Soul Kitchen. 2009

É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração
“.

Segundo filme que vejo de Fatih Akin. O anterior, foi ‘Do Outro Lado‘. Que eu também recomendo. Agora, ambos nos deixa uma emoção oposta a da outra. Enquanto ‘Do Outro Lado’ fica uma tristeza por algo que perdemos, e não tem mais como mudar… ‘Soul Kitchen‘ é um libelo ao que ainda podemos mudar, até com certas mudanças avassaladoras em nossas vidas. Mais do que não desistir, é que se tem que querer ir atrás do sonho. Esse é daqueles filmes que nos faz sair da sessão: leve, dançando, cantarolando… E até querendo dar uma Chef na nossa própria cozinha. Mesmo que seja para fazer uma refeição rápida com o que se tem na geladeira.

Em ‘Soul Kitchen‘ temos um jovem com raízes turca, mas que abraçou a Alemanha como sendo a sua verdadeira pátria. Assim, além de tentar se adequar a realidade local, meio que chama para perto de si, outros na mesma situação. Ele é Zinos Kazantsakis (Adam Bousdoukos). De um velho galpão que comprou numa zona decadente de Hamburgo fez um restaurante, e que nomeou de Soul Kitchen – soul, como a música. Primeiro, ainda bem que não traduziram o título do filme no Brasil. Depois, o Soul é um ritmo onde tudo deve fluir junto: melodia, voz, instrumentos, artista… E acompanhando o filme, vemos que é isso que Zinos quer para o seu restaurante: que todos se sintam integrados, estando ali. Tanto, que nem se importa de usarem um espaço do galpão para ensaio de uma banda.

Mas de repente a vida de Zinos parece ir de ladeira abaixo. Os clientes locais ficam na mesmice de só querer os mesmos pratos. As despesas estão maiores que o caixa. Para ainda lhe desconcentrar, tem a namorada, Nadine Krüger (Pheline Roggan), indo trabalhar em Xangai. Tem também seu irmão, Illias (Moritz Bleibtreu), que lhe pede um emprego para poder cumprir sua pena saindo diariamente da prisão. Mas Illias não quer trabalhar. Quer continuar na maladragem, nas apostas e jogos. Zinos consegue um Chef um tanto excêntrico: Shayn (Birol Ünel). De alma cigana, Shayn gosta de Zinos lhe ensinando umas receitas básicas que traria toda a diferença para o seu local, mas  pelo paladar geral da clientela fica o impasse se irão aprovar.

Como se não bastasse a pressão, Zinos encontra com um amigo de escola. Esse, Neumann (Wotan Wilke Möhring), tem uma imobiliária. Mas tem também, um outro tipo de trabalho, e ilícito. Neumann se interessa pelo restaurante. Mas precisamente, seu foco de interesse é o terreno. Assim, vai jogar sujo para conseguir a compra do Soul Kitchen.

E não acabou não! Tem mais! Além dos Impostos atrasados, o restaurante terá que passar por reformas, por ordens do Fiscal da Vigilância Sanitária. Zinos, ainda ganha uma baita dor lombar. Sem plano de Saúde, Zinos conhece Anna (Dorka Gryllus), uma Fisioterapeuta. Que como as dores de Zinos se intensificaram – após carregar nas costas, Lucia (Anna Bederke), sua garçonete, que apagou de tanto beber -, Lucia leva Zinos a um Knochenbrecher (quebrador de ossos). Onde ficamos na dúvida se rimos, ou se sentimos a dor junto com ele. Essa cena me fez lembrar do Conde Joffrey de Peyrac, da saga ‘Angélica – A Marquesa dos Anjos’, de Anne e Serge Golon.

Assim, entre incêndio, prisões, despejo, traição, dores, leilão… Zinos terá que decidir onde está de fato a sua alma. E que, como falei no início, ficamos de alma leve, após o filme. Até por nos mostrar mais de um renascimento.

A Trilha Sonora também é excelente! Assistam até os créditos finais, por ele vir como um complemento ao filme.

Por: Valéria Miguez (LELLA)

Soul Kitchen. 2009. Alemanha. Direção: Fatih Akin. Roteiro: Adam Bousdoukos e Fatih Akin. +Elenco. Gênero: Comédia. Duração: 99 minutos.

Ratatouille (2007)

ratatouilleNão sei cozinhar. Nem ovo frito. Mas sei comer. Comer bem. De tudo. E sei também apreciar a comida do rei e a do campesino. E concluo que ambas são feitas do mesmo tempero: o amor e a devoção. Comer é um dos mais básicos instintos. Deve ser respeitado. Um rato rouba, rói, range os dentes, mas tem um coração. Remy é assim. Um roedor que sonha com os aromas e com a boa mesa. Mora no interior, cercado por uma família honesta, mas obtusa. E vê na TV um grande chefe dizer que qualquer um pode cozinhar. E daí em diante começa a experimentar receitas e ervas. Abra os pimentões em dois retire as sementes e a parte branca e depois corte em tiras… Pique as beringelas e as abobrinhas em rodelas de não mais do que 1 centímetro de espessura, sem pelar.

