Por Humberto Favaro. Leve, sensível e extremamente emocionante, a adaptação aos cinemas do livro A Menina que Roubava Livros, do escritor Markus Zusak, nos mostra a história da jovem Liesel Meminger, num trabalho magnífico realizado pela atriz Sophie Nélisse (O Que Traz Boas Novas).
Durante a Segunda Guerra Mundial, por não ter escolha devido ao regime nazista, a mãe de Liesel, que é comunista, é forçada a entregar a menina e seu irmão para outra família, porém, antes de serem entregues, o garoto morre no trajeto e é enterrado num lugar próximo. No processo de enterrar o menino, um dos coveiros deixa um livro cair no chão e Liesel imediatamente rouba o seu primeiro livro, mesmo sendo analfabeta. É aí que a Morte se interessa pela menina e começa a narrar os acontecimentos do longa.
Depois do ocorrido, Liesel é entregue a sua nova família, um casal sem filhos, interpretados por Geoffrey Rush (O Discurso do Rei) e Emily Watson (Anna Karenina). De início, a jovem não se acostuma com o novo lar, mas aos poucos é conquistada de forma sutil e engraçada por Hans, seu pai adotivo, e é com quem começa ter uma relação tão amorosa que chega a ser emocionante em alguns momentos do longa. Já a mãe adotiva, Rosa, é mais “sangue frio” e trata a menina de forma mais séria, o que proporciona alguns risos.
Na nova vizinhança, Liesel começa novas amizades, mas logo é obrigada a ter Rudy (Nico Liersch) como seu melhor amigo, já que o menino implora a atenção dela o tempo inteiro. Apesar de terem a mesma idade (?), é perceptível a diferença de pensamentos de Rudy e Liesel. O menino é muito mais influenciado pelo nazismo do que ela. Certos momentos do longa, Liesel parece não concordar com alguns atos do regime, enquanto Rudy o segue como um carneirinho. Porém, mais tarde, Liesel consegue influenciar Rudy e fazê-lo pensar sobre quem é Hitler e o menino acaba chamando o führer de “bundão” num momento de euforia.
Outro personagem importante da trama é Max (Ben Schnetzer), um judeu que se refugia na nova casa de Liesel, e que é impedido de sair de lá por motivos óbvios. Com o mesmo amor que sente por seu pai, Liesel se apega a Max, que se torna de suma importância na vida da menina e é quem a incentiva a ler e a escrever. Uma das frases mais marcantes do longa é dita por ele: “Se seus olhos falassem, o que diriam?” Então a garota narra como está o tempo e, chorando Max agradece, já que a menina detalha tanto que ele consegue enxergar e fica feliz, porque está no porão e não vê a luz do sol há muito tempo.
A Menina que Roubava Livros conta com uma fotografia fantástica e com um figurino que não deixa a desejar. Grande parte das cenas do filme podemos ver a presença do vermelho, que reforça a presença do nazismo em todas as situações da trama. Outro fator que ajuda a dar ainda mais emoção ao filme é a trilha sonora de John Williams, indicado na categoria Melhor Trilha Sonora no Oscar 2015. Avaliação: 6.0.
A Menina que Roubava Livros (The Book Thief. 2013) Ficha Técnica: na página no IMDb.
Para quem já acompanha meus textos sabe que eu enfatizo sempre que vejo esse tema nos filmes: Bullying. Nesse em especial será para mostrar o quanto perdura na vida de uma pessoa passar por isso na infância. As consequências que ainda serão danosas na fase adulta. E farei, ou melhor, trarei sempre em destaque numa esperança de que esse ato um dia termine. Que pelo menos vá se quebrando o ciclo do bullying. Que o filme “O Discurso do Rei” seja levado também à Sala de Aula. Onde ainda há e muito desse ato de covardia.
Indo pesquisar o quanto de veracidade o filme trazia… Descobri algo que me deixou perplexa.
Até por querer que o filme seja visto por um público de adolescentes. Os mais propensos a praticarem o bullying. Trata-se da Classificação Indicativa que o filme recebeu. Com o Documentário “Esse Filme Ainda Não Foi Classificado” fiquei conhecendo o Órgão Censor dos Estados Unidos, o MPAA (Motion Picture Association of America). Aliás, foi a partir dele que esse tema – Classificação Indicativa -, também será destacado por mim sempre que for conveniente. Censurar um filme por conta de palavrões totalmente dentro do contexto é no mínimo falta de bom senso. Ainda mais onde a pessoa é levada a se exasperar até conseguir soltar a voz. Pois bem, como se não bastasse o MPAA, no Reino Unido o órgão censor de lá, o BBFC (British Board of Film Classification) só mudou a sua classificação – de 15 para 12 -, após uma crítica do Diretor do filme, Tom Hooper. Em uma coletiva de imprensa ele questiona o 15 dado a seu filme pela linguagem, citando dois filmes que receberam 12 contendo cenas de tortura. Pelo visto a violência está mesmo banalizada.
