Um Santo Vizinho (St. Vincent. 2014)

um-santo-vizinho_2014.Parodiando a máxima: dinheiro ou a necessidade dele que faz com que as pessoas mudem. Quer seja internamente ou mesmo por encarar novos desafios… o bom é quando não se deixa que certos sentimentos fiquem de fora… Mesmo que ela venha como uma trombada de um caminhão… Ops! Como uma trombada do destino de que mal se tem tempo de parar e pesar prós e contras. E foi meio por aí que o destino mexeu com a vida de uma mãe com um filho ainda criança, um veterano de guerra meio ranzinza, uma prostituta e por tabela um professor de uma escola católica. Tudo devidamente mexido… em “Um Santo Vizinho“.

O filme é muito bom! Não a ponto de ser uma obra prima, mas sim porque conferiu bem tudo ao que se propôs apresentar e indo além. O que me levou a uma dúvida em como contar essa história: se com ou sem spoiler. Mesmo não sendo um Suspense, mesmo o título no Brasil já meio que entrega um pouco a trama… Mas até porque o filme abre um leque com temas tão interessantes que mesmo numa simples análise corre-se esse risco. Como também até por não querer deixá-los de fora. Por tudo isso daqui em diante será por sua conta e risco! Eu até tentarei, mas ao traçar um perfil desses quatro personagens pode ocorrer sim algum spoiler.

um-santo-vizinho_2014_02.Sou fã do Bill Murray acho que desde os “Os Caça-Fantasmas“, de 1984. Daí tendo ele no elenco eu assisto e sem medo de que encontrarei ou não um bom filme no geral! Bill Murray navega muito bem entre a Comédia e o Drama, dando a tônica perfeita que prende a atenção. Por mais tédio que o personagem esteja passando fica uma pulguinha nos atraindo para cada cena com ele. Quem o viu em “Encontros e Desencontros“, de 2003, ou mesmo em “Flores Partidas“, de 2005, pode constatar. Para quem não viu ambos os filmes poderão ver nesse aqui e na subida dos créditos finais um melhor exemplo disso. Ele é de fato ótimo até estando o seu personagem entediado! Em “Um Santo Vizinho” é o tal veterano de guerra, Sr. Vincent. Um cara meio alheio aos problemas de sua casa, tendo nela mais um abrigo, ou quem sabe a deixe com um péssimo aspecto numa de “Afastem-se!” para com seus vizinhos… Cuida melhor do gato do que com sua própria alimentação. Avesso às mudanças. Tanto que continua usando os préstimos de uma mesma prostituta que se encontra numa avançada gestação. Ela é Daka, personagem da sempre ótima Naomi Watts. Daka também terá a sua vida afetada, mas não apenas pela gravidez. É que um certo menininho também a levará reavaliar sua vida.

Não sei se a escolha do elenco partiu do Diretor – que também assina o Roteiro -, Theodore Melfi. Creio que sim porque também é o produtor do filme. De qualquer maneira deixo aqui meus parabéns! Muito bom em se vê uma gama diversificada de atores interpretando pessoas que comumente encontramos a nossa volta. Sinal também de que Hollywood está mais “pé no chão“.

Por conta disso é muito bom também em ver Melissa McCarthy fugindo do esteriótipo de “gordinha“. Em “Um Santo Vizinho” ela é Maggie, uma mulher que ciente de que o marido a traía abandona até as mordomias que o casamento lhe oferecia para se aventurar com o filho num outro local. Até para provar que conseguiria dar um certo conforto ao filho, assim como uma boa escola. Acontece que nesse início se de um lado parecia já estar num fundo do poço… Por outro era então aproveitar que não teria mais de onde cair… Aceitando seu novo vizinho como um babysitter de seu filho, o Oliver. Até porque esse é meio que atraído por esse estranho vizinho. Numa relação meio simbiótica já que com ele Oliver não se sentiria o único “ser estranho“… Maggie capta colocando fé na relação dos dois. Oliver é muito bem interpretado por Jaeden Lieberher. Não tem como não se encantar com sua performance. Sendo assim, Vida longa a esse jovem ator!

um-santo-vizinho_2014_01Faltando entrar nessa história o tal professor. Ele é Irmão Geraghty, interpretado por Chris O’Dowd, cujo um outro trabalho que eu também gostei muito foi em “Missão Madrinha de Casamento”, de 2011. Geraghty apesar de ter que seguir tanto os preceitos da Igreja como o da Escola Católica, mais do que catequizar seus alunos, segue pelo caminho em levar a religiosidade até eles, até o dia a dia de cada um deles. Geraghty parece mais seguir a filosofia do Papa Francisco. Se bem que esse toque partiu mesmo de Oliver.

