Minha Querida Dama (2014). Com a Herança, um Divã a Três em Paris!

Minha-Querida-Dama_2014_cartazSó em ter Maggie Smith e Kristin Scott Thomas – duas Divas do Cinema Britânico – nos créditos de um filme já é um belo convite para assistir. Mesmo se seus personagens só iriam orbitar em torno do protagonista já que a presença delas deixaria no ar que seriam coadjuvantes de peso. Agora quando uma delas está até inserida no título deixa no ar que os papéis podem no mínimo inverter. Mais! Quando a sinopse do filme diz o peso de que sua personagem terá na vida do protagonista e com quem seria o ator, Kevin Kline, se vislumbra grandes cenas entre eles. Era então conferir a Comédia Dramática “Minha Querida Dama“. E sendo em Paris, com direitos a um Romance.

Minha-Querida-Dama_2014_01O personagem de Kevin Kline é Mathias Gold. Que de repente seus problemas monetários acabariam: herdara uma mansão na encantadora Marais, região nobre da capital parisiense. Se despede de Nova Iorque e parte para a França com a intenção de vender a propriedade e começar uma nova vida em algum lugar qualquer. Onde a vinda desse dinheiro sepultaria de vez todos os seus fantasmas. Sem saber que foram juntos na bagagem. Até porque essa herança lhe mostra que nem manteve um relacionamento com o pai após se tornar adulto. Mas uma relação como essa – Pai e Filho – para ser mantida num clima razoável a aproximação deveria partir de ambos os lados. Mathias sentiu o impacto dessa indiferença ainda muito jovem. Pior! Fora punido por sua própria mãe: algo que vem à tona durante o filme. Ele até tentou manter relações amorosas, mas que terminaram levando sua estima por si próprio como também o seu dinheiro da venda de seus livros. E a bebida levou o que restara até das amizades. Assim, ele chega na França: com uma esperança, livros em fase final e sem um tostão no bolso.

Acontece que não seria tão simples como desejara na venda da tal mansão. É que a antiga proprietária, e ainda moradora, teria que morrer primeiro. Tudo porque seu pai a comprara no sistema de “viager“: paga-se por um preço bem abaixo do valor do imóvel, mas não apenas permitindo que o antigo proprietário resida no local até morrer, como também que o novo contribua mensalmente com uma renda para que o antigo até possa cuidar do imóvel.

Minha-Querida-Dama_2014_02A proprietária anterior é a personagem de Maggie Smith, Madame Mathilde Girard já por volta dos 90 anos. Que ouvindo o relato de Mathias, de que estaria sem dinheiro, permite que ele resida num dos quartos. Onde além de uma serviçal, na mansão também reside a filha de Mathilde, a Chloé, personagem da atriz Kristin Scott Thomas. Essa a princípio não concorda com a presença de Mathias, mas depois aceita até para demovê-lo da ideia em vender para alguém que demoliria a mansão para construir um hotel. Que não deixa de ser uma crítica que o Diretor Israël Horovitz faz para as especulações imobiliárias que acabam com o lado histórico de certas regiões e em grandes metrópoles.

Com a tal renda mensal já preste a ser paga, Mathias encontra uma solução nada ortodoxa para conseguir o dinheiro. Uma outra também para não se sujeitar ao ultimato dado por Chloé. E enquanto ganha tempo para vender a mansão… Mas revirando as coisas um certo quarto… Descobre coisas do seu próprio passado que até então não lembrava mais: fotos dele em criança… Ao inquerir Mathilde, lhe bate uma de “meu mundo caiu”, entregando-se as bebidas da ótima adega da mansão. Acontece que sobram estilhaços também para Chloé e a própria Mathilde… Pronto! Estava formado um Divã a Três!

O Diretor Israël Horovitz, que também assina o Roteiro, coloca dois únicos cenários como pano de fundo nessa história. Onde de um lado ficaria a mansão com todo o peso do passado principalmente para Mathias que foi quem mais sentiu, já que ela trouxera novos fantasmas. E de outro, os passeios pelas margens do Sena, como a convidar Mathias que mesmo diante das coisas mais improváveis enquanto seu próprio coração pulsar há de se adequar as novas mudanças.

