12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave. 2013)

12-anos-de-escravidao_2013_cartazFilme de 2013 dirigido por Steve McQueen (Shame), a obra é baseada em fatos reais e conta a história de Solomon Northup (brilhantemente interpretado pelo ator britânico Chiwetel Ejiofor), um negro livre que vivia com sua mulher e filhos na época da escravidão dos EUA, até receber uma proposta falsa de trabalho e ser sequestrado para ser vendido como escravo para o então impiedoso fazendeiro (Michael Fassbender). Começa então para Solomon 12 anos de trabalhos forçados e a luta para provar que ele não era um escravo.

Creio que qualquer história que relate torturas com seres humanos sempre é emocionante e chocante. Este filme não é mais um filme sobre escravidão. A história de Solomon e esses sequestros que aconteceram são pouco conhecidos, mas quando o filme termina você chega à conclusão de que isso não era difícil de acontecer. Motivo: negros livres, com cartas de alforria não representava muita coisa em uma época que negro não era gente. Imagino que muitos passaram por necessidade (o que não era o caso de Solomon, já que sabia ler e escrever e ainda era um exímio violonista), mas imaginemos aqui no Brasil com o fim da escravidão. É sabido que muitos ex-escravos não tinham para onde ir e não conseguiam emprego. Imagino que o mesmo aconteceu naquela época. Muitos negros livres cheios de falsas esperanças foram vítimas desses sequestros, algo brutal, toda forma de escravidão e tortura é brutal.

12-anos-de-escravidao_chiwetel-ejioforEu não quero sobreviver, eu quero viver!

12 Anos de Escravidão‘ foi muito bem construído e dirigido, sem cair na pieguice. Steve McQueen conseguiu dar realismo às cenas de açoite e aos trabalhos forçados aos quais os escravos eram submetidos. Vemos Solomon e pensamos que ele esta resignado com aquela vida. Mas Chiwetel Ejiofor tem os olhos tão expressivos, e em muitas cenas ele não diz nada, aliás, ele diz, mas diz com os olhos e nós entendemos o que eles falam: “Eu vou lutar, vou ver minha família de novo. Isso vai acabar.” Sua expressão facial é algo fantástica!

O cenário e o figurino também merecem destaque. Tudo foi minuciosamente pensado para retratar uma parte da história que merecia ser contada. E tenho que destacar o pequeno papel de Brad Pitt que interpreta um abolicionista, e também foi um dos produtores do filme.

12-anos-de-escravidao_steve-mcqueenNão tenho dúvidas de que Steve McQueen já entrou para o roll dos grandes diretores. Depois do excelente “Shame” eu não poderia esperar nada inferior que viesse dele, sem sombra de dúvidas um grande cineasta que ousou contar a história de um grande homem que foi Solomon e que vale à pena conhecer.

Cotação: 4 estrelas

Por Lidiana Batista.

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave. 2013). Reino Unido. Diretor: Steve McQueen. Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong’o, Brad Pitt, Paul Dano, Paul Giamatti, +Cast. Gênero: Biografia, Drama, História. Duração: 134 minutos. Baseado no livro homônimo de Solomon Northup.

Curiosidade: Oscar 2014 de Melhor Filme, Atriz coadjuvante – Lupita Nyong’o -, e o de Roteiro Adaptado.

Django Livre (Django Unchained. 2012)

95869_galFoi um natal sangrento, mas pelo menos, foi apenas na tela de cinema!  Admiro muito a criatividade de Tarantino, mas não sou um fã louco por seus filmes, contudo tenho que admitir que Django Unchained é simplesmente o melhor filme da carreira do diretor de Pulp Fiction (1994). Esse filme não tem um roteiro assim original, mas é puro divertimento!

De uma certa forma, Django Unchained oferece um olhar completamente novo na história americana sobre a escravidão, porém, não tem nada de didático, pois Tarantino foge desse tipo de método e técnica de linguagem. Em 2 horas e 46 minutes de duração –  não me senti entediado, em nenhum momento!. Mesmo com cenas super violentas, e muito sangue, o filme é salpicado de humor astuto e caricaturas ultrajantes do KKK e sua laia.

