Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive. 2013)

amantes-eternos_2013O novo filme de Jim Jarmusch, “Amantes Eternos“, retrata o cotidiano de um sofisticado casal de vampiros do século XXI. Tão modernos a ponto de viver em continentes separados, Adam (Tom Hiddleston) em Detroit – U.S.A. e Eve (Tilda Swinton) em Tangier – Marrocos.

Amantes-Eternos_Tom-Hiddleston_e_Tilda-Swinton Ele é músico recluso com tendência à depressão e nostalgia e ela muito mais antenada com a tecnologia atual, diferenças ajustadas por conta de uma inteligência assombrosa. Esse pequeno desequilíbrio de evolução no tempo, natural de quem vive muito, não atrapalha a comunicação frequente de ambos e quando a saudade aperta, viajam de primeira classe com uma maleta de mão lotada de… livros. Sim, eles são inteligentes, ricos e elegantes, vestem-se com estilo e bebem sangue em taças como o melhor vinho. Preocupados com as mazelas do século, preferem ter “fornecedores” seguros do líquido vital a arriscar uma provável contaminação. Vivem assim o torpor ocioso dessa rotina lânguida e modorrenta até o momento em que recebem a visita da irmã mais nova de Eve, a espevitada Ava (Mia Wasikowska), que já havia causado problemas no passado por conta de sua jovial irresponsabilidade.

Amantes-Eternos_Mia-Wasikowska_e_John-HurtA escolha acertadíssima dos atores, sobretudo Tom Hiddleston e Tilda Swinton fazendo o enigmático casal, é o ponto alto da obra que tem ainda Mia Wasikowska e John Hurt completando o elenco. Também destaca-se a primorosa direção de arte, tão cirurgicamente detalhista que enche os olhos harmonizando sempre com o visual extravagante dos personagens (Os cabelos ressequidos e armados dos vampiros estão geniais). Tudo embalado por uma música envolvente (que inclui um divertido clip de Soul Dracula dos anos 70) permanecendo na mente mesmo após o filme e uma fotografia esmerada que valoriza enquadramentos belíssimos como as estranhas posições em que dormem as criaturas ou a visão bucólica e pitoresca da rua em que vive Eve, na exótica Tangier. Exalta a essência do tempo baseada no conhecimento e sabedoria como bem maior em diálogos cheios de nuances e um amontoado de imagens misteriosas que lançam suspeitas lúgubres a um suposto envolvimento de Shakespeare ou Kafka com uma longevidade vampiresca.

Assim como Adam e Eve, o filme “Fome de Viver” (1993) de Ridley Scott finalmente acaba de encontrar um par à altura para juntos serem cultuados eternamente.

Por: Carlos Henry.

Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive. 2013). Reino Unido. Direção e Roteiro: Jim Jarmusch. Elenco: Tom Hiddleston, Tilda Swinton, Mia Wasikowska, John Hurt. Gênero: Drama, Romance, Terror.

Hotel Transilvânia (2012). Seria mesmo uma fera o pai dessa donzela?

Indo pela contramão que diz que “toda donzela tem um pai que é uma fera“, mas reafirmando que chega uma hora em que ela quer mesmo ter uma vida própria, vemos que de fato esse paizão não é o que aparenta ser. Ele é um pai super zeloso na organização de mais um aniversário da filha amada. Sendo que esse seria o baile onde ela iria debutar. É! Ela cresceu e não queria mais ter suas asas podadas. Chegara a hora desse paizão ter que cortar o cordão umbilical. E essa é a tônica principal em “Hotel Transilvânia“.

O Hotel fora construído para que ao longo desses anos ela não se sentisse tão sozinha, como uma prisioneira num castelo. Assim, aumentou o castelo. Fazendo mais! Dificultando e muito a chegada até lá. E o fez por temer os humanos. Já que esse paizão é o Conde Drácula. Viúvo, criou sozinho a filha. Ela é Mavis, e já agora uma adolescente. Proibida até então de sair de casa, coloca o pai em papos de aranha para detê-la. É que antes era fácil envolvê-la em contos da carochinha às avessas. Mas crescida, as histórias de humanos maus não davam mais resultados. Era mais um vê para crer!

