Sob o Mesmo Céu (2015). Um Romance dos Tempos Modernos

sob-o-mesmo-ceu-2015_cartazPor Valéria Miguez (LELLA).
mito-do-sagradoHá uma lenda que diz que quando os Homens das Ciências alcançarem o topo do mundo encontrarão lá esperando por eles os Grandes Mestres da Mãe Terra. Num tipo de távola redonda. Juntos, irmanados em ajudar ao Planeta a se recompor. Talvez até diriam aos que os procuraram pelo poder maior, que voltassem e eliminassem tudo do que fizeram e que deixara o mundo com mais desunião, com mais muros, com mais desigualdades, com mais riqueza para pouquíssimos habitantes. Enfim, tudo que o deixara mais destruído e destituído de humanidade. Mito ou não… Por certo que nosso Planeta tem contado também com aqueles que pelo menos tenta frear os que não se importam com ele. Com isso é preciso estar atendo aos sinais advindos dos céus em conjunção com o que está acontecendo ao redor para então agir.

Bem, esse é o pano de fundo em “Sob o Mesmo Céu” – de que certos avanços tecnológicos têm mesmo o intuito de aniquilar o mundo. Mesmo que só fiquem na ameaça para indicar quem é que dá as cartas. De qualquer forma é preciso pesar muito mais os contra antes de impor ao mundo mais tecnologia. Mais danos ao Planeta que leva tempo para se recompor. O que deu ares de modernidade onde heróis e heroínas de agora pilotam caças ou mesmo filmadoras, mas que respeitam as tradições antigas. Nesse contexto o Diretor Cameron Crowe conta duas histórias de amor, aliás três: porque dois deles irão passar a limpo uma história antiga. Crowe também assina o Roteiro o que o deixa mais livre para lidar com tudo e todos. Em destaque na trama: um discutir a relação. Será que as conjunções celestes também estariam favoráveis para essas questões?

aloha-2015_filme_havaiO local não poderia ser mais significativo para o desenrolar dessa história: Havaí. Tradições culturais e religiosas seculares. Como também o peso de se serem agora uma “colônia” e com a sensação de serem usados e logo descartados. No filme “Os Descendentes” se tem o lado da especulação imobiliária em terras havaianas como também do Turismo que “esconde” a pobreza do local. Já em “Sob o Mesmo Céu” temos as bases militares por lá. Onde em ambos os filmes um sentimento que ainda são levados a aceitarem “bugigangas” nos acordos com o Tio Sam. Como se ainda vivessem na era dos grandes descobrimentos. Além disso, Cameron Crowe também faz uma crítica a invasão do céu: num congestionamento de satélite. Para que tantos satélites?

E quem seriam os donos desses corações cujo destino levou uns num reencontro e outros a se conhecerem?

Começando pelo personagem de Bradley Cooper, o não menos encantador Brian Gilcrest. É que até achando que tem pela frente um grande e de curta duração evento – supervisionar o lançamento de um poderoso satélite -, tenta ser gentil, mas de modo a não dar impressão de estar aberto as novas amizades. No fundo, mesmo de uniforme militar, se sente um mercenário dos tempos modernos. Não importa para quais os fins, e sim cumprir as ordens.

sob-o-mesmo-ceu_2015_01Acontece que tão logo desembarca na ilha se depara com Tracy, personagem de Rachel McAdams. Era o passado de volta. Treze anos se passaram. E agora a encontra casada e mãe de dois filhos: o caçula Mitchell (Jaeden Lieberher, de “Um Santo Vizinho”) de câmera em punho filmando tudo e a adolescente Gracie (Danielle Rose Russell)
curtindo a dança havaiana. Tracy mais parece saída da escola de “O Sorriso de Mona Lisa”. Nada contra o querer ser dona de casa, mas focar a casa onde mora como desculpa por não querer o fim do casamento, denota superficialidade. Assim, a volta de Brian a levará a ir mais fundo em si mesma. O grande barato disso tudo fica por conta de seu marido Woody, personagem de John Krasinski, pois numa de quase entrar mudo e sair calado, ele rouba as cenas: está impagável! Woody não precisa de muitas palavras. É Tracy quem tem que parar de falar muito e com isso se dá um tempo para ouvir a si mesma.

