Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover – Part III. 2013)

se-beber-nao-case-parte-3_2013Eis que chega a última parte da trilogia ‘Se Beber, Não Case!‘ sob a batuta de Todd Phillips. Nos anteriores já havia de antemão a despedida de solteiro de um deles. Onde no primeiro “ganharam” de brinde o pancadão do Alan (Zach Galifianakis) por Sid (Jeffrey Tambor), o sogro do Doug (Justin Bartha). E Alan mostrou e provou que no quesito aventura urbana ele não faz por menos, apronta mesmo. Só que no fundo é um crianção. Talvez por conta disso Doug, Phil (Bradley Cooper) e Stu (Ed Helms) podem não ter caído de amores por Alan a princípio, mas depois fizeram dele um amigo. Com certeza mesmo o elo que o ligava aos três amigos já de longa data é por ser Alan cunhado de Doug. Por outro lado, Alan os tem como amigo, tendo Phil como um líder para essas loucuras. Algo que na cabeça de Alan é tudo normal. Até ter ficado amigo de outro louco como Chow (Ken Jeong).

se-beber-nao-case-parte-3_00Mas mais do que alguém carente de afeto, Alan extrapolou com sua última aventura. Mais precisamente com uma aquisição: a compra de uma girafa viva. Mais do que um brinquedinho, o sem noção dos limites do Alan termina provocando uma tragédia na auto-estrada, cujas consequências levou o pai a um ataque fulminante. Sem Sid que ainda detinha um certo controle sobre ele, sua mãe e irmã decidem interná-lo. Cabendo então aos três amigos levá-lo para a tal instituição.

E é quando a última aventura começa! Seria realmente a última? De qualquer forma, a caminho da clínica para doentes mentais tinha mais do que uma pedra a mudar o plano inicial. Sendo que dessa vez alguém corria risco de ser morto.

se-beber-nao-case-parte-3_01Como nas aventuras dos filmes de 2009 e de 2011, Doug também fica de fora nesse. Sendo que dessa vez a turma terá que fazer um servicinho para tirá-lo das mãos de um gângster. Onde entra em cena o personagem de John Goodman, o nem todo poderoso chefão Marshall. Que quer reaver algo que Chow roubou dele. E como Alan e Chow mantém contato, Doug fica de refém até recuperarem as barras de ouro roubadas. Assim, Phil, Stu e Alan partem para Las Vegas. Como bem disse o finado Sid certa vez: ‘O que acontece em Vegas, fica em Vegas!‘. Mas querendo também que o seja para Tijuana, no México.

se-beber-nao-case-3_02Além de trazerem personagens dos filmes anteriores, algumas participações merecem destaque. Uma é com a Melissa McCarthy. Ela faz Cassie, que se mostra tão louca como eles. Ela se encanta por um deles, e que há reciprocidade. Quem se lembra pelo menos um pouco do primeiro, viu que havia um bebê. Alan passou grande parte do filme carregando ele no colo até descobrirem a mãe dele. Pois nesse ele cresceu um pouco. Ele é Tyler (Grant Holmquist). O menininho não titubeou diante do louco Alan. Foi ótimo! Vida longa ao pequeno Holmquist!

se-beber-nao-case-parte-3_03O filme também traz como referências cenas de outros filmes, que termina como um ‘Quiz’ para quem assiste. Há como elo de ligação: a amizade, ou melhor, a cumplicidade entre os personagens. Uma seria com a fuga em ‘Um Sonho de Liberdade‘. Uma outra com a travessia da faixa de pedestre mais famosa do mundo. Uma, com o Alan no elevador bancando um funcionário do hotel me fez lembrar de uma em ‘Margin Call – O Dia Antes do Fim‘. Se foram homenagens ou não, já valeram pelo sorrisão no rosto.

Mas do que viverem uma nova e última aventura, ‘Se Beber, Não Case! Parte III‘ no final das contas também foi uma despedida de solteiro. Fechando assim o ciclo desse tipo de evento masculino a caminho do altar. Se bem que o final do filme deixou uma porta aberta para novas agruras… Ops! Digo novas aventuras com esses marmanjos. Que se vier, com certeza eu irei ver! Até porque um filme antes de tudo é entretenimento.

