Django Livre (Django Unchained. 2012)

95869_galFoi um natal sangrento, mas pelo menos, foi apenas na tela de cinema!  Admiro muito a criatividade de Tarantino, mas não sou um fã louco por seus filmes, contudo tenho que admitir que Django Unchained é simplesmente o melhor filme da carreira do diretor de Pulp Fiction (1994). Esse filme não tem um roteiro assim original, mas é puro divertimento!

De uma certa forma, Django Unchained oferece um olhar completamente novo na história americana sobre a escravidão, porém, não tem nada de didático, pois Tarantino foge desse tipo de método e técnica de linguagem. Em 2 horas e 46 minutes de duração –  não me senti entediado, em nenhum momento!. Mesmo com cenas super violentas, e muito sangue, o filme é salpicado de humor astuto e caricaturas ultrajantes do KKK e sua laia.

Por mais uma vez, Tarantino arrasa na escolha da trilha sonora!.  Nos letreiros iniciais que remetem ao estilo Spaghetti, somos informados o que Maestro italiano Ennio Morricone escreve uma canção originalmente para o filme “ Ancora Qui” , mas na verdade, embora seja uma forma de fazer uma homenagem mais do que digna para o maior compositor na historia do cinema – na minha opinião-, Django Unchained tem mais 3 canções originais e todas são incríveis: “Freedom” escrita pelo talentosíssimo Anthony Hamilton, “100 black Coffins” , do Rapper Rick Ross, e John Legend assina “Who Did that to you?” Amei essas canções assim como as classicas “Django” na voz de Roberto Fia, que muito faz lembrar Elvis Plesley,  e da linda “I got name” de Jim Croce, e, as musicas escritas por Ennio Morriocone e Luiz Bacalov.

Todas as atuações são nada menos do que espetaculares:

Apenas um detalhe, assim como em Inglourious Basterds (2009), que lhe valeu o Oscar de melhor coadjuvante, Christoph Walt repete aqui as mesmas atitudes e atos, e,  é ao lado de Jamie Foxx o protagonista do filme, e não sei o por que ele entra na corrida pelo Oscar como coadjuvante novamente? Sim, ele quase rouba o filme para si, mas não vi nada de original, embora seja um grande ator!.

Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio são os coadjuvantes de peso, e estão incríveis !.

Tecnicamente é perfeito, destacando a fotografia e ao trabalho de som!

P.S.: Um erro: Tarantino reservou para si uma participação pequena no filme!. Um vexame! 😦

Nota: 9/10

Ilha do Medo (Shutter Island. 2009)

por Mario Braga

Ambientado em 1954 e sendo uma adaptação do romance de Dennis Lehane. O filme conta à história de um detetive que faz uma investigação sobre o sumiço de uma assassina em Shutter Island, local da trama.

Mais uma vez o diretor Martin Scorsese é capaz de nos surpreender nesta narrativa, a princípio complexa, porém recheada de trauma, neuroses e paranoia. Como um perfeito condutor, Scorsese mostra ainda que tem bastante fôlego de um veterano e que pelo jeito não pensa em se aposentar (ainda bem). Outro detalhe primoroso do filme é à sua fotografia.

Martin Scorsese é capaz de pescar a essência dos filmes de Alfred Hitchchock quando fez o remake como “Cabo do Medo”, e de fazer um excelente drama como “Táxi Driver” (quando começou a se destacar como diretor na época).

“J. Edgar” ( 2011)

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J. Edgar Hoover era gay? Será que o seu amigo, Clyde Tolson era gay? Será que eles tiveram uma estreita amizade ou era algo mais? Talvez estas perguntas são a chave para entender o novo filme de Clint Eastwood. Se eu podesse definir o que exatamente o filme “J. Edgar” é, eu deria que é a história da relação do diretor da FBI, com o seu amigo Clyde Tolson e o desprezo de ser desaprovado por sua mãe. É uma história de um homem em todas as frentes com as barreiras que ele deveria superar para fazer qualquer coisa, mas a parede que ele nunca foi capaz de romper foi o que lhe permitiria finalmente aceitar Tolson como um amante e não apenas como um bom amigo. Pena que tudo isso é apresentado de  uma forma sem sentido, e, finalmente, coloca menos ênfase sobre o que poderia ser considerado aspectos mais interessantes da vida Hoover.