Por mais uma vez, Tarantino arrasa na escolha da trilha sonora!.  Nos letreiros iniciais que remetem ao estilo Spaghetti, somos informados o que Maestro italiano Ennio Morricone escreve uma canção originalmente para o filme “ Ancora Qui” , mas na verdade, embora seja uma forma de fazer uma homenagem mais do que digna para o maior compositor na historia do cinema – na minha opinião-, Django Unchained tem mais 3 canções originais e todas são incríveis: “Freedom” escrita pelo talentosíssimo Anthony Hamilton, “100 black Coffins” , do Rapper Rick Ross, e John Legend assina “Who Did that to you?” Amei essas canções assim como as classicas “Django” na voz de Roberto Fia, que muito faz lembrar Elvis Plesley,  e da linda “I got name” de Jim Croce, e, as musicas escritas por Ennio Morriocone e Luiz Bacalov.

Todas as atuações são nada menos do que espetaculares:

Apenas um detalhe, assim como em Inglourious Basterds (2009), que lhe valeu o Oscar de melhor coadjuvante, Christoph Walt repete aqui as mesmas atitudes e atos, e,  é ao lado de Jamie Foxx o protagonista do filme, e não sei o por que ele entra na corrida pelo Oscar como coadjuvante novamente? Sim, ele quase rouba o filme para si, mas não vi nada de original, embora seja um grande ator!.

Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio são os coadjuvantes de peso, e estão incríveis !.

Tecnicamente é perfeito, destacando a fotografia e ao trabalho de som!

P.S.: Um erro: Tarantino reservou para si uma participação pequena no filme!. Um vexame! 😦

Nota: 9/10

Histórias Cruzadas (The Help. 2011). Por Um Pedido de Socorro

Por Mario Braga

Para aqueles que gosta, ou gostaram da história de cunho social, principalmente referente à discriminação racial contra os negros no EUA e assistiram “A Cor Púrpura-The Color Purple”(1985) de Steven Spielberg. Esqueçam. Não que Spielberg, não seja capaz de contar uma história como ninguém sobre o assunto, mas “Histórias Cruzadas-Help”(2011), baseado  no livro de Kathryn Stockett procura ir mais fundo no preconceito latente em relação aos negros, principalmente as mulheres negras.

Num elenco em que há a predominância das mulheres tanto brancas quanto as negras retratadas em 1960, o diretor Tate Taylor soube  captar como nenhum outro o sofrimento e a dor daquelas mulheres que só conseguiam galgar trabalho na condição de empregadas domésticas. Tate é direto, seguro e foge completamente dos estereótipos, do que seja piegas e dono de um talento ímpar que compõe muito bem o perfil dessas mulheres sulistas.

Embora todas elas façam uma composição perfeita de suas personagens, não há como negar a atenção sobre o talento natural de Octavia Spencer (Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Help”) e Viola Davis como a doméstica contida que expressa toda a sua dor só pelo olhar, além das atrizes Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Jéssica Chastan e Allison Janey que completam esse universo feminino.

Não foi à toa que Taylor escolheu Sissy Spacey “Uma História Americana-The Long Walk Home” (1990) e Mary Steenburgen “Na Época do Ragtime-Ragtime” (1981), pois ambas (cada uma à sua maneira) nos filmes citados se apresentavam como mulheres liberais em seu tempo. Até mesmo como uma justa homenagem a ambas.

Vale citar a excelente fotografia de Stephen Goldblatt que pela manhã capta o calor exarcebado da cidade de Mississipi e a noite toda a tensão que a película exige.

Sem nenhum tipo de apelo emocional, mas muito bem conduzido, Tate Taylor domina o dom de fazer correr as lágrimas pelas faces dos marmanjões meio  durões, que habitam o nosso planeta, seja no escurinho de uma sala de cinema, seja dentro de casa no seu aparelho de LED com a luz toda apagada. Simplesmente magnífico.

Histórias Cruzadas (The Help. 2011). E a ajuda veio!