O Diretor Todd Phillips provou que sabe conduzir bem temas bem corriqueiros do Cinema. Atestado com mais esse. Conseguindo fechar e bem a trilogia com a saga desses homens em suas despedidas de solteiros. Mesmo  esse terceiro não tenha sido uma comédia rasgada quanto o segundo, eu gostei!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Se Beber, Não Case! Parte III (The Hangover – Part III). 2013. EUA. Direção e Roteiro: Todd Phillips. Elenco: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Ken Jeong, Heather Graham, Jeffrey Tambor, Sasha Barrese, Rachael Harris, Jamie Chung, Mike Tyson, John Goodman, Mike Epps. Gênero: Comédia. Duração: 100 minutos.

O Voo (2012). Anjo ou Demônio no Comando Daquele Avião?

o-voo_2012O Diretor Robert Zemeckis sem dúvida nenhuma merece o crédito maior em “O Voo“. Muitos aplausos por me deixar quase em suspense ao longo do filme. Eu digo “quase” porque não poderia ficar indiferente ao drama maior dessa história: o alcoolismo e o vício por drogas como a cocaína. Primeiro que quando se conhece pessoas que sofrem dessa doença, arrastando para esse vendaval familiares e amigos, fica difícil não oralizar algumas interjeições. Depois, por levar sem pressa esse “day after” na vida desse que apesar de todos os pesares conseguiu salvar dezenas de vidas inocentes. Também porque não deu para segurar as lágrimas no finalzinho.

Agora, a turma de elenco vem logo atrás nesse merecimento: performances excelentes. A destacar: Denzel Washington, Don Cheadle, Kelly Reilly, John Goodman e Bruce Greenwood. Tirando a personagem feminina, os demais orbitando no problema do personagem do Denzel. Sendo que, enquanto dois deles iriam tentar atenuar, ou até tentar inocentar, o terceiro era o que alimentava o problema do protagonista. Mas também estava em jogo o emprego de muita gente. Pois é! Não tinha apenas álcool e cocaína como vilões dessa história. Tinha também uma companhia com aviões que já deveriam ter virado sucata e um dono querendo se livrar desse elefante branco. Colocando mais lenha nessa fogueira.

O comandante Whip Whitaker (Denzel Washington) mesmo ciente que ainda teria um voo para fazer passa a noite bebendo e cheirando. Que para piorar usa a droga para acordar de vez. Ciente que é muito bom no que faz, faz uma loucura para tirar a aeronave do meio de uma tempestade, com isso forçando ainda mais a máquina. Num voo longo, bate a sede por uma bebida, o cansaço e o sono. Daí não pesou também a falta de experiência do co-piloto. Existem fatalidades. Assim como há também propabilidades de algo que começou errado, terminará errado. Mas existe também aqueles que funcionam bem sob forte pressão. E foi o que Whip fez tornando-se um herói, a princípio.

Mas um acidente dessa monta atrai investigações de todos os lados. Entrando em cena o responsável pelo sindicato Charlie (Bruce Greenwood), amigo de longa data de Whip. Ciente de que uma condenação para Whip atrairia uma avalanche de pedido por indenizações, contrata um grande advogado, Hugh (Don Cheadle). Esse, mesmo sendo bom no que faz sabe que terá um outro desafio: o de conseguir levar um Whip limpo perante a personagem de Melissa Leo, um osso duro de roer. Numa de “os fins justificando os meios”, Charlie e Hugh farão algo inimaginável até então.

Ainda no hospital Whip conhece Nicole (Kelly Reilly), que também por um “milagre” não perde a vida, mas em uma overdose. Nasce uma empatia entre os dois. Ele a convida para morarem juntos. A princípio, ela recebe como uma dádiva: ter onde morar. Mas para alguém que quer sair do vício, termina sendo um inferno. Ela não tem forças para nem para resistir, nem para ajudá-lo a sair dessa. Até porque Whip tem fornecedor “à domicílio”, o Harling, personagem do sempre ótimo John Goodman. Que abstraindo o que Harling representa, sua performance me levou a rir.

A pessoa mais fascinante que eu jamais conheci.”