Em “O Discurso do Rei” o bullying é praticado em Família. É de estarrecer ao ouvir a estória desse Homem que virou Rei. Ao mesmo tempo que ainda nos dias de hoje ocorre muito dentro dos Lares. Se é que se possa chamar de Lar um local onde se fica aterrorizado. Pelos parentes – Pai e irmão -, ele era tripudiado pela sua disfemia (gagueira). Pela babá, era físico: beliscões e deixá-lo sem comida. Os pais só descobriram três anos depois. Mas ai as sequelas já eram irreversíveis.
Mas como se não bastasse os danos pelos anos sofrendo o bullying, já em adulto, os “doutores da fala” lhe fizeram fumar bastante, e ficando períodos longos com a fumaça presa nos pulmões. O que lhe acarretou um câncer nos pulmões. Essa parte está nos livros. Pois o filme vai até o seu primeiro discurso à nação como Rei. Cargo que ocupou com a abdicação de seu irmão ao Trono para se casar com uma divorciada.
Ele é Bertie (Colin Firth). Pai de duas meninas, uma das quais viria a ser a sua sucessora: a Rainha Elizabeth. No contexto da trama do filme a História está às vésperas da ascensão de Hitler. Sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter) – que no futuro viria a ser a carismática Rainha Mãe -, cansada dos métodos nada eficazes dos médicos reais, é quem leva Bertie aquele que não apenas o ajudaria a melhorar a sua dicção, mas também viria a ser o seu primeiro grande amigo: Lionel (Geoffrey Rush).
Essas aulas de oratória nos leva do riso à emoção. O filme é desses dois: Bertie e Lionel. A mim, me fez querer que o filme não terminasse. Ambos – Colin Firth e Geoffrey Rush – fizeram uma excelente dobradinha. De querer não apenas rever “O Discurso do Rei”, como também rever esses dois, juntos, em outros filmes.
Cinebiografias sobre a realeza britânica sempre tem algum impacto nas premiações. Não poderemos esquecer “As Loucuras do Rei George” (1994) – a história verídica da deterioração da saúde mental de George III, e o declínio de sua relação com o filho, o Príncipe de Gales; “Mrs. Brown”(1997) – a relutante rainha Victoria e sua relação amorosa com um funcionário John Brown; “Elizabeth” (1998), baseado nos primeiros anos do seu reinado e o seu drama entre o amor e o poder, e “The Young Victoria” (2009) – um drama romântico e jovial sobre alguns dos eventos anteriores e posteriores à coroação da Rainha Vitória. Filmes interessantes que reúne atuações maravilhosas dos atores, e um pouco de história.
O mais recente filme sobre a realeza britânica é “O Discurso do Rei”, que reune bastante humor para contar o drama do temperamental, arrogante, e reprimido Bertie – também conhecido como o Duque de York, e depois como o rei George VI (Colin Firth, numa atuação calorosa e simpática ), que sofre de um defeito na fala, e, é intimidado por seu pai, George V, (interpretado maravilhosamente por Michael Gambon), e ofuscado por seu carismático irmão mais velho, David- também conhecido como o rei Edward VIII (Guy Pearce, que já esteve melhor!). Mas, a esposa de Bertie, Elizabeth Bowes-Lyon (Helena Bonham Carter), tem um senso intuitivo, e dispensa a reverência de protocolo, e ao proprio marido, e busca um terapeuta australiano- o excêntrico Lionel Logue, interpretado pelo sempre perfeito Geoffrey Rush-, para ajudar o desesperado Bertie.
Antes mesmo de assistir o filme, eu tinha lido o livro “O Rei Relutante” de Sarah Bradford, e sabia um pouco sobre a história do rei George VI. Pelo que li, o filme é bastante fiel aos eventos que descreve. O roteiro escrito por David Seidler sutilmente retrata o trabalho de Logue, e como ele foi realmente responsável por ajudar o rei George VI enfrentar seus demônios e melhorar o seu discurso a partir do momento que ele foi Duque de York.