Abrindo um parêntese antes de analisar o filme. É que esse eu assisti no Festival do Rio 2011 – exibido como Vidas Cruzadas, mas que ao entrar no circuito comercial já virá como “Histórias Cruzadas“. Entre tantos a escolher… lembrei que uma amiga de blog, a Joyce, Blog Arte Amiga já o tinha citado. Então vi e amei! Valeu pela dica! Gostei tanto do filme que não entendi que só entraria no circuito comercial já quase Fevereiro de 2012. Pois uma data bem apropriada seria em 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra. Mas vá lá saber em como escolhem a data de exibição de um Filme no Brasil. Ainda mais esse que teve uma boa aceitação, de público e críticos, nos Estados Unidos; e da minha parte também. O filme é excelente! Até por conta disso eu resolvi deixar para publicar o meu texto já com ele em exibição. Incentivando assim a outros mais que não deixem de assitir. Agora sim, entrando no filme.

Histórias Cruzadas” traz como pano de fundo: de um lado as donas de casas e do outro as empregadas domésticas. Mas não se trata de uma luta de classe, e sim por mais dignidade e respeito entre elas. De imediato, há entre elas toda uma barreira de racismo. Herança de uma cultura escravagista. Num período de apenas algumas décadas passadas. Ambientadas em terras sulistas, mais precisamente no Mississipi. Como grande diferencial o filme traz um retrato 3×4 desses universos femininos. Mulheres iguais na essência, mas diferentes por forças das circunstâncias. O que estaria por trás, ou melhor, o que estaria de dentro dessas casas. Algo Histórico, mas focando mesmo na vida dessas mulheres. Num período bem marcante para todas. Onde se o saldo foi ruim para a elite local, veio quase como uma redenção para a classe espezinhada.

As tais donas de casas parecem terem saídos daquela escola em “O Sorriso de Monalisa”. Graduadas com mérito em: racismo, preconceito, futilidade, falta de amor visceral pelos próprios filhos. Delegando também às domésticas a criação dos filhos. Se tem como o grande vilão a segregação racial, tem como a personificação disso aquela que se auto proclamou a líder do grupo: a Hilly (Bryce Dallas Howard). Sua vilania é do tamanho e medida para aquilo que recebeu.

Se em “Domésticas – O Filme” temos uma prévia do grau do tratamento que muitas serviçais recebem das suas patroas, imaginem o que passavam na década de 60, Sul dos Estados Unidos. Época em que os Direitos Civis aos cidadãos negros tentavam entrar nesse território ainda com um tipo de milícia muito, mas muito cruel: a Kur Kurx Klan. Se por trás dessas máscaras estavam os maridos dessas patroas, o mais indicado seria que essas serviçais se calassem. Afinal, quem iriam socorrê-las?

_Coragem algumas vezes pula uma geração. Obrigada por trazer de volta à nossa família.”

A ajuda veio. Entre aquelas jovens brancas, uma resolveu ser a porta-voz das serviçais negras. Essa, nem o “casar e ter filhos” estava em seus planos. Seu sonho era ser jornalista com vôos em se tornar uma grande escritora. Da dona de uma Editora de Livros (Personagem de Mary Steenburgen) recebe uma importante dica. Que ganhasse experiência, não apenas no escrever, mas também em observar o entorno. Com isso teria o que dizer e como dizer. Essa jovem é Skeeter, personagem de Emma Stone. Se em “Amor a Toda Prova” ela não fez a diferença, em “Histórias Cruzadas” ela mostrou que está no caminho certo. Eu gostei da atuação dela.

Skeeter ao voltar para casa após se formar em jornalismo tenta se enquadrar na vida social local com as antigas colegas do colegial. Mas de imediato já destoa das demais por procurar um emprego em vez de um futuro marido. Conseguindo uma vaga no jornal local. Mas de algo que não tinha a menor aptidão. A vaga é para uma Coluna sobre Dúvidas e Sugestões em Trabalhos Domésticos. Parecia até piada, mas foi isso que a levou a se aproximar mais das serviçais. De uma em especial: Aibileen. E é por ela que conheceremos toda essa história. Eu comecei esse artigo com a Skeeter para então chegar na ligação entre as duas.

