Meu Melhor Inimigo (The Odd Couple II. 1998)

A inimizade desses dois personagens começou de fato muito tempo atrás. Quando um deles deu guarida por uns dias ao outro amigo. Pois é! No fundo se gostam, mas por serem o oposto um do outro, quando juntos soltam faíscas. Por vezes explodem mesmo. Mas após uma separação de 17 anos eis que o destino conspira para novamente juntar esses dois amigos. Ops! Essa estranha dupla. “Meu Melhor Inimigo” é uma continuação hilária!

Que bom também que o destino conspirou para mais uma vez reunir esses dois grandes atores: Walter Matthau (1920–2000) e Jack Lemmon (1925–2001). Dando a nós um presente em ver esses dois personagens com lugar de honra em nossa memória cinéfila: Oscar Madison (Walter Matthau) e Felix Unger (Jack Lemmon). Quem viu o primeiro filme, “Um Estranho Casal” (1968), por certo amou os dois e que pela química entre eles foi na mesma intensidade. Um é o contraponto do outro.

Oscar, agora aposentado, mora na Flórida. Ou seja, a quilômetros de distância do outro que mora em Nova Iorque. Continua o mesmo: desorganizado, meio desleixado, sem se importar com a comida. E continua adorando jogar. Sendo que agora tem como companheiros de carteado, um grupo de aposentados, e mais velhos que ele. Se têm dinheiro para apostar, é o que importa. Mas continua um bom camarada!

Felix continua com suas manias um tanto quanto esquisitas até por um desconhecimento do quadro clínico dele: nosso e dele próprio. Já que para ele sua compulsão por limpeza é algo normal. Um hipocondríaco na busca de uma cura de algo que não tem. Leiga que sou me arrisco a dizer que tem TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo). A sua ingenuidade nesse seu modo de ser, ter aparentando uma carência que acaba comovendo o Oscar.

Brucey (Jonathan Silverman) liga para seu pai, Oscar, avisando que irá se casar em poucos dias. Pedindo que vá ao casamento. A primeira bomba vem com quem será a noiva. Justamente com Hannah (Lisa Waltz), filha de Felix. Passado o primeiro impacto, vem a segunda bomba. Oscar e Felix se encontrarão num aeroporto na Califórnia e de lá seguiriam num mesmo carro alugado até o local da cerimônia.

O que seria algo fácil até para duas crianças, para Oscar e Felix uma pequena viagem de duas horas se prolonga por dois dias. Com muitas discussões. Confusões que hora patrocinada por um, hora pelo outro. De levarem um delegado (Richard Riehle) a testar seus próprios limites de paciência, por não querer queimar o próprio filme: está tentando uma reeleição. Uma interminável e divertidíssima viagem!

Desliguem-se de tudo a volta. Mas principalmente do politicamente correto, já que a história tira proveito cômico dos males do personagem Felix. É diversão garantida! Eu, mesmo revendo, caio em deliciosas gargalhadas sempre. Amo de paixão!
Nota Máxima!

Como brinde: O tema musical do primeiro que também está nesse:

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Meu Melhor Inimigo (The Odd Couple II. 1998). EUA. Direção: Howard Deutch. Roteiro: Neil Simon. +Elenco. Gênero: Comédia. Duração: 97 minutos.

A Separação (Jodaeiye Nader az Simin. 2011)

Por Alex Ginatto.
Pude assistir ontem a este surpreendente filme. De início acho que fui um pouco preconceituoso por se tratar de um filme iraniano, mas o enredo se aplica a qualquer lugar do mundo, talvez se focarmos um pouco menos na religião.

Realmente conseguimos sentir a aflição de todos os lados:
-o marido orgulhoso que não quer que a esposa se vá, mas também não diz isso a ela;
-a esposa, preocupada com o futuro de sua filha, querendo sair do país, mas não suportando a ideia de que o marido não concorde com ela;
-a filha em uma época complicada, diante da separação dos pais, se vendo como objeto de disputa;
-o senhor que não pode vencer o corpo e mente desgastados pela doença;
-o casal mais pobre entre a religião e o dinheiro devido aos credores.

O filme se mostrou muito maior do que se imagina pelo título e acho que a ideia do diretor ao finalizar sem um lado é justamente focar no todo e não somente na separação do casal.

