O Desprezo (Le Mépris. 1963). Créditos interessantes.

Eis um dos créditos bem inventivo e interessante. Aliás, o filme todo é, sem dúvida, formidável.
Podemos enumerar uma série de elementos que faz essa obra de Godard, “O Desprezo” ser única, especial, exclusiva!

1 – Epígrafe num filme? Este tem. “O cinema coloca diante de nossos olhos um mundo que corresponde aos nossos desejos.” Bertold Brecht
2- Literatura? O tempo todo, Homero que o diga. Penélope traiu ou não Ulisses? Ulisses se cansou de Penélope, por isso foi à guerra? Amei essa viagem!
3- A função metalinguagem uma constante aqui: o cinema que fala de cinema;
4 – O lendário cineasta alemão Fritz Lang tem uma participação especial como ele mesmo. Chique, não?
5 – Algumas revisitas a obras literárias clássicas.
6- A musa dos deuses gregos Brigitte Bardot… melhor, impossivel!
7 – Jack Palance no papel de um rico produtor de cinema americano. Acredite… se quiser!
8- A obra que dialoga com o expectador…olha diretamente para ele.
9 – Godard, inspiradíssimo.
10 – Os créditos de abertura do filme se configuram em uma narrativa de nomes, e não legendados como de costume.
11 – …

Não foram os deuses que criaram os homens; foram os homens que criaram os deuses.
Enfim, sempre é preciso terminar o que começamos.
Karenina Rostov.

Sinopse: O Desprezo conta a história da crise de um casal em uma viagem à Itália que acaba mal. Camille (Brigitte Bardot) tem a impressão de que seu marido não lhe ama mais. Paul Javal (Michel Piccoli), seu marido, é um roteirista que, para garantir o conforto da esposa e evitar o rompimento da relação, aceita escrever uma nova adaptação da obra grega “A Odisséia” para o cinema. Primeiro, nascem a dúvida e o desprezo em Camille e depois vem a incompreensão e a raiva de Paul. Diferente do livro de Homero, não é Ulisses que vai embora e abandona sua amada Penélope.

A Igualdade é Branca (Trois couleurs: Blanc. 1994)