Assim, se foram questões financeiras e até um certo endeusamento que acabou colocando todos no mesmo barco, com certeza foi Oliver o mais frágil de todos que mostrou a eles o quanto uma mudança pode ser benéfica. Até em se notar que algumas vezes somos levados a continuar dando murros a esmo por uma rotina doentia. Com Oliver todos aprendem que o real valor dessa vida não está em ter, mas sim em ser por mais estranho que possa parecer aos olhos de todos. Algo que com certeza o final do filme mostra…

Então é isso! Creio que eu não trouxe spoiler significativo, até porque há muito mais para se ver inclusive com outras boas participações. “Um Santo Vizinho” é um filme muito bom! Para ver e rever! Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Um Santo Vizinho (St. Vincent. 2014). Ficha Técnica: página no IMDb.

As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower. 2012).

as-vantagens-de-ser-invisivel_2012_personagensPor Francisco Bandeira.
Em um mundo cheio de pessoas chatas e enfadonhas, ou simplesmente “normais” como manda a sociedade, as pessoas diferentes, malucas ou revolucionárias sempre se destacam, sejam de forma boa ou ruim. Mas há também aquelas pessoas que acham uma vantagem serem invisíveis.

O filme mostra as afetações que um jovem pode ter se não possuir uma boa base familiar. Charlie (Logan Lerman) parece pertencer a outro mundo, até conhecer Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), dois jovens que parecem livres, que não ligam para a opinião dos outros e vivem a vida da forma que acham melhor para eles. Logo eles adotam o protagonista, mostrando pra ele a vida que o mesmo está desperdiçando se fechando em seu mundo.

A obra realmente é repleta de ternura e melancolia, tendo um final sem muito impacto (sim, não achei foda), porém profundo e tocante. A mistura entre melancolia e inocência casa perfeitamente com a proposta do livro, além de ter uma visão bem interessante sobre essa geração.

Ainda que você não goste da fita, vale pelo questionamento sobre relacionamentos x amor verdadeiro e a cena que Charlie se sente infinito. Todos nós devíamos sentir essa sensação, talvez seja essa a real vantagem de ser invisível.

As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower. 2012). Ficha Técnica: página no IMDb.

Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused. 1993)

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Milla Jovovich

Milla Jovovich

Por Francisco Bandeira.
Apesar de ser um filme da década de 90, Richard Linklater mostra com perfeição o universo adolescente da década de 70, servindo como uma bela homenagem ao clássico de George Lucas, American Graffiti.

Linklater mostra os jovens colegiais em aventuras, sejam elas na sala de aula, em casa, ou no mundo com os amigos. Lá estão eles rindo, bebendo, paquerando, se divertindo como se não houvesse amanhã. Os jovens retratados pelo diretor são bastante intensos, mas nunca vazios ou estereotipados e acerta em cheio na atmosfera da geração retratada em sua obra.

Rory Cochrane e Matthew McConaughey

Rory Cochrane e Matthew McConaughey

Se fosse resumir o filme, eu diria que Dazed and Confused é puro Sexo, Droga e Rock’n Roll, mas com verdade e uma ternura que deixaria Hughes orgulhoso. Contando ainda com uma bela trilha sonora e um jovem Matthew McConaughey impagável, o filme merece o status de clássico que possui.

Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused. 1993). Ficha Técnica: página no IMDb.

10 Coisas Que Eu Odeio em Você (10 Things I Hate About You. 1999).

Heath Ledger e  Julia Stiles

Heath Ledger e Julia Stiles

Por Francisco Bandeira.
De início eu já digo: “10 Coisas Que Eu Odeio em Você” é o filme mais bobo do mundo. Porém, um dos filmes que resgatam aquele tom inocente, ingênuo e esperançoso dos jovens da década de 80, na quebra dos estereótipos e com uma trilha sonora deliciosa.