Aibileen é interpretada pela Viola Davis. Que está excelente! Por ela que temos também o porque do título original: “The Help“. Uma cena linda que foi menosprezada ao escolherem o título aqui no Brasil. Pois “Histórias Cruzadas” não faz jus as súplicas de Aibileen em suas conversas diárias com Deus. Escrevia tudo o que passava, o que percebia, o que ficava sabendo… Palavras muito mais fervorosas que qualquer oração. Skeeter na realidade foi quase uma ghost writer de Aibileen. Fora um salvo conduto num mundo onde ainda os brancos imperavam. Mas ela também teve uma história para contar no tal livro.

A cena de Aibileen escrevendo essas cartas para Deus, emociona. Até por algo sofrido, e muito especial. E pelo todo, me fizeram lembrar também da música do Gilberto Gil, “Se Eu Quiser Falar com Deus“. Aibileen mais que a Skeeter trazia em si o dom de escrever. O talento pode até vir de um aperfeiçoamento, de estudos, mas o dom é algo inato. Como também, só o fato de transcrever para o papel os sentimentos sofridos, já é um modo de exorcizá-los.

E é seguindo esse elo entre Fé e Realidade que ficamos conhecendo as histórias também das outras serviçais. Claro que todas essas histórias se cruzavam. Afinal todas elas, patroas e empregadas, moravam na mesma cidade, mesmo que em condados separados pela segregação racial.

O filme é longo, mas em nenhum momento perde o ritmo. Pois a atenção se mantém até por querer conhecer todas as demais histórias. As demais vidas. Saber da reação de todas quando o livro é publicado. Vibrar pela irreverência de Minny, personagem da Octavia Spencer. Minny é uma empregada que não deixará barato as injustiças que sofrera até então. Como também em soltar um palavrão na cena onde uma das amigas da mãe (Allison Janney) de Skeeter a obriga fazer, e até pelo motivo que a outra viu como afronta. Em se solidarizar com uma outra branca excluída pelas demais, a Celia, personagem de Jessica Chastain. A dupla Minny e Celia é uma comédia! Não tem como não se encantar com elas. Ri junto com a personagem da Sissy Spacek numa certa cena. E muito mais!

Uma das reflexões que o filme deixa é de que ainda há muitas dessas histórias nos dias atuais. Sob a égide de: cada um no seu lugar. Uma certa hierarquia dentro do campo profissional por certo há de se aceitar. Mas sem humilhações, nem constrangimentos com os subalternos. Na intimidade de uma casa, assim como numa empresa, precisa que haja um bom relacionamento entre todos para que tudo funcione bem. Do contrário, é uma ladeira abaixo até a falência familiar. Então a égide seria em valorizar quem realiza de fato as funções essenciais. É preciso respeito mútuo entre todos. E tirando o lado empregatício há de se pesar também o carinho que se recebe desses que em muitas das vezes terminam como sendo um membro “da família”.

Histórias Cruzadas” também deixa outras questões. Uma delas seriam com os homens. Em porque de terem sido ora passivos demais, noutras até violentos demais em meio a toda essa trama. Se eles são o que são por também serem produtos desse meio? Mas como citei, são reflexões após o filme. As máscaras deles não foram retiradas. O filme é delas!

Até pelas performances dos atores, destacando também a Direção e o Roteiro de Tate Taylor. Não li o livro de Kathryn Stockett, o qual o filme foi baseado, mesmo assim a história foi muito bem contada.

Então é isso! Entre emoções, risos e lágrimas, o filme entrou para a minha memória afetiva. De querer rever.

Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Histórias Cruzadas (THe Help, 2011)

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Baseado no romance de Kathryn Stockett, “The Help”, o filme de Tata Taylor, narra a história de uma determinada jovem branca, que se sente injuriada com o tratamento que as empregadas domesticas afro-americanas são vitimadas por suas patroas, em Jackson, Mississipi, na década de 1960.