Paralelo a essa tortura existencial paternalista, Drácula vai recebendo os hóspedes do hotel, e que por conta do aniversário de Mavis chegam em profusão, e quase ao mesmo tempo. Além de quererem bem ao proprietário e a sua filha, creditavam a ele a principal propaganda do hotel: “Um lugar onde nenhum humano chegaria!

Acontece que um penetra bom de bico conseguiu chegar aquela não tão fortaleza anti-humanos assim. Porque o jovem em questão é um humano, e que para piorar o drama do Drácula, ele cai nas boas graças de todos, inclusive de Mavis, e ele dela. Ele é Jonathan, um andarilho. Alguém com um pé no mundo, ou seja: o sonho maior da jovem. Aumentando ainda mais o desespero do paizão.

Se para sustentar uma mentira já é complicado. Imagina, várias, e vindas em série? Como se não bastasse, o ratinho do Chef tinha um ótimo faro. Se numa homenagem ou não a um outro ratinho com dotes culinários, esse é um ingrediente a mais nessa grande confusão. Ops! Nessa festança que conta com convidados de peso como: Frankenstein, Múmia, Quasimodo, Homem Invisível e o Lobisomem. Que adicionam um ótimo tempero de humor a trama!

Hotel Transilvânia” é mais uma Animação que visa o 3D. Eu não vi, e não senti falta. O que me incomodou mesmo é não ter a opção com legendas. Não que eu não goste das vozes na Dublagem Brasileira. Eu gosto! Mas como também tem uma parte Musical, traduzir as canções perde um pouco a graça. Muito embora sendo nesse num estilo Rap foram salvas. Tirando esse detalhe, peguem a pipoca que o filme é muito bom! Cenários muito rico em detalhes. Com cenas hilárias! Enfim, é de querer rever!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Hotel Transilvânia (Hotel Transylvania. 2012). EUA. Direção: Genndy Tartakovsky. Gênero: Animação, Comédia. Duração: 91 minutos.

Elenco de Dublagem:
Adam Sandler (Drácula): Alexandre Moreno
Andy Samberg (Jonathan): Mckeidy Lisita
Selena Gomez (Mavis): Fernanda Baronne
Kevin James (Frankenstein): Mauro Ramos
Fran Drescher (Eunice): Mônica Rossi
Steve Buscemi (Wayne): Jorge Lucas
Molly Shannon (Wanda): Miriam Ficher
David Spade (Griffin): Marcelo Garcia
CeeLo Green (Murray): Reginaldo Primo
Jon Lovitz (Quasimodo): Márcio Simões
Sadie Sandler (Winnie): Pamella Rodrigues
Jackie Sandler (Martha): Flávia Saddy

Livro: Crônicas Vampirescas: A Rainha dos Condenados – Anne Rice

Após dois inacreditáveis sucessos literários com “Entrevista Com o Vampiro” e “Vampiro Lestat”, Anne Rice encerra em A Rainha dos Condenados talvez seu trabalho mais bem sucedido, a trilogia principal de As Crônicas Vampirescas (título sugestivamente jovem, ao contrário dos temas abordados, então não se deixe levar por ele). É inquestionável a colaboração dessa autora para a escrita contemporânea no uso de metáforas a fim de conquistar o público pela inteligência e, simultaneamente, incorporar sua visão crítica “afiada” sobre a sociedade. Ela não só reformulou as características dos vampiros, como também criou um épico cuja complexidade até hoje influencia novos personagens da mesma safra.

Observação: Sempre que indico um dos livros das Crônicas Vampirescas para alguém, alerto para que possua bastante cautela durante a leitura porque a autora é muito feliz na exploração de seus argumentos. Logo, se você for uma pessoa muito influenciável, preconceituosa ou receosa, aconselho que não leia. Temas como ateísmo, psicopatia, depressão, guerra e sexualidade sempre estão presentes.

Em A Rainha dos Condenados, Rice atinge o ápice de sua trilogia.  Se nas suas obras anteriores havia explorado demasiadamente o ateísmo como fonte de perguntas, as quais perseguem o ser humano pelo menos uma vez na vida, nesse procura pôr em julgamento a existência do homem na Terra. Akasha é uma das personagens mais intrigantes de toda a saga. Por ser a primeira da raça, é a criatura mais poderosa de todos os vampiros e, caso seja destruída, todos os outros também irão, então nenhum sanguessuga, pelo menos em sã consciência, tenta isso (excetuando-se alguns suicidas citados na trama, esses pereceram junto com milhões do planeta no momento em que Akasha foi ferida). Porém, o mais interessante de sua história é que a personagem permaneceu imóvel durante séculos apenas observando os seres humanos através da mente dos sofredores

Ilustração de Akasha, feita por um fã, mas igual à descrição do livro.