Tudo o que acontece durante o filme é fruto de mentiras e decisões precipitadas iniciadas pela saída de Simin de sua casa. Ou seja, a separação é o início de tudo, e o filme termina com a certeza de que o que fica pendente durante todo o seu desenrolar, ao contrário do que parece, tem um fim, se concretiza.

Não sei se para rever, mas para se pensar e aplicar em nossas vidas.

Excelente filme!
Nota 8.

A Separação (2011). Ou: o Declínio da Família Contemporânea.

E quem estaria com a razão? Todos… Ninguém… Pois tanto em termos da natureza humana, quanto da sociedade, tudo dependerá de seu próprio ponto de vista.” (Asghar Farhadi)

O filme “A Separação” traz em primeiro plano uma reação em cadeia devido a separação de um casal. Pois quase todos os envolvidos se viram na obrigação de mentir, ccomo também de omitirem certos fatos. E que para alguns deles o que antes parecia ser uma mentirinha de nada, tomou um rumo inesperado.

Agora, seria mesmo uma casualidade de chegarem ao ponto onde chegaram? Que ao mentirem crendo ser com boas intenções não haveria implicações? Até porque para manter a mentira que se contou terá que obter pelo menos o silêncio de outros envolvidos. E estando de posse da mentira do outro, teria como se eximir da própria? O ato de mentir traria muito mais o peso do pecado ou o do perjúrio? Mas e quando Religião e Estado ocupam o mesmo estado de direito? Mais! E quando o Sistema Judiciário, sobrecarregado, se perde nas próprias malhas da Lei? A sucessão de erros fora por que alguém não segurou a onda? Mas quem, ou melhor, o que foi o ponto inicial desse drama familiar? Que terminou envolvendo outras pessoas. Onde inocentes ou culpados todos pagaram um preço.

Além dessas reflexões, o filme também traz um outro tema: o de ter um membro da família já idoso, com o agravante de precisar de atenção e cuidados por quase 24 horas diárias. Interná-lo, ou mantê-lo em casa? Quando a renda familiar não permite colocar profissionais para esses cuidados, aceita-se qualquer um? Mas nesse filme vemos um outro ponto. A mulher ganhando mais que o marido, e sendo o idoso o pai dele. Onde eu acho que tudo começou. Sobrecarregada, mesmo gostando do sogro, ela tomou uma decisão precipitada. O marido que antes já não tinha aceitado que a esposa pagasse por enfermeiro, não seria com a nova decisão dela que ele mudaria de opinião. Numa de que é o “macho que sustenta a todos da família”? Mas ele também se precipita aceitando a primeira que apareceu para tomar conta do pai. E o pobre do idoso, sem querer, termina por ser a causa da separação do casal.

A separação veio por mais uma decisão sem pensar de Simin (Leila Hatami) que vira na permissão dos vistos (passaportes) uma chance de sair do Irã. Acontece que o marido, Nader (Peyman Moadi), não quis abandonar o próprio pai (Ali-Asghar Shalbazi); o tal idoso, e acometido do Mal de Alzheimer. Então, também orgulhosa, ela pede a separação de direito do casal. Até porque Nader concordou com o desenlace deles, mas  não concordou que ela levasse a filha do casal: Termeh (Sarina Farhadi, filha do Diretor do Filme: Asghar Farhadi.). E que essa por sua vez, já uma adolescente, não queria perder os estudos.

Simin pensou que assim intimidaria o marido. O que talvez teria conseguido se houvesse mais diálogo entre o casal. Já com quase 15 anos juntos, estavam à beira de uma crise, e que pelo jeito nenhum dos dois percebeu. A seu favor, havia o peso de uma sociedade machista e autoritária, e de tradição centenária. Dai o fato de ter focado mais no destino final – o de viverem em outro país -, do que ir preparando terreno aos poucos. Sufocada, não pensou direito.

Tanto um quanto o outro usaram a própria filha como desculpa. Grande erro! Pior! Jogaram nos ombros dela a decisão final. Simin via em sair do pais um futuro não tão rígido para Termeh. Já para Nader ele achava o país o melhor lugar para criar a filha. Mas no fundo, ambos sabiam que a filha os manteriam pelo menos próximos um do outro. E é algo que machuca: em ver que ainda havia amor entre esse casal.

Termeh, em meio a esse fogo cruzado, fica sem saber o que fazer. Como agir. Talvez por conta de um temperamento calado, muito mais propensa aos rigores da tradição do país, do que a própria mãe, ela foi cozinhando os dois em banho-maria. Desejava a reconciliação deles.