Me envolvi com o drama do rei Edward VIII, que no filme, Seidler inteligentemente ilustra a tensão sobre a sua abdicação, mas não detalha o drama entre ele e a socialite americana Wallis Simpson (Eve Best). Ela não queria que o rei abdicase, porque gostaria de se tornar rainha. Também tanto ela como o rei eram ignorante sobre as leis que regiam um reino constitucional. Tudo isso fez Edward refletir e escolher o melhor para si, e parecer ser menos egoísta. O drama de Edward VIII vai estar na tela grande em breve. Madonna co-escreveu o roteiro, e está dirigindo o filme – será que ela vai nos surpreender com esse filme?
Bem, “O Discurso do Rei” é simplesmente um filme excelente em todas as dimensões: roteiro, a direção poética, harmonica, e polida de Tom Hopper, o trabalho de câmera de Danny Cohen e, mais especialmente as atuações de Firth (que provavelmente vai levar o Oscar este ano); Rush; Michael Gambon, e, a Claire Bloom. Sim, a sutil trilha sonora de Alexander Desplat, vai provavelmente ser indicada ao Oscar, mas a mesma é bem inferior se comparando ao trabalho de Desplat no filme de Roman Polanski, “The Ghost Writer”- onde, o compositor Francês faz uma bela homenagem aos trabalhos de Jerry Goldsmith e Bernard Herrmann, atualizando às cordas e percussão hipnótica vista nos trabalhos desses maestros.
“O Discurso do Rei” vale a pena ser visto! Nota: 8
Passando pela banca de Dvds em promoções… meus olhos bateram logo nesse nome: Geoffrey Rush. Depois, o de Judy Davis parecia familiar. Ao ler a sinopse, gostei. E sendo baseado numa estória real, era o que faltava para comprar ‘Campeão’ (Swimming Upstream). Fora uma ótima compra! É daqueles filmes que deixam uma vontade de rever mais vezes.
A frase do início foi o que motivou a estória de um jovem. E já desde a tenra infância. Não é um desejo tão raro assim. Em muitos lares há alguém ansiando ser amado por um dos pais. Por vezes, após uma terapia, ou com mais idade, passa a aceitar que aquele pai, ou mãe, nunca será como ele deseja. Mais! Mesmo com uma cicatriz na alma, compreende que é uma limitação dele(a). O filho preterido então segue em frente o seu caminho…
Mas por que um pai não ama um dos filhos?
Mesmo como a mãe dessa estória, exaurida por tentar mostrar a ele que teria todos os motivos para ser orgulhar desse filho. Numa cena que emociona, ela pergunta-lhe: ‘_Mas o que ele te fez?’ E é isso que fica na cabecinha da criança, o que ele teria feito de errado. Somente, muito mais tarde, é que descobre que o motivo está nesse pai.
Entrando no filme, e começando pelo título. Uma tradução para o título original, seria: ‘Nadando contra a correnteza‘… O dado no Brasil, entrega o filme. Mesmo assim, relevem. Pois é um drama familiar de nos prender a atenção. Até em procurar entender a personalidade de pelo menos cinco, dos sete membros dessa família: dos pais e três dos cinco irmãos. Onde o pai é o grande vilão, pois fez de tudo para desunir a família. E por que?
O filme se passa em Brisbane, Austrália. No início da década de 50. Recessão… Calor intenso… Alcoolismo por parte do pai. E suas mudanças bruscas de humor, chegando a ser violento… Não conseguem tirar a amizade, carinho entre quatro dos irmãos, mas mais tarde ele conseguirá. Com uma mãe tentando frear os impulsos do marido, tentando manter a união e o amor entre todos. Vou começar a traçar um 3×4 dos personagens, por ela.
Dora (Judy Davis) é a mãe amorosa, conciliadora, enérgica na defesa do filho preterido pelo pai, uma dona de casa exemplar, e além de amar os filhos, amava também o marido… Nem dá para julgá-la em ter feito o que fez… pela data da estória… porque uma separação matrimonial, com cinco filhos menores teria que ter muito tutano para tal feito. Mas afinal, por amor suporta-se apanhar do marido? Ou ficaria uma esperança de que um dia ele mudaria de atitude? De única amiga, Billie (Deborah Kennedy), uma vizinha que só ia até lá quando o marido não estava. Judy Davis continua linda! É tão bom ver uma atriz atuando de cara limpa, sem maquilagem, sem medo de envelhecer. E sua Dora é merecedora de aplausos.