“Só há um tipo de amor que dura: o não correspondido.” (Judie Foster).
Dizem que comédia nunca ganhou Oscar por ser considerado um gênero menor. Eu nunca fui fã dessa categoria de prêmio de academia, nem morro de amores por filme desse gênero; e outra, que rótulos, às vezes enganam.
A Igualdade é Branca é o segundo episódio da TRILOGIA DAS CORES do diretor polonês Krzysztof Kieslowski, dedicado ao bicentenário dos ideais da França com os três lemas da bandeira respectivamente: liberdade, igualdade e fraternidade, e é o único da trilogia que tem um certo humor e por essa razão críticos o consideram um exemplar inferior ao Blue e Rouge.
Blanc é um tema banal e corriqueiro no cinema: a história de um casal em crises sem chances de superá-las e a saída encontrada é o divórcio. No entanto, é uma abordagem completamente diferente, extrapolando a barreira dos sentimentos, da emoção e pondo em xeque questões não sentimentais, mas carnais: o desejo, o sexo, orgasmos, tesão, ereção, atração, deixando claro que a falta desses elementos a relação perde o sentido.
Kieslowski é polonês por nacionalidade, francês por paixão e cidadão do mundo. Fala, então, através de seus filmes todos os idiomas. E quando há amor, não existe barreira para a língua. Tanto que ele juntou nessa história BLANC um casal que não fala o mesmo idioma: ela é francesa e ele, polonês. Mesmo assim não viram barreira para se casarem e se tornarem uma só carne, até que a morte os separasse, como reza a cartilha do ritual de enlaçamento matrimonial. Acontece nas melhores famílias. Aspas: Tenho uma irmã que se casou com um estrangeiro.
O filme Ghost Dog de Jim Jarmusch há dois amigos que não falam o mesmo idioma, mas de certo modo, se entendem.
Assisti recentemente a um filme Filipino onde os personagens K e Ana, metidos a cineastas, andavam pelas ruas com seus equipamentos microfones, gravador, câmera, perguntando para as pessoas o que era AMOR, até que alguém lhes responde com outra pergunta: “Em que ano estamos?, Ainda existe isso?”
No filme Basquiat, sobre a vida desse pintor, em um determinado momento, num restaurante, o artista percebe certo preconceito racial e ele se vira e faz a seguinte pergunta à namorada: “Em que em ano estamos?” Como quem questionasse a impossibilidade de a esta altura do século ainda existirem tais sentimentos de inferioridade.
Tempos modernos! As pessoas estão mais individualistas, preocupadas em trabalhar, ganhar dinheiro, gastar, nada de envolvimento emocional, apenas sexo, atração e encontros descompromissados.
A linguagem do AMOR é universal, não existe barreira quando se ama. Mas, e quanto ao sexo? Onde começa um e termina o outro? Ou um é o complemento do outro? Ou são coisas completamente distintas?
O filme “A Igualdade é Branca” gira em torno do casal. Karol (Zbigniew Zamachowski), um bem-sucedido cabeleireiro polonês cujo casamento está definhando com a francesa Dominique (Julie Delpy). Esse casamento acaba assim que ela descobre que o  marido é impotente, apesar de ele ser loucamente apaixonado por ela, ou talvez por causa disso, ele não consiga consumar sexualmente o casamento e sofre por isso. Quando o filme começa, a garota já perdeu a paciência com a situação e pediu o divórcio. Ela o abandona e volta para a França, assim que descobre que ele é acometido desse mal. Algum tempo depois ele recebe uma intimação do advogado dela a fim de tratar da anulação do casamento. Ele vai à França e lá é muito humilhado por ela, que pede o divórcio e diz que o casamento nunca se “consumou”. Algumas cenas do dia do casamento em flashbacks são as lembranças de Dominique mostradas em alguns lances durante a conversa.
Karol ama essa mulher que escolheu para ser a sua esposa. Ele vai até Paris contra a sua vontade para tratar da separação e nada lá dá certo para ele. Seu cartão de crédito é cancelado, fica sem dinheiro, sem passaporte e sem a esposa. Na estação de trem faz amizade com um estranho homem que não gosta da vida, por alguma razão não quer mais viver e que está procurando alguém para matá-lo. Sem dinheiro e sem passaporte o jeito encontrado para voltar para a Polônia foi dentro da mala do seu novo amigo, Nicolau. A maior parte do tempo sua falta de sorte o acompanha, tanto que até a mala foi roubada por russos que por não encontrarem nada de valor dentro dela, ainda lhe dão uma surra e o abandonam desfalecido num lugar inóspito e frio. Sua falta de sorte começa a mudar, quando finalmente consegue chegar em casa. Volta a trabalhar e começa a arquitetar um plano com a ajuda do amigo para enriquecer e ter a atenção da sua ex novamente. O amigo pagou-lhe para que ele o matasse. Ele recebe esse dinheiro e acaba convencendo seu amigo Nicolau que morrer não é uma boa idéia. Com esse dinheiro ele começa seus investimentos. De vez em quando liga para Dominique até que um dia ela faz questão de que ele ouvisse seus gemidos de prazer na companhia de outro. Para ele que sofre de impotência, esse momento foi o FIM, foi a coisa mais desprezível e humilhante que ouviu da parte dela.
Karol arma uma cilada para a sua amada, passando-se por morto. Compra um cadáver com sua aparência física. O morto era  um homem russo que faleceu e ficou desfigurado, exatamente como ele queria, a fim de que Dominique ao ir ao necrotério da Polônia ao tentar reconhecê-lo, não desconfiasse que fosse ele, e herdasse toda a sua fortuna que à essa altura já era um milionário.
Dito e feito. Karol agora era considerado um homem morto. E Dominique foi ao enterro, reconheceu aquele cadáver como sendo do seu ex-poso, e ela chorou. Karol de longe observava a tudo e descobriu que ela sempre o amou e que ela chorou por saber que ele estava morto. À noite, no hotel em que Dominique estava hospedada, Karol apareceu para ela, fizeram amor (ou sexo?) durante a noite toda; ele não estava mais impotente, e ela sussurrou para ele que o amava. Karol tinha certeza disso. Karol sabia como agradar a uma mulher muito bem, lembrando que a sua primeira profissão era cabeleireiro; sabia muito bem que a mulher adora um trato no visual, começando pelos cabelos…
Karol foi embora e a deixou dormindo. Dominique ao acordar chamou por ele e quem respondeu foi a polícia que a prendeu por suspeitar dela, que ela tramou a morte dele para ficar com a herança e ela foi presa. Afinal, a igualdade é branca, como um véu de noiva, como a neve do inverno rigoroso da Polônia, como pombos voando, como um orgasmo, como o amor e a paixão, Karol armou para que tudo isso acontecesse, uma forma de se vingar pela humilhação e pela ofensa e por todo o constrangimento que ela o fez passar.
Em “A Igualdade é Branca” o que se discute são todos os tipos de igualdade, desde ser igual perante a lei até as obrigações conjugais. Agora tanto um quanto outro têm direitos iguais. Nos tempos modernos de sentir prazer, de se chegar ao orgasmo. Não mais o homem ter essa experiência, mas obrigação de satisfazer a sua companheira. É o amor fisiológico, um olhar irônico sobre como o vazio da vida pode ser profundamente afetado pelo amor.
O filme gira em torno das carências afetivas, quando o amor não se desenvolve não vai adiante por questões orgânicas, fisiológicas, vai além do romantismo, das cartas de amor, flores, declarações apaixonadas. Não se sabe mais onde começa o amor espiritual e termina o carnal. Dizia-se que o sexo é o complemento do amor. Então por que o casal se separou? Onde começa um e termina o outro? Pode-se viver só de amor platônico? Pode-se viver só de sexo e nenhum envolvimento amoroso? Chega um momento que uma coisa sem a outra, cansa.
Sabe-se que existe sexo sem amor. E o amor sem sexo? Mas um não complementa o outro?
Há quem ame e renuncie ao sexo. Religiosos são exemplos disso. E quem não fique sem sexo, é considerado doente? E fazer sexo por obrigação, seria o quê?
Há quem renuncie as satisfações do desejo. E com o tempo o amor acaba relaxando…acaba a atração física, acaba a atração emocional. A simples satisfação do desejo carnal às vezes custa caro, em ambos os sentidos (monetariamente e sentimentalmente). E quando um quer e o outro não? Um tem mais apetite que o outro?
Cada um vê o amor através de sua formação.
Dominique amava Karol, mas sua vida íntima sem sexualidade não fazia sentido. O amor começa pela admiração, gostar de estar perto daquela pessoa. Em certos pontos do filme a representação visual como uma grande explosão de luz branca, a neve, em alusão ao título do filme BLANC.
Igualdade é o que Karol desejava: amar e ser correspondido; mas como ela trapaceou ele se vingou. São tantos os questionamentos… Ela foi presa e ele jamais teria sua liberdade de volta, pois agora vivia sob uma pseudo-identidade. Ela presa nas grades da justiça e ele preso em sua mesquinhez, sua vingança e sua infelicidade de viver para sempre deixando de existir para a sociedade como cidadão Karol. E foram infelizes para sempre.
Por: Karenina Rostov
Cotação: *****
A Igualdade É Branca (Trois Couleurs: Blanc, França/Polônia/Suíça/Grã-Bretanha, 1994)
Direção: Krzysztof Kieslowski
Elenco: Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr
Duração: 88 minutos