Em “A Separação” vemos como pano de fundo um Irã de uma classe média alta. Se não fosse pelos lenços cobrindo as cabeças das mulheres, o lugar passaria por um bairro em algum país do Ocidente. Mas avançando o olhar, ele é definido como sendo um com tradição Islã pela modo como tratam as mulheres.

Agora, como em todo lugar do planeta, se há a classe que se dá o luxo de pagar por empregados domésticos, também há esse outro contigente advindos das classes mais baixas. Onde moram no filme é ilustrado pelos ônibus: significando que moram longe dali. O que pesa também para essas pessoas: distância + custo das passagens + cansaço por essa jornada…

Personificando esse proletariado teremos um outro casal, e que serão envolvidos nessa separação inicial. A primeira envolvida será Razieh (Sareh Bayat), com a filhinha. Depois, seu próprio marido: Hodjat (Shahab Hosseini). Se para o primeiro casal, nem o fato de “não faltar nada em casa” pesou para manter o casamento, o mesmo foi um fator preponderante em salvar a própria união. É que desesperada em ver o marido, há meses desempregado, ter sido levado pelos credores, Razieh mesmo grávida, mesmo indo contra a sua religião, implora pelo emprego a Nader. E ocultando tal fato do marido.

Nader tendo que ir trabalhar, não querendo ser render de que precisaria da esposa de volta, ciente também de que estaria indo contra os princípios do islamismo, aceita que Razieh tome conta do pai, e da casa. Ela por sua vez fica ciente de que o idoso Alzheimer. Logo, em algum momento teria que tocar nele. Num homem. E quando tal hora chega, é um quadro patético em vê-la ao telefone querer saber se isso seria pecado ou não.

Não ficando só nisso, ainda há lhe pesar… Pela distância percorrida até chegar nesse emprego, pela gestação em período de cuidados, pela jornada dupla de trabalho, Razieh coloca a filhinha para ajudá-la no serviço da casa. A criança ao descer as escadas com o lixo, acaba entornando-o. Uma moradora do prédio impõe que Razieh limpe, e logo. Aturdida, ela esquece do idoso. E…

A partir daí mais erros se sucedem. Como uma avalanche. Mentiras e omissões em lugar de diálogos francos e respeitosos. E quando Hodjat descobre tudo, a teia de situações conflitantes aumentam. A grande questão que se estampa: Quem iria dar um freio aquilo tudo? Para no mínimo tentar uma conciliação geral. Um meio-termo onde ninguém achasse que não teve razão no que fez.

Não pude evitar em pensar na crise atual e no mundo real. Onde estão aumentando a população pobre dos países tidos como do primeiro mundo. Como também, que mesmo criticado por muitos, o Brasil com o seu Bolsa-isso-Bolsa-aquilo fez foi diminuí-la. Então, no filme, para esse casal de baixíssima renda, o próprio país era ainda mais opressor do que para o outro. Não havia o Bolsa Família do Ocidente, por exemplo.

Mas tanto Estado quanto Religião, em geral, incentiva em se ter uma família. Não importando se terão como mantê-la ou não. Não é de boa política o planejamento familiar. Algumas tradições ainda incentivam em trazer mais filhos ao mundo.

Para o casal pobre o desemprego viera já estando casados e com uma filha nascida e outra a caminho. Pesando ainda o fato de que psicologicamente Hodjat não estava tarimbado para ser um pai, nem em constituir uma família. A recessão que passava só trouxe a tona seu temperamento explosivo. Com tudo isso, o casal não apenas se envolveu, como também Hodjat quis tirar proveito de um fato. Já que com a indenização, teria como se livrar dos credores.

Além da crise financeira poderia se pensar que é por culpa de uma cultura machista? Se sim, ela não é privilégio das de tradição Islã. As do Ocidente, mesmo que veladamente, também se calca nela. Se alguém achar que não, que preste atenção nas propagandas de algum produto voltado ao lar, a família, só como exemplo. Eles colocam a mulher como compradora compulsiva, ou como uma “do lar”. Já para o homem, o mesmo produto é vendido como um hobby. Então a culpa não seria por ocidentalizar os costumes locais.

Para mim, o que Asghar Farhadi quis mostrar em “A Separação” é que a instituição Família que está em falência.