Minha-Querida-Dama_2014_03Minha Querida Dama” traz os ressentimentos como sequelas das falhas dos próprios pais. Num raio-X do que estaria por trás de alguém que se sente um fracassado na vida. Sem julgá-lo, apenas nos levando a conhecer por esse personagem, e já perto de completar 60 anos, um sentimento que pesa em muitos vivendo conflitos iguais. São segredos de família que quando verbalizados podem sim gerar explosões de raiva, dor, frustração, impotência… mas que mais do que uma aceitação se vier como lições pode revigorar e cicatrizar de vez essas feridas na alma.

Então é isso! Num timing perfeito entre tudo e todos! Com uma ótima também participação de Dominique Pinon cujo personagem juntamente com Mathias voltam após os créditos finais comentando sobre um outro tema também abordado no filme: aulas de língua estrangeira. Mas em qual delas é de mais serventia para cada pessoa. É o uso dos meios mais prazerosos para chegar a um fim! Fica a dica! Fica também a sugestão de um filme Nota 10! Mas que não me deixou vontade de rever.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Minha Querida Dama (2014. My Old Lady)
Ficha Técnica: na página no IMDb.

Os Acompanhantes (The Extra Man. 2010)

Já se sentiu meio deslocado achando que nasceu em época errada? Ou até que se sentiria mais integrado trazendo um tempo passado para a realidade atual? É meio por ai que temos em “Os Acompanhantes” a busca de um jovem em encontrar o seu “eu” perdido em algum tempo entre o passado e o presente.

Confesso que nas primeiras lidas acerca de “Os Acompanhantes“, até pelo fato dele estar como Comédia, pura e simplesmente, eu pensei que viria nos moldes de “Os Safados” (1988). Mas o filme segue um outro caminho, e que mais seria uma leve Comédia Dramática. Aliás, há trechos meios tristes. Não cai tanto em se ficar penalizados pelos dramas de vida de cada um dos personagens principais porque escolheram levar a vida desse jeito. Como também porque a excelente Trilha Sonora deixou o filme mais leve.

Agora, sem sombra de dúvida, quem nos faz acompanhar atento toda essa história é o carisma do ator Paul Dano. Por mais momentos tristes que há no filme, o seu Louis Ives meio que nos hipnotisa. Embora em certos trechos eu cheguei a pensar no Cillian Murphy em “Café da Manhã com Plutão“, não foi por comparar os dois personagens, nem muito menos as primorosas atuações de ambos os atores, a lembrança ficou mesmo com partes da história de vida dos dois personagens, porque escolheram dar uma outra história paralela para si próprios. Não indo pelo caminho de alguma Bipolaridade, mas sim dando um realce a vida que vinham tendo. Um jeito de não se sentirem tão deslocados no presente mundo.

Em Louis Ives batia uma tristeza tão profunda, que nem se incomodou de ter sido demitido injustamente. Fora pego num flagrante pela Diretora do Colégio onde lecionava Literatura Inglesa. Por uma pequena tara. Nem sei se o termo correto seria esse. Mas o lance também fazia parte dessa sua busca futura, como também a atitude preconceituosa da tal Diretora, era algo a pesar nessa balança. As aparências pesando no julgamento dos outros. O não ter peito para assumir o seu jeito de ser.

Louis ainda leva um tempo para ir morar em Manhattan. Um sonho antigo. Uma cidade que lhe daria não apenas o fato de não se sentir deslocado, como também suporte para transpor para o papel sua fértil imaginação. Queria muito se tornar um escritor do porte de quem muito admirava: F. Scott Fitzgerald. Louis meio que se sentia um personagem de o “Um Grande Gatsby”. Alguém em plena Década de 20. Mas quem?