Designada para acompanhar Brian durante sua permanência na ilha temos a Capitã Ng, a Allison. Personagem de Emma Stone. De cara se sente atraída por ele. Força uma barra para que fiquem amigos e com isso ficar mais tempo perto dele. Por conta de uma ascendência havaiana ela quis conhecer mais as tradições da ilha. Mais até! Passando a aceitar e a respeitar. Até por conta disso não gosta de algo que vê num dos vídeos de Mitchell. Com isso seu amor por Brian fica balançado: de herói ele passava a ser um vilão. E pelo fato em si, mesmo já estando apaixonada ficava difícil de engolir. Mesmo assim, ela precisava agir.

Fora eles, o filme ainda conta com algumas participações. Como de Bill Murray como o empresário Carson Welch dono do tal satélite, como também com Alec Baldwin como o General Dixon que abre as portas do quartel para Carson. Além de outros envolvidos com o lançamento do mesmo na base militar americana no Havaí. E que de certa forma envolverão a todos: militares e civis.

sob-o-mesmo-ceu_2015_02Assim, décadas depois de “Digam o Que Quiserem”, de 1989, histórias com adolescentes, Cameron Crowe traz em “Sob o Mesmo Céu” personagens adultos em seus dramas frente também as paixões. Sem perder a emoção até de estarem vivendo um grande amor, mas com um olhar mais amadurecido. E como podem ver se trata de um Romance com todos os clichês que esse gênero traz e caso não goste dessa combinação melhor procurar por um outro filme a gosto.

A Trilha Sonora também é um coadjuvante de peso! Performances em uníssonos! Numa escolha acertada do elenco! Cameron Crowe talvez tenha pecado em explicar demais algumas sub tramas, nem deixando lugar para divagações, como também desejando um enxugamento nesses momentos. O bom que logo em seguida a atenção volta plena e deixando um brilho nos olhos. E que só por algo que acontece no final do filme faz dele merecedor de uma Nota 10! Aloha, Crowe! O mundo agradece!

Sob o Mesmo Céu (Aloha. 2015). EUA
Ficha Técnica: na página no IMDb.

Birdman (2014). O Canto do Cisne em Seu Apogeu!

birdman_de-wws-harrisPor: Cristian Oliveira Bruno.
Alejandro-Inarritu_Edward-Norton_Michael-KeatonAo terminar de ler o roteiro de Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância) [2014], Edward Norton (A Outra História Americana) pergunta ao diretor e roteirista Alejandro González Iñarrítu (Babel) quem havia sido escalado para o papel principal do longa. Ao ouvir o nome de Michael Keaton (Batman – O Filme) como resposta, Norton tem uma epifania: “É claro! É tão óbvio….e tão perfeito!“.

E é assim, trazendo um ator que viveu o auge de sua carreira no início dos anos 90, ao interpretar um popular super-herói no cinema, vivendo o personagem de um ator que viveu o auge de sua carreira no início dos anos 90, ao interpretar um popular super-herói no cinema que Birdman estabelece-se como um escarnio metalinguístico crítico e auto-crítico de primeira qualidade, brincando de fazer cinema com bom gosto e com alto grau de originalidade, fazendo de um filme simples o melhor filme de 2014.

birdman_2014_cenasO roteiro de Birdman é tão bem escrito que qualquer um de seus personagens poderia ser escolhido como protagonista – embora Riggan Thomson (Michael Keaton) realmente apresente-se como principal eixo dramático da trama. Se, por vezes, o excêntrico Mike Shiner de Edward Norton parece querer tomar todas as atenções para si – e de quando em vez até consiga – e a Sam de Emma Stone tenha lhe rendido uma justificada indicação ao Oscar, uma personagem e sua intérprete parecem ter ficado à sombra de sua real grandeza: Naommi Watts e sua Lesley, uma talentosa e sonhadora atriz que vive simultaneamente o melhor momento de sua carreira e uma das fases mais conturbadas de sua vida pessoal. Tanto a personagem, quanto a interpretação de Watts deveria ter recebido maiores holofotes, pois são marcantes e dignos de nota. Inusitadamente trazendo uma trilha composta unicamente por solos de bateria, Birdman é justamente aquilo que seu diretor pensa sobre cinema: “um conjunto de elementos distintos em constante movimento trabalhando em conjunto pelo mesmo propósito“. Assim sendo, Iñarrítu se desprende de qualquer estigma narrativo e/ou estrutural, sentindo-se mais do que à vontade para transpôr sentimentos e sensações para a tela. Portanto, não estranhe os quase intermináveis planos-sequência (que geraram preocupação por parte se toda a equipe para com a saúde dos cameramens, que sustentavam o pesado equipamento móvel por muitos minutos, transitando pelos vários cenários – um teatro real foi usado como locação) ou cenas em que Michael Keaton levita ou move coisas com a mente. Tudo isso é tão bem construído que se torna a mais pura apresentação de contexto e personagem elaborada nos últimos sei lá quantos anos.