Que não importa se no Ocidente, ou no Oriente, é esse laço que precisa ser revisto. Ser pesado. Ser reavaliado sempre. O “sombrio” sentar para discutir a relação precisa acontecer. E que em vez de já numa mesa de um Juiz da Vara de Família, por que não com a ajuda de alguém da Área Psico, assim evitando chegar as vias de fato. Tem uma certa hora que o melhor a fazer é sentar e conversar. Saber o que cada um ainda estaria procurando nessa relação. O que, ou em que, cada um cederiam para uma boa convivência. Pesar se é o ser ou o ter que é alicerce da mesma. É por aí. Já que para cada casal também há conflitos únicos.

Não sei se por conta de não sofrer censura do governo e com isso não teria o filme liberado que Asghar Farhadi deixou o final em aberto. Os créditos subindo, e de cá ficamos sem saber a sentença final. Mas que para mim houve sim um desfecho. Como citei anteriormente: ele quis mostrar o declínio da instituição Família. Em qualquer classe social, e a bem da verdade, em qualquer cultura também!

O filme deixa uma vontade de rever logo em seguida. Por ficar a sensação de ter perdido tal cena quando mais a frente ficamos ciente de que foi ela que levou a tal consequência, a tal mentira. É uma uma mentira levando a outra, e depois a outra, e mais outra… A trama vai se revelando aos poucos, como num Thriller. A impressão de não termos prestado atenção no fato anterior, é por também querer conhecer, saber de todos os detalhes para melhor avaliar; para então ver se havia razão de ser. O ter como ponderar, como numa cena entre Nader e Termeh. Na realidade, sabemos como o fato anterior se deu. Julgá-los já se perde a razão de ser. Até porque: está feito! Como também não é de nossa alçada.

Então é isso! Com um elenco afinado – de querer vê-los em outros trabalhos -, temos em “A Separação” um filme Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

A Separação (Jodaeiye Nader az Simin. 2011). Irã. Direção e Roteiro: Asghar Farhadi. Gênero: Drama. Duração: 123 minutos.

Série de Tv: Nip/Tuck – Estética

O que você não gosta em si mesmo?

Essa é a primeira pergunta que Nip/Tuck faz. Afinal, o quanto a beleza é importante para você?

Fenômeno de audiência nos Estados Unidos (pelo menos nas primeiras temporadas) e exibida durante a madrugada no SBT, se Nip/Tuck não for a série mais polêmica já feita, então deve estar entre as dez dessa classificação. Estamos falando de um verdadeiro desfile de temas pesados que engloba, dentre tantos exemplos, ética, violência, pedofilia, estupro, psicopatia, homossexualismo, corrupção, drogas, suicídio, divórcio, pornografia, preconceito racial, críticas à igreja e, é claro, o que não poderia faltar, Estética (que não por acaso, é o nome da série no Brasil, escolha perfeita).

Cada episódio é um paciente diferente, mas não dá para se referir a Nip/Tuck como uma série médica do tipo House. Cada paciente aqui sofre de algo muito mais do que externo, o que querem operar realmente são seus egos, querem transformá-los em algo que admirem, o que na maioria das pessoas remete à beleza e aproximação do próximo. A estética se faz bastante presente, pois tudo gira em torno de aceitação social, logo a aparência física é o alvo principal de críticas da série.

A premissa em torno de dois cirurgiões plásticos bem requisitados de Miami, Sean McNamara (Dylan Walsh) e Christian Troy (Julian McMahon). Eles são sócios numa clínica chamada McNamara/Troy, onde operam pacientes, até mesmo, gratuitamente (dependendo da situação). Além de sócios, Sean e Christian são melhores amigos. Christian é quase parte da família, apesar de ter se envolvido com Julia (Joely Richardson), esposa de Sean, na faculdade. Sean e Julia têm um problemático filho adolescente, Matt (John Hensley), que não por acaso se entende melhor com Christian. A vida dos pacientes sempre afeta a vida social dos sócios, gerando situações em que haverá muito mais do que apenas ética para discutir. Christian usa seu charme para seduzir o máximo de mulheres que conseguir, enquanto Sean precisa lidar com os problemas da família e se salvar com Christian de alguns problemas sérios que acabam entrando ao longo dos episódios.