Embora por caminhos tortos, o destino conspirou a seu favor. Louis vai morar num quarto de um senhor muito excêntrico. Mas que aos olhos de Louis, o apartamento assim como o dono, eram um mundo num tempo onde queria viver. Acontece que essa convivência não seria nada calma. Mas Louis estava disposto a enfrentar aquele Mar das Tormentas. Até porque, de vidinha pacata ele já estava cheio.

Quem faz o tal senhor excêntrico é Kevin Kline. Seu Henry Harrison é um personagem que em outros tempos, cairia como luva para David Niven. E foi por esse pensamento que me perguntei do porque Kevin Kline não fez dele memorável. Competência, ele tem de sobra. Não sei se o casal de Diretores, Shari Springer Berman e Robert Pulcini, travaram-no um pouco. Se sim, foi bobagem. Já que ter os dois – Louis Ives e Henry Harrison -, numa performance soberba, daria ao filme um ingresso direto a um Clássico. Kline atuou bem, mas o seu “Harrison, H” com o tempo se apagará da memória.

Um cavalheiro e seus impulsos devem viver em constante negociação.”

O personagem de Kline, também um professor, é um acompanhante de senhoras viúvas e ricas. Que moram numa das partes privilegiadas de Manhattan: o Upper East Side. Mais que um Personal Friend, esse seu lado B, tem como de ainda sentir o gosto de tudo que já viveu. Pois Henry já fora um rico herdeiro. Mais que “o dinheiro comprando por um homem à mesa de jantar”, é tentar manter e viver o glamour de outrora. Louis quis vivenciar em ser um desses acompanhantes. Mas a oportunidade só veio por um outro acidente do destino.

Enfim, será o peso a se dar a essa situação por um todo. Os dois lados dessa balança. Com que olhos verá o usar e ser usado! Ou, para ser mais romanceado: com que papel se sentirá nessa atual realidade. É a solidão pesando? É se aceitar em harmonia com os seus próprios princípios? Ditando suas próprias regras. Mesmo que elas fujam do convencional? Mesmo que aos olhos de muitos não vejam nada ético no que estão fazendo. Mas se é onde se vê de fato integrado ao mundo atual também pondo em prática o seu lado B, fica um: E por que não?

Os demais personagens, em destaque – John C. Reilly, Katie Holmes, Dan Hedaya, Marian Seldes e Celia Weston -, estão em uníssonos com toda a trama. De certo modo, eles também irão a um encontro consigo mesmo. Onde os dramas de alguns fariam de “Os Acompanhantes” um filme depressivo, mas como citei, Louis Ives é tão cativante que ao final do filme fica uma certa leveza como numa exaltação silenciosa: “Que bom, Louis!” E o peso se dissipa.

Então é isso! Se chegou até aqui, teve uma ideia do que encontrará. É um filme que não agradará a muitos. Mas me arrisco em dizer que será difícil alguém achar que perdeu tempo em assistir. Eu gostei! Como também posso rever um dia. Embora Kevin Kline não roubou o filme, talvez por cavalheirismo, pelo todo é muito bom! E o personagem de Paul Dano ficará por um longo tempo na memória, numa cativante lembrança.

Nota 8,5.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Os Acompanhantes (The Extra Man. 2010). EUA, França. Direção: Shari Springer Berman, Robert Pulcini. +Elenco. Gênero: Comédia. Duração: 108 minutos.

Três Vezes Amor (Definitely, Maybe. 2008)

O coração humano tem tesouros ocultos. No segredo mantido, No silêncio selado… Os pensamentos, as esperanças, os sonhos, os prazeres… Cujo charme se romperia se revelado.

O filme tem um início empolgante! Que alguns de nós já passou por algo assim. Mesmo que não tenha filhos. É quando as crianças têm sua primeira aula de educação sexual na escola.

É! Will (Ryan Reynolds) ao chegar na escola da filha Maya (Abigail Breslin) encontra os alunos eufóricos com a aula. O lance era ver a reação dela. Ela não deixa por menos. Numa única frase já mostrou que aquilo iria render. E rende! A caminho de casa com perguntas do tipo: “Quando é que o homem tira o pênis do pijama e enfia na vagina da mulher?” Ou ainda com algo dito por um coleguinha de que ele fora por um acidente.