J.Edgar” tem algo de “ Brokeback Mountain” (2005), e “ O Discurso do Rei ( 2010), mas a única diferença é que a amizade entre o rei George VI e seu terapeuta parecia uma amizade de verdade, assim como o amor dos cowboys em Brokeback Mountain. Esses filmes tinham uma história para contar, e não uma dica e, assim se esconder como Eastwood e o roteirista Dustin Lance Black faz. Não há uma evidência histórica concreta sobre a homosexualidade Hoover, mas o filme sugere demais sem ser sutil, pois muito poderia ser dito em um olhar, mas revela demais, e não soa verdadeiro, quando tenta “dizer” que Hoover era um homossexual enrustido e até um cross- dresser !.

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Eastwood conta a história de Hoover em uma narrativa fraturada, traçando mais de 5 decadas. O filme desnecessariamente vai e volta entre diferentes eras com Hoover recitando as suas memórias, contando as vitórias do passado e construindo a história para se adequar a sua imagem. Por que Eastwood não apenas narrou o filme de forma linear? E por que, ele não contratou atores para viver Hoover e Tolson nas suas versões mais velhas, em vez de transformar as personagens em caricaturas de espuma de borracha?

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Leornardo DiCaprio realmente se entrega ao personagem- mesmo com a maquiagem exagerada, ele se sobressai com dignidade, mas o mesmo não diria do competente Armie Hammer, que alem da borracha na cara, exagera na tremedeira!. Ja Naomi Watts tem o desempenho mais convincente do filme, e oferece uma personagem com mais perguntas a serem feitas. Quem foi essa mulher que dedicou sua vida inteira a carreira profissional, nunca se casou e ficou com Hoover até a sua morte? O filme não se preocupa em responder a estas perguntas, mas talvez o desempenho Watts nunca foi feito para ofuscar todos os outros. E, detalhe, a sua maquiagem suada em Watts é a unica que parece natural!

Eastwood e o diretor de fotografia Tom Stern, mais uma vez usam os tons de cinza de aço, limitando a quantidade de cores no filme-  escuro demais!. O diretor também continua escrevendo a trilha sonora para os seus filmes, aqui usa tons suaves de piano, assim como temos ouvido em praticamente todos os filmes que ele compôs sozinho, e acrescenta mais um aspecto negativo em “J. Edgar”, dando ao seu filme uma alma cansada e preguiçosa. A edição também é uma outra bagunça. Mas sera que se os editores Joel Cox e Gary D. Roach tivessem cortado 40 minutos do filme, o mesmo ficaria menos chato? Não sei não…

No final, “J. Edgar” é um filme que apresenta uma falta de confiança enorme, mas mesmo assim pode dar o Oscar de melhor ator a DiCaprio!. Ele merece mesmo que vença por um filme ruim!

Nota 5

Os Infiltrados (The Departed)

Por: Alex Ginatto.

Mais um filme que tive a vontade de rever com aquele olhar mais crítico. Excelente! A começar pela escolha do elenco! Difícil lembrar de um filme com tantos bons atores reunidos: Damon, DiCaprio, Wahlberg, Martin Sheen, Alec Baldwin e…Nicholson! UAU!

Mas só isso não faz um filme ser bom, sabemos disso. Quem é o diretor? Scorsese…Quê?? Sério?? Bom, aí já começa ficar difícil acreditar que o filme não será bom!

Uma trama muito bem armada, não só pelos papéis de infiltrados, mas pela parte psicológica de ambos…”O que estou fazendo com minha vida? É isso mesmo que desejo? Quero continuar com isso?

Concordo com Lella, DiCaprio cresce no filme e se sobressai em relação a Damon, mas acredito que a razão seja muito mais a superioridade, a força do personagem Costigan em relação ao menino Sullivan, aflito desde o momento em que é atraído por Frank (Nicholson) na mercearia do começo do filme. Costigan vem de uma família sofrida, querendo crescer na vida.