birdman_2014_01Sem poupar ninguém nem fazer concessões, Birdman critica e desnuda tudo e todos que compõem seu universo, atacando sem piedade – porém, com muita elegância – todos aqueles que integram o mundo glamouroso da Broadway, sejam atores, diretores, platéia e críticos. E principalmente, Birdman ataca seus egos, principal fio condutor de sua trama. Pois não há nada mais instável do que o ego. Ele que nos faz acreditar sermos capazes de fazer o capazes somos – nem nunca seremos – capazes – de fazer e nos leva a cometer os mais mirabolantes atos.

Birdman é o cinema em sua mais pura forma e utilizando-se de absurdos, metalinguagem, fantasia e técnicas para fazer uma verdadeira obra-prima contemporâneo. Birdman está aí para nos mandar um recado: Hollywood ainda tem esperança, mesmo que esteja fora dali.

Nota: 9,5.

A Mentira (Easy A. 2010)

A-Mentira_2010Por Roberto Vonnegut.
The rumors of her promiscuity have been greatly exaggerated
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Como achei coisas boas no filme “Friends with Benefits” eu resolvi dar uma olhada no trabalho anterior do diretor Will Gluck, Easy A (A Mentira), que por estas bandas foi direto para os disquinhos de policarbonato nas locadoras. O filme é várias coisas:
– é uma adaptação livre do livro “A Letra Escarlate“, de Nathaniel Hawthorne: a estória de Hester, uma mulher que comete um ato inaceitável para a sociedade em que vive e sofre humilhações que enfrenta – quando pode – de cabeça erguida.
– é uma homenagem descarada aos filmes de John Hughes sobre adolescentes – “Clube dos Cinco“, “Curtindo a Vida Adoidado” e outros.
– é um filme que traz muitas das coisas boas que ressurgem em “Friends with Benefits“: auto-ironia desmascarando os filmes que homenageia/ parodia, por exemplo.
– E um elenco de coadjuvantes de primeira linha, que seguram muito bem a trama: Patricia Clark (de novo a mãe da protagonista), Stanley Tucci, Malcolm McDowell (de Laranja mecânica), Thomas Haden Church (o amigo de Miles em Sideways) e até Lisa Kudrow, a Phoebe de Friends.

a-mentira-2010_01Easy A é bem melhor que o filme seguinte. Emma Stone faz o papel de Olive, uma garota que vivia no anonimato que costuma cercar as alunas que gostam de literatura, mas não são populares, até que um dia resolve contar uma mentirinha inocente que a coloca no centro da rede de fofocas da escola e lhe rende a fama de piranha-mor. Olive, usando um vocabulário erudito que por si só já faz valer a pena prestar atenção na narração, conta o que aconteceu: a mentira inicial, o efeito areia movediça em que ela se afundava cada vez mais, a reação dos colegas.

Will Gluck usa muito bem o recurso de mostrar que, para os adultos que participam do filme, os pudores que tanto chocam a garotada não passam de bobagem. Ao saber que Olive está sendo acusada de ter perdido a virgindade com um garoto mais velho, a mãe tenta acalmá-la dizendo que na escola transou com muita gente, e faz a importante ressalva: a maioria, garotos.

A ironia do roteiro de Bert Royal é o ponto alto do filme: ele brinca com os filmes dos anos 80 e com livros, de Hawthorne a Mark Twain, passando pelo Pentateuco e pelo relatório Kinsey. O vocabulário dos adolescentes é um achado: para driblar a censura, os adolescentes usam expressões inventadas que soam mais realistas do que as expressões “amaciadas” comumente usadas nestes filmes – algumas são ótimas, como a garota carola que acusa Olive de ser uma rhimes-with-witch. Vi no original, não tenho a menor ideia se a tradução tomou o cuidado de manter isso.