O assunto vai se estreitando até por conta dele estar sozinho. Dela querer saber se também fora um acidente o seu nascimento.  Pedindo para ele contar a história dele com a mãe dela.

Vendo que ela não iria dormir… Ele resolve contar. Mesmo tendo saído com algumas mulheres, seu amor fora dado a poucas… Então, trocaria nomes, omitiria certos fatos, e ela é que teria que descobrir qual delas era a sua mãe.

E assim ele faz uma viagem ao seu passado… A cada intervenção dela é divertido, é emocionante… O que eu acho que deveriam ter explorado mais vezes. Pois teve longos espaços entre algumas delas. Ficando um pouco lento onde eram mostrados a história contada por ele. Perdendo apenas o ritmo. Mas como isso ajudou a ele a se conhecer mais, o que é válido.

A menininha é um encanto! Sobrepõe aos demais. Embora os outros também atuaram bem. O roteiro, se o enxugassem um pouquinho, o filme ficaria perfeito.

A trilha musical é legal. Confesso que lágrimas brotaram em algumas cenas mais para o final. Enfim, gostei do filme. Mas rever? Seria mais pelo início e final, eu correria um pouquinho a fita em trechos pelo meio.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Três Vezes Amor (Definitely, Maybe). 2008. Reino Unido. Direção e Roteiro: Adam Brooks. Elenco: Ryan Reynolds, Abigail Breslin, Isla Fisher, Rachel Weiz, Derek Luke, Kevin Kline, Daniel Eric Gold, Adam Ferrara, Nestor Serrano. Gênero: Comédia, Drama, Romance. Duração: 112 minutos.

O Clube do Imperador (The Emperor’s Club)

theemperorsclub-01.jpg

No início do filme um breve presente, para em seguida mergulhar no passado e dele retirar lições. Afinal, não dá para reescrever o que já está feito. O que pode ser feito é não cometer os mesmos erros de outrora.

Quem faz esse balanço é o então aposentado professor William Hundert (Kevin Kline). Ele está de volta a escola St. Benedict. Um local para formação de jovens pertencentes a alta sociedade americana. Mas mais que receber uma justa homenagem, esse encontro irá mexer com uma certa turma, com os alunos que dela fizeram parte. E entre eles, o jovem Sedgewick Bell (Emile Hirsch), filho de um influente Senador. À época, mais do que a sua inteligência, a sua rebeldia, a sua indisciplina, atraiu a atenção de Hundert. Esse acreditando que o faria trilhar o caminho certo, creditou nele sua própria postura.

Nesse caminho de volta, ficamos sabendo o que de fato todos aprenderam. Ou seria, o que todos assimilaram do que fora ministrado. Em destaque, a frase símbolo de todas as lições: “O caráter de um homem é o seu destino.

Atualmente, onde há tantos pais presos em seus compromissos, onde há uma guerra urbana nas ruas, onde há uma grande competição no mercado de trabalho, o filme nos leva a algumas reflexões:

Qual é o papel de um Professor numa sala de aula? O que cabe ao Professor na formação de um jovem? O meio, corrompe? Os percalços, como serão absorvidos? Caráter é algo inato? Alguém tem mesmo o poder de influenciar outra pessoa? Que lições tirar em cada conflito? Ou até, quem estaria enganando quem?

Enfim, é um filme para assistir com tempo e com calma. Como se estivesse saboreando uma taça de um excelente vinho. Até para não confundir com “Sociedade dos Poetas Mortos” (Dead Poets Society). Confessando aqui que uma lágrima rolou no final.

Nota: 10.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Clube do Imperador (The Emperor’s Club). 2002. EUA. Direção: Michael Hoffman. Com: Kevin Kline, Emile Hirsch, Embeth Davidtz, Rob Morrow, Edward Herman, Paulo Dano. Gênero: Drama. Duração: 109 minutos. Baseado no Conto The Palace Thief, de Ethan Canin.