Ilustração de Akasha, feita por um fã, mas igual à descrição do livro.

Akasha pode ser a representação da justiça temível por todos. Nas crônicas de Rice, quanto mais antigo for o vampiro, mais ele consegue ler a mente dos seres humanos a largas distâncias. Por ser a mais antiga, ela podia escutar as vozes de todos os seres humanos em sua mente. Portanto, passou séculos escutando pedidos de socorro de pessoas passando fome, sendo agredidas, estupradas e assassinadas. Isso justifica seus pensamentos inflexíveis. Ela desperta com o intuito de acabar com as guerras e promover a paz, mas com derramamento de sangue. Por ter presenciado mentalmente tantos sofrimentos de mulheres, sua decisão inicial é quase extinguir os homens do planeta, deixando apenas um a cada cem mulheres (passando o controle da população para elas). Isso, obviamente, é confrontado por Lestat e os vampiros mais velhos que terão, após anos de matanças por prazer e sobrevivência, que defender os seres humanos. Mas nem os vampiros escaparam de seu juízo, Akasha percorreu o mundo matando todos, exceto aqueles por quem seu amante (Lestat) tinha consideração e os anciãos, os quais não poderiam ser destruídos por ela.

Apesar de ter uma solução estúpida para acabar com o sofrimento humano, é através de Akasha que Rice faz uma crítica ao feminismo, será mesmo que um mundo constituído apenas por mulheres terminaria com as guerras ou elas (as mulheres) também precisam dos homens para coexistirem? A rainha se contradiz em suas teorias ao necessitar urgentemente da companhia de Lestat como companheiro. Todavia, apesar da resposta parecer óbvia em nossas mentes ao lermos a proposta, Anne Rice constrói uma personagem que sabe lidar bem com as palavras e, quando estamos lendo, ficamos aturdidos ao tentar imaginar mais argumentos além daqueles utilizados por Lestat para convencer a Rainha (Akasha sempre consegue calar seus ouvintes com boa argumentação). E é aí que notamos o grande talento da autora em discursos, afinal o livro também pode ser uma aula sobre as formas de se portar num debate. Mas, partindo para o lado mais metafórico, Akasha representa a perda de controle por parte daqueles que possuem poder para governar, mas não o sabem aplicar com sabedoria, apenas com conhecimentos defasados.

Em sua vida humana de rainha do Egito, ficou assustada ao saber que os deuses não existem e, por isso, tem a necessidade urgente de tornar-se uma forma de expressão daquilo em que mais confiava para então viver em paz com sua consciência. Dessa forma também estará enquadrando seu círculo social à sua época. Dito isso, dá para imaginar a corrente de metáforas que essa personagem carrega. Os costumes de seu tempo já estão alterados e, assim como ocorre com outros vampiros, há algo em sua mente sufocando-a por notar que mundo não é mais o mesmo e o povo não reza para Ísis, identidade assumida por ela após tornar-se vampira.

Mas se você está pensando que o livro é apenas sobre isso, está muito enganado(a). Uma das façanhas mais admiráveis da autora é a de criar mitologias. Anne recria, através de descrições minuciosas, o Império Egípcio, dando mais realidade aos seus personagens. E a leitura é tão convincente que não é de admirar o surgimento de dúvidas a respeito da veracidade das informações contidas no livro. O contexto histórico narrado pela autora muitas vezes é fictício, mas é tão bem descrito que passamos a acreditar que aqueles costumes realmente fizeram parte de uma cultura em determinado momento. O segredo para isso é que Anne mescla elementos reais com fictícios de maneira surpreendente, afinal ela é fiel aos princípios da trama e aos leitores, não deixando escapar muitas evidências de algo inventado por mera distração, a impressão deixada demonstra uma base crítica contínua, excluindo a percepção ágil de um acontecimento ridiculamente impossível.