Não sei se pode-se definir como regra geral que os que mais fazem loucuras exercem um fascínio maior aos demais. Se o carisma em parte vem pela ousadia. Mas que diante de uma tragédia onde o vício esteve como coadjuvante o que dizer, por exempplo, pelo “tapinha” que aspirou para deixá-lo ligadão? Claro que assustou vendo-o fazer isso e ciente do que estaria para acontecer. Mas se é algo não raro fora da ficção, fica a pergunta do porque fazem isso. Duas pessoas podem vivenciar as mesmas pressões, mas uma não procura amparo no vício.

Outro ponto alto de “O Voo” é que embora a história mostre que muitos acreditarão que fora um milagre, ou até que mesmo por linhas tortas foi obra de Deus colocar aquele competente piloto salvando a vida de muitas pessoas, Zemeckis mantém-se imparcial ao mostrar os fatos. Com isso crédulos e céticos terão as respostas que queriam. Como por exemplo o co-piloto e a comissária de bordo que ajudaram Whip a pousar aquele avião e evitando uma tragédia muito maior. Onde ambos terão que passar por mais um desafio: no que dirão em seus depoimentos. Se irão contra seus próprios princípios, morais, éticos, ou se apoiarão na fé, e com isso vendo-o como um enviado de Deus naquele momento? Mas para os que não veem Whip como um Anjo da Guarda, verão que nele talento para pilotar fazia dele o número um.

E quanto a Whip? A quão tanto mais ele iria descer na tentativa de salvar a carreira? Qual seria a provação que o levaria a sair da vida do vício? Até porque precisaria de fato de um milagre para voltar a pilotar um avião comercial. De herói a vilão estava bem próximo. Mas ele mesmo que foi o vilão do seu talento. É muito triste quando o vício arruina a vida de uma pessoa. Whip tinha um preço à pagar! Um preço alto.

Para finalizar, além do Roteiro, Fotografia, a Trilha Sonora também fazem de “O Voo” um filme de querer rever! Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Argo (2012)

94932_galArgo narra uma história emocionante, que mistura sorte, ousadia, e astúcia nas vidas de seis diplomatas americanos, que se escondem no Irão durante a Revolução Islâmica de 1979. Inspirado em fatos reais, o diretor Ben Affleck usa imagens de noticiários da época, capturando uma nação com raiva e prestes a transbordar. Depois da queda da embaixada americana em Teerã, seguimos os seis americanos escapando pela porta de trás e encontrando refúgio na casa do embaixador canadense.

Affleck– que não compromete em protagonizar o filme, mas que deveria ter escalado um ator de verdade para viver o ex-Agência Central de Inteligência, Tony Mendez, que teve a idéia de fazer um filme falso de ficção científica para resgatar os americanos no Teerã. Affleck brilha mesmo é  atrás das cameras, dirigindo e tendo o apoio de John Goodman, Alan Arkin, Bryan Cranston e um elenco sólido, embora o roteiro pareça concentrar-se menos sobre os atores e muito mais sobre o conteúdo e num humor cínico, que não curti tanto, mas que não compromete ao resultado do filme em si.

O filme é baseado no livro “The Masters of Disguise” de Antonio J. Mendez (não li, mas estou super afim de ler) e no artigo “The Great Escape”* de Joshuah Bearman (li,e, é excelente!). Como Hollywood tem uma longa história de reescrever a história, não é tão chocante assim que Affleck focalize apenas na figura Tony Mendez e no trabalho da CIA, e quase deixando de lado a figura do embaixador Ken Taylor (um Victor Garber quase sem falas) e da participação da Embaixada do Canadá para salvar as vidas desses seis americanos. 93947_galComo Tony Mendez é o herói, temos que “suavemente” tolerar um drama pessoal do personagem, que muito me fez lembrar do drama vivido pelo personagem de Brad Pitt em Moneyball (2012).

Bem, um filme deve ser julgado apenas pelos seus próprios méritos. Argo é uma película sólida!. É um filme de ficção e nada mais do que isso- não é um documentário! É um filme de grande entretenimento, não história. E, é o melhor filme da carreira de Ben Affleck, e um dos melhores do ano!

Nota 9/10

*Ilustrações do Livro.

O Artista (The Artist. 2011)

Não é um filme, é uma viagem. Portanto, prepare-se!