Baldwin, Wahlberg e Sheen tiveram papéis que talvez não correspondam à altura dos atores que são, mas executaram com perfeição o que Scorsese planejou para cada um deles. Nos passam aquela impressão de “conheço esse cara” durante o filme todo, como se fosse um “All Star Game” dos filmes, com os melhores no melhor filme! rs

Paro por aqui para não criar spoilers, mas recomendo a quem gosta deste tipo de filme: imperdível. A quem não é muito fã, recomendo que tenha a curiosidade de ver e acho que este filme poderá mudar suas impressões sobre o estilo.

Nota 8.

A Origem (Inception. 2010)

Edgar Allan Poe uma vez disse: “Tudo o que vemos ou que parece que vemos é mais do que um sonho dentro de um sonho.” Talvez essa foi a idéia de Chris Nolan quando escreveu o seu mais recente filme. Mas “Inception” é cerebral? Sim. É cerebral demais para o público em massa? Eu diria que não é o caso. “Inception”, nos coloca dentro de um filme de ação / de aventura, que o torno aberto para “todos”, apesar dos seus 148 minutos – um pouco longo demais para algo tão simplista. Aqueles dispostos a pensar no “quebra-cabeças”, não encontrarão tantas reviravoltas da narrativa como o filme parece sugerir inicialmente.

Estava de férias, e fui ao cinema por causa de Leonardo DiCaprio, pois não sou fã do Chris Nolan. “Memento” foi um grande filme, mas não assistiria outra vez. O remake do filme norueguês “ Insomnia” foi tedioso. Não achei “The Prestige” um bom filme, e “The Dark Knight” (é chato, e longo!), mas achei o “Batman Begins” interessante. “Inception” lida com um tema rico: os sonhos. E, creio eu que a relação entre o cinema e os sonhos sempre foi – para usar uma expressão da psicanálise – sobre determinado. Freud que trabalhou com a ” Interpretação dos Sonhos”, parecia replicar o mistério, e o cinema trouxe a imagem de tomada do poder da mente, bem como ainda a fotografia tinha nas décadas anteriores. Mas “Inception” é uma obra prima? Diria que há muitas razões para se gostar do filme, mas há razões que leva ao cinema ao que chamaria de: tédio.

Por muitos momentos, “Inception” é uma obra confusa, mas isso pode ser um indicativo para pessoas irem ao cinema (roteiros que apresentam ambiguidade e enredos que percorrem por trilhas que exigem que o expectador pense e se envolva, sempre encontra fãs). “Borrando” as linhas entre realidade e fantasia, o roteirista / diretor Chris Nolan foi meticulosamente criativo. Faz o impossível, o impensável, o estupendo: ele prega uma versão espelho de Paris de volta sobre si mesmo; encena uma seqüência de luta em um quarto de hotel (gravidade zero); envia um trem de lavoura por meio de uma rua movimentada da cidade. Tudo o que você pode sonhar, Nolan faz em “Inception”. Faz dos pequenos sonhos em sonhos ainda maiores, e os maiores sonhos em sonhos gigantescos. Me pareceu que o principal objetivo de Nolan – pelo menos até o final do filme- não é enroscar com a percepção do espectador, mas proporcionar clareza suficiente para que nós sabemos onde estamos e o que estamos vendo.

Mas a genialidade de Nolan confunde  muitas vezes. O filme começa com Cobb (DiCaprio) numa praia e depois, ele é levado para um lugar – misteriosamente, há duas criancinhas loiras ao redor, embora não possamos ver seus rostos. Depois, alguns soldados japoneses arrastam DiCaprio. Ele se senta em uma mesa, em frente a um velho misterioso, e começa a comer mingau. No momento seguinte, aprendemos que o Cobb é um “extrator“- um artesão que pode entrar nos sonhos dos outros para extrair informações valiosas. Na verdade ele tem a capacidade de inserir os sonhos dos outros, construindo os sonhos com a ajuda de Arthur (Joseph Gordon-Levitt), e de um arquiteto que no início do filme é interpretado muito brevemente por Lukas Haas. Depois Cobb encontra um novo arquiteto: uma jovem estudante chamada Ariadne (Ellen Page). Achei que foi mal escalada para o papel. Page parece muito infantil, além dos diálogos que saem da bola dela soam superficiais!. Ariadne sente que Cobb tem um doloroso segredo enterrado no porão de seu subconsciente. Mais tarde Nolan vai nos mostrar um elevador real caindo para reforçar a metáfora. O segredo de Cobb é relacionada as duas crianças loiras que continuamos  a ver em seu subconsciente e de sua esposa Mal (Marion Cotillard, linda, mas agraciada com um presente de grego dado por Nolan). Mal literalmente é um papel pequeno e mal desenvolvido. Nolan recorre aos diálogos alheios para nos ajudar a entender o personagem: Cobb diz:  “Eu espero que você não esteja muito chocada ao saber que ela (Mal) tinha sido tratada por três psicólogos diferentes.” Mal é uma projeção do subconsciente dele e esse aspecto me fez lembrar do marido atormentado e tão brilhantemente interpretado por DiCaprio no excelente “Shutter Island.”