Vale a pena pegar na locadora. Sessão da tarde com pitadas de cultura.

[*] a frase de Olive que usei no início do post é um jogo com uma frase famosa de Twain sobre a inexatidão das fofocas.

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). 2014

birdman_2014_01alejandro-gonzalez-inárritu_cineasta_birdmanJá adiantando que o filme é excelente e que tentarei não trazer spoiler! Até porque eu estou em suspense em como contar essa história onde parece estarmos numa poltrona mágica levados por toda trama com receio até de que se paramos cogitando se perdera algo poderemos de fato perder parte dela. Já tivera essa sensação em “Pina“, mas ai Wim Wenders usou com maestria a tecnologia do 3D. Já nesse aqui, eu diria que Alejandro González Iñárritu fez uso do talento de seus técnicos + espaço cênico. Conduzidos por esse genial cineasta!

Para quem conhece pelo menos um pouco da obra de Iñárritu sabe que ele parte de um ato único para então interligar todos os demais personagens ao protagonista. Assim, temos como pano de fundo em “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” alguém querendo provar até a si próprio de que ainda é um ótimo ator. Que em se tratando dos Estados Unidos, os mais antigos ainda glamoriza a Broadway: a meca das produções teatrais. Como se a Hollywood não atestasse o talento de um ator. Para esse ator, essa segunda escalada ele já alcançara no passado com então o personagem que dá nome a primeira parte do filme: “Birdman“. Queria então partir para o seu segundo ato: tentar conquistar a Broadway. Para quem acompanhou a Série “Smash” teve uma ideia do quanto é difícil conquistar um dos importantes palcos dali, mais ainda em permanecer em cartaz, o que por si só já denotaria o sucesso da peça teatral. Bem, a história do filme já o coloca lá numa pré estreia. Assim, temos quase toda a trama focada nas apresentações dos ensaios técnicos abertos ao público.

birdman_2014Claro que o peso maior recai sobre esse ator, Riggan Thomson. Grande atuação de Michael Keaton! Para Riggan além do peso de anos sem atuar, há o do personagem que de ícone passara a ser Cult, lembrado em grande maioria por um público adulto. Quem lhe dará o toque de que precisa se atualizar para então atrair um público mais jovem é sua filha Sam. Personagem de Emma Stone, uma camaleoa ao se passar por uma adolescente rebelde. Dizendo que os tempos são outros, que deveria aproveitar da velocidade advinda dos iphones para as redes sociais. Que para esse grande público não bastava o peso de quem o fora no passado, eram atraídos mais por algo que escandalizasse. Bem, de qualquer forma, sem querer Riggan atrai para si esse tipo de flash. Mas que piora seu embate com o novo ator trazido por quem faz sua esposa na tal peça, a Lesley (Naomi Watts). Essa mesmo ciente do temperamento desse outro, o traz. Talvez imbuída da urgência, ou até por querer o sucesso da peça a qualquer custo, afinal era a Broadway e ela estava preste a realizar um sonho de criança… Riggan também concordara… Enfim, era alguém que atrai um público que soma o peso do nome com os escândalos que provoca. Ele é Mike Shiner, personagem do sempre ótimo Edward Norton. Pois é! Sem fugir da tal fama, ou até por conta dela, Mike de alto do seu egocentrismo tentará roubar o espaço em cena com Riggan. Um duelo de egos. Ou seria de alter-egos? Mike seria um James Dean da atualidade. Mas é ele quem acaba dando um toque em Sam para que pese a sua própria rebeldia contra o pai.

birdman_2014_01Já em relação a dicotomia entre celebridade x notoriedade, ator de filmes x ator de teatro… e por ai vai. É alimentada pela crítica teatral Tabitha Dickinson (Lindsay Duncan), odiada e venerada por uma gama de maior idade, mas desconhecida ou não endeusada pela parcela mais jovem. Terá um embate primeiro com Mike, depois com Riggan. Com esse não ficará pedra sobre pedra… E é dela que vem a segunda parte do título do filme: “A Inesperada Virtude da Ignorância“. Agora… Quem até então ignorara o que?