Todos que já fizeram uma viagem algum dia, por mais simples que seja, sabem da necessdidade dos preparativos. Roupas, acessórios, utensílios, bagagem! Dicas, informações, roteiro, pesquisa prévia para que se possa aproveitar ao máximo uma estadia que poderá ser mínima. O prazer não é medido em tempo, mas em qualidade e essência. Assim, ao se decidir por assistir ao filme “O Artista”, prepare-se, pois é uma viagem, onde o trajeto não se dissocia da estadia.
Não sou uma pessoa do ramo, não sou crítica de cinema, não posso ser considerada uma cinéfila, sou uma consumidora habitual de cinema e propagadora das obras que assisto e gosto, posso dizer ainda que, qualquer ida a um cinema já é um prazer por si mesma fazendo com que qualquer ida a uma sala de projeção com filme que consideremos ruim, é melhor que não ir. Conferir com os próprios olhos, exercer a própria opinião, desfrutar dos prazeres adjacentes do passeio.

Surpresa potencializada:

Vivo no Rio de Janeiro, cidade que há 10 dias já respira confete e serpentina, batucadas, animação, excitação, com extensa programação musical onde confusão, ritmo, batucada e barulho dão o tom acelerado dos nossos dias. Vivemos um mundo tecnológico, plugado de imagens, sons e animação. Dados periféricos que podem ter influência neste filme que não se assiste, se degusta! Agregado a isso, não li uma única linha sequer de qualquer resenha sobre o filme, afinal nessas épocas sou uma criatura totalmente submersa no mundo da música. Ver o filme começando, foi como ser içada das profundezas do mundo sonoro e isto a princípio não foi confortável.  Ler no cartaz que o filme tem 10 indicações para o Oscar, emprestou-me uma animação que empalideceu, logo ao fim dos créditos iniciais na tela.

O Cinema:

O primeiro impacto, o rosto extremamente agradável do protagonista, sim ele é lindo! Mesmo caracterizado como astro dos anos 20. Fraque cartola, elegância, bigodinho fininho, cabelo engomadinho tudo impecavelmente asseado, bem passado, lustroso. Depois o contato com a maneira como se assistia filmes nessa época tão remota. Orquestra ao vivo, elenco atrás da cortina e sua aparição para saudar o público. Demorou um pouco pra ficha cair e entender esse cinema de época.

O Filme:
Mostrar o contexto da exibição das obras, foi o gancho que me “içou”, trazendo a minha atenção para o que a telona mostrava, muito mais que as expressões exageradas, onde os gestos precisavam mostrar  aquilo que o cinema não oferecia: voz.
George Valentin (Jean Dujardin) é “o astro”, que leva milhares de fãs ao cinema, para ver filmes onde divide a cena com a sua esposa e o seu cão. Ele, George, é talentoso, bem humorado, vaidoso, autoconfiante, ególatra, orgulhoso, artista numa época em que os astros, se destacavam do restante da humanidade, ah, e tem as sombrancelhas mais expressivas do planeta! Conhece Peppy Miller (Bérénice Bejo), rende-se ao talento da moça e facilita-lhe a oportunidade. Quando o som começa a chegar ao cinema, ele é um dos que não acreditam na novidade.
A forma como o filme apresenta o paradigma de que uma artista de filme mudo não poderia adaptar-se à nova forma do cinema é sensível. A nova tecnologia convence ao próprio artista da sua incapacidade de se adaptar, de que ele faz parte de um passado que nem lembranças lhe deixaria.
A oposição entre novo e velho, a apresentação do artista como um utensílio descartável dessa forma de arte, baseada no comércio, na industrialização. É realmente o início da cultura onde os estúdios ditam aquilo que o público gostará de ver.
Peppy, deslancha, contratada pelo mesmo produtor de George, Al Zimmer (John Goodman). Ela tem a sorte de estar sempre no lugar certo, na hora certa. De ser tão nova quanto à novidade. Chega a ser poética a trajetória da estrela que sobe e do astro que decai. Peppy e George estão na mesma pista, em trajetórias opostas e não colidem, se encontram a a partir do respeito que jovem estrela tem para com o renomado astro. O filme tem personagens pungentes como o motorista, James Cromwell e o incrível cãozinho Uggie. Também tem humor e a decadência de George, nos toca  mas não prenuncia tragédia. George certo do seu talento e da inviabilidade dos filmes com voz, investe  pesado numa produção de contra ataque ao inimigo novo, é abandonado pela mulher  Dóris (Penelope Ann Miller) com ciúme exagerado na mesma medida que as representações da época, é surpreendido pelo Crack da bolsa que deu origem à Depressão de 1929. Mas para não sucumbirmos a esses  tantos dramas temos Uggie, o cão e a diversão da mulher de George em enfeiar suas fotos.