10-coisas-que-eu-odeio-em-voce_1999Aliás, é incrível como a safra dos anos 90 em diante não consiga resgatar aquela simplicidade dos filmes de Hughes e Cia. Caem logo em um tom sensacionalista, apelativo, mergulhando em clichês horríveis, não conseguindo debater sobre os jovens, suas inseguranças, seu turbilhão de sentimentos, suas aventuras sem soar piegas ou superficial. Por isso eu acho 10 Coisas Que Eu Odeio em Você uma verdadeira pérola do gênero.

Resgata aquele espírito otimista, esperançoso, a inocência dos relacionamentos, as incertezas dos adolescentes de sua geração, e ainda desconstrói os rótulos impostos pela sociedade (o bad boy, a patricinha, a menina marrenta, o menino novato do colégio, o mauricinho, o popular). Sem contar que tem algumas cenas clássicas, como o discurso que dá o título ao filme ou Heath Ledger cantando ‘I Can’t Take My Eyes Off of You’.

Clássico do gênero, merecidamente.
Ficha Técnica na página no IMDb.

Gatinhas & Gatões (Sixteen Candles, 1984)

gatinhas-e-gatoes-1984Por Francisco Bandeira.
John Hughes começaria aqui seu estilo único que marcou sua carreira, mesclando com perfeição comédia e romance, transformando os problemas adolescentes em comédias bobas e divertidas, como somente ele sabia fazer.

Molly Ringwald e Anthony Michael Hall

Molly Ringwald e Anthony Michael Hall

Gatinhas & Gatões é sim um filme repleto de clichês, mas que nunca deixa de prender a atenção do público, e que é capaz de causar um misto de sentimentos deliciosos, sejam eles lacrimosos ou sorridentes.

O filme tem a marca registrada de Hughes, da desconstrução dos estereótipos, onde os personagens do começo do filme vão mostrando quem realmente são e, ao final, são notórias suas mudanças. Mas não só deles, pois o público começa a ver melhor quem eles são de verdade. E talvez isso que torne Gatinhas & Gatões tão especial, pois é impossível não torcer por um final feliz para cada personagem de seu filme. Lindo, inocente, divertido e bobo, como todo bom filme desse cineasta que entendia os jovens dessa geração como poucos.

Gatinhas & Gatões (Sixteen Candles. 1984). Ficha Técnica: página no IMDb.

O Maravilhoso Agora (The Spectacular Now. 2013).

the-spectacular-now_2013_filmePor Francisco Bandeira. (O texto contém spoiler.)
Um Estudo das Imprevisibilidades que Nos Cerca.

Já deixo avisado a todos que não se trata de um simples filmes sobre os adolescentes de hoje! Encare ‘The Spectacular Now‘ como um estudo de personagem cada dia mais presente em nossa sociedade: um jovem adolescente, com muitas perguntas jogadas ao vento, sem a mínima noção de como respondê-las, sofrendo pressão de amigos (as), namorada, da família, e na escola, com seus professores que, ao contrário do que a imaturidade nos faz pensar, querem realmente extrair o nosso melhor e nos preparar para as imprevisibilidades do inevitável futuro que nos cerca.

Dito isso, somos apresentados à Sutter Keely (Miles Teller), um jovem popular da escola que, após terminar o namoro com Cassidy (Brie Larson), sai para a noitada em busca de aventura, regada com muita bebida. Ao amanhecer, deitado no gramado, o jovem conhece a encantadora Aimee Finecky (Shailene Woodley), uma jovem estudiosa e apaixonada por ficção científica. A partir daí, os dois começam um inusitado relacionamento, passando a refletirem duramente sobre seus papéis na vida dos outros e na deles mesmos.

miles-teller_the-spectacular-now-2013Já no começo do longa-metragem, nos são jogadas uma enxurrada de questões sobre vida, amadurecimento e futuro. E o protagonista tenta de início, tenta responder tudo de uma só vez, nos mostrando sua vida até o momento. Numa sequência extremamente bem montada, somos jogados à rotina do adolescente, até o surgimento de forma fantástica do título: The Spectacular NOW. Apenas com isso, o diretor já nos mostra muito do personagem principal: um jovem que só pensa no agora, sem ligar para as consequências do amanhã, tratando o futuro como algo ameaçador à sua “plena felicidade”.

