O Mercado de Notícias (2014)

o-mercado-de-noticias_posterJorge-Furtado_DiretorPor: Fernando Nogueira da Costa.
Assisti, no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, o documentário – O Mercado de Notícias – sobre jornalismo e democracia dirigido por Jorge Furtado. O filme traz os depoimentos de treze importantes jornalistas brasileiros sobre o sentido e a prática de sua profissão, o futuro do jornalismo e também sobre casos recentes da política brasileira.

O surgimento do jornalismo, no século 17, é apresentado pelo humor da peça “O Mercado de Notícias“, escrita pelo dramaturgo inglês Ben Jonson em 1625. Trechos da comédia de Jonson, montada e encenada para a produção do filme, revelam sua espantosa visão crítica, capaz de perceber na imprensa de notícias, recém-nascida, uma invenção de grande poder e grandes riscos.

O Mercado de Notícias é composto por três blocos:
1- a encenação da peça de Ben Jonson,
2- entrevistas com os 13 jornalistas e
3- mini documentários que ilustram os temas debatidos.

o-mercado-de-noticias_03Jorge Furtado estudava medicina quando largou a faculdade para cursar jornalismo. Depois abandonou a profissão para fazer cinema. Segundo o diretor, ele tinha uma dívida com o jornalismo e recentemente sentiu vontade de discutir a imprensa. Pesquisando sobre o assunto, ele descobriu uma peça de 1625, escrita por Ben Jonson. No Brasil, a peça nunca havia sido encenada e não tinha tradução. Jorge Furtado e a professora Liziane Kugland traduziram a peça e o diretor enviou o material para 13 jornalistas que ele admirava o trabalho: Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Janio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Mauricio Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira, Renata Lo Prete.

o-mercado-de-noticias_jornalistasBOB FERNANDES: “Não conheço nenhum caso recente de censura do Estado, que tanto temem. E eu conheço, e qualquer jornalista conhece, centenas de casos de censura feita pelos dono do meio de comunicação. Como é que as pessoas não dizem isso com todas as letras?

CRISTIANA LÔBO: “Eu tenho que conversar com o que vem me contar a notícia e com aquele que corre pra não contar a notícia. O nosso desafio é esse, ter os dois lados e conseguir contar o enredo o mais próximo da realidade possível.”

FERNANDO RODRIGUES: “O bom jornalismo vai sobreviver. Sempre que há uma demanda na sociedade para produto de qualidade, para um bom jornalismo. Não importa a plataforma onde ele esteja. Vai surgir algo novo onde as técnicas do bom jornalismo vão prevalecer.”

JANIO DE FREITAS: “Eu tenho uma esperança, que não é grande, de que as pessoas se deem conta de que o jornalismo depende dos jornalistas.”

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO: “As empresas jornalísticas precisam entender que não vendem informação. Elas vendem credibilidade. Quando você compra o jornal, a revista, assiste o telejornal ou o portal na internet, você tá indo atrás de alguém que você possa acreditar.”

LEANDRO FORTES: “Todo mundo que te passa informação tem o interesse. Não existe fonte sem interesse. O que você precisa fazer é filtrar esses interesses, é saber se o interesse de quem passa é convergente com o interesse público.”

LUIS NASSIF: “Muita informação sem estar organizada, estruturada e hierarquizada, não é nada. Então o papel do jornalista é pegar aquele monte de informação, aquela montanha de informação, organizar, estruturar e dar uma lógica.”

MAURÍCIO DIAS: “O jornalismo brasileiro tem uma neurose: ele não se aceita como agente político. Aí ele se refugia, de uma maneira geral, naquela história da isenção da imparcialidade e que expressa o interesse da sociedade.”

MINO CARTA: “O que há de ser um jornalista? Esse homem que conta a verdade factual. Não é? Para garantir a sobrevivência humana. É uma questão de sobrevivência do homem. A defesa da verdade.”

PAULO MOREIRA LEITE: “Quando o jornalismo só quer confirmar suas próprias convicções, é um jornalismo feito com base em preconceitos. Os piores caras do mundo foram os caras que só queriam confirmar seus preconceitos.”