Mas como curtir um filme tão na contra-mão de tudo o que a indústria cinematográfica vem impondo como aquilo que queremos ver? Preparando-se para uma viagem no tempo, onde os sentimentos tem trilha sonora instrumental, poucas legendas e muita emoção, não a emoção dos filmes de ação, mas a ação das emoções. Ambientação perfeita e um andamento mais lento que mostra a perfeição nos cortes.  As cenas são límpidas e há recursos digitais nas cenas com o cãzinho, a tecnologia prestando o seu tributo à origem da arte que mais lhe “dá cartaz”  Tenha em mente que preto-e-branco também sem cores, porque o filme é de um colorido intenso, mas não para os olhos.

Quem é do tempo em que a global Sessão da Tarde valia a pena, vai ter a doce lembrança dos musicais em preto e branco com Fredie Staire sua simpatia, alegria e claro, sapateados. O filme traz muitas referências de priscas eras, e até mesmo de Cidadão Kane (a cena do café da manhã), que desembarcou nas telas muito depois da chegada do cinema falado,  nossa sensibilidade a um tempo que não volta.

Nota: 10,5 …

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O Artista (The Artist. 2011)

Pela primeira vez em muito tempo, há o risco de a estatueta mais concorrida do mundo do cinema ir parar em mãos realmente merecidas no quesito melhor filme.

O Artista” (The Artist) de Michel Hazanavicius é uma obra extraordinária. A começar pela escolha do astro principal Jean Dujardin para viver George Valentin, um ator da década de vinte que sofre com a chegada do cinema falado que elege novas estrelas como Peppy Miller (A não menos talentosa Bérénice Bejo). Jean tem um frescor inédito que oscila habilmente entre o charme irresistível e a pantomima divertida que o personagem exige em momentos de humor e melodrama divididos graciosamente com o esperto cãozinho Uggie. Este importante momento de transição já suscitou trabalhos históricos na sétima arte como “Singing in the Rain” e “Sunset Boulevard”. “O Artista” também deve se transformar num clássico inesquecível do mesmo porte.

Quem não se incomodar com o ritmo apropriadamente lento em vários momentos, a ausência de diálogos e cor e o superado formato três por quatro da tela, vai aproveitar um punhado de cenas geniais e antológicas como aquela em que Peppy brinca com o terno pendurado de George. De quebra, uma trilha sonora saborosa que embala uma atmosfera lúdica, ingênua e de puro deleite absolutamente adequada ao ritmo gentil de uma película totalmente desprovida do envolvimento frenético virtual dos dias de hoje. Na última parte, a sala de projeção traduz uma emocionante e explícita homenagem a Fred Astaire e Ginger Rogers numa sequência arrebatadora.

Desligue (completamente) o celular e mergulhe no mundo maravilhoso deste filme único e sedutor.

O Artista (The Artist. 2011)


Será que é pedir demais para o público apreciar um filme como “O Artista”?. Não sei não!. O enredo do filme em si não é exatamente novo– nem quero usar a palavra “original” aqui, porque hoje em dia, tudo se copia!.

Quando a estória começa, George Valentin (Jean Dujardin) é uma das principais estrelas da época, um astro arrogante do cinema mudo — do calibre de um Rudolph Valentino ou Erroll Flynn!. Valentin é um cara bem-humorado, apesar de uma vida doméstica fria ao lado de sua esposa (Penelope Ann Miller). Provavelmente, o estrelismo o fez esquecer da sua “amada”, embora o mesmo tenha uma grande devoção pelo seu cãozinho, que está com ele em tudo e qualquer lugar!.