Não li o romance de Stockett, mas o roteirista e diretor Tate Taylor não sacrifica muito, pois nada é explicíto no seu modo de narrar. A violencia vivida pelos negros no conturbado anos 60 nos Estados Unidos, não tem a mesma visão realista usada por Alan Parker, em “Mississipi em Chamas” (1988). Em “The Help”, o saldo se mede em comédia, drama- o que permite que os espectadores sintam compaixão e tornem parte do mundo das personagens.

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“The Help” é uma vitrine para seus atores. Viola Davis e Emma Stone, aparecem como fio contudor do filme. Stone vive Skeeter, a tal determinada jovem, que luta pela causa da classe minoritaria. Aibileen (Davis) é a voz que representa todas essas mulheres afro-americanas violadas pela discriminação racial. E, o seu testemunho serve de base para o livro “The Help” escrito por Skeeter, que subsequentemente representa outras multiplas vozes, dispositando uma Metaficção, onde Tayler exponhe ficção na ilusão ficcional, para dar um clima de verdade a narrativa.

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Curiosamente, achei as performances de apoio bem melhores do que as que foram entregues a Viola Davis e Emma Stone. Por examplo, a bela Bryce Dallas Howard como Hilly, encarna a personificação do mal como uma dona de casa racista, e ignorante. No entanto, o destaque do filme pertence a Octavia Spencer como a amiga de Aibileen, Minny, e Jessica Chastain como adoravel Celia Foote. Esta ultima é vista como uma “white trash” por Hilly e outras senhoras.  Chastain brilha em todos os filmes que fez este ano- “The Tree of Life”, “Take Shelter”,  “Debt” e Coriolanus-, e deveria concorrer ao Oscar contra si mesma da categoria de melhor atriz coadjuvante de 2011.  A Celia de Chastain é uma personagem cheia de vida, mas que sofre por não se enquadrar no grupo das senhoras respeitadas da cidade. Como Minny, Spencer está em fuso. Com os olhos arregalados e de fogo, ela comanda a atenção do público tanto quanto ela chama a atenção dentro da narrativa. Minny é o personagem que você torce, ri e deseja ser. Se Davis e Stone são o coração deste filme, Chastain e Spencer são o sangue pulsando a alma, e corpo  de “The Help”.

Por mais que haja aquela mensagem social, o filme de Taylor é vago. “The Help” não me tocou depois que acabou. Não que seja ruim, pois não é, mas não me deixou com aquele gostinho de querer rever.

P.S.: Sucesso de público e crítica, o filme provavelmente vai receber muitas indicacões ao Oscar. E, merecidamente Davis vai ser indicada como atriz – mesmo que o material aqui não chegue aos pés do seu desempenho em “Doubt” ( 2009).

Lindissima a trilha escrita pelo sempre injusticado Thomas Newman, que diferente do seu pai, o maravilhoso Alfred Newman, esse ganhou 9 Oscars, nunca ganhou nada, e esse ano provavelmente nem indicado aos Oscar vai ser! 😦

 Nota: 6

Vidas Sem Destino (Gummo. 1997)

Filme difícil de digerir, um tanto quanto denso. A experiência não é das mais agradáveis. De fato, durante a projeção fiquei tentado a desistir de chegar até o final – não pela temática do projeto, mas pela maneira que o filme é conduzido. Uma sensação de mal estar é quase que inevitável durante os 89 minutos que nos encontramos em frente à tela.

O responsável pela façanha é o cultuado Harmony Korine, que estrou no cinema ao assinar o roteiro de um outro filme perturbador: Kids. Em Gummo, ele estreia como diretor e faz algumas experiências bizarras no controle das câmeras.

É um exercício penoso tentar elaborar uma sinopse para este filme, porém se eu tivesse que identificar um protagonista para a história (se é que podemos dizer que há uma história) seria a caótica cidade de Xenia, em Ohio. Ao mesclar ficção com fatos reais, Korine nos apresenta a um lugar pós-apocaliptico após um tornado ter devastado à cidade em questão.