RAIMUNDO PEREIRA: “Esse negócio de você buscar o novo tem um mistério. Porque na aparência, tem milhares de novidades todos os dias, em todos os cantos. Cabe ao jornalista selecionar e ver aquilo que realmente é novo, aquilo que reorganiza o passado.”

RENATA LO PRETE: “O jornalista vê, escuta e conta. E se não vê com atenção e não escuta de fato, contar fica muito difícil.”

o-mercado-de-noticias_02Ao assistir o filme, impressiona como a peça escrita há 400 anos é tão atual trazendo temas que ainda hoje são debatidos, como o sensacionalismo, o antijornalismo e interesses econômicos. Há também o paralelo entre a tecnologia, já que Ben Jonson escreveu sua obra em meio a revolução da invenção da imprensa e atualmente o jornalismo vive a revolução digital.

Entre a encenação da peça e as entrevistas, há pequenos documentários em que o cineasta faz um trabalho jornalístico apontando falhas jornalísticas recentes. Com bom humor, ele relembra casos escandalosos de manipulação de falsas notícias, dando argumentos para os que denunciam o PIG: Partido da Imprensa Golpista. Eu prefiro dizer que a “grande” imprensa brasileira dá apenas um PIO: Partido da Imprensa Oposicionista.

o-mercado-de-noticias_04Em março de 2004, o jornal Folha de S. Paulo publica na capa de sua edição de domingo (07.03.2004), sob o título “Decoração burocrata”, uma reportagem informando que um valioso “desenho do pintor espanhol” Pablo Picasso “passa os dias debaixo de luzes fluorescentes e em meio à papelada de uma repartição do governo federal”, dividindo sua “moldura com restos de inseto”. Na foto, além da reprodução do supostamente valioso desenho, um retrato do Presidente Lula. O sentido da matéria é claro: os novos ocupantes do governo federal não reconhecem e não sabem lidar com o valor da arte. A notícia do suposto descaso com tão valiosa obra aparece em vários jornais, revistas e sites, no Brasil e no exterior. A observação atenta de alguns leitores logo deixa evidente que se trata de uma “barriga”: o tal desenho de Picasso é, na verdade, de uma reprodução fotográfica, sem nenhum valor. Os jornais são alertados de seu erro, mas nenhum desmente a informação. Em dezembro de 2005, o “Picasso do INSS” está outra vez na capa da Folha de São Paulo (29.12.2005) e também na do Estado de S. Paulo: um incêndio destruiu parte do prédio do INSS mas, para alívio de todos e apesar do descaso dos órgãos públicos, o “valioso” Picasso foi salvo das chamas. Mais uma vez os jornais são alertados por leitores de que se trata de uma reprodução sem valor, mas nada noticiam. As reportagens que tentam esclarecer os fatos só fazem aumentar a confusão. Detalhe: o supostamente valioso desenho de Picasso foi dado ao INSS como pagamento de uma dívida. Em quanto foi avaliado? E por quem?

o-mercado-de-noticias_05Em novembro de 2008, no pior momento da crise financeira, uma matéria da Agência Estado, amplamente repercutida por vários jornais, tinha a seguinte manchete: “Governo ‘ensina’ a fazer caipirinha no Diário Oficial”. O fato, como a leitura atenta da própria notícia deixa claro, é que o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial através de uma Instrução Normativa (I.N.), como é sua obrigação, as especificações técnicas de uma bebida, assim como faz de todas as bebidas e alimentos disponíveis no mercado. É obrigação do Ministério agir assim, em defesa do consumidor: trata-se da composição e ingredientes de um produto comercializado, exportado. Não são – como afirma a matéria – “dicas” do Ministério, que teria resolvido “às vésperas do fim de semana”, “ensinar aos apreciadores de bebidas alcoólicas a preparar uma autêntica caipirinha”. A Agência Estado sabe, mas não resiste à piada fácil que reforça preconceitos contra o governo Lula.