Depois de uma caçada inclemente, ele chega são e salvo em Paris. A primeira noite em Paris é sempre insone. Cidade de luzes. O filme mostra em uma cena somente todos os arquétipos do francês: a bicicleta, o rádio, a cozinha e o vinho. Fora as Romisetas, os baguetes, os bigodinhos, os chapéus… São tantas e sutis as referências que quase arrisco a dizer que devo assistir novamente. Dentro do restaurante, o templo adorado do chefe Gusteau – reparem bem nos nomes de cada personagem, que lhes confere uma singularidade física ou intelectual- ele se depara com um desastrado ajudante de limpeza estragando uma sopa. Ele – o rato- não resiste e age. Descasque os tomates e pique em quartos, e tire suas sementes, raspando. Descasque as cebolas e faça fatias bem finas, descasque os dentes de alho e pique bem.

Seu prato feito na hora, com criatividade e carinho, assim como toda paixão deve ser, é aprovado de maneira inconteste. É descoberto pelo chefe, um sujeito baixinho, o Skinner (em homenagem a um estudioso de ratos) que é a inveja e afetação em pessoa. E capturado pelo Linguini, o serviçal da limpeza. Mas esse não consegue matá-lo. Forma-se então uma associação curiosa. O humano trapalhão e o animal talentoso. O bicho guia o homem. Pelos cabelos. Faça retornar com 6 colheradas de sopa de óleo de oliva as beringelas dentro de uma caçarola de ferro (eu prefiro de cobre, igual ao filme…) . Ajunte a ela os pimentões e deixe-os desfazerem-se uns minutos.

O sucesso vem aos atropelos. Junto com ele a rivalidade, os repórteres, a pressão dos familiares e tudo mais que atinge alguém que faz algo diferente e bom. Quando não se é ninguém, não incomoda nada. E até uma cisão ocorre entre a tão boa dupla. Além do amor atingir em cheio o marionete culinário, Linguini. Junte finalmente as abobrinhas e o alho junto com o bouquet garni. Sal e pimenta a gosto.

Momento de decisão. Quem é você? O que deseja? Vai recomeçar toda uma vida? Enfrentará as hordas de censura? E o grande crítico de culinária, será ela a sua própria consciência? Algumas coisas demoram e outras não. O segredo é saber exatamente o exato instante. Geralmente a escolha já foi feita à tempos. Cozinhe sobre fogo brando, durante 30 minutos. Regue um pouco com o resto do óleo. Prolongue a cocção por alguns minutinhos.

O final é muito lindo e poético. A fala do crítico é uma coisa à parte, de tão coerente e sincera. Não deixando de lado o humor e muito menos o amor. A cozinha se soma ao encanto e deixa um aroma de paixão embevecido à todos que assistiram o filme. Retire o bouquet garni* e o excesso de óleo, se necessário. Arrume tudo de maneira artística em um prato quente e sirva imediatamente.

O que há de bom: a vida de um cozinheiro e a mensagem subliminar de que as pessoas especiais assim o são independentes de como os outros as vêem
O que há de ruim: o filme foi feito em inglês e não em francês; ainda bem que a dublagem para o português está excelente
O que prestar atenção: a motinha da Colette é da marca Calahan, que desconheço, deve ser uma homenagem à diretora de fotografia do filme, a Sharon…
A cena do filme: quando os alimentos são combinados, a arte harmonização, principalmente pratos e vinhos é como o namoro, renovada a cada dia…

Cotação: filme excelente (@@@@@)

Dedico essa resenha aos três melhores cozinheiros que conheci: minha mãe, meu irmão e Renata.

Já você, mulher; pode deixar que passaremos nossa lua-de-mel em Paris…

Obs: o bouquet garni* é feito assim: coloque 10 ramos de salsinha, 8 grãos de pimenta-do-reino, 1/2 colher (chá) de tomilho, 1/2 colher (chá) de erva-doce e 1 folha de louro sobre um pedaço de pano fino e amarre, formando um saquinho ou trouxinha. (o pano fino deve ser de algodão tipo fralda ou amorim).

ratatouille-dishRatatouille

Ingredients:
Pour 6 personnes
Préparation : 40 mn.
Cuisson : 50 mn à 1 h.