Agora o pai, Harold (Geoffrey Rush), onde desde o início a atenção fica em querer saber porque ele não amava o filho. Ao longo do filme, vamos descobrindo que ele trazia um passado lastimável. Por aquilo que é dito. Por aquilo que fica nas entrelinhas. Agora, se ele pudesse canalizar toda a raiva, toda a mágoa trazida da sua infância, queimar essa energia presa dentro de si, em algum esporte, por exemplo, ai sim teria iniciado uma nova estória com a mulher e os filhos. Mas em vez de quebrar aquele círculo vicioso, ele alimentava ainda mais com o álcool. Uma herança maldita? Sim. Mas que ele poderia ter abdicado dela. Em vez disso, além de prejudicar sua família, estava passando para um dos filhos…
Pessoas como ele, não merecem ter filhos. Mas como para purgar o passado, os tem.
Harold, no fundo não aceitava que o filho, não apenas era alguém amoroso demais, mas por ter uma cabeça maravilhosa que não o deixava cair. Harold era uma triste figura de alguém derrotado. Logo, ansiava por filhos vigorosos, verdadeiros campeões. Que os levariam a brilharem por ele. Vou voltar a falar de Harold, mais abaixo.
Quem nos conta essa estória, é Tony (Jesse Spencer – o Dr. Chase, do seriado Dr. House). Tony conta todo o seu drama, desde a infância. Queria muito que o pai o amasse. Mas as atenções de Harold estavam voltadas para outro filho, por achar que esse outro seria um grande jogador de futebol. Paralelo a isso, Tony se divertia com os irmãos menores numa piscina pública. Com o desenrolar do filme descobrimos que uma maldade do pai fizera Tony aprender a nadar. Mas por sua trajetória na natação, o talento nato viera à superfície. Mas até o pai “descobrir” isso, ele e seus irmãos nadavam por diversão. Há uma cena de Tony numa tentativa de obter o amor do pai… ao fundo ouvindo ‘Adagio for Strings’… ficou difícil segurar as lágrimas.
Harold Junior (David Hoflin) era o irmão a quem parecia que o pai gostava muito. Mas no fundo sabia que se não sobressair-se no Futebol, também seria preterido. No início do filme, chega a dar raiva do que ele faz com os irmãos. Principalmente com o Tony. Com o avançar da estória, o sentimento passa a ser de pena. Era a má influência do pai. Era também o querer ter o amor daquele pai. Numa cena dele, com o Tony, dá um aperto no coração. Com ambos já crescidos.
Tony tinha como companheiro de natação, seu irmão John (Tim Draxl). Até as competições entre si, eram prazeirosas para ambos. Além de que havia entre eles uma linda amizade. Mas que o pai conseguiu destruir quando descobriu que eles eram excelentes nadadores. Acontece que Tony só descobriu depois que o seu talento era noutra modalidade. Mas até chegar ai, o pai jogou todas as fichas em John. Fez mais! Incentivou a rivalidade na cabeça de John. O que me levou a pensar que ele tinha um pouco da personalidade do pai. Primeiro, que se deixou influenciar. Depois, já crescido, não aceitou a amizade do irmão de volta. Algo que o irmão mais velho fez.
Sei que me estendi demais, contando até detalhes do filme. mas como falei no início, esse filme deixa uma vontade de rever. Porque o drama desses irmãos é muito denso. Triste, por vir do próprio pai, os conflitos. Que nos leva a várias reflexões.
Há nessa família, mais um casal de irmãos. A única irmã dos cinco, Diana (Brittany Byrnes), também é muito amorosa. O diferencial, é que não tem que brigar pelo amor do pai. Mesmo tendo, o que ela quer é a volta do tempo onde eram felizes nadando. E é com as trocas de cartas com o Tony que surge a ideia de que a estória pode virar um filme. É Tony que diz que têm um Roteiro em mãos. Queria exorcizar de vez os velhos fantasmas.
Comprando o Dvd, ou locando, não deixem de ver. O filme é ótimo! Claro que para quem gosta desse tipo de enredo.
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Campeão (Swimming Upstream). 2003. Austrália. Direção: Russell Mulcahy. Gênero: Biografia, Drama, Esporte. Duração: 102 minutos. Baseado numa estória real.
Marquês de Sade deu origem ao termo muito comum e falado hoje em dia: Sadismo. Em sua época, em plena Revolução Francesa, as perversões tão feitas e faladas pelos homens passaram a ser condenadas pelo princípio de Igualdade, Fraternidade e Liberdade; Sade, então, foi tido como louco e perturbador da ordem, preso por 27 anos liberava suas perversões via escrita.