É claro que algumas instituições voltadas para a educação televisiva já tentaram fechar a série pela quantidade de temas polêmicos. Mas dentre todas as séries de sucesso por aí, talvez essa seja a que as pessoas mais precisem ver, para aprenderem a enxergar as coisas sob outro ângulo, sem muita alienação. Cada episódio apresentado poderia gerar uma quantidade transbordante de matérias nesse site, pois são carregados de mensagens sociais que precisam ser alertadas. Se quiserem exemplos mais objetivos, leiam o parágrafo abaixo (que há spoiler).

Logo nos primeiros episódios nos deparamos com uma situações assustadoras, um homem fugindo de seu país tentando mudar seu rosto para não ser preso por ter estuprado uma menina de 5 anos. Os cirurgiões não sabiam da verdade e fizeram a cirurgia (já que também estavam fazendo por um preço bem mais alto do que o justo), após isso somos apresentados ao pai da criança, que ameaça Sean e Christian de contar para a polícia. Em troca eles terão de operar mulheres vindas de outro país transportando drogas dentro de implantes de silicone. Essas jovens foram enganadas pelo traficante, que prometia uma carreira de modelo para elas nos EUA. Se Sean e Christian contarem a verdade para a polícia podem ser presos e jamais operar novamente, se permanecerem quietos terão que abraçar a corrupção. Julia, com praticamente 40 anos, está tentando voltar à faculdade (que largara na época por conta da primeira gravidez), lá fará amizade com um jovem que a desejará. Matt está passando pela experiência da perda da virgindade e quer fazer uma circuncisão antes que aconteça, porém descobre que sua namorada é lésbica.

O debate de Nip/Tuck vai além de qualquer questão clichê. Se você já conhece a série, sabe do que estou falando. Há certas coisas tão abomináveis que ela denuncia que nos deixa indignados só de lembrar, como por exemplo a clitoridectomia (ainda há mulheres que sofrem de castração genital por obrigação religiosa). Mas são coisas que precisam ser mostradas para que no futuro não aconteçam novamente.

Se há telespectadores que assistem a série por conta dos temas sérios, também há aqueles que são atraídos por conta da sensualidade dela. Em relação ao sexo, ela não se limita ao expor a vida sexual dos personagens. Aqui não há conflitos prolongados de adolescentes (Matt serve para isso, mas não é o protagonista e seus problemas têm argumentos, ao contrário de algumas séries teens que não quero citar), logo o sexo é descompromissado e puramente por prazer, sem aquele estardalhaço de triângulos amorosos que estão na moda. O drama da série vai muito além de com quem o personagem está dormindo, as questões sociais não cessam, o que mantém a pessoa sempre refletindo sobre as críticas.

A interpretação dos atores é excelente, de uma qualidade quase inédita na TV. Cada um combina naturalmente com seu personagem. Além deles há sempre a participação de alguma estrela por temporada. Já passaram por lá Alanis Morissette, Famke Janssen, Rhona Mitra, Brooke Shields, etc. E o mais interessante é que não são meras participações, elas interpretam personagens coerentes que realmente têm a ver com a história. Por exemplo, Famke Janssen rouba a cena como Ava Moore, uma das personagens mais marcantes de toda a série.

Uma das características mais importantes da série são as cirurgias plásticas. Previamente aviso para quem for assistir que é melhor se preparar para o sangue, pois eles mostram a maior parte das cirurgias ao som de alguma música legal (pois é, a trilha sonora também está de parabéns, há muita coisa boa ali). Entretanto isso até chega a ser bacana, o público poderá conferir o que realmente acontece numa mesa de cirurgia, assim vê se “vale a pena” passar por aquilo apenas por estética.

Antes de concluir, queria relembrar o fiasco de uma novela da Record (Metamorphoses) que apostou nas cirurgias plásticas na época em que Nip/Tuck estava no auge. E olha que tinha até a incrível Zezé Motta no elenco, nem ela salvou.

Nip/Tuck foi criada por Ryan Murphy (atual criador de The American Horror Story). Indicada a vários Emmys e vencedora do Globo de Ouro na categoria de Melhor Série Dramática, do Emmy de Melhor Maquiagem para Série/minissérie/filme, do Saturn Awards de Melhor Ator para Julian McMahon, etc.

Por Alexandre Cavalcante da Silva (Alex).

Porque eu Não Gostei de “Amor a Toda Prova” (Crazy, Stupid, Love. 2011)

Talvez por eu ter ido com muita expectativa até devida as críticas elogiando o filme. O certo é que esperei mais e acabei me decepcionando com “Amor a Toda Prova“. Teve momentos de fazer força para não cochilar. Alongaram por demais a estória. Se enxugassem bem, ele até que daria um bom sessão da tarde. E talvez assim, eu teria vontade de rever.