500 g de poivrons verts
500 g d’aubergines
500 g de courgettes
750 g de tomates
500 g d’oignons
5 gousses d’ail
8 cuillerées à soupe d’huile d’olive
1 bouquet garni
sel fin, poivre blanc du moulin

Préparation :

0uvrez les poivrons en deux, retirez-en les graines et la partie blanche, puis taillez-les en lanières. Coupez les aubergines et les courgettes en rondelles d’environ 1 cm d’épaisseur (sans les peler).
Pelez les tomates, coupez-les en quartiers et épépinez-les. Pelez les oignons et émincez-les finement. Pelez les gousses d’ail et hachez-les.
Faites revenir les aubergines dans 6 cuillerées à soupe d’huile d’olive, dans une cocotte. Ajoutez-y les poivrons et laissez-les fondre quelques minutes.
Ajoutez ensuite les tomates et les oignons. Laissez cuire quelques minutes. Ajoutez enfin les courgettes et l’ail, avec le bouquet garni. Salez et poivrez.
Faites cuire, sur feu doux, pendant 30 minutes. Arrosez avec le reste d’huile. Prolongez la cuisson pendant quelques minutes.
Retirez le bouquet garni et l’excès d’huile, si nécessaire. Dressez la préparation dans un plat chaud. Servez aussitôt.

Por: COBRA.

 

 

 

Paris, eu te amo (Paris, je t’aime. 2006)

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Instantâneos de ilustres moradores se entrelaçando com anônimos numa Paris que não dorme. Nos convidando a conhecê-los!?? Gente que vive, trabalha, passeia. Com amor ou por um amor. Numa Paris que por ora uma metróple, noutras, a poucos passos surge como uma bucólica vila.

Gente que vivem uma paixão. Que sonha com um amor. Um amor que pode de repente cair aos seus pés. Ou por um que partiu para sempre. Um que fica esperando pela hora do reencontro – aquele olhar perdido da baby-sitter enquanto acalentava o bebê da patroa, arrepiou! Como também o tremor das mãos da para-médica segurando os cafés.

Nessa Paris que alucina até na visão de um casaco vermelho. Vermelho do sangue que corre nas veias. Ou mesmo como uma doce canção. Uma Paris multi-colorida. Quer seja durante o dia, quer seja à noite, ela pulsa em tons ora vibrantes, ora melancólicos, mas que reflete a luz do coração dessa gente. O episódio com os vampiros me fizeram lembrar dos livros da Anne Rice.

Onde os sentimentos, os medos, os anseios, as tristezas… ressurgem liberando a todos para um novo amanhecer. Para brindar o amor a vida. E como diz a canção “dançar com a música“. Pois a vida continua.

Amei o filme! Nota: 10.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Paris, eu te amo (Paris, je t’aime). 2006. França. 21 Curtas sobre a cidade de Paris. Gênero: Drama, Romance. Duração: 120 minutos. Elenco: Steve Buscemi, Miranda Richardson, Juliette Binoche, Willem Dafoe, Nick Nolte, Maggie Gyllenhaal, Bob Hoskins, Wes Craven, Emily Mortimer, Elijah Wood, Alexander Payne, Natalie Portman, Gérard Depardieu, Gena Rowlands, Catalina Sandino Moreno.

Diretores:
Olivier Assayas (segment “Quartier des Enfants Rouges”);
Frédéric Auburtin (“Quartier Latin”);
Gurinder Chadha (“Quais de Seine”);
Sylvain Chomet (“Tour Eiffel”);
Ethan Coen & Joel Coen (“Tuileries”);
Isabel Coixet (“Bastille”);
Wes Craven (“Père-Lachaise”);
Alfonso Cuarón (“Parc Monceau”);
Gérard Depardieu (“Quartier Latin”);
Christopher Doyle (“Porte de Choisy”);
Richard LaGravenese (“Pigalle”);
Vincenzo Natali (“Quartier de la Madeleine”);
Alexander Payne (“14th arrondissement”);
Bruno Podalydès (“Montmartre”);
Walter Salles (“Loin du 16ème”);
Oliver Schmitz (“Place des Fêtes”);
Nobuhiro Suwa (“Place des Victoires”);
Daniela Thomas (“Loin du 16ème”);
Tom Tykwer (“Faubourg Saint-Denis”);
Gus Van Sant (“Le Marais”).

Ratatouille (2007). Com um Tempero para a Vida…

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Oh céus! Ratos numa cozinha, nem pensar!  Só mesmo em filme E nesse, é até divertido de ver o ratinho. Ele, o Remy, é muito fofo!

Remy difere dos seus por gostar de culinária. Tem como ídolo um grande Chef francês. Acompanha pela televisão suas aulas. E tem um dom maior: um olfato apurado.

Por conta de um acidente de percurso vai parar no centro de Paris, e próximo ao restaurante do então falecido ídolo. E lá conhece o aprendiz de cozinha Linguini. Esse por sua vez não tem nenhuma vocação para Chef de Cozinha. Juntos terão pela frente o Chef que pretende ficar com o restaurante. E também um temido crítico culinário: Anton Ego. Que já tirou uma das estrelas do restaurante por conta de sua crítica.

Além do valor da amizade, o filme aborda o sair da mesmice. De ousar. De romper os limites. De fugir dos padrões. Fugir da rotina. Parodiando uma frase do filme: “Que se diga sempre para a vida: Me surpreenda!” É o tempero certo para o dia-a-dia!

Nota: 10.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Ratatouille. 2007. EUA. Direção e Roteiro: Brad Bird. Gênero: Animação. Duração: 110 minutos. (Oscar de Animação).