Cadê os Morgan? (Did You Hear About the Morgans? 2009)

Ih! Melhor nem procurar por eles.Eu não me endireito mesmo! Em perder meu tempo vendo cada filme! Mas eu penso assim: ‘Se não me der esse direito, não saio do lugar comum. Em só ver, e rever, os Clássicos, os Cults‘… Dai, dou uma chance para os mais recentes. E sendo uma Comédia Romântica, é mais um forte motivo para eu ir assistir.

Mais! Queria ver se Hugh Grant e Sarah Jessica Parker conseguiriam se despir dos seus outros personagens. O que me fez lembrar do Luis Fernando Guimarães que contou que após o sucesso do seu personagem numa propaganda de uma instituição financeira, só recebia propostas para fazer algo igual. Para um ator, isso acaba marcando negativamente. Voltando ao filme…

Hugh Grant, tal como Nick Nolte, já traz no rosto a aparência de um cara submisso. E nesse, não foi diferente. O que pelo teor da estória poderia ajudar, mas não foi o que aconteceu. Nem pena, se sente. Ficou numa mesmice de querer abandonar o filme. Recado aos Diretores: “Hugh Grant ficou ótimo em ‘4 Casamentos e Um Funeral’. Ficou bom em ‘Nove Meses’. Mas agora convidem o moço para fazer algo DIFERENTE!“.

Quanto a Sarah Jessica Parker, mesmo fazendo uma personagem bem novaiorquina, ela conseguiu se desvencilhar da Carrie, de ‘Sex and The City‘. Mas ficou perdida no contexto. Já que não houve química com o Grant, nem passou veracidade no filme. Parecendo mais estar fazendo um episódio de uma Série de Tv. Bem, no momento não lembro de alguma boa atuação dela em filmes. Assim, sem recados para os Diretores.