No dia 20 de outubro de 2010, pouco antes do segundo turno da eleição presidencial brasileira, a campanha eleitoral foi marcada por um incidente. O candidato de oposição, José Serra, interrompeu sua agenda para ser submetido a uma tomografia e a exames clínicos. O motivo: uma suposta agressão por militantes governistas, amplamente divulgada nos veículos de comunicação, nas redes sociais e no programa de televisão do candidato. Foram muitas as tentativas, nos telejornais e nas redes sociais, de provar que algum objeto pesado realmente atingira o candidato, nenhuma com sucesso. O fato é que, poucos minutos antes da suposta agressão, o candidato foi atingido por uma bolinha de papel. Este fato foi documentado por, pelo menos, cinco câmeras de televisão. A imprensa, que tanto discutiu a agressão que ninguém viu, nunca se interessou por investigar quem foi o homem que, diante de cinco câmeras de tevê, jogou a bolinha de papel em José Serra.

o-mercado-de-noticias_01No final de 2011, o ministro dos esportes Orlando Silva foi vítima de uma tentativa de “assassinato de reputação”. A imprensa deu grande repercussão aos gastos do ministro com seu cartão corporativo. Ele foi acusado de gastar indevidamente R$ 8,30 na compra de uma tapioca. Logo a seguir, a revista Veja estampou em sua capa (e cartazes em bancas) a “informação” de que o “ministro recebia dinheiro na garagem” do ministério, dinheiro de propina. A afirmação era baseada exclusivamente nas declarações de um homem que foi preso, acusado de desviar mais de um milhão de reais de um programa educacional destinado aos alunos de escolas públicas. Este homem disse ao repórter da revista que “por um dos operadores do esquema” – isto é, um dos acusados e presos por desviar dinheiro das crianças carentes de Brasília – ele “soube na ocasião que o ministro recebia dinheiro na garagem.” Sete dias depois, o mesmo homem negou ter qualquer prova contra o ministro. Cinco dias depois, Orlando Silva deixa o Ministério para poder se defender das denúncias. Em junho de 2012 o ex-ministro foi inocentado pela Comissão de Ética da Presidência da República por absoluta falta de provas. O denunciante, a única fonte da grave acusação da capa da revista contra o ministro, foi preso várias vezes, antes da denúncia, em 2011, por corrupção, invasão de prédio público, agressão e ofensa racial, e dois anos depois, em 2013, por receptação de material roubado.

No debate que aconteceu após a pré-estreia do filme na unidade Augusta de São Paulo, Jorge Furtado comentou ser mais otimista com relação ao assunto do que seus entrevistados. Segundo o diretor, hoje mais do que nunca precisamos de jornalistas e sobre a questão da internet interferir na atividade ele é categórico, “Tecnologia transforma, mas não determina”.

Na conversa, ele também comentou sobre o site do filme — http://www.omercadodenoticias.com.br/ — que segue sendo atualizado e onde serão disponibilizadas as entrevistas na íntegra. Segundo Jorge Furtado, este é um filme para ampliar a discussão. O Mercado de Notícias está em cartaz em várias unidades do Espaço Itaú de Cinema.

Contágio (Contagion. 2011)

Tão logo eu soube do filme, e reforçado depois nas primeiras sinopses divulgadas de “Contágio“, me veio a ideia de que seria como uma releitura de “Epidemia“. Em trazer para a atualidade a temática da propagação de um tipo de vírus mortal. Afinal, de 1995 para cá até o Cinema mudou. Ficção e Realidade ganharam novas tecnologias. Logo, não teria porque não atualizarem também em contar uma estória com essa temática. E enquanto aguardava, surgiram outras reflexões que foram desvendadas assistindo o filme.

Se o “bicho-papão” disseminador do de 95 fora um país africano, ficava uma curiosidade de porque nesse de 2011 escolherem Hong Kong. Um tipo de retaliação de cunho financeiro-político? Para ficarem mais no campo da ficção, do frango qual seria o animal da vez? Também vale lembrar de que mesmo que o “mal” tenha saído de um Laboratório dentro do próprio território – vide Antrax -, ou eles abafam o caso, ou novamente o Tio Sam posa de salvador do planeta. De mais a mais, algo letal e altamente transmissível é a galinha dos ovos de ouro de dois grande poderio: indústria farmacêutica e indústria bélica. Que vai desde espalhar um vírus num país de 3º Mundo para venderem vacinas aos milhões, até as armas biológicas.