Mas o motivo principal de eu não ter gostado foi por conta do protagonista: de terem escolhido o Steve Carrel. Não é porque eu não goste dele, eu até gosto. O lance foi que “Amor a Toda Prova” ficou como um: os days after do “O Virgem de 40 Anos” se ele tivesse tido a chance de transar mais jovem. Até me peguei a pensar se com outro ator eu teria gostado do filme por um todo. E quando isso ainda acontece durante o filme, já depõe contra. Foi no meio do filme que a estória desse aqui se perdeu em querer aproveitar esse seu outro personagem. Ficou como contar a mesma piada seguidamente.

Sei que seu personagem em “O Virgem de 40 Anos” ficou como marca registrada. Fará parte da memória cinéfila de quem viu. De ser até o primeiro filme que vem à mente ao ouvir seu nome: Steve Carrel. Nem a sua performance em “Agente 86” não terá a mesma intensidade nesse tipo de associação, já que para os fãs da Série de Tv será o rosto de Don Adams que será (e)ternamente lembrado como o Maxwell Smart.

O que é uma pena! Carrel é um ótimo ator. Só para citar um exemplo de um perfil parecido ao de “Amor a Toda Prova“, onde ele faz um cara romântico, ligado a um único amor, um pai preocupado com quem a filha namora…, mas sem cair no caricatural, nem em cópia, temos ele em “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”. Onde está ótimo, e num filme gostoso de rever!

Para mim, em “Amor a Toda Prova” apelaram atrás de faturamento nas bilheterias, já que na quase totalidade das cenas, seu personagem, o Cal, parecia ter pulado do “O Virgem de 40 Anos”. E nem era preciso! Pois seu personagem já mostrava o seu perfil logo no início com a cena melodramátrica quando salta do carro em movimento por não querer ouvir as explicações da esposa ao querer o divórcio. Mais do que orgulho ferido, ficou como “meu mundo caiu”. Por ser justamente um cara muito romântico. E o filme deveria ter seguido por ai, com um roteiro original. De acordo com o título original do filme: em que também se faz coisas estúpidas em nome do amor.

Mas o roteiro quis trazer as gracinhas do outro filme, não apenas se perdeu como desperdiçou boas estórias na trama, e que na verdade nem eram situações paralelas já que todas se interligavam; e de acordo com o título. A principal era com seu casamento sendo desfeito já no início do filme. Uma relação de décadas, cuja chama se apagou. Até que durou bastante para um casal tão sem sal: não houve química entre Steve Carrel e Julianne Moore. Até por isso foi desperdício em plagiar esteriótipo de outro filme.

Mesmo que fosse um “discutir a relação” com muito atraso, ainda assim era válido. Poderia sair lances engraçados, sem forçar barras. Ficou desconexos as atitudes patéticas dele e fora de realidade as estória da Emily. Uma dona de casa que não percebe que tem alguém cuidando do jardim, por exemplo. Que mesmo tendo tido uma relação extra-conjugal com um colega de trabalho, não a fez mudar internamente. Só lhe deu um sentimento de culpa pela traição, dai pediu abruptamente o divórcio. Na verdade, essa traição veio mesmo como gancho para as cenas seguintes. Ou, para aproveitaram-se de “O Virgem de 40 Anos”.

O filme deslancha com a entrada do personagem de Ryan Gosling, o Jacob. Esse, já não aguentando mais os repetitivos e em bom volume desabafos do Cal, resolve ajudá-lo a encontrar sua auto estima. Foi quando pensei: Legal! Teremos um Pigmaleão atual. Jacob até consegue mudar, melhorar a aparência do Cal. Esse por sua vez, tenta seguir os passos do mestre, mas a sua essência o atrapalha. É onde fica uma cópia do outro filme.

Outro ponto alto, mas que depois também desperdiçaram, foi com a personagem de Marisa Tomei. Se os opostos costumam atrair, os iguais tendem também. Sendo que nesses casos, periga um ver o outro como uma tábua de salvação. E com isso não ter o clima só de “ficar”, pelo menos para o que estiver se sentindo mais no fundo do poço. Foi o que aconteceu com Kate (Marisa Tomei) após passar uma noite com Cal. Mas o roteiro quis mais um gancho para o Cal agir como o do outro filme. E depois, a gracinha virou algo grotesco, para não dizer estúpido, de Cal para Kate. Algo cafajeste, e nada a ver com a personalidade dele. A cena seria aceitável entre adolescente. Enfim, me deu pena de ver.