Mantendo as coisas na maior parte linear, Nolan não permite a possibilidade do roteiro se transformar em algo obvio, embora seja fácil encontrar em “Inception” influências que incluem, obviamente, “Dark City” e “The Matrix.” Há também um sentimento de parentesco com o recente filme de Martin Scorsese, “Shutter Island”, não só porque esse filme é também estrelado por DiCaprio, mas porque ambas as produções brincam com a perspectiva de narrador e da intersecção de ilusão com realidade. Mas a segunda metade do filme é de uma seqüência de massa, cuidadosamente coreografada, e de suspense crescente que as circunstâncias perigosas se desdobram em três níveis de sonho.

Mas as cenas dos sonhos dentro dos sonhos são difíceis de seguir porque achei que não temos a idéia onde se inicia um e termina o outro. Sim, os efeitos especiais em “Inception” servem aos sonhos, mas para quê? Achei que os efeitos dão ênfase aos telespectadores como diversão visual assim como Peter Jackson usou os efeitos em “The lovely bones” e Vincent Ward ilustrou o belo “What dream may come.” Não que o enredo ficou em segundo plano nesses filmes, mas os efeitos foram tão grandiosos que roubaram a atenção do que foi proposto.  “Inception” fica mais proximo desses filmes que mencionei do que filmes como TRÊS MULHERES  de Altman, ou MULHOLLAND DRIVE de Lynch – para citar apenas dois como filmes que são mais lembrados como se fossem sonhos. Ah, 2001: Uma Odisséia no Espaço consegue isso também, mas de forma inesperada. Em “Inception”, o sonho é compartilhado pelos personagens, uns com os outros e com nós. Os fantasmas que eles oferecem estão lá para suspender a nossa incredulidade, mas também temos que manter o equilíbrio – a ser (na tradição de mistério e suspense), não tanto como sonhadores analistas.

Se falar do elenco, posso dizer que apesar de bom ator que é, DiCaprio, não passa a confiança com a mesma força do que ele fez no recente “Shutter Island” (em que ele também desempenhou um viúvo à mercê de visões escuras). Gordon-Levitt aparece como uma figura vistosa, mas o seu papel não exige tanto do talento do ator. Ellen Page foi um furo, e Cotillard foi uma invenção da minha imaginação, assim como o filme. Ken Watanabe é um maravilhoso ator, mas achei dificil de entender o personagem dele, Cillian Murphy, fantastico ator, mas numa papel pequeno, Michael Caine, apenas aparece em 4 cenas.

Filmado em quatro continentes, Wally Pfister faz um belo trabalho de fotografia, ajudado pelo trabalho de direcão de arte. E, Hans Zimmer adciona uma interessante trilha sonora. Ah, a cancao de Edith Piaf “Non, rien regrette je rien” é usada como ponto da narrativa( configura como uma brincadeira agradável, ja que Cotillard viveu a cantora no cinema). Mesmo com tantas qualidades, não achei “Inception” um filme digno de ser revisto para se poder compreender a proposta de Nolan.

ILHA DO MEDO: A Volta do Melhor Scorsese

Por: Roberto Souza.
Após uma série de obras decepcionantes ou insatisfatórias para um realizador do seu nível, Martin Scorsese salda uma dívida com seus admiradores no extraordinário thriller psicológico ILHA DO MEDO (Shutter Island), realizado em 2010.