Apesar de, na época em que escreveu o livro, Rice ser atéia, ela evita ofender qualquer religião. Uma demonstração disso é que tudo na história é retratado como misterioso. Alguns personagens passam por situações em contato com o além, porém jamais é revelado o que ocorre após a morte. E é essa dúvida sobre o outro lado que impede os vampiros do suicídio, pois eles temem o castigo ou sofrimento eterno.  Visto isso, Rice decide utilizar alguns conhecimentos históricos para criar uma origem coerente, mesmo que fictícia, para os vampiros.  Fazendo um misto de todas as crenças apresentadas em sua mitologia, ela apresenta a mais assustadora criação dos vampiros. Não desejo estragar a surpresa para aqueles que pretendem ler, porém acrescento para não aguardarem algo leve, pois mesmo a trama sendo carregada de críticas sociais, há vários momentos de puro terror.

Sobre o romance amoroso de Armand, acredito que seja desnecessário comentar algo a respeito da sexualidade dos vampiros, visto que quem leu as obras anteriores não se surpreenderá com o rumo tomado por alguns personagens nesse desfecho. Isso pode ser melhor trabalhado numa possível análise sobre o primeiro livro. O único problema de continuidade que notei nesse livro foi a permanência da humanidade de Louis. Sei que ele continuou bastante humano no término do filme Entrevista Com O Vampiro, porém isso não ocorre na primeira obra, Louis torna-se frio no fim do livro, mas em A Rainha dos Condenados permanece sensível ao sofrimento alheio, sinceramente essa característica pode ser responsável pela superficialidade da personagem nessa terceira crônica.

Admito que fui ler A Rainha dos Condenados receoso de uma possível perda de qualidade na trama por conta das duas obras anteriores terem sido tão bem sucedidas e explorarem o universo vampiresco de forma bem ampla. Anne Rice nos surpreende a cada momento e a história nunca desacelera, como em Entrevista Com o Vampiro. Rice nos traz vários questionamentos sobre a crueldade do ser humano na terra e confirma o fato de seus vampiros serem tão cruéis quanto a humanidade consegue ser. Rice criou as obras definitivas sobre vampiros e, caso você não acredite, vá ler sem arrependimentos e apagando a  péssima adaptação cinematográfica da memória. Digo isso porque nenhum outro autor conseguiu explorar tão bem o psicológico dos vampiros de forma reflexiva abrangente sem esquecer os elementos fundamentais das criaturas, apesar de John Ajvide Lindqvist, de Deixe Ela Entrar, chegar bem perto.

Leitores e cinéfilos, passem longe desse filme.

Dossiê: trechos do livro (lançado pela editora Rocco). Tradução de Eliana Sabino.

Diálogo de Armand: “Nesta época de agora existe uma horrível solidão. Não, escute. Naquela época morávamos seis ou sete em cada quarto, quando eu ainda era um dos vivos. As ruas das cidades eram mares humanos; e agora, nestes prédios altos, almas ignorantes vivem em luxuosa privacidade, contemplando através de uma televisão o mundo distante onde se beija e se toca.”

Diálogo da Rainha dos Condenados (Akasha): “Este pode ser considerado um dos séculos mais sangrentos da história da raça humana. De que revoluções você está falando, se milhões de pessoas foram exterminadas por uma pequena nação européia por causa do capricho  de um louco, e cidades inteiras foram destruídas por bombas? E os filhos dos países desérticos do Oriente combatem outros filhos em nome de um Deus antigo e déspota!  As mulheres do mundo inteiro jogam os frutos de seus ventres no esgoto. Os gritos dos famintos são ensurdecedores, porém não são ouvidos pelos ricos que se divertem em suas cidadelas tecnológicas; as doenças grassam entre os famintos de continentes inteiros, enquanto os doentes em hospitais milionários gastam a fortuna do mundo em refinamentos cosméticos e na promessa de vida eterna através de pílulas.  – Riu baixinho.  – Alguma vez os gritos dos moribundos soaram assim tão fortes aos ouvidos daqueles que podem ouvi-los? Alguma vez derramou-se mais sangue?”