Assim, após as aulas de Jacob, onde Cal tenta colocá-las em prática, o filme cai num tédio. E nem deveria, já que plagiavam “o Virgem de 40 Anos”, a pretexto de fazer, trazer a graça desse outro para o atual. Voltando a esquentar quando Jacob volta com uma novidade: estava realmente apaixonado por alguém.

As outras duas paixões mostradas no filme, até que ficou bonitinho. A do filho (Jonah Bobo) de Cal pela babá (Analeigh Tipton). E da babá pelo Cal. Já o do colega de Emily para com ela só veio mesmo para o Cal repetir exaustivamente o nome do rival: David Lindhagen. Tanto a estória se perdeu, como o próprio personagem. Desperdiçando o ator Kevin Bacon. Emma Stone cujo personagem vira a cabeça de Jacob, também foi desperdiçada, ela e a estória.

Então, em vez de loucuras por um grande amor, TUDO foi para mostrar as tentativas do Cal em paquerar, mas como cópia de um outro importante personagem de Steve Carrel. Minha nota é 07.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love. 2011). EUA. Direção: Glenn Ficarra, John Requa. Gênero: Comédia, Drama, Romance. Duração: 118 minutos. Classificação etária: 12 anos.

O Apedrejamento de Soraya M. ( The Stoning of Soraya M.) 2008

O Apedrejamento de Soraya M.” narra a história angustiante de uma mulher condenada à morte depois de ser acusada pelo marido por ser infiel. Soraya, na verdade, era regularmente abusada, insultada e espancada pelo marido, que queria se casar com outra mulher, 19 anos mais jovem. O filme é baseado no livro do jornalista Friedoune Sahebjam, que vale a pena ser lido antes ou depois do filme.

O livro de Sahebjam é Testimonio — de narrativa de teor coletivo, isto é, o autor descrever o drama de Saraya a partir do ele ouviu de Zahra (tia da vitima), vivida no filme, pela atriz iraniana Shohreh Aghdashloo. Zahra fala de Soraya, e sobre Soraya, assim como representa a cultura da sua comunidade, mas será que tudo escrito por Sahebjam, é autêntico?. Tanto no livro quanto no filme de Cyrus Nowrasteh, Zahra é vista sobre um ponto de vista político, isto é, ela fala e representa todas as mulheres  abusadas moral, fisica, e psicologicamente, sendo elas muçulmanas ou não. Ao representar Soraya, Sahra não abandona a sua responsabilidade contra a injustiça que a sua sobrinha foi vitima, pois segundo os fatos, Soraya era inocente.

Dividido pela crítica, “O Apedrejamento de Soraya M.” foi pouco visto nos cinemas, mas é acima da média. O elenco é muito bom,  destacando rostos conhecidos como o de Aghdashloo, e James Caviezel, que faz o jornalista Freidoune Sahebjam. Além disso o filme tem um lindo trabalho de fotografia assinado por Joel Ransom e, John Debney escreveu uma emocionante trilha sonora. Mas a força do filme, está  no seu tema: “crimes de honra,” embora para muitos seja sobre o papel dos extremista islâmicos, e o papel na mulher.

Foi difícil para eu assistir esse filme. Diria que por ser baseado numa história verdadeira, o diretor Cyrus Nowrasteh exagerou na crueldade, que muito me fez lembrar da violência que Mel Gibson usou e abusou em “Paixão de Cristo”(2004)— não por acaso, ambos os filmes foram produzidos por Steve McEveety. Quase não consegui dormir depois das cenas mostrando Soraya ser parcialmente enterrada viva, e brutalmente apedrejada até a morte por uma multidão de homens, que incluiu seu próprio pai, marido e dois de seus filhos. Depois, me perguntei o porque um filme como este, com 20 minutos de violência que retrata a morte lenta de uma mulher “real” não é considerado tão violento? Os retratos de atos brutais de violência baseados em casos reais me vem como uma verdadeira catarse— quando o filme terminou, me senti purificado por causa da descarga emocional que essa história me provocou, e ao mesmo tempo com um vontade de gritar, de expressar a minha revolta.