Não importa a tão comum discussão se Sade foi ou não um perverso, é elementar esse embate quando pensamos no quão escandaloso pra época escancarar o sadismo e o masoquismo como ele fez.
O filme narra sua história já contada no tempo de sua prisão, por ter sido a época de sua vida em que mais escreveu. Como era Marquês (Geoffrey Rush), tinha algumas regalias, escrevia seus contos e os divulgavam através de Madeleine (Kate Winslet), lavadeira do local. Ele e Madeleine tinham uma forte ligação, até sexual, mas no que tange no gozo de um escrever e do outro ler pra si e para demais pessoas as histórias sexuais contidas naqueles papéis. Gozo em chocar com as mais sombrias perversões que os homens dão conta de pensar e fazer. Gozo no exibicionismo sádico da exposição do tesão que perturba a mais carola freira de um convento medieval.
No filme, tal qual na época, os asilos e sanatórios eram governados e/ou mediados pelo Clero, já que tratava-se de obra demoníaca tanta “possessão sexual”. O Padre do filme, tão bem interpretado por Joaquin Phoenix, um dos confidentes de Marquês, é tentado o tempo todo por ele no que se refere à Madeleine…
É muito interessante notar como as perversões sexuais extrapolam o sexo em si, onde deveria acontecer todas as fantasias tão desejadas, e vazam na vida de cada um como um duelo entre o Bem e o Mal da moralidade/imoralidade/amoralidade da época.
Cenas chocantes, mas com um toque artístico que faz desse filme um dos melhores “no ramo” sado-masoquista. Não pense que vai ver sexo selvagem e torturas gostosas não, a dominação sexual psicológica é atuante o tempo todo; o que faz desse filme uma obra artística daquilo dito ser tão sujo pelos medievos recalcados de outrora e da atualidade.
Começo a falar desse filme, Frida, lembrando de uma fala de Platão em Timeu: “Nas mulheres, o que chamamos matriz ou útero é um animal dentro delas que tem o apetite de gerar filhos, e, quando fica muito tempo sem frutos, esse animal se impacienta e suporta esse estado com dificuldade; erra pelo corpo inteiro, obstrui as passagens do fôlego, impede a respiração, lança em angústias extremas e provoca outras enfermidades de toda sorte”.
Frida Kahlo, fazendo um trocadilho com o sobrenome, ‘Kahlo”, calo, não no sentido do verbo, pois Frida não se cala, mas sim do substantivo “calo”, um calo no pé, que incomoda, mas que faz produzir, que ainda faz caminhar.
Nasceu no México, em 6 de julho de 1907, e desde então sua vida fora marcada por dores, sofrimentos e doenças. Filha de um fotógrafo que trabalhava pro Governo, Guilhermo Kahlo, e de uma mãe que considerava fria e cruel, Madilde Calderón.
Aos seis anos de idade, Frida contraiu Poliomielite, e, em consequência, teve uma convulsão e ficou capengando de uma perna. Sofreu um acidente ao sair da adolescência, em uma “tranvía” (mistura de bonde com ônibus), onde além das fraturas generalizadas, fôra perfurada por uma barra de ferro que entrou pela bacia e saiu pela vagina. Sofrera dezenas de cirurgia (ao todo foram 35) devido a isso e a sua saúde sempre foi considerada frágil.
Depois desse acidente, Frida recebera de sua mãe material de pintura. Como não podia levantar-se, olhava pra si mesma, na cama, através de um espelho pendurado no teto. Assim começou a pintar. Pintava a realidade de sua vida.
Casou-se com Diego Riviera, um artista mexicano, que lhe despendeu imenso amor e devoção. Por um tempo moraram juntos, por outro tempo se separaram, mas nunca se afastaram de fato.
O encontro com Riviera, de acordo com Frida, “foi o segundo acidente mais trágico de sua vida”.
O marido tinha amantes, Frida também, dos dois sexos. Riviera permitia seus casos homossexuais, mas não os heterossexuais. Frida adoecia mais sempre que o marido a traia. Brigavam muito por isso repetidas vezes e Frida pagava com uma traição homossexual sempre que acontecia uma infidelidade por parte de seu marido. Algo como pra provar que ela era melhor amante que ele, até mesmo com as mulheres.
A arte dela, pra mim, retrata a sua dor, seu sofrimento e frustração de não poder gerar filhos. Conseguia engravidar por diversas vezes, mas o aborto chegava irremediavelmente.
O filme retrata tudo isso acima de uma maneira sublime e com uma música marcada por Lila Downs que é maravilhosa.