As Donas da Noite (Wir sind die Nacht, 2010). Uma das Melhores Transformações em Vampiro

Depois de um bom tempo de sumiço, decidi voltar aqui e comentar um filme novo a que assisti, chama-se As Donas da Noite. Pois é, a primeira vez que vi o cartaz imaginei: mais um filme independente ruim lançado por aquelas distribuidoras humildes. Mas não se enganem, esse parece ser um longa que está passando despercebido pelos cinéfilos. É claro que é uma abordagem mais pop do mito, porém o interessante é até que ponto a história se arrisca a reaproveitar as características clássicas das criaturas num ambiente de modernidade, sem se limitar a sustos ou personagens muito estereotipados.

As diferenças começam logo a partir da nacionalidade, o longa é da Alemanha e apresenta atrizes de talento. Nina Hoss pode não estar no auge de sua beleza, mas continua com seu charme e dá mais segurança à personagem, tornando-a, antes de tudo, uma empresária.  Karoline Herfurth (que fez uma participação bastante sensorial e marcante em “Perfume: A História de Um Assassino” como a primeira vítima de Grenouille) abre mão da beleza e passa boa parte do tempo mais feia que Macabéa (personagem de A Hora da Estrela), até ocorrer sua transformação.

Lena antes e após a transformação

Quem me conhece, sabe que sou fascinado por filmes de vampiros, mas na descrição de vários livros a transformação ocorre de maneira estética muito significativa, não é simplesmente alterar a cor dos olhos ou tornar a pele mais pálida, o vampiro precisar ser muito mais atraente comparando a sua forma humana, entretanto mantendo traços que nos façam recordá-la. Até hoje, o pó-de-arroz foi a maneira mais utilizada para retratar o humano após a transição, algo que sempre considerei muito esquisito, afinal não era para o vampiro parecer um metrossexual (como acontece em alguns filmes teens crepusculares). Isso tudo é consertado nesse filme. A transformação apresentada nele propõe que o vampiro não deve ser tão diferente dos humanos, só mais belos que sua forma antes da transformação.  As cenas em que as mudanças ocorrem em Lena inicialmente são dolorosas, mas o resultado final, que ocorre numa banheira, mostra de forma bela a transformação da jovem, alterando toda sua aparência com alguns efeitos especiais sutis.

Falando em efeitos especiais, não vá esperando um show de imagens porque os efeitos são apenas suficientes para a execução das cenas, há partes em que é óbvio o baixo orçamento (como a luz do dia entrando nos cenários), porém isso não estraga a diversão, afinal o importante é o roteiro. Esse apresenta quatro personagens centrais totalmente diferentes. Louise (Nina Hoss), como já foi dito, tem uma postura de mulher independente, com “ar” de empresária. Lena (Karoline Herfurth), a protagonista, já é mais recatada, sempre demonstrando timidez, exceto quando é necessário tomar medidas drásticas. Antes da transformação, Lena era uma menina marginalizada que vivia de pequenos furtos, logo sabe reagir. Charlotte (Jennifer Ulrich) representa os vampiros mais clássicos e intelectuais, admiradores de música erudita e que sofrem pela passagem do tempo, ela é extremamente calada e cruel, mas possui um passado triste por ter abandonado o marido e a filha pequena ao ser transformada por Louise, provavelmente à força. Nora (Anna Fischer) é o alívio cômico da trama, a mais louca de todas, muito engraçada , porém sem conteúdo.

Louise e Charlotte (superior) – Lena e Nora (inferior)

Como de praxe, os vampiros possuem extrema ligação com o sexo. As Donas da Noite retorna com alguns temas feministas e uma personagem lésbica. A questão é que a homossexualidade já vem sendo explorada de maneira metafórica em alguns filmes de vampiro, portanto não é de surpreender que haja uma certa discussão nesse longa. Louise se apaixona por Lena, mas Lena não demonstra qualquer interesse. Um outro ponto é a ausência de vampiros homens, num certo diálogo as vampiras explicam que estão extintos pela falta de cuidado e confusões com humanos, enquanto outros foram assassinados por suas próprias parceiras. Se analisarmos bem, a maioria dos vampiros mostrados nos filmes acabam sendo exterminados, então é compreensível essa explicação para embates com humanos. Pelo que podemos notar, essas vampiras representam a liberdade feminina, mas o longa também serve como mensagem, pois esse tipo de sociedade exclusivamente feminina não dura muito tempo. A busca pelo prazer continua tendo importância crucial na trama, afinal vampiros sempre representaram uma promessa de uma vida regada a sexo. Num dos diálogos, Nora afirma que elas podem fazer o que quiserem porque não engordam, engravidam ou ficam viciadas. Elas são donas de uma casa noturna, por isso o título As Donas da Noite.