Quarta associação do diretor com o astro Leonardo DiCaprio, a dupla acerta em cheio após os medianos GANGS DE NOVA YORK (2002), O AVIADOR (2004) e OS INFILTRADOS (2006), exemplos adequados de filmes de qualidade “onde falta alguma coisa”.

Não tive a oportunidade de assistir ao filme na telona, mas o recebi há dois dias em Blu-ray e, sem maiores expectativas prévias, senti o prazer de perceber um cineasta de volta à melhor forma, manipulando a expressão visual e os elementos autenticamente cinematográficos no seu caldeirão de poções mágicas, em doses precisas.

O roteiro exemplar de Laeta Kalogridis adapta o magistral romance Paciente 67, de Dennis Lehane (autor, entre outros, de Sobre Meninos e Lobos). No enredo, sem dar maiores detalhes para não estragar as reviravoltas da narrativa, DiCaprio é Teddy Daniels, um agente federal que se dirige a uma afastada ilha, utilizada como clínica-presídio para criminosos com problemas mentais de gravidades diversas.

Sua missão, ao lado de outro investigador (Mark Ruffalo), é desvendar o paradeiro de uma paciente que parece ter se “evaporado” de sua cela, apesar de trancada a sete chaves. Porém logo surgem dificuldades com os diretores do estabelecimento (os veteranos Ben Kingsley e Max von Sydow), que não parecem muito dispostos a colaborar na investigação, parecendo querer controlá-la qual uma sessão terapêutica.

Por outro lado, a maior barreira à solução do enigma reside no próprio Teddy, que carrega consigo traumas emocionais oriundos de sua experiência na Segunda Guerra, além da repentina perda da esposa num recente incêndio doméstico. Em contrapartida, a atmosfera lúgubre da ilha é propícia para exacerbar seus problemas, trazendo-lhe dolorosas lembranças, agudas dores de cabeça e pesadelos recorrentes.

Não foi casualmente que Lehane situou seu romance no ano de 1954. Os EUA viviam ao máximo a insegurança da Guerra Fria com a União Soviética, do Macartismo que caçava comunistas por todos os lados ou do temor de um conflito nuclear devastador.

Assim, a paranóia individual do atormentado investigador anda de mãos dadas com a paranóia coletiva, moldada pelas injunções políticas e ideológicas do período. Ao revirar sua mente em busca de respostas, Teddy realiza uma descida ao inferno interior, percebendo o risco e a temeridade que assolam aqueles que buscam uma verdade, seja de qual tipo possa ser.

Nesse sentido, a direção de Scorsese é absolutamente perfeita, tornando o décor parte integrante do processo, quase um personagem vivo, como já ocorrera na maioria de seus melhores trabalhos (TAXI DRIVER, TOURO INDOMÁVEL, OS BONS COMPANHEIROS e A ÉPOCA DA INOCÊNCIA). Ao transformar o concreto dos muros inexpugnáveis em carne e a atmosfera pesada dos sombrios corredores em sangue, o público é induzido a enveredar numa espiral onde, na melhor tradição do gênero, nada parece ser o que aparenta.

Contudo, ao invés do esperado recurso da surpresa ou de espantosas revelações finais, Scorsese distribui na força de suas imagens a resposta dos mistérios propostos, a chave que abriria todos os cadeados, a ponto de mais tarde o espectador se perguntar: como eu não percebi isso na hora?

Acrescente ao caldeirão ecos da obra-prima literária O Som e a Fúria, de William Faulkner, ou do clássico filme B Vampiros de Almas, de Don Siegel, retratos díspares da incomunicabilidade e dos pavores coletivos, e você se verá diante de uma pura, obra de arte. Uma experiência que o fará enveredar por labirintos e becos sem saída, que lhe negará a luz do sol, numa estilização que conjuga o universo pessimista de Schopenhauer e o conceito fugaz de realidade de Edgar Allan Poe, constituindo um assustador buraco negro ao qual se é atraído indelevelmente.

Imperdível.

Por: Roberto Souza.
– Blog Cal&idoscópio.
– Blog Lanterna Mágica.