O longa do diretor Xavier Dolan trata, neste novo argumento, também de juventude transviada, e já começa avisando: “Esta é uma obra de ficção”, e eu continuo: Qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência. É bem verdade, a trama é de fato uma obra de ficção e se passa no Canadá onde uma lei permite que pais, que tem algum filho com o comportamento problemático, o próprio país se encarrega de interná-lo em um hospital psiquiátrico e tratá-lo.
E logo na apresentação das personagens o diretor exibe ela, Diane ou Die, no jardim do Éden, colhendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Sabe-se que ela está viúva e tem um filho ‘aborrecente’ de quinze anos. O narrador foi maldosamente perspicaz ao utilizar-se de uma metáfora contundente para mostrar o caminho da interpretação que ele quer dar a esta história. E como toda historia é uma viagem, prepare a bagagem e o passaporte!
Na verdade o jovem Steve sofre de DDA, ou Distúrbio de déficit de Atenção. Quem é professor sabe bem o que é isso, pois quando se depara com determinada situação, é um deus nos acuda, ter em uma turma de 40 alunos, por exemplo, e um que sofra desse mal, dessa disfunção neurológica, dar aula torna-se impraticável, e o mestre, além de ter que se desdobrar em pelo menos uns dez, tem que ser bem criativo.
E aqui me fez lembrar o ditado: “Ser mãe é padecer no paraíso”, pois a personagem que tem um filho diagnosticado com DDA, difícil de ser tratado, terá que conviver para sempre com problemas e consequências que esse transtorno de muitos sintomas herdado geneticamente, será capaz de ser paciente, talvez abandonar o emprego, abrir mão de outros laços afetivos e também do lazer. Enfim, cada um com a sua cruz…e se alguém for capaz de dizer a essa pobre senhora: – Está com pena, talvez seja capaz de ouvir como resposta algo que não queira do tipo: “- Se está, leve para casa!”. Lamentável, porque até a mãe é meio desregrada. Ou não?
Bem o filme foi super elogiado pela crítica, levou o Prêmio do Júri do Festival de Cannes, mas não sei, não conseguiu me seduzir, peço desculpas. E Cannes também pode se enganar, ou por isso o prêmio ficou pela metade e a outra parte foi para o “Adeus à Linguagem” de Jean-Luc Godard.
Não senti firmeza na atuação do ator, Antoine-Oliver Pilon achei meio apelativo, e ele me transmitia certa insegurança e parecia não estar tão à vontade no papel escrito para viver o adolescente problemático.
E para quem ainda não assistiu, atente à personagem de Suzanne Clément como Kyla, a vizinha, super prestativa que ajuda ambos, a mãe e o filho, e perguntas surgem sobre a sua vida e como seu destino pode estar ligado a Die e Steve. E Kyla que na história tem dificuldade com a fala, e toda a explicação básica, fatos e acontecimento em torno dessa misteriosa pessoa é revelado aos poucos no decorrer da narrativa.
Confesso que me identifiquei mais com a história dela, desta personagem, gostei! Fica como sugestão ao roteirista que crie uma história tendo ela como protagonista.
Ah! Esqueci um detalhe: o que mesmo significa PADECER?
E.B.