Após várias versões de vampiros, finalmente um filme contemporâneo que consegue mesclar as características clássicas a uma trama simples que não ofende a inteligência, sendo suficiente para uma boa diversão e, o que não podia faltar, uma ótima trilha sonora. Ressaltando que não há ausência de sangue, algo raro em novas abordagens pops das criaturas. Só nos resta torcer para que os Estados Unidos não façam uma refilmagem, isso não é necessário pelo fato de que o longa-metragem, tal qual a versão sueca de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, foi feito aos moldes de Hollywood.

A Saga Crepúsculo: Eclipse

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Se o objetivo da saga Crepúsculo era metaforizar a transformação de uma garota em mulher, talvez tenha sido alcançado no livro, de alguma forma – o texto é ruim que dói – mas no cinema, a coisa tem se mostrado outra. Ao invés de passar essa mensagem a um publico jovem e deixá-los com informação e não só vampiros versus lobisomens e um amor por uma mulher. A história prega a castidade e a boa conduta. Tudo bem, mas quando vira piada e tudo é mostrado de forma caricata, tem algo errado.

No primeiro filme, tivemos a mão feminina de Catherine Hardwicke, que evidentemente, não conseguiu levar o filme tão bem e restringiu a trama a seu público feminino e nem ao menos tentou expandir para outros públicos, como Harry Potter o fez, universalizando os bruxos e desenvolvendo com muita calma suas personagens. Com o sucesso estrondoso, veio a segunda parte, Lua Nova, e com ele a competente mão de Chris Weitz, esse sim, conseguiu fazer da saga algo chamativo. Tentando sair de tudo o que servisse de chacota para a série, fez o melhor filme até agora.

E dessa vez, David Slade comanda a coisa. E o irônico: seu trabalho mais expressivo foi a pequena pérola vampiresca 30 Dias de Noite, divertido, sanguinolento e com vampiros que eram vampiros. Ele veio para substituir Chris Weitz, que ocupado com a pós produção do segundo filme, teve que abandonar o 3°. Isso mostra que os produtores querem mais é resultados e não qualidade. Weitz ao menos conseguiu levar um pouco de sentimento para as telas. Slade não.

Slade na verdade até dosa bem o erotismo e o suspense, mas convenhamos, trabalhar com atores ruins e inexpressivos, que mantêm a mesma faceta apenas para arrancar gritos da meninada, é dureza. O que poderia novamente dar sentimento às cenas é mais uma vez ofuscado com o brilho precoce das estrelas adotadas. A família Cullen é apática. Quando aparecem, parece que estão num clip do Backstreet Boys ou posando para as fotos dos posters. O pai, parece o Roberto Justus, um marombado lá só faz pose de marombado, as garotas, são todas chatas, o cabludo, Jesper, é irritante e seus olhos esbugalhados assustam mais do que o personagem fantástico que representa e Edward (Robert Pattinson), motivo de o público feminino entupir as salas de cinema, com cara chupada e atolado de maquiagem, que só faz uma expressão pra tudo na vida.

Os lobos até são bacanas, utilizar a cultura indígena como base é interessante, mas fazer vários rapazes correrem sem camisa, com shorts apertados e mostrando uma intimidade um tanto quanto suspeita, é chato. Jacob (Taylor Lautner), bom, ele vem garimpando seu espaço e já ofusca o vampiro. Só que ele brilha quando está no sol, e quando ofuscado, parece implorar para brilhar também. Não acontece. Os vampiros mais malvados são tão péssimos quanto. Começo por Bryce Dallas Howard, filha de ninguém menos que Ron Howard. Não preciso comentar mais nada. Dakota Fanning, que há uns anos atrás era menina prodígio, é reduzida ao máximo, e ela parece pouco se importar. Xavier Samuel, que até poderia ser um vilão legal, também é reduzido, uma droga. E pra rolar mais piadas relacionadas ao fato de os vampiros brilharem de dia, eles são de vidro, frágeis, ui.