Vamos a trama: Ali, o marido abusivo, pede ao mulá (nome dado ao líder da mesquita, mas também é como o prefeito da comunidade) a convencer Soraya a lhe conceder o divórcio. Ela se recusa. Em seguida, o mulá propõe que Soraya se torne amante de Ali, em troca de proteção e apoio financeiro para cuidar dos filhos. Em meio termo, após a morte súbita da esposa de um vizinho, o mulá pede a Soraya para trabalhar na casa do viúvo. E, assim, Ali articula algo para se livrar da esposa: acusando-a de dormir com o vizinho. Entre chantagem e mentiras, o destino de Soraya foi traçado.

Tem uma cena de “tribunal”, onde os homens da lei, baseado no sharia—  a lei sagrada do Islã—,  decidem o destino de Soraya: Ser condenada a morte por apedrejamento. É perturbador vê como os radicais islâmico subvertem o Alcorão para justificar assassinatos tortuosos, pois em nenhum lugar no livro sagrado do Islã, é mencionado o apedrejamento como uma punição. É sabido que poligamia  é parte da cultura islâmico, por exemplo:

E se tu ficares apreensivo por não seres capaz de fazer justiça aos órfãos, podes se casar com duas ou três ou quatro mulheres da tua escolha. Mas compreendes que talvez não sejas capaz de fazer justiça a elas, então se case apenas com uma mulher…” (Sura 04:03, minha tradução)

O Alcorão ensina que o homem dever ser responsável pelas suas mulheres, mas a destaca que haja a desigualdade de sentimentos, então o homem  não é obrigado a ter 4 esposas. Allah fortemente proíbe o sexo fora do casamento, afirmando que os crentes não deve cometer adultério ou fornicação (17:32, minha tradução). A maioria dos muçulmanos acreditam que o Sharia estabelece as revelações divinas encontradas no Alcorão, e nos exemplos dados pelo profeta Maomé. Mas a lei do Sharia diverge quanto ao que exatamente ela implica. Os modernistas, os tradicionalistas e fundamentalistas todos têm opiniões diferentes do Sharia, indo além do que está no Alcorão.

A partir do topo a esquerda: a lapidação iraniano real, o apedrejamento na Somália. Embaixo à esquerda: a lapidação na Somália, o apedrejamento do Oriente Médio. Centro: a verdadeira Soraya Manutchehri aos 9 anos de idade.

No Código Penal iraniano, uma mulher casada não tem direito ao divórcio, que é um privilégio reservado para o marido. As mulheres não têm direito da guarda dos filhos após sete anos de idade, como resultado, as mulheres podem obter o divórcio se provar que seus maridos sejam abusivos ou viciados, mas optam a não se separar, temendo a perda de seus filhos. Um homem pode casar com até quatro esposas ao mesmo tempo, e pode estabelecer um relacionamento sexual com outra mulher por meio de um único casamento temporário sem as exigências de registro de casamento. Assim, se um homem está sexualmente insatisfeito, e num relacionamento infeliz, ele tem muitos caminhos abertos para dissolver o casamento.

É inaceitável que alguém seja condenado a ser apedrejado até a morte, mas é ainda mais inaceitável que este castigo seja dispensado às mulheres. E, mesmo se Soyaria tivesse sido infiel ao marido, seria justo apedrejá-la?  O filme ainda  assim seria cruel. Não se justifica a crueldade das leis do sharia.  Triste que a poligamia, ou o adultério clandestino em outras religiões e civilizações, ainda reduzem a mulher a uma posição subalterna, sendo violentadas e mortas pelos nojentos “crime de honra.”

Se você é como eu, que sofre com filmes que retratam o sofrimento humano, especialmente aquelas baseados em uma história verdadeira, vejam “O Apedrejamento de Soraya M” e aproveite para assistir esse vídeo no youtube com Mozhan Marnò, e o diretor Cyrus Nowrasteh: 

Nota: 7

“O Apedrejamento de Soraya M.” ( The Stoning of Soraya M.) 2008. Alemanha / Inglaterra. Direção Cyrus Nowrasteh; Roteiro: Betsy Giffen Nowrasteh ; Elenco: Shohreh Aghdashloo ( Zahra), Mozhan Marno( Soraya), James Caviezel ( F. Sahebjam), Ali Pourtash ( Mula). Gênero: Drama. Duração: 116 minutos.