Além de tentar também se apaziguar com a ex-mulher, Sylvia (Amy Ryan), fora a filha… Riggan tem em seu calcanhar seu agente/advogado, Jake (Zach Galifianakis. Bom vê-lo num personagem mais sério.): com o orçamento em vermelho, com os acidentes de percurso na condução da peça teatral… Jake só não dimensiona a gravidade do estado de Riggan. Esquizofrenia ou para-normalidade? Sem como perceber de fato o que se passa com Riggan, Jake no fundo é um bom amigo. Até porque o próprio Riggan não admite para si mesmo que precisa de ajuda de um profissional da área, nem fala para ninguém. Até fala para Sylvia, mas não sendo explícito, essa também não avalia a gravidade… Com isso, meio que sozinho, ele acabará travando um embate com Birdman. Fora tudo mais a lhe pesar também a alma… Será muita coisa para ele digerir… Paro por aqui para não lhes tirar o suspense.

Então é isso! Preparem o fôlego porque irão voar, subir, descer… pela câmera vasculhando toda a trama, que é um deleite também para também os da área psico. Os atores estão em uníssonos! A Trilha Sonora, tirando uma certa bateria, é ótima! Com um Final em aberto? Eu diria que Riggan deixa todos livres para os seus próprios solos. Espero que não venham com uma continuação. Bem, de qualquer forma para “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” os louros vão em primeiro lugar para Alejandro G. Iñárritu! Ele é um gênio! Que por conta de como contou essa história criou uma obra prima! Que só por isso o filme merece até ser revisto!

Nota 10!

Por: Valéria Miguez (LELLA).

Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância. 2014. Ficha Técnica: página no IMDb.

Histórias Cruzadas (The Help. 2011). Por Um Pedido de Socorro

Por Mario Braga

Para aqueles que gosta, ou gostaram da história de cunho social, principalmente referente à discriminação racial contra os negros no EUA e assistiram “A Cor Púrpura-The Color Purple”(1985) de Steven Spielberg. Esqueçam. Não que Spielberg, não seja capaz de contar uma história como ninguém sobre o assunto, mas “Histórias Cruzadas-Help”(2011), baseado  no livro de Kathryn Stockett procura ir mais fundo no preconceito latente em relação aos negros, principalmente as mulheres negras.

Num elenco em que há a predominância das mulheres tanto brancas quanto as negras retratadas em 1960, o diretor Tate Taylor soube  captar como nenhum outro o sofrimento e a dor daquelas mulheres que só conseguiam galgar trabalho na condição de empregadas domésticas. Tate é direto, seguro e foge completamente dos estereótipos, do que seja piegas e dono de um talento ímpar que compõe muito bem o perfil dessas mulheres sulistas.

Embora todas elas façam uma composição perfeita de suas personagens, não há como negar a atenção sobre o talento natural de Octavia Spencer (Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Help”) e Viola Davis como a doméstica contida que expressa toda a sua dor só pelo olhar, além das atrizes Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Jéssica Chastan e Allison Janey que completam esse universo feminino.

Não foi à toa que Taylor escolheu Sissy Spacey “Uma História Americana-The Long Walk Home” (1990) e Mary Steenburgen “Na Época do Ragtime-Ragtime” (1981), pois ambas (cada uma à sua maneira) nos filmes citados se apresentavam como mulheres liberais em seu tempo. Até mesmo como uma justa homenagem a ambas.

Vale citar a excelente fotografia de Stephen Goldblatt que pela manhã capta o calor exarcebado da cidade de Mississipi e a noite toda a tensão que a película exige.

Sem nenhum tipo de apelo emocional, mas muito bem conduzido, Tate Taylor domina o dom de fazer correr as lágrimas pelas faces dos marmanjões meio  durões, que habitam o nosso planeta, seja no escurinho de uma sala de cinema, seja dentro de casa no seu aparelho de LED com a luz toda apagada. Simplesmente magnífico.

O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man. 2012)

E O Espetacular Homem-Aranha alça um voo muito mais alto…

Espetacular, sim! Até por prender a atenção com uma história já conhecida. Partindo de uma breve premissa – o nascimento do Homem-Aranha -, construiu-se uma nova e empolgante história para o jovem Peter Parker. Confesso que ainda no início era forte a lembrança do rosto de Tobey Maguire, mas depois forcei-me a não pensar mais nele para dar uma chance ao Homem-Aranha de Andrew Garfield. E ao vê-lo radicalizando com o skate, a imagem do outro se desfez. Nascia ali um novo Homem-Aranha, e com algo mais que conto mais adiante. Por hora, deixo meus aplausos ao Diretor Marc Webb.

