que batalhou muito para dar aos filhos algo que não pode dar para si: um diploma universitário. E que mesmo dividindo o mesmo quarto no hospital recebem tratamentos diferenciado.

Você gostaria de saber o dia da sua morte? E estando ciente, o que faria?

No passado, numa aula de filosofia, Carter fizera uma lista de coisas que faria antes de “bater com as botas“- daí o título original: The Bucket List. Então ao ficar ciente que tem poucos meses de vida lembra dessa lista e a refaz. Ao vê-la, Edward pergunta o que significa. Depois diz que falta emoção naqueles últimos desejos. E a reescreve. A princípio Carter reluta achando que seriam tidos como tolos. Mas Edward o convence. Afinal, ambos tinham pouco tempo de vida.

Com o dinheiro do Edward embarcam numa viagem pelo mundo. Aproveitando os prazeres que o dinheiro pode oferecer. Entre conversas e discussões, a amizade entre eles cresce mesmo tendo temperamentos diferentes. Um ajuda o outro nesses últimos meses. Até em se descobrirem por inteiro.

Como na música, “É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte.” Embarcamos com eles nessa despedida. Enfim, peguem a pipoca, esqueçam o clichezão do roteiro e curtam esses dois grandes atores. Eu ri muito com eles. Adorei! Nota: 09.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Antes de Partir (The Bucket List) .2007. EUA. Direção: Rob Reiner. Com: Jack Nicholson, Morgan Freeman, Sean Hayes, Beverly Todd. Gênero: Comédia dramática. Duração: 97 minutos. Produção: Alan Greisman.