Mas o grande calcanhar de Aquiles chama-se Kristen Stewart.

Que menina chata. Irritante, sem graça, em alguns momentos feia, desontrolada, chata, inexpressiva, chata, mal vestida – e isso parece que virou moda – chata e ainda por cima, dá uma de indecisa no filme. Ela, Bella Swan, que deveria mostrar coragem e força, demonstra male má disposição pra lutar por algo que nem ela sabe.

E nesse novo capítulo da trama, ela se vê dividida entre dois amores: Edward e Jacob. Só que eles, pertencem a raças que se odeiam mortalmente. Ok, tudo bem, mas, porque essa indecisão toda? Sem o menor interesse em aprofundar sentimentos e sim encher as cenas de mel com açúcar, tudo passa no melhor estilo novelão. Mas não qualquer novelão. Imagine Malhação numa versão mexicana. Seria algo mais ou menos assim.

Todo mundo estereotipado, as conversas que relacionam temas como primeiro amor, virgindade, incertezas sobre a vida, casamento, essas coisas sérias que costumam serem implícitas em filmes assim, acabam passando como motivo de piada. O roteiro tão bem escrito faz o fato de Bella ser virgem uma grande piada; e o fato da castidade de Edward outra grande piada. Tudo o que o roteiro repleto de saídas fáceis e furos intermináveis quer (tipo, porque só Edward brilha no sol ou porque para proteger Bella da morte eles levam ela para o campo de batalha?), é por os 3 numa mesma cena. E isso rende momentos odiosos, como os 3 numa mesma barraca, ou os pitis que eles dão em momentos de ciúmes. Pitis esses hilários, vão por mim. Involuntariamente, claro.

E o terceiro filme, que eu esperava me surpreender cinematograficamente falando, só desembestou de vez o que já estava escrito estar perdido. A fotografia que foi tão boa no anterior aqui é nada menos que tosca e o som é em muitos momentos sem sincronia. Seria esse um filme feito às pressas?

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A trilha sonora é até boa, tem bandas de muita qualidade como o trio Muse arrebentando, mas isso não salva filme, como já cansei de dizer.

Fui na esperança de ao menos manterem ou melhorar o que Chris Weitz tentou salvar dessa história. O que vejo é que se entregou de vez aos histéricos gritos das meninas e esqueceu de tentar expandir a obra. Uma lástima, só deixa nossa juventude cada vez mais na falta de filmes de qualidade.

Nota: 2,0
Cotação: *.

The Twilight Saga: Eclipse, EUA (2010)

Direção: David Slade.
Atores: Kristen Stewart , Robert Pattinson , Taylor Lautner , Billy Burke , Ashley Greene.
Duração: 130 minutos.

Matadores de Vampiras Lésbicas (Lesbian Vampire Killers. 2009)

matadores-de-vampiras-lesbicas-2009Quem assiste a esse filme com planos de levar a sério o assunto Vampiro, achará essa obra uma merda. Filme totalmente despretensioso só pode ser visto assim. Porém, até mesmo como uma boa comédia irônica, não leva pra casa as glórias, manca muito. Não diria jamais que se trata de uma comédia boa de se perder tempo; mas para os fãs de nós, vampiros, é bom ter esse longa na listinha de “assistidos” rs.

O terror, aqui, serve apenas como desculpa, não mais do que isso. Aliás, não há terror algum, há dentes, palhaçadas, gosmas, lesbianismos, machismos extremados e pastelão americano. A desculpa do terror é para escamotear uma sátira exagerada e maliciosa que é preciso ver para crer que tem diretores que orquestram o tempo perdido ainda nos tempos modernos em que cada segundo é precioso.

A lenda de Carmilla, a rainha Vampira, é de dá dó (risos); como matam as vampiras? nem vou me prolongar demais, a mensagem do filme é curta e GROSSA: No mundo lésbico, o remédio é o PAU. Resolve qualquer coisa!

Anyway…

Drácula precisa dar umas aulinhas para suas noivas lésbicas…

Saudações Vampirescas.

Por: Vampira Olímpia.

Matadores de Vampiras Lésbicas – Lesbian Vampire Killers.
Direção: Phil Claydon

Gênero: Comédia
EUA – 2009