O grande mérito do filme é nunca subestimar nossa inteligência, revelando de maneira sutil alguns fatos sobre o personagem principal. Por exemplo, em determinada conversa com sua mãe, logo descobrimos que seus pais são separados e, ao ser comparado com o pai, Sutter tem uma reação negativa. Mas, logo à frente, descobriremos que o protagonista não ver seu pai a um longo tempo e não entende o motivo de sua mãe evitar esse encontro, sempre dando um tom de vilão ao homem no qual o jovem tem boas lembranças de sua infância. Ou seu alcoolismo, tratado de maneira irreverente por Ponsoldt (virando especialista no assunto) como uma brincadeira adolescente, sem sequer notarmos tal vício, passando quase despercebido, assim como seus problemas pessoais.

O elenco, extremamente promissor, conta com ótimas participações de Brie Larson (talvez uma das melhores atrizes dessa nova geração) como Cassidy, a ex-namorada confusa, em busca de garantir seu futuro e Mary Elizabeth Winstead, como a irmã bem resolvida do jovem, que mesmo com pouco tempo em cena, concebe um desempenho impressionante, digna de aplausos por seu alcance dramático. Já os veteranos Kyle Chandler e Jennifer Jason Leigh pontuam com correção seus trabalhos como os pais do protagonista. Mas é inegável que o longa-metragem encontra na dupla principal seu maior trunfo.

Milles Teller entrega uma das melhores atuações do ano, na pele de um jovem cheio de problemas, seja em casa (ausência do pai em sua formação), na escola (um aluno totalmente desinteressado em terminar os estudos) ou na vida amorosa (foi chutado por uma menina que ele gostou de verdade e ainda tenta manter laços com ela). O ator oferece um leque de nuances, que vai do garoto extrovertido ao debochado, passando pelo melancólico até o apaixonado, soando sempre convincente. Beneficiado por diálogos brilhantes, Sutter se transforma no perfeito representante de sua geração: egoísta, desinteressado, que procura ajudar os outros para preencher seu vazio existencial, sempre buscando, de forma inconsciente, uma retribuição involuntária, sendo o possível motivo para seguir em frente.

spectacular-now_filmeA grata surpresa fica por conta de Shailene Woodley, que vive Aimee Finecky com imensa simpatia e ternura, encarando tudo com um honesto sorriso em seu lindo rosto, totalmente desprovido de vaidade, mostrando a jovem como figura devota a mãe (entrega jornal, faz as compras, cuida do irmão menor, estuda) e que pensa até em abdicar de seus sonhos (ir para uma boa faculdade, morar em uma grande cidade), pois não pode deixá-la sozinha! Aqui, a jovem simboliza a esperança nessa nova geração, onde acreditamos na pureza de seu amor por Sutter e em sua doce inocência, e quando nos damos conta, já estamos encantados com sua personagem, torcendo sempre pelo seu melhor.

No terceiro ato, o roteiro nos brinda com cenas memoráveis, destacando-se a conversas altamente reveladoras entre o jovem e seu professor e posteriormente com seu chefe, onde sem sutilezas, o adolescente se abre sem medo, rendendo momentos de verdadeiro impacto! A película ainda dá espaço para um belo simbolismo: quando tudo parece estar indo ladeira abaixo, onde Sutter se afunda de vez na bebida, o diretor foca no carro do protagonista, voltando para casa, mostrando o pneu caminhando sobre a linha, mostrando de forma absolutamente perfeita a situação que vive o rapaz. Um verdadeiro achado no cenário adolescente atual. Assim como seu desfecho, simplesmente corajoso, mostrando o total comprometimento de Ponsoldt em retratar de forma honesta esse período nada fácil, mas muito prazeroso em nossas vidas.

Melancólico, trágico e até poético, “The Spectacular Now” pode não ser um grande exercício cinematográfico, mas é, sem sombra de dúvidas, um filme essencial para sua geração, pois mostra algo que poucos jovens compreendem atualmente: o agora é realmente espetacular, mas nunca podemos descartar a hipótese de nos surpreendermos com as incertezas da vida, afinal, quem sabe o que pode acontecer? Final feliz ou não, nunca saberemos responder determinadas perguntas se deixarmos as oportunidades passarem diante de nossos olhos sem fazermos parte delas, pois VIVER O MOMENTO pode se transformar numa experiência interminável e devastadora, ao percebermos que já é tarde demais para se construir o futuro.

Avaliação: 8,5.