Morre-se aos milhares de pessoas por dia, são estatísticas que só irá parar na grande mídia, se houver um interesse político, quer seja de um governo, ou de um gerenciamento de empresas. Mesmo assim, fica a interrogação de quando e porque ganha um interesse da parte deles? Segurança Pública é engolida pela Segurança de Estado. O proteger a nação como um todo vem em primeiro lugar. Mas mais parecendo acordos desencontrados. Algo como: a pesquisa em andamento no laboratório X não chega no andar de cima. As verbas sem justificativas não passam pelas burocracias das demais. Fica sempre a dúvida até onde vão as pesquisas a título de: encontrar uma cura depois. E sempre fica a interrogação também para saber como a OMS (Organização Mundial da Saúde) lida com uma estória como essa.

E nessa de atualizar, não podemos esquecer de um poder que já está amedrontando os governos atuais: a internet. Em como seria usado no roteiro desse filme. Para nós Blogueiros, diferente do filme “Intrigas de Estado” onde uma blogueira pensou mais no fato, em “Contágio” fez foi mostrar que também nessa mídia há uma imprensa marrom. Uma fala do filme já mostrava que seria por ai: “Blogging não é escrever, é pichação com pontuação“. O blogueiro em questão vai além ao resolver monetizar o fato. Farejou uma mina de ouro. Ele é Alan Krumwiede, personagem de Jude Law. Atuou tão bem que deu um pouquinho de raiva em vê-lo recebendo 2 milhões de acesso em busca de um milagre.

Contágio” começa no “segundo dia”. É quando a personagem de Gwyneth Paltrow, Beth Emhoff. Vinda de Hong Kong, adoece, vindo a falecer. Ela e mais três pessoas são as primeiras vítimas. Beth transmite a doença ao filho, mas o marido, Mitch (Personagem de Matt Damon), por alguma carga genética fica imune. Ele, e cada três pessoas de um total de quatro, não são contaminados. O tal vírus faz um tipo de seleção natural.

Se há vilões, o mocinho dessa estória fica a cargo de três personagens: Dr. Ellis Cheever (Laurence Fishburne), Dra. Erin Mears (Kate Winslet) e Dra. Leonora Orantes (Marion Cotillard). Ellis nos leva a ter esperança de que há abnegados entre os que se prestam mais a política. Sua ética profissional será pressionada também pelo seu lado pessoal. Já Erin será a voz e presença dele em meio ao campo de batalha. É a burocracia que não pode atrapalhar, mas sim funcionar diante de um quadro dantesco como esse: milhares de mortes. E Leonora irá montar as peças lá em Hong Kong. Tentar apurar o “primeiro dia”.

Contágio” conseguiu se sair bem nessa atualização do fato. Um roteiro enxuto que prende a atenção mais pela maneira de contar do que o suspense em si. Sem cair no drama, mostra de forma impessoal o que uma tsunami-viral afeta no dia-a-dia de cada um do planeta. Não dá aulas de higiene pessoal, até porque após o pânico, até esse tipo de cuidados vão aos poucos sendo deixados de lado. Basta lembrar o que ocorre com a Dengue no Brasil, a cada chegada de Verão, as Prefeituras se vêem as voltas com novas conscientização a população local.

A morte de muitos claro que entristece, ainda mais vendo que um simples gesto foi o propagador de tudo. Por outro lado, ao ver como Mitch realizou um desejo da filha, Jory (Anna Jacoby-Heron), também me comoveu. É! Vida que segue! É bom filme! Gostei! E pelo conjunto da obra dou Nota: 08.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Contágio (Contagion. 2011). EUA. Direção: Steven Soderbergh. Roteiro: Scott Z. Burns (O Ultimato Bourne). +Elenco. Gênero: Drama, Sci-Fi, Thriller. Duração: 106 minutos.