Um outro motivo que me fez ver ‘Cadê os Morgan?‘ foi por conta disso: proteção as testemunhas. A principio eu acho meio utópico. Pois com tanta corrupção na Polícia e em outras esferas fica difícil acreditar que consigam, de fato e de direito, proteger alguém. Mas se tratando de ficção, bate uma curiosidade em ver mais uma dessas proteções.

E foi onde o filme esquentou um pouquinho. Mas que não souberam aproveitar mais o casal de coadjuvante: Sam Elliot (Clay Wheeler) e Mary Steenburgen (Emma Wheeler). Pena! Pois eles teriam roubado todo o filme. Sam esteve excelente em ‘Obrigado por Fumar‘. Quanto a Steenburgen já habita há tempo minha memória cinéfila pelas tardes na tv.

Assim, tendo algo para fazer, ou ver, nem pense duas vezes: faça-o. Não perca tempo com esse filme.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Cadê os Morgan? (Did You Hear About the Morgans?). 2009. EUA. Direção e Roteiro: Marc Lawrence. +Cast. Gênero: Comédia, Drama, Romance. Duração: 103 minutos.

Beleza Americana (American Beauty. 1999)

american beauty 2American beauty é um tipo de rosa muito cultivada nos Estados Unidos, com uma peculiaridade: ela não possui espinhos nem cheiro, uma metáfora sobre o vazio do americano comum.

O vazio tratado com humor negro e maturidade.

Acordar todos os dias cedo, tomar café com a família, dar um beijo de despedida na esposa, fingir ser pai com a filha na adolescência, ir pro emprego enfadonho que você odeia, voltar pra casa, encarar um jantar cheio de papos falsos e dormir.

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A rotina acaba com as pessoas.

A corrosão começa quando menos se espera, e é por meio de detalhes minúsculos que ela aparece. Tudo conduz a alma ao desespero, você não se sente realizado e se arrepende de tudo o que podia ter feito e não fez. E ali está você, perdido no meio da sua rotina, prestes a explodir.

Lester Burham (Kevin Spacey perfeito) sente o peso disso. Em casa vive trocando farpas com a esposa Carolyn (Annette Bening perfeita), que vive mau por não ter o sucesso que planejava, a filha adolescente e com crise existencial Jane (Thora Birch perfeita) que não aguenta mais a infelicidade que se tornou viver ali.

É uma família tradicional americana. Só que se deixaram cair na mais completa monotonia por conta de tudo o que fazem. Com Jane tentando alguma coisa, os pais se sentem obrigados a ver o progresso da filha na escola, se apresentando com aquelas dançarinas gostosinhas do time da escola, e é lá que as coisas passam a tomar outro rumo. Lá Lester conhece a “fogosa” Angela (Mena Suvari muito diferente do que mostrou em American Pie), que logo desperta algum desejo nele. Enquanto o navio que é aquela casa afunda, Lester decide voltar a viver.

Assim que é demitido, Lester encontra o momento perfeito e deixa de ser o típico homem que vive pra família e começa a viver pra ele mesmo.

american beauty 7Sentindo o peso de ser a única com “responsabilidades” em casa, Carolyn se entrega ao trabalho, com direito a pulada de cerca com seu maior inimigo no ramo imobiliário, e Jane se encanta com o misterioso Ricky Fitts (Wes Bentley), um jovem traficante que vive filmando tudo o que vê por hobby. Recém chegado no bairro, mudou-se com sua aparentemente “comum” família: uma mãe sem sal nem sazon e um pai linha dura, ex militar interpretado por um Chris Cooper perfeito. No meio disso tudo, desenrola-se uma trama que envolve segredos, mentiras, preconceito e dismistifica o tal “american way of life”, mostrando que o sonho americano não passa de ilusão.

É com maestria que o diretor Sam Mendes mostra em seu primeiro trabalho todo o cuidado necessário pra encher uma trama densa de sentimento e tensão. Os diálogos são afinadíssimos, as cenas de troca de farpas são deliciosas e ajudados pelo roteiro incrível o elenco arrebenta em cada cena.

AmericanBeauty 6 Kevin Spacey que saiu vencedor do OSCAR por esse filme, demonstra uma capacidade de criar rostos para todos os sentimentos possíveis de seu personagem, tristeza, angústia, medo, solidão, pena, juventude, tudo num mesmo homem, uma das interpretações mais perfeitas do cinema. Cada ângulo, cada quadro, cada momento que ele aparece o filme se torna mais interessante e divertido. Spacey em cena, atuação beirando a perfeição.

