A Pobreza Não Glamourizada nos Estados Unidos.
A Série “Shameless” traz como pano de fundo a realidade do “lado pobre” em um país tido como do primeiro mundo. Uma realidade sem os retoques tão comuns por Hollywood num retrato 3×4 de um microcosmo dentro de uma metrópole como Chicago. A pobreza existe em qualquer país! Daí é muito bom quando isso é mostrado bem de perto até porque uma das principais críticas ao Cinema Brasileiro seria justamente por isso: em retratar muito mais a pobreza no país. E mesmo que alguns filmes tragam esse mesmo pano de fundo, como em “O Solista“, por exemplo, terminam sendo diluido por contra da trama principal. Com isso é muito bom quando o tema vem numa Série porque terá bastante tempo para maiores detalhes. Melhor ainda quando usa o humor para fazer sua crítica ao establishment vigente.
“Quem é você não apenas para si próprio, mas também para as pessoas ao seu redor?“
E é assim que segue “Shameless” levando com humor o drama da Família Gallagher. Que como o nome da série também diz: eles vão levando a vida sem o menor pudor até para sobreviver, mas principalmente em não deixarem de ser uma Família. Talvez seja essa a principal mensagem: que mesmo sendo uma família disfuncional, eles são os Gallagher para o que der e vier.
Os Gallagher tem como patriarca um cara mais preocupado com a própria sobrevivência do que ser um pai de fato. Personagem de William H. Macy cujo papel lhe caiu muito bem até por conta do esteriótipo/meio estigma que Hollywood lhe trouxe. Sendo mais um loser em sua carreira ou não… Macy está excelente como Frank Gallagher. Nossa! É até surreal seu empenho em conseguir um rim! Um tanto macabro também por fazer humor com sua tragédia. Nessa “campanha” terá ajuda primeiro de um dos Gallagher, seu filho Carl (Ethan Cutkosky). Mesmo ou até pela lealdade ao pai, Carl vai fundo nessa ajuda. O que tem como agravante é que Carl está entrando na adolescência sem nenhuma referência sobre a moral e a ética. É como um carro desgovernado sem saber quando irá parar, sem se dar conta dos estragos…
“Eles não têm muito em suas vidas no sentido de segurança, e assim por seus relacionamentos se tornam mais e mais importantes. A questão que entra em jogo para todos eles é: Como o amor ou carinho um pelo outro compensa a escassez?” (John Wells, criador da Série).
Sem a presença de uma mãe… É a filha mais velha, Fiona Gallagher (Emmy Rossum), que toma para si essa missão em cuidar dos cinco irmãos. Mas Fiona ainda é jovem, logo mais propensa a não visualizar o todo em cada atitude tomada. E numa delas, é quando terá que prestar conta com a justiça: “ganhando” uma tornozeleira eletrônica. Com isso, perde o emprego que era a principal renda da família. Fiona terá que se virá nos trinta para não desestruturar de vez a família. Como também amadurecer.
Por conta disso, Phillip “Lip” Gallagher (Jeremy Allen) o único da família a cursar uma universidade, mas mesmo com uma bolsa integral sabe que precisa ter uma renda própria para se manter por lá. O que dificulta se manter acima da média para não perder a bolsa. Com a história de Fiona, Lip até pensa em deixar a faculdade para cuidar do caçula da família, o pequeno Liam. Lip acaba trazendo a irmã de volta à realidade das consequências dos próprios atos. E Fiona o demove de deixar a faculdade. Agora, numa de os fins justificando os atos… Lip tem uma saída nada ética para colocar comida na mesa da família.
Dentro do universo dessa família ainda há Ian Gallagher (Cameron Monaghan) e Debbie Gallagher (Emma Kenney). Ian sentiu necessidade de ser afastar da família para então assumir a homossexualidade. Sem bem que pode ser por conta de uma provável bipolaridade como “herança materna”. Com a crise provocada pelo deslize de Fiona… Ian volta para casa, mas onde também volta a se relacionar com um cafetão russo, o Milkovich. Por último há Debbie Gallagher. Sensível, sofrendo pela entrada na adolescência e com tudo mais que essa fase trás. Onde ante às pressões externas, carece a presença de uma pessoa madura nos aconselhamentos. Até por ser levada, de modo torpe pelas colegas da escola, a perder a virgindade. Algo que a levará não medir os atos.
“Nós temos na comédia um tradição de tirar sarro de pessoas nesses ‘mundos’. A realidade é que essas pessoas não são ‘os outros’ – eles vivem quase na mesma quadra de onde você mora” (Paul Abbot, criador da Série)
“Shameless” é mais uma série levada pelos Estados Unidos de um sucesso do Reino Unido. Traz como marca um questionamento no início de cada episódio com um dos personagens perguntando algo ao espectador para logo então entrar na cena. De qualquer forma esse remake é muito bom! Atuações ótimas! Roteiro afiado! Uma gama de personalidades distintas com um ponto em comum: a Família como um porto! Enfim, vale a pena assistir! Transmitida aos domingos, às 22 horas pelo canal TNT Séries. Fica a sugestão!
Por: Valéria Miguez (LELLA).