Ai, surge uma fã de Valentin, Peppy Miller (Berenice Bejo) que se torna atriz — depois de vir de papéis inexpressivos em filmes mudos, Miller faz uma extraordinário transição ao cinema falado. Num estilo “Nasce uma Estrela” e “Cantando na Chuva”, vemos Miller se tornar uma estrela e Valentin cair no ostracismo no estilo bem Norma Desmond em “Sunset Blvd.”

O elenco é perfeito: me envolvi com a estrela Jean Dujardin – um ator de um seu sorriso largo, e irresistível!. Que presença magnética na tela!. Merece sim levar o Oscar de melhor ator do ano!!. Berenice Bejo, que tem um grande papel, e está perfeita, não deveria estar concorrendo ao Oscar de coadjuvante, mas sim de melhor atriz principal!. E, o John Goodman faz um “Louis B. Mayer” sublime!.

Lindos figurinos, e cenários de encher os olhos – as cenas externas em L.A são um espetáculo a parte!. A fotografia de Guillaume Schiffman, que fotografou o ousado “Anatomy of Hell”(2004), é simplesmente de cair o queixo!!. Creio que a trilha sonora de Ludovic Bource seja não apenas a alma, mas o que sustenta o filme em si, embora as melhores faixas sejam aquelas escritas por Bernard Hermann, tiradas do filme “Vertigo” de Hitchcock. Não sei que critério foi estabelecido para a sua candidatura ao Oscar, pois recordo que o trabalho de Clint Mansell em “Black Swan” (2010) foi menosprezado pela academia porque ele usou elementos da música de Tchaikovsky em “Swan Lake”, ou até mesmo a trilha de Jonny Greenwood para o filme “There will be Blood” ( 2007), foi preterida porque Greenwood usou material pre- existente de sua propria autoria!. Não será injusto se Bource vier a ganhar o seu Oscar, mas em mais de 10 minutos de imagem em o “Artista”, temos a música de Hermann na tela!. E, compreendo a frustração de Kim Novack ao declarar em público, que o “Artista” depende e muito da trilha de “Vertigo- ” isso é pura verdade!.

Co- editado pelo diretor Michel Hazanavicius, que também assina o roteiro, “O Artista” é  uma obra bastante criatividade e ousadia assim como Scorsese em “Hugo” (2011), o qual, foi a França para homenagear um dos pioneiros do cinema!. Contudo, o enredo de o “Artista” não tem nada assim de complexo– é apenas uma ousada e bela comédia-dramática. Bem, em termos comicos — as risadas que surgem a partir de situações familiares–, não achei tão engraçadas assim, exceto, as cenas que mostram Valentin com o seu tão adorável cãozinho!. Em termos dramáticos, o ritmo do filme diminui muito, ficando atolado num melodrama repetitivo. Sim a carreira de Valentin vai para o brejo, mas por que Hazanavicius precisou arrastar tanto o drama do seu astro para depois “jump” para a cena final?.

Particularmente, adoro cinema, e adoro assistir filmes na tela grande, mas quando um filme me faz bocejar é porque há algo errado!. Assistindo o “Artista”, me encontrei perguntando se eu estava entediado ou a platéia me fez entediado. Bem, a magia de estar em uma sala de cinema é o fato de que compartilhamos a alegria, a tristeza, o riso e o medo com estranhos. Várias vezes, eu me encontrei rindo, porque o riso do outro me contagiou. Assistindo o “Artista”, eu fiquei entediado pelos bocejos da platéia, os quais foram também contagiantes!. Se tivesse sido cortado 25 a 30 minutos do filme, não prejudicaria em quase nada!.

Não acho que esse filme mereça o Oscar, embora o mesmo seja tecnicamente (ainda) um grande filme!. Mas levando em consideração o “Discurso do Rei” (2010) que foi agraçiado com a estatueta como melhor filme, eu não me surpreenderei com a decisão de premiar o “Artista”, que curiosamente é vendido como um filme francês, produzido pelo ator Thomas Langmann, filho do cineasta Claude Berri, mas com dinheiro americano– tanto o filme não foi escolhido pela França para ser o representante do país para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Nota 8,0 – pela criativa homenagem ao cinema!