Annette Bening também arrasa, sua personagem é forte e fraca ao mesmo tempo, coisa que fica mais evidente ao final do filme (me emociono na ultima vez que ela aparece em cena, abraçando as roupas do marido que acaba de morrer.). Ela odeia e ama o marido, ela odeia e ama trabalhar, ela faz tudo errado sabendo que podia fazer o certo, ela é ser humano e comete erros.

Thora Birch não podia ser melhor escolha para o papel de Jane, ela entrega uma veracidade perfeita ao personagem. Vinda de um histórico de filmes mais comerciais (Abracadabra, Perigo Real e Imediato) ela mostra muita tranqüilidade e segurança em seu personagem. Sem apelar para aqueles “caras e bocas” comum entre atores jovens, ela consegue convencer até quando não quer.

AmericanBeauty 5A loirinha Mena Suvari prova ser boa atriz, contrariando a sua personagem sem sal de American Pie, a bonitinha arrebenta. É mentirosa, sexy, e leva tudo com a barriga, típica adolescente americana popular. Mas o melhor fica pro final, quando ela tira a máscara de sedutora e veste a de uma inocente.

A mudança de humor e a capacidade incrível de nos enganar por duas horas comprova o grande talento da loirinha.

Quanto a Wes Bentley, um dos personagens mais incríveis do filme, fica sua melhor atuação da carreira. Ele é ácido, envolvente, misterioso e com aquela cara de babaca consegue enganar muito bem todos a sua volta. Seu personagem é complexo, mas ele passa uma segurança que é sentido pelo espectador.

E Chris Cooper, outra performance memorável, arrebenta na pele de um militar casca grossa que comanda todos os passos do filho e reprime todos em casa com seus preconceitos e mandamentos. A surpresa maior do filme sem dúvida é a dele no final.

american beauty 4 Sam Mendes aparece no seu melhor filme. O cara tira leite de pedra aqui.
Mostrando preparo e cuidado em cada quadro do filme, nota-se a influencia teatral em muitas cenas. As cenas no jantar, feitas da maneira mais tensa possível é uma das coisas que se pode destacar aqui.

O jantar falso funciona como termômetro da situação incomoda que a família vem passando.

Vindo do teatro, o jovem diretor inglês, inspirado em Kubrick e cheio de idéias criativas, capta as sutilezas do ótimo roteiro de Alan Ball (mente por trás de séries fantásticas como Six Feet Under) e consegue colocar na tela de uma forma acessível e sem precisar abusar de artimanhas desnecessárias para emocionar (erro cometido por diretores como Gabriele Muccino, de Sete Vidas, onde usa de emoção forçada para criar o clima de seus filmes.). Mendes consegue bolar situações que mesmo parecendo absurdas, são de uma interpretação singular. A cena do saco por exemplo, as “gags” involuntárias responsáveis pelo desfecho do filme ou até as cenas em que a família está jantando, querendo ou não fazem o espectador se sentir passando por tudo aquilo.

É complicado assistir esse filme sem sentir um incomodo consigo mesmo, e esse incomodo, atingido com perfeição pela forma como Mendes conduz seu filme, lhe valeu o merecido OSCAR.

Com uma trilha instigante e até certo ponto cômica de Thomas Newman, músicas que desenham as fases de humor de todos os personagens, sendo All right now do Free a mais “irônica” delas, o filme vai aos poucos afunilando as conseqüências dos atos de todos. A pulada de cerca da esposa, o vício em maconha do marido, a cachorra virando um anjo, o machão mostrando ser uma boneca e um casal estranho se formando, desenrola um final surpreendente e até inesperado para todos os personagens.

AmericanBeauty 3Bom humor apenas aparente: o casamento dela está a um fio.

A premiada fotografia é curiosa. Vermelha na hora de ser vermelha, lembrando as rosas “beleza americana”, e representando o vazio dos personagens. Elas estão presentes em grande parte do filme, e sempre com essa dualidade de significados. A beleza e o vazio. O filme é sobre isso.

Eu deveria ter ficado muito puto com o que me aconteceu, mas é dificil ficar nervoso quando se tem tanta beleza no mundo .” Lester Burhan.

Para mim, uma obra prima indiscutível. Nota: 10.

Olhem bem de perto.

Por: Rafael Lopes.

American Beauty. Direção: Sam Mendes.