Muitos morreram, pessoas foram dizimadas e famílias despedaçadas.Já não há mais adultos e agora as crianças e adolescentes sobrevivem por eles mesmos. Neste contexto, como seria a vida destas pessoas? Harmony Korine traz uma visão niilista em sua película: há uma desconstrução de padrões difícil de suportar. A cidade é imunda e desorganizada – não há uma única cena que não seja extremamente poluída (entenda sujeira, brinquedos despedaçados, pernas de boneca penduradas, camas desarrumadas, louça sem lavar, água preta, carros quebrados, roupas velhas, unhas sujas, entre outros).

O filme não tem uma história central. Ele começa sem um início e termina sem um fim. Simplesmente somos arremessados para dentro da cidadezinha de Xenia. Como uma espécie de guia turístico, o diretor nos convida a conviver por alguns minutos com a rotina de seus moradores. Somos introduzidos para a escória do submundo humano – vamos participar da antivida de seus habitantes e mesmo querendo fechar os olhos, vislumbraremos apenas como se dá a sobrevivência daqueles que, de alguma maneira, já estão mortos.

Dentre estes habitantes, temos um núcleo inspirado no White Trash – ou Lixo Branco, termo utilizado para pessoas brancas de baixíssimo estatuto social, cultural e econômico. Equivale a chamar as pessoas de selvagens ignorados pela civilização. De fato, é isto que encontramos. Pessoas esquecidas que cultivam a sua própria imundice, como num movimento que diz “é isto que vocês querem? Então é isto que vocês teen!” – um freak show depressivo, onde encontramos a podridão da humanidade concentrada num único local.

O mais irônico, e talvez este seja o ponto que Harmony Korine pretenda chegar, é que por mais distante que este mundo pareça estar de nós, encontramos nele tão somente o que encontramos no nosso dia-a-dia. Não há nada de novo, senão repetição do nosso cotiano. Talvez seja por isto que nos sentimos tão perturbados: quando encontramos à nossa imundice espelhadas diante de nós, sentimos repulsa – quando não vergonha – de quem somos.

Basta pegar os elementos tratados em Gummo e comparar com nossa vizinhança – ou mesmo dentro de nosso lar: suicido – há relatos desesperados pelo fim do tormento que é esta vida sem sentido, nem razão; prostituição – há pessoas que vendem seus próprios entes para se prostituirem em troca de algum dinheiro; abuso sexual – pais que estupram filhos e pessoas que forçam uma relação; racismo; dependência de drogas; tortura de animais; violência pró-diversão; doença; preconceito e homofobia.

Tudo isto manifestado por jovens menores de idade. O tapa na cara é forte. A discussão é hiper-real justamente por que não sabemos o que seria da vida caso estivéssemos nesta posição surreal. Existe o real, evidenciado pelas situações acima, ofuscada por um fictício, que é o universo proposto por Korine. Quando pegamos todos os elementos e jogamos num liquidificador temos uma sociedade hiper-real: não falsa, não fantasiosa, mas real em um determinado nível de modo que não podemos alcançar esta realidade – por isto hiper-real.

Filme de alto teor culto e reflexivo, porém na mesma proporção encontramos a melancolia, pessimismo e desânimo. Fora a trilha sonora que te leva entre músicas calmas dos anos 50 para o Trash metal mais pesado possível. Isto atenua ainda mais o mal estar, como se lhe jogassem para cima e para baixo sem freio nem remorso.

Eu, particularmente, não pretendo revisitar o filme, a não ser em minha mente, onde ele está bem vivo, principalmente algumas cenas chocantes que insistem em permanecer. Termino esta resenha e vou direto tomar uma aspirina, para curar a dor de cabeça, e um energético, para me trazer disposição e – quem sabe? – um sorriso. Korine pegou pesado demais neste trabalho. Porém eu bato palmas de pé para o diretor e irei acompanhar os seus outros trabalhos, afinal ele atingiu o seu objetivo apenas ao trazer o espelho para a tela de projeção.

Por: Evandro Venancio. Blog: EvAnDrO vEnAnCiO.

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0119237/
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=35Hg8bIFu-A

Gummo. 1997. EUA. Direção e Roteiro: Harmony Korine. Jacob Reynolds, Chloë Sevigny,  Nick Sutton, Jacob Sewell.