O jovem Peter Parker continua um jovem tímido, inteligente, mas sem um esteriótipo nerd. Com uma aparência mais desleixada poderia passar despercebido pelos colegas do colégio, mas ainda sofre nas mãos de líder de uma certa turminha. Mesmo aparentando fragilidade, não se furta a tentar defender os demais oprimidos. Com isso, passa a ganhar a atenção da jovem a quem já dedicava olhares furtivos. Ela é Gwen Stacy. Então! Nesse filme não há mais a Mary Jane. Logo, a construção desse personagem feminino fica mais livre de comparações. Quem faz a Gwen é Emma Stone. Gostei dela em “Histórias Cruzadas“. Confesso que ao saber que ela que faria par romântico com o novo Homem-Aranha, foi que me fez pensar como seria a performance do Andrew Garfield. Não apenas na química entre os dois, mas também se ela não roubaria a cena quando atuassem juntos. Após ter assistido, para mim ela carimbou o passaporte para uma continuação. Não que ele fez feio, pelo contrário, interpretou tão bem que fez do personagem um ser livre para ser interpretado por outros jovens atores. Com ele é o personagem que aparece.

Com as demais atuações, destacaria ainda:
– Martin Sheen fez um Tio Ben, bem marcante.
– Já Sally Field ficou a desejar com a Tia May.
– Um Chefe da Polícia diplomático, bem interpretado por Denis Leary.
– E o vilão da vez: um também lagarto. Cabendo a Rhys Ifans interpretá-lo. Soube pular do cientista arrependido para o que buscava um outro tipo de poder.

Coube também a ele uma das cenas mais emocionantes, até por lembrar de uma outra com os personagens de Harrison Ford e Rutger Hauer no filme “Blade Runner: o Caçador de Andróides”. É! Numa de quem seria a caça, quem seria o caçador… O poder também pode escravizar. Já que poder é para quem pode. No caso em questão, é fazer com que o lado científico concilie com o lado humano, em vez de rivalizar.

A cada nova versão cinematográfica para esse personagem, para a sua trajetória de vida, mais que o avanço na tecnologia do 3D, seria a sofisticação do laboratório onde ele é picado pela aranha, e pela trama que vem daí. No uso que dariam para tal pesquisa. São os fins justificando os meios. Nessa versão, também se vê um avanço nisso. Lembrando que Stan Lee criou o Homem-Aranha na década de 60. De lá pra cá, muita coisa mudou também fora da ficção.

Claro que se poderia falar muito mais desse super-herói tão fascinante. O filme é excelente até focando apenas no quesito entretenimento. Como já citei, essa nova versão para o Homem-Aranha o deixa livre do peso do ator. O que vale dizer que Andrew Garfield não deixou saudades. Agora, se é válido pedir algo. Que as futuras escolhas fiquem mais naquele que aparentar ter uns 18 anos de idade.

Então é isso! Peguem bastante pipocas porque o filme é longo, mas é empolgante e com cenas emocionantes! Ah! Não saiam antes dos créditos finais. Há uma cena gancho para uma continuação e que deixa uma enigma: “Quem será ele?”
Nota 9,5.

Por: Valéria Miguez (LELLA).

O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man. 2012). Direção: Marc Webb. Roteiro: James Vanderbilt, Alvin Sargent, e Steve Kloves. Elenco: Andrew Garfield (Peter Parker); Emma Stone (Gwen Stacy); Rhys Ifans (Dr. Curt Connors); Denis Leary (Capitão Stacy); Martin Sheen (Tio Ben); Sally Field (Tia May); Irrfan Khan (Rajit Ratha); Campbell Scott (Richard Parker); Embeth Davidtz (Mary Parker); Chris Zylka (Flash Thompson); Max Charles (Jovem Peter Parker); C. Thomas Howell (Pai de Jack); Jake Keiffer (Jack); Max Charles (Peter Parker /Age 4). Gênero: Ação, Fantasia, Thriller. Duração: 136 minutos. Baseado em HQ.