FRIDA (2002)

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Começo a falar desse filme, Frida, lembrando de uma fala de Platão em Timeu: “Nas mulheres, o que chamamos matriz ou útero é um animal dentro delas que tem o apetite de gerar filhos, e, quando fica muito tempo sem frutos, esse animal se impacienta e suporta esse estado com dificuldade; erra pelo corpo inteiro, obstrui as passagens do fôlego, impede a respiração, lança em angústias extremas e provoca outras enfermidades de toda sorte”.

Frida Kahlo, fazendo um trocadilho com o sobrenome, ‘Kahlo”, calo, não no sentido do verbo, pois Frida não se cala, mas sim do substantivo “calo”, um calo no pé, que incomoda, mas que faz produzir, que ainda faz caminhar.

Nasceu no México, em 6 de julho de 1907, e desde então sua vida fora marcada por dores, sofrimentos e doenças. Filha de um fotógrafo que trabalhava pro Governo, Guilhermo Kahlo, e de uma mãe que considerava fria e cruel, Madilde Calderón.

Aos seis anos de idade, Frida contraiu Poliomielite, e, em consequência, teve uma convulsão e ficou capengando de uma perna. Sofreu um acidente ao sair da adolescência, em uma “tranvía” (mistura de bonde com ônibus), onde além das fraturas generalizadas, fôra perfurada por uma barra de ferro que entrou pela bacia e saiu pela vagina. Sofrera dezenas de cirurgia (ao todo foram 35) devido a isso e a sua saúde sempre foi considerada frágil.

Depois desse acidente, Frida recebera de sua mãe material de pintura. Como não podia levantar-se, olhava pra si mesma, na cama, através de um espelho pendurado no teto. Assim começou a pintar. Pintava a realidade de sua vida.

Casou-se com Diego Riviera, um artista mexicano, que lhe despendeu imenso amor e devoção. Por um tempo moraram juntos, por outro tempo se separaram, mas nunca se afastaram de fato.

O encontro com Riviera, de acordo com Frida, “foi o segundo acidente mais trágico de sua vida”.

O marido tinha amantes, Frida também, dos dois sexos. Riviera permitia seus casos homossexuais, mas não os heterossexuais. Frida adoecia mais sempre que o marido a traia. Brigavam muito por isso repetidas vezes e Frida pagava com uma traição homossexual sempre que acontecia uma infidelidade por parte de seu marido. Algo como pra provar que ela era melhor amante que ele, até mesmo com as mulheres.

A arte dela, pra mim, retrata a sua dor, seu sofrimento e frustração de não poder gerar filhos. Conseguia engravidar por diversas vezes, mas o aborto chegava irremediavelmente.

O filme retrata tudo isso acima de uma maneira sublime e com uma música marcada por Lila Downs que é maravilhosa.

Recomendo!

Por: Deusa Circe.

Frida

Direção: Julie Taymor

Gênero: Drama, Romance

EUA – 2002

Por Favor, Matem Minha Mulher (Ruthless People. 1986)

Danny de Vito é um pequeno ator com uma concentração para comedia absurda. Bette Milder me surpreendeu já que a primeira vez que a vi no cinema foi atuando de forma sufocante no filme “The Rose” (A rosa).

Sam Stone (Danny DeVito) é um rico vil e oportunista empresário que decide matar Barbara Stone (Bette Milder), sua mulher, para poder ficar de vez com Carol (Anita Morris), sua amante.

Um dia, quando chega em casa descobre que ela foi seqüestrada e caso ele avisasse a polícia, ela seria eliminada. Adivinhem o que Sam faz? Ele resolve não pagar o resgate, avisa a polícia e antes de esperar as conseqüências do termino do sequestro comemora antecipadamente o seu golpe de sorte.

Mas os seqüestradores pe de chinelo são Ken Kessler (Judge Reinhold) e Sandy Kessler (Helen Slater) que seqüestraram a mulher apenas para se vingar de Sam Stone por este ter roubado idéias de Sandy, uma designer de modas.

Quando Bárbara descobre que o marido num vale nada, resolve fazer uma parceria com seus seqüestradores e os 3 bolam um plano para acabar de vez com Sam.

Como adoro comedias e era a primeira vez que assistia ao filme, precisei rever o final de tanto que chorei de rir. Essa comedia às vezes é reprisada numa sessão da tarde, domingão ou férias. Quem nunca viu não perca. Vale a pena procura – lo numa locadora.
Sempre com pipoca e um refris.

Por: Criz de Barros (Criz com